UM SÍRIO EM ARRAIAL DO PIAUÍ
Elmar Carvalho
Esteve hoje à tarde no fórum um
neto de Elias Helal Tajra. Seu nome é o mesmo do avô, trocado o sobrenome Tajra
pelo vocábulo Neto. Fez o curso de Edificações na velha Escola Técnica Federal
do Piauí e formou-se em Licenciatura Plena em Química. Tem funcionado como
perito ou como assistente técnico em alguns processos. Contou-me ele a história
desse seu ancestral.
O velho Elias nasceu em Damasco,
na Síria. Era alto, alourado e de olhos azuis. Para fugir da primeira guerra
mundial, foi para a Turquia de onde conseguiu embarcar em um navio. Para
conseguir a vaga, embriagou um marinheiro e tomou o seu lugar na tripulação. No
Brasil, esteve inicialmente em Belém, de onde seguiu para São Luís. Desta
cidade foi para Teresina, de onde foi dar com os costados em Floriano, onde
havia uma colônia de sírios e libaneses.
Seus patrícios lhe conseguiram a
ocupação de caixeiro-viajante, em cuja atividade percorreu várias cidades do
interior do Piauí, inclusive a cidadezinha de Arraial do Piauí, na qual
terminou se fixando. Estabeleceu uma farmácia. Lá, exerceu informalmente várias
atividades, porquanto se tornou uma espécie de conselheiro, juiz, conciliador e
médico, além de farmacêutico.
Dificilmente, cometia erro em
suas consultas, diagnósticos e receitas. Tanto que um posto de saúde ostenta
seu nome. Também seu nome foi dado a uma rua dessa urbe. Conviveu com quatro
mulheres, com as quais gerou 14 filhos. Quando a primeira morreu, convidou uma
mulher para ser a ama de leite de seu filho mais novo, que tinha apenas um
pouco mais de mês de vida. Terminaram convivendo como marido e mulher.
Quando a segunda veio a falecer,
preferiu não sair da família, e se tornou companheiro de uma irmã dela. Com a
morte desta, arranjou a quarta e última companheira. Ao que se sabe, teve
apenas uma mulher de cada vez. Viveu até os 108 anos, como um homem ativo e
rijo. Nessa idade fez uma operação de hérnia. Inquieto, mesmo operado, trepou
num monte de tijolos, para tirar algo de cima de um muro. Pisou em falso, vindo
a cair, o que lhe arrebentou novamente a hérnia objeto da cirurgia.
Em consequência, veio a óbito,
vinte e um anos atrás. Foi sepultado na pequenina Arraial, onde exerceu as suas
atividades e a sua liderança natural, carismática e humanitária, sem os
interesses escusos da politicalha. Deixou vários filhos e netos. Muitos não
carregam os sobrenomes Helal e Tajra. Mas carregam o DNA de um homem que foi
sábio, bom e digno.
8 de junho de 2010
Agradabilíssima essa crônica de tempos idos…!!!!!
ResponderExcluirMuito obrigado. Bons tempos idos e vividos.
ResponderExcluirExcelente texto. O Seu Elias deixa um grande legado, e é patrono de uma grande família honrada e que contribui muito com o desenvolvimento do nosso Município de Arraial
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