sexta-feira, 8 de setembro de 2023

UM SÍRIO EM ARRAIAL DO PIAUÍ

Fonte das imagens: Google


UM SÍRIO EM ARRAIAL DO PIAUÍ


Elmar Carvalho


Esteve hoje à tarde no fórum um neto de Elias Helal Tajra. Seu nome é o mesmo do avô, trocado o sobrenome Tajra pelo vocábulo Neto. Fez o curso de Edificações na velha Escola Técnica Federal do Piauí e formou-se em Licenciatura Plena em Química. Tem funcionado como perito ou como assistente técnico em alguns processos. Contou-me ele a história desse seu ancestral.

O velho Elias nasceu em Damasco, na Síria. Era alto, alourado e de olhos azuis. Para fugir da primeira guerra mundial, foi para a Turquia de onde conseguiu embarcar em um navio. Para conseguir a vaga, embriagou um marinheiro e tomou o seu lugar na tripulação. No Brasil, esteve inicialmente em Belém, de onde seguiu para São Luís. Desta cidade foi para Teresina, de onde foi dar com os costados em Floriano, onde havia uma colônia de sírios e libaneses.

Seus patrícios lhe conseguiram a ocupação de caixeiro-viajante, em cuja atividade percorreu várias cidades do interior do Piauí, inclusive a cidadezinha de Arraial do Piauí, na qual terminou se fixando. Estabeleceu uma farmácia. Lá, exerceu informalmente várias atividades, porquanto se tornou uma espécie de conselheiro, juiz, conciliador e médico, além de farmacêutico.

Dificilmente, cometia erro em suas consultas, diagnósticos e receitas. Tanto que um posto de saúde ostenta seu nome. Também seu nome foi dado a uma rua dessa urbe. Conviveu com quatro mulheres, com as quais gerou 14 filhos. Quando a primeira morreu, convidou uma mulher para ser a ama de leite de seu filho mais novo, que tinha apenas um pouco mais de mês de vida. Terminaram convivendo como marido e mulher.

Quando a segunda veio a falecer, preferiu não sair da família, e se tornou companheiro de uma irmã dela. Com a morte desta, arranjou a quarta e última companheira. Ao que se sabe, teve apenas uma mulher de cada vez. Viveu até os 108 anos, como um homem ativo e rijo. Nessa idade fez uma operação de hérnia. Inquieto, mesmo operado, trepou num monte de tijolos, para tirar algo de cima de um muro. Pisou em falso, vindo a cair, o que lhe arrebentou novamente a hérnia objeto da cirurgia.

Em consequência, veio a óbito, vinte e um anos atrás. Foi sepultado na pequenina Arraial, onde exerceu as suas atividades e a sua liderança natural, carismática e humanitária, sem os interesses escusos da politicalha. Deixou vários filhos e netos. Muitos não carregam os sobrenomes Helal e Tajra. Mas carregam o DNA de um homem que foi sábio, bom e digno. 

8 de junho de 2010

3 comentários:

  1. Agradabilíssima essa crônica de tempos idos…!!!!!

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  2. Excelente texto. O Seu Elias deixa um grande legado, e é patrono de uma grande família honrada e que contribui muito com o desenvolvimento do nosso Município de Arraial

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