Frederico Torres, Inaldo Lisboa e Elmar Carvalho |
Na Feira Literária de Caxias
Elmar Carvalho
Estive em Caxias, alguns anos
atrás, em duas ou três ocasiões. Pude ver as suas belas e velhas igrejas e os
seus vetustos casarões e sobrados, que parecem ser o vestígio de uma época de
fastígio econômico, sendo necessário dizer que a cidade se reinventou através
do setor de serviço e comércio, como ocorreu com a nossa Parnaíba. Como não
poderia deixar de ser, em seguida arrematei o passeio, indo à Veneza caxiense.
Em 7 de junho de 2011 publiquei
em meu blog o meu texto “O Pantheon de Caxias”, em que falo um pouco de seu
patrimônio arquitetônico, de sua história e dos velhos poetas e escritores, que
são homenageados na Praça do Pantheon.
No panteão são destacados
Vespasiano Ramos (e a sua sede ardente pela samaritana de seu imortal soneto),
Francisco Dias Carneiro, industrial e poeta, que prefaciou um dos livros da
poetisa piauiense Luíza Amélia de Queiroz, Coelho Neto, que “batizou” Teresina
com o título de Cidade Verde, e Gonçalves Dias, o grande poeta nacional, o
verdadeiro fundador de nosso Romantismo, pela qualidade de seus versos. Em
tempos idos, conheci os boêmios e intelectuais Vitor Gonçalves Neto e Cid
Teixeira de Abreu, professor da UFPI, poeta de excelente linhagem e fina
tessitura, ambos visceralmente ligados a Caxias e Teresina.
Neste ano, em que se comemorou o
Bicentenário do excelso poeta de Canção do Exílio, integrando comitiva da
Confraria Camões, pronunciei uma palestra sobre o imenso bardo, na sede da
Academia Caxiense de Letras. Falei sobre sua vida e comentei sua obra literária.
Estavam presentes notáveis professores, escritores, historiadores e poetas de
Caxias, entre os quais Eziquio Barros Neto, Wybson Carvalho, Erlinda
Bittencourt, Francigelda Ribeiro e Edmilson Sanches. Da Confraria, entre
outros, se encontravam na solenidade Nílson Ferreira, seu presidente, Jessé
Barbosa, Frederico Rebelo e eu. Coroando tudo, à tarde, perto de nosso retorno,
ainda tomei uma pinga no Bar do Cantarelli, reduto irredutível de intelectuais
e boêmios. O proprietário ganhou esse honroso apelido em homenagem ao Flamengo
e seu legendário goleiro, do qual é torcedor fla-nático. Posteriormente,
participei de uma live, promovida pelo Institut Cultive Suisse Brésil, em que
discorri sobre os poemas dramáticos de Gonçalves Dias, a qual se encontra disponível
no You Tube.
Por último, fui convidado para
ser debatedor na mesa-redonda “Interfaces entre a dramaturgia e a literatura”,
juntamente com o escritor e professor Inaldo Lisboa, cineasta e dramaturgo. Foi
um dos vários eventos artísticos e culturais da VI Feira de Literatura, Cultura
e Turismo da Região dos Cocais – FLICT, e que teve a mediação do escritor e
poeta Frederico Rebelo Torres.
Mesmo não sendo um homem de
teatro, posto que não sou ator, diretor ou dramaturgo, resolvi enfrentar o
desafio. Tentei encontrar, através das lojas internéticas, um livro sobre o
assunto específico, mas não tive êxito em minha procura. Decidi, então, apelar
para as lembranças de minhas leituras esparsas, ao longo de minha vida, e para
o que aprendi com as poucas peças teatrais, a que assisti.
Na minha parte expositiva do
debate, resolvi incluir o cinema, que considero filho da literatura, mas,
talvez, sobretudo do teatro, conquanto seja fruto de sofisticada tecnologia,
com o uso de muitos efeitos especiais e outros truques, e tenha cenas e cenários,
mais amplos, mais flexíveis, mais dinâmicos. Ambos precisam de atores, de
diretores e de um roteiro ou peça. Assisti a filmes e “dramas” ainda na minha
meninice, porque havia em minha cidade o meu Cinema Paradiso, no caso o meu
saudoso e inesquecível Cine Nazaré, e os circos mambembes de minha infância,
que encerravam seu espetáculo com alguma peça teatral, muitas vezes tragédias
lacrimejantes, a que meus pais me levaram algumas vezes.
Resolvi, em minha fala, ficar
adstrito ao tema, sem entrar em digressões outras, sem tergiversações ou temas
transversais. Como se diz, fui direto ao ponto proposto e dele procurei não me
afastar. Dessa forma, falei dos pontos de contato entre o teatro e a
literatura. Fiz o cotejo de suas afinidades e divergências, de suas vantagens e
desvantagens comparativas, de suas limitações e possibilidades.
Disse que, no teatro ou no
cinema, o assistente tem que acompanhar o seu tempo, a sua duração, e não pode
“dar asas à imaginação”, uma vez que o cenário, as personagens e os sons são
mostrados, no palco ou na tela, ao passo que na literatura o leitor pode
imaginar o aspecto e detalhes de uma paisagem, as feições e a voz da personagem
etc., e pode diminuir o ritmo da leitura, para melhor entendimento e reflexão.
Evidentemente, deixei claro que o público ledor é cada vez menor, ao passo que
o teatro, o cinema e os audiovisuais se tornam cada vez mais atraentes, mais
aliciantes, com um público consumidor cada vez mais vasto.
Fiz a viagem a Caxias em
companhia de meu amigo Frederico Rebelo Torres, que chamo de Dom Frederico de
las Torres, bom camarada que me deu carona, e que não vive encastelado em altas
torres ebúrneas. No parque ambiental, onde ocorria a Feira, contamos com a
solicitude da professora universitária Francigelda Ribeiro e do poeta Wybson
Carvalho, que faziam parte da organização da FLICT, realizada no período de 17
a 19 de outubro do corrente ano.
E constatamos que a Feira se
tornou um acontecimento literário muito grande, poderoso e de alta qualidade,
com dezenas de eventos realizados a cada dia, tais como palestras, debates,
entrevistas e lançamentos de livros, e que efetivamente promove a literatura,
os escritores e os poetas, dando-lhes visibilidade, porquanto conseguiu atrair
razoável e interessado público.
Parabéns, poeta! Um relato extraordinário, também pelo conteúdo diverso e profundo.
ResponderExcluirParabéns Elmar!
ResponderExcluirNa hora de falar sobre teatro, o poeta o desafio, mas com as devidas reservas para quem não é do "trecho".
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