quarta-feira, 1 de novembro de 2023

DISCURSO DE RECEPÇÃO A GILDÁRIO DIAS LIMA (*)

Fotomontagem: Elmara Cristina

Elmar Carvalho e Gildário Dias Lima


 

DISCURSO DE RECEPÇÃO A GILDÁRIO DIAS LIMA (*)


Elmar Carvalho

 

Nesta manhã festiva e engalanada, tenho a honra de, em nome da Academia Campomaiorense de Ciências, Artes e Letras - ACALE e de todos os seus membros, receber o neófito acadêmico Gildário Dias Lima, cidadão de muitos méritos, louros e troféus, conforme adiante informarei.  

Portanto, a sua presença entre nós engrandecerá e fortalecerá os pilares de nosso sodalício. A solenidade de posse torna o eleito, de fato, acadêmico, e o dia de sua posse constitui a data mais importante de sua vida acadêmica, cuja efeméride deverá ser proclamada em nossas reuniões, nas ocasiões propícias, como acontece em outras academias.

Nasceu Gildário Dias Lima em Campo Maior, no dia 7 de dezembro de 1983, filho de Adelmo Bezerra Lima e Isabel Maria Dias Lima, que sempre o incentivaram em seus estudos e em suas vitórias intelectuais, e aqui se encontram, com justo orgulho, para aplaudi-lo neste novo e importante triunfo, em que a coroa de louros da imortalidade acadêmica orna a sua fronte.

Em sua cidade natal, a bucólica e bela Terra dos Carnaubais, no período de 1990 a 1998, cursou a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I e II, na Unidade Escolar Patronato Nossa Senhora de Lourdes. Ali também estão situados, no cimo da suave colina, uma singela ermida e uma gruta, que, em minha adolescência, tantas vezes contemplei, na época em que essa paisagem era apenas um largo de terra nua, ornado de capim e flores silvestres, onde se realizavam os festejos anuais da Santa, com quermesses e leilões. Por lá vi desfilarem belas e graciosas normalistas, vestidas de azul e branco.    

Gildário fez o Ensino Médio, entre 1999 e 2002, no Educandário Leonardo da Vinci (Campo Maior), que homenageia a mais importante figura da Renascença. Da Vinci, além de pintor, poeta, músico e escultor, foi inventor, arquiteto, engenheiro e homem de ciência. Como também, escritor e cientista, veio a se tornar Gildário Dias Lima.  

Sua graduação e mestrado foram feitos na Universidade Federal do Piauí – UFPI, no período de 2003 a 2010. De 2014 a 2020, conquistou a láurea máxima, o doutorado em Física, pela Universidade Federal Fluminense (Niterói – RJ).

Foi cofundador e membro das seguintes entidades, entre outras, onde apresentou projetos e participou de eventos: Instituto de Tecnologia, Ciências e Inovação do Delta do Parnaíba (Delta TIC’s), Primeiro Fórum de Tecnologia, Ciências e Inovação do Piauí (FORTIC’s), Membro fundador da Organização não Governamental Cajuína Tech, Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Startup Outlier Medical Automation, The Hub – Primeiro HUB de Tecnologia do Piauí, Membro da Comunidade Carnaúba Valley do Norte do Estado do Piauí,  Membro do Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Piauí.

Conquanto ainda jovem, recebeu as seguintes homenagens e honrarias: Cidadão Honorário de Parnaíba, Comendador da Ordem Renascença do Estado do Piauí, Título de Filantropo da Câmara Municipal de Campo Maior e Medalha do Mérito Legislativo “Vereador Simplício José da Silva”.  

Entre a vida do conterrâneo Gildário e a minha, encontro alguns pontos de contato, aos quais me referirei.

Foi ele, ainda jovem, exercer o cargo de professor na Universidade Federal do Piauí, da qual mais tarde se desmembrou a Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPAR, onde continua professor respeitado, além de exercer outras atividades, inclusive de extensão, a que me referi acima.

Eu e minha família fomos morar em Parnaíba em 1975, quando era um bisonho jovem de 19 anos de idade. Tinha apenas “duas mãos e o sentimento do mundo” e a cabeça povoada de sonhos e utopias. Em 1977 ou 1978, já trabalhando na ECT – Empresa de Correios e Telégrafos e estudando no curso de Administração de Empresas (UFPI – Campus Ministro Reis Velloso), nostálgico de Campo Maior, escrevi o meu poema Cromos de Campo Maior, do qual extraio estes poucos versos:    

Açude Grande

apenas no nome, mas pequeno

na paisagem ampla dos descampados.

Tuas águas cinzentas

azularam-se em minha saudade.

Tuas águas barrentas

são tingidas de azul pelo

azul do céu que se espelha

em tuas águas de chumbo.

No umbral de seus quarenta anos, toma Gildário, no dia de hoje, posse na Academia Campomaiorense de Artes e Letras.  

No Iate Clube Laguna, à beira do formoso Açude Grande, mais de vinte e cinco anos atrás, aos 41 anos de vida, tomava eu posse na Academia de Letras do Vale do Longá. Naquela ocasião, falei sobre as demolições de edifícios antigos de Campo Maior, lendo parte de meu poema o qual dizia que literalmente haviam tombado a Fazenda Tombador. Décadas antes já havia sido demolida a velha e bela Igreja Colonial de Santo Antônio do Surubim. Adverti que, se providências não fossem tomadas, as velhas casas da Zona Planetária cairiam.   

Infelizmente, fui um bom profeta. Seis ou sete anos depois, num “inverno” rigoroso, de fortes e torrenciais chuvas, ruíram os velhos lupanares, cujos escombros úmidos, tristonho contemplei. Depois, quase sub-repticiamente, foram desaparecendo outros prédios, por causa da ganância, da insensibilidade ou da incúria do poder público. Concito os confrades para que sejamos os guardiões desses vetustos prédios, sobrados e casarões solarengos, inclusive do Cemitério Velho; este deveria ser transformado em Museu e Memorial a céu aberto. Em homenagem ao saudoso arquiteto Olavo Pereira da Silva Filho, nosso conterrâneo, peço vênia para recitar apenas os versos iniciais de meu poema A Zona Planetária:

Anfion percorre os sulcos

dos discos das vitrolas e as

emoções são alinhadas pedra a pedra.

Apolo é qualquer moço feio

que nos vitrais Narciso se julga.

De repente, Átropos corta o fio da vida

que era tecido pelas Parcas lentamente

pelos golpes de facas, adagas ou estiletes

nas mãos de um velho Pã embriagado.  

Gildário nasceu e se criou em sua terra natal. Porém, aos 22 anos de idade, foi estudar no Rio de Janeiro, de onde retornou aos 29 anos, com o   título de doutor em Física e com habilidades em tecnologia aplicada. Fora ele à procura, talvez, do pássaro azul da felicidade, assim como eu, aos 16 anos, fui em busca da pedra azul de minha serra encantada, de minha serra encardida.  

Tornou-se professor do Campus da UFPI, em Parnaíba, que logo veio a ser, com a sua parcela de contribuição, a Universidade Federal do Delta do Parnaíba. Por esse e por outros bons serviços prestados ao município, Gildário recebeu o Título de Cidadão Parnaibano, título este que tenho a honra de também haver recebido. Protagonista do setor tecnológico no Estado do Piauí, hoje se dedica a criar tecnologias disruptivas, que têm o objetivo de solucionar problemas, tornando a vida mais agradável.  

Enquanto ele, amante da ciência e das artes, vislumbra inefáveis belezas nas fórmulas e nas equações da Física e da Matemática, eu, ao contrário, reconheço que elas nada me ensinaram, exceto o terror, como explanei nestes versos:

A matemática

me enlouquece:

por isto meu pensamento

salta de mais infinito

a menos infinito

e explora as amplidões

do universo, enquanto

meus olhos vidrados

fitam a álgebra

sem vê-la.

E a minha abstração

me leva ao infinito

que meu corpo

me nega.    

Meu caro Prof. Dr. Gildário, você irá ocupar a cadeira 18 de nosso Silogeu, que tem como patrono o poeta, escritor e historiador Reginaldo Gonçalves de Lima, pernambucano de Jaboatão dos Guararapes, mas que se fez Campomaiorense como os que mais o sejam. Dele, em prefácio ao seu primoroso livro Geração Campo Maior – anotações para uma enciclopédia –, colhi o ensejo para dizer:

“Reginaldo Gonçalves de Lima veio conhecer os largos e planos tabuleiros, pontilhados de carnaubeiras, e ficou. Ficou para sempre encantado com a exuberância da paisagem, onde pontificam a sinuosidade do Surubim, o recorte do debrum azul da serra e o ondular manso e manhoso do açude. Tomou-se de amor pela terra e escreveu, talvez como retribuição e oferenda, este Geração Campo Maior – anotações para uma enciclopédia.

O subtítulo diz tudo, diz mesmo demais. Realmente, o livro é quase uma enciclopédia, chega a ser de fato uma enciclopédia pela massa de informações que contém, pela variedade de assuntos enfocados.”  

Merece essa esplêndida obra ser reeditada pelo poder público, com urgência, porque nela estão a memória dos principais fatos de nossa história e a síntese biográfica de ilustres Campomaiorenses.

E será o sucessor de José Cardoso da Silva Neto, o popular Zé Didor, o Tremendão de nossa boa e velha Jovem Guarda local, figura acolhedora, alegre e extrovertida, paladino quixotesco da memória artística e histórica de nosso torrão, que exerceu as atividades de escritor, memorialista, “historiófilo” e “museófilo”, como consta em seu curriculum na Revista Acadêmica, edição 01, ACALE, 2013, cuja obra magna, com a qual será imortalizado, foi haver criado o seu legendário Museu, através do qual amealhou, ao longo de décadas de esforço constante e tenaz, milhares de objetos históricos, de obras de arte e de valiosos e importantes documentos que agora deveriam ser preservados por algum órgão público.

Como esta solenidade está sendo realizada nesta Casa de Vereadores, não resisto à tentação de prestar rápida e singela homenagem ao Tenente Simplício José da Silva, posteriormente Tenente-Coronel, que pertenceu ao antigo Senado da Câmara de Campo Maior. Foi ele um dos maiores heróis da Guerra pela Independência do Brasil, tanto porque combateu na Batalha do Jenipapo, quanto porque, a seguir, perseguiu Fidié, em verdadeiros combates de guerrilha, e ainda porque, com mãos firmes e austeras, imprimiu ordem ao caos e à anarquia que se instauraram na vila de Campo Maior, em meio a roubos e assassinatos, após a sangrenta Batalha. Peço que aqui seja afixado o retrato desse destemido e altivo herói, ainda que simbólico, imaginário ou idealizado, legendado com a síntese de seu perfil, lavrado pelo Mons. Chaves, que foi o seu grande e incondicional admirador.    

Aqui, neste centro histórico de Campo Maior, outrora, nos festejos de Santo Antônio, a bandinha do Antônio Músico (Antônio Bona Neto) atacava com o dobrado Capitão Caçula e outros dobrados e marchas, sob  lágrimas coloridas e encantadoras da pirotécnica; aqui, outrora, existiu a primeira igreja de Santo Antônio do Surubim, erguida pelo Marechal de Campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, último Mestre de Campo das Conquistas do Piauí e do Maranhão, fundador de currais, igrejas e cidades, entre as quais a nossa amada cidade, a velha e quase mítica Bitorocara.  

Aqui, nesta bela Praça Bona Primo, felizmente, ainda podemos ver o vetusto casarão solarengo da professora Briolanja Oliveira, que abriga a nossa Academia, e que agora há de acolher e agasalhar o acadêmico Gildário Dias Lima, com o aplauso caloroso de todos nós e o afeto amigo de seus pares. 

Seja bem-vindo e adentre o velho e histórico solar, hoje casa de Ciências, Artes e Letras.  

 

(*) Discurso proferido por José Elmar de Mélo Carvalho, em recepção ao acadêmico Gildário Dias Lima, em solenidade da Academia Campomaiorense de Ciências, Artes e Letras – ACALE, ocorrida no dia 28 de outubro de 2023, no plenário da Câmara Municipal de Campo Maior.

2 comentários:

  1. Parabéns, texto muito rico em cultura, história, literatura e uma ótima recepção ao merecedor acadêmico.

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  2. Muito obrigado, caro amigo.

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