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PRAÇA BAIXA DA ÉGUA
Valério Chaves
Des. Aposentado do TJPI
Pouca gente sabe que
muitas ruas e avenidas bastantes conhecidas de Teresina já tiveram nomes
engraçados ou curiosos e que ao longo do tempo sofreram modificação em sua
nomenclatura por atos administrativos municipais.
A atual Praça Landri Sales (praça do Liceu) por exemplo, era
chamada até 1939 de Praça Baixa da Égua, isto porque o local era ponto de ótima
pastagem para animais. O professor e pesquisador barrense Arimathéia Tito Filho
conta no seu livro MEMORIAL DA CIDADE VERDE, editado pela COMEPI (Companhia
Editora do Piaui) em 1978, que tal denominação surgiu de um episódio envolvendo
dois personagens: um negro e uma égua.
É que no local - diz o
citado autor - existia muito pasto para animais, e os donos desses animais
(jumentos, cavalos e éguas) peavam com amarras nos pés, ou seja, com peias. Com
o passar do tempo, começaram a aparecer ladrões de peias, até que um certo dia “apareceu
morto, com o crânio partido, um negro, e perto dele uma bonita égua cardã, que
tinha a alça da peia desamarrada e o casco do pé direito manchado de sangue.
A partir de então o
campo de pastagens ganhou o nome popular de BAIXA DA ÉGUA. Depois se chamou Largo do Poço da Nação (abertura de
um poço na praça). Seguidamente, praça 15 de novembro e, finalmente, praça do
Liceu (batismo popular)”.
A propósito, a praça Landri Sales ou praça do Liceu, foi
palco no passado, de outro episódio curioso envolvendo não mais uma égua, mas
um vigia noturno da Prefeitura Municipal de Teresina, apelidado de “João Mago”.
Do livro “Casos de Justiça e Outras Histórias que a Vida Conta” (pág. 105), editado
em 2015 pela Gráfica O Povo, extrai-se o seguinte episódio ocorrido em meados
do século passado na praça do Liceu ou como queiram Baixa da Égua:
“Passava da meia noite. A iluminação pública vinda da Usina
Santa Luzia, na Piçarra, já havia se apagado, e não se ouvia a voz de um só
cristão. A praça parecia cemitério na escuridão.
“Neste cenário melancólico, João Mago fazia as vezes de vigia noturno... o que
lhe custava virar as noites sem pregar os olhos. De repente, apareceu-lhe o vulto de uma mulher a poucos metros de
distância, sem nenhuma roupa no corpo, do jeito que nasceu, sorrindo e
insinuando-se com o corpo nu. João Mago sentiu um arrepio no corpo supondo que
era alguma assombração do outro mundo ou talvez a alma da “Não se Pode”
(personagem em forma de mulher alta, vestida de branco, criada pela imaginação
popular de Teresina de outrora levando medo e terror a quem se aventurasse sair
tarde da noite pelas ruas).
Porém, tudo não passou de um susto. Sem muito esforço
percebeu que se tratava de “Maria Pé Largo” – uma doida que toda vez que fugia
do asilo, saia à toa pelas ruas e praças da cidade, completamente nua à procura
de que lhe desse comida ou de algum irresponsável aproveitador para lhe fazer o
mal, inclusive sexo de graça.
“João Mago não pôde resistir à tentação, mesmo sabendo que se
tratava de uma doida. Não vou perder esta chance rara – teria dito ouvindo sua
própria respiração e, acrescentado: você vai ver quanto custa aparecer nua aqui
à esta hora da noite.
“Tudo ia muito bem encaminhado para os “finalmente” quando de
repente a doida, num gesto de alucinação, entrançou as pernas na cintura do
guarda, e começou a gritar a plenas pulmões: empurra o (p...) fio duma
égua...empurra.. De nada adiantava pedir para a doida parar de gritar. Na manhã
seguinte dirigiu-se à Prefeitura para pedir desculpas ao prefeito. Não
adiantou. A demissão foi
inevitável.
(Episódio baseado em história contada ao autor pelo enfermeiro Pedro Margarida, in memoriam).
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