Fotomontagem: Elmara Cristina |
DISCURSO DE RECEPÇÃO A GILDÁRIO DIAS LIMA (*)
Elmar Carvalho
Nesta manhã festiva e engalanada,
tenho a honra de, em nome da Academia Campomaiorense de Ciências, Artes e
Letras - ACALE e de todos os seus membros, receber o neófito acadêmico Gildário
Dias Lima, cidadão de muitos méritos, louros e troféus, conforme adiante
informarei.
Portanto, a sua presença entre nós
engrandecerá e fortalecerá os pilares de nosso sodalício. A solenidade de posse
torna o eleito, de fato, acadêmico, e o dia de sua posse constitui a data mais
importante de sua vida acadêmica, cuja efeméride deverá ser proclamada em
nossas reuniões, nas ocasiões propícias, como acontece em outras academias.
Nasceu Gildário Dias Lima em Campo
Maior, no dia 7 de dezembro de 1983, filho de Adelmo Bezerra Lima e Isabel
Maria Dias Lima, que sempre o incentivaram em seus estudos e em suas vitórias
intelectuais, e aqui se encontram, com justo orgulho, para aplaudi-lo neste
novo e importante triunfo, em que a coroa de louros da imortalidade acadêmica
orna a sua fronte.
Em sua cidade natal, a bucólica e
bela Terra dos Carnaubais, no período de 1990 a 1998, cursou a Educação Infantil
e o Ensino Fundamental I e II, na Unidade Escolar Patronato Nossa Senhora de
Lourdes. Ali também estão situados, no cimo da suave colina, uma singela ermida
e uma gruta, que, em minha adolescência, tantas vezes contemplei, na época em
que essa paisagem era apenas um largo de terra nua, ornado de capim e flores
silvestres, onde se realizavam os festejos anuais da Santa, com quermesses e
leilões. Por lá vi desfilarem belas e graciosas normalistas, vestidas de azul e
branco.
Gildário fez o Ensino Médio, entre
1999 e 2002, no Educandário Leonardo da Vinci (Campo Maior), que homenageia a
mais importante figura da Renascença. Da Vinci, além de pintor, poeta, músico e
escultor, foi inventor, arquiteto, engenheiro e homem de ciência. Como também,
escritor e cientista, veio a se tornar Gildário Dias Lima.
Sua graduação e mestrado foram feitos
na Universidade Federal do Piauí – UFPI, no período de 2003 a 2010. De 2014 a
2020, conquistou a láurea máxima, o doutorado em Física, pela Universidade
Federal Fluminense (Niterói – RJ).
Foi cofundador e membro das seguintes
entidades, entre outras, onde apresentou projetos e participou de eventos:
Instituto de Tecnologia, Ciências e Inovação do Delta do Parnaíba (Delta
TIC’s), Primeiro Fórum de Tecnologia, Ciências e Inovação do Piauí (FORTIC’s),
Membro fundador da Organização não Governamental Cajuína Tech, Universidade
Federal do Delta do Parnaíba, Startup Outlier Medical Automation, The Hub –
Primeiro HUB de Tecnologia do Piauí, Membro da Comunidade Carnaúba Valley do
Norte do Estado do Piauí, Membro do
Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal do
Piauí.
Conquanto ainda jovem, recebeu as
seguintes homenagens e honrarias: Cidadão Honorário de Parnaíba, Comendador da
Ordem Renascença do Estado do Piauí, Título de Filantropo da Câmara Municipal
de Campo Maior e Medalha do Mérito Legislativo “Vereador Simplício José da
Silva”.
Entre a vida do conterrâneo Gildário
e a minha, encontro alguns pontos de contato, aos quais me referirei.
Foi ele, ainda jovem, exercer o cargo
de professor na Universidade Federal do Piauí, da qual mais tarde se desmembrou
a Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPAR, onde continua professor
respeitado, além de exercer outras atividades, inclusive de extensão, a que me
referi acima.
Eu e minha família fomos morar em
Parnaíba em 1975, quando era um bisonho jovem de 19 anos de idade. Tinha apenas
“duas mãos e o sentimento do mundo” e a cabeça povoada de sonhos e utopias. Em
1977 ou 1978, já trabalhando na ECT – Empresa de Correios e Telégrafos e
estudando no curso de Administração de Empresas (UFPI – Campus Ministro Reis
Velloso), nostálgico de Campo Maior, escrevi o meu poema Cromos de Campo Maior,
do qual extraio estes poucos versos:
Açude Grande
apenas no nome, mas
pequeno
na paisagem ampla dos
descampados.
Tuas águas cinzentas
azularam-se em minha
saudade.
Tuas águas barrentas
são tingidas de azul
pelo
azul do céu que se
espelha
em tuas águas de
chumbo.
No umbral de seus quarenta anos, toma
Gildário, no dia de hoje, posse na Academia Campomaiorense de Artes e Letras.
No Iate Clube Laguna, à beira do
formoso Açude Grande, mais de vinte e cinco anos atrás, aos 41 anos de vida,
tomava eu posse na Academia de Letras do Vale do Longá. Naquela ocasião, falei
sobre as demolições de edifícios antigos de Campo Maior, lendo parte de meu
poema o qual dizia que literalmente haviam tombado a Fazenda Tombador. Décadas
antes já havia sido demolida a velha e bela Igreja Colonial de Santo Antônio do
Surubim. Adverti que, se providências não fossem tomadas, as velhas casas da
Zona Planetária cairiam.
Infelizmente, fui um bom profeta.
Seis ou sete anos depois, num “inverno” rigoroso, de fortes e torrenciais
chuvas, ruíram os velhos lupanares, cujos escombros úmidos, tristonho
contemplei. Depois, quase sub-repticiamente, foram desaparecendo outros
prédios, por causa da ganância, da insensibilidade ou da incúria do poder
público. Concito os confrades para que sejamos os guardiões desses vetustos
prédios, sobrados e casarões solarengos, inclusive do Cemitério Velho; este
deveria ser transformado em Museu e Memorial a céu aberto. Em homenagem ao
saudoso arquiteto Olavo Pereira da Silva Filho, nosso conterrâneo, peço vênia
para recitar apenas os versos iniciais de meu poema A Zona Planetária:
Anfion percorre os
sulcos
dos discos das vitrolas
e as
emoções são alinhadas
pedra a pedra.
Apolo é qualquer moço
feio
que nos vitrais Narciso
se julga.
De repente, Átropos
corta o fio da vida
que era tecido pelas
Parcas lentamente
pelos golpes de facas,
adagas ou estiletes
nas mãos de um velho Pã
embriagado.
Gildário nasceu e se criou em sua
terra natal. Porém, aos 22 anos de idade, foi estudar no Rio de Janeiro, de
onde retornou aos 29 anos, com o título
de doutor em Física e com habilidades em tecnologia aplicada. Fora ele à
procura, talvez, do pássaro azul da felicidade, assim como eu, aos 16 anos, fui
em busca da pedra azul de minha serra encantada, de minha serra encardida.
Tornou-se professor do Campus da
UFPI, em Parnaíba, que logo veio a ser, com a sua parcela de contribuição, a
Universidade Federal do Delta do Parnaíba. Por esse e por outros bons serviços
prestados ao município, Gildário recebeu o Título de Cidadão Parnaibano, título
este que tenho a honra de também haver recebido. Protagonista do setor
tecnológico no Estado do Piauí, hoje se dedica a criar tecnologias disruptivas,
que têm o objetivo de solucionar problemas, tornando a vida mais agradável.
Enquanto ele, amante da ciência e das
artes, vislumbra inefáveis belezas nas fórmulas e nas equações da Física e da
Matemática, eu, ao contrário, reconheço que elas nada me ensinaram, exceto o
terror, como explanei nestes versos:
A matemática
me enlouquece:
por isto meu pensamento
salta de mais infinito
a menos infinito
e explora as amplidões
do universo, enquanto
meus olhos vidrados
fitam a álgebra
sem vê-la.
E a minha abstração
me leva ao infinito
que meu corpo
me nega.
Meu caro Prof. Dr. Gildário, você irá
ocupar a cadeira 18 de nosso Silogeu, que tem como patrono o poeta, escritor e
historiador Reginaldo Gonçalves de Lima, pernambucano de Jaboatão dos
Guararapes, mas que se fez Campomaiorense como os que mais o sejam. Dele, em
prefácio ao seu primoroso livro Geração Campo Maior – anotações para uma
enciclopédia –, colhi o ensejo para dizer:
“Reginaldo Gonçalves de Lima veio
conhecer os largos e planos tabuleiros, pontilhados de carnaubeiras, e ficou.
Ficou para sempre encantado com a exuberância da paisagem, onde pontificam a
sinuosidade do Surubim, o recorte do debrum azul da serra e o ondular manso e
manhoso do açude. Tomou-se de amor pela terra e escreveu, talvez como
retribuição e oferenda, este Geração Campo Maior – anotações para uma
enciclopédia.
O subtítulo diz tudo,
diz mesmo demais. Realmente, o livro é quase uma enciclopédia, chega a ser de
fato uma enciclopédia pela massa de informações que contém, pela variedade de
assuntos enfocados.”
Merece essa esplêndida obra ser
reeditada pelo poder público, com urgência, porque nela estão a memória dos
principais fatos de nossa história e a síntese biográfica de ilustres
Campomaiorenses.
E será o sucessor de José Cardoso da
Silva Neto, o popular Zé Didor, o Tremendão de nossa boa e velha Jovem Guarda
local, figura acolhedora, alegre e extrovertida, paladino quixotesco da memória
artística e histórica de nosso torrão, que exerceu as atividades de escritor,
memorialista, “historiófilo” e “museófilo”, como consta em seu curriculum na
Revista Acadêmica, edição 01, ACALE, 2013, cuja obra magna, com a qual será
imortalizado, foi haver criado o seu legendário Museu, através do qual
amealhou, ao longo de décadas de esforço constante e tenaz, milhares de objetos
históricos, de obras de arte e de valiosos e importantes documentos que agora
deveriam ser preservados por algum órgão público.
Como esta solenidade está sendo
realizada nesta Casa de Vereadores, não resisto à tentação de prestar rápida e
singela homenagem ao Tenente Simplício José da Silva, posteriormente
Tenente-Coronel, que pertenceu ao antigo Senado da Câmara de Campo Maior. Foi
ele um dos maiores heróis da Guerra pela Independência do Brasil, tanto porque
combateu na Batalha do Jenipapo, quanto porque, a seguir, perseguiu Fidié, em
verdadeiros combates de guerrilha, e ainda porque, com mãos firmes e austeras,
imprimiu ordem ao caos e à anarquia que se instauraram na vila de Campo Maior,
em meio a roubos e assassinatos, após a sangrenta Batalha. Peço que aqui seja
afixado o retrato desse destemido e altivo herói, ainda que simbólico,
imaginário ou idealizado, legendado com a síntese de seu perfil, lavrado pelo
Mons. Chaves, que foi o seu grande e incondicional admirador.
Aqui, neste centro histórico de Campo
Maior, outrora, nos festejos de Santo Antônio, a bandinha do Antônio Músico
(Antônio Bona Neto) atacava com o dobrado Capitão Caçula e outros dobrados e
marchas, sob lágrimas coloridas e
encantadoras da pirotécnica; aqui, outrora, existiu a primeira igreja de Santo
Antônio do Surubim, erguida pelo Marechal de Campo Bernardo de Carvalho e
Aguiar, último Mestre de Campo das Conquistas do Piauí e do Maranhão, fundador
de currais, igrejas e cidades, entre as quais a nossa amada cidade, a velha e
quase mítica Bitorocara.
Aqui, nesta bela Praça Bona Primo,
felizmente, ainda podemos ver o vetusto casarão solarengo da professora
Briolanja Oliveira, que abriga a nossa Academia, e que agora há de acolher e
agasalhar o acadêmico Gildário Dias Lima, com o aplauso caloroso de todos nós e
o afeto amigo de seus pares.
Seja bem-vindo e adentre o velho e
histórico solar, hoje casa de Ciências, Artes e Letras.
(*) Discurso proferido por José Elmar de Mélo Carvalho,
em recepção ao acadêmico Gildário Dias Lima, em solenidade da Academia
Campomaiorense de Ciências, Artes e Letras – ACALE, ocorrida no dia 28 de
outubro de 2023, no plenário da Câmara Municipal de Campo Maior.
Parabéns, texto muito rico em cultura, história, literatura e uma ótima recepção ao merecedor acadêmico.
ResponderExcluirMuito obrigado, caro amigo.
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