quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Na Feira Literária de Caxias


Frederico Torres, Inaldo Lisboa e Elmar Carvalho

 

Na Feira Literária de Caxias

 

Elmar Carvalho

 

Estive em Caxias, alguns anos atrás, em duas ou três ocasiões. Pude ver as suas belas e velhas igrejas e os seus vetustos casarões e sobrados, que parecem ser o vestígio de uma época de fastígio econômico, sendo necessário dizer que a cidade se reinventou através do setor de serviço e comércio, como ocorreu com a nossa Parnaíba. Como não poderia deixar de ser, em seguida arrematei o passeio, indo à Veneza caxiense.

Em 7 de junho de 2011 publiquei em meu blog o meu texto “O Pantheon de Caxias”, em que falo um pouco de seu patrimônio arquitetônico, de sua história e dos velhos poetas e escritores, que são homenageados na Praça do Pantheon.

No panteão são destacados Vespasiano Ramos (e a sua sede ardente pela samaritana de seu imortal soneto), Francisco Dias Carneiro, industrial e poeta, que prefaciou um dos livros da poetisa piauiense Luíza Amélia de Queiroz, Coelho Neto, que “batizou” Teresina com o título de Cidade Verde, e Gonçalves Dias, o grande poeta nacional, o verdadeiro fundador de nosso Romantismo, pela qualidade de seus versos. Em tempos idos, conheci os boêmios e intelectuais Vitor Gonçalves Neto e Cid Teixeira de Abreu, professor da UFPI, poeta de excelente linhagem e fina tessitura, ambos visceralmente ligados a Caxias e Teresina.

Neste ano, em que se comemorou o Bicentenário do excelso poeta de Canção do Exílio, integrando comitiva da Confraria Camões, pronunciei uma palestra sobre o imenso bardo, na sede da Academia Caxiense de Letras. Falei sobre sua vida e comentei sua obra literária. Estavam presentes notáveis professores, escritores, historiadores e poetas de Caxias, entre os quais Eziquio Barros Neto, Wybson Carvalho, Erlinda Bittencourt, Francigelda Ribeiro e Edmilson Sanches. Da Confraria, entre outros, se encontravam na solenidade Nílson Ferreira, seu presidente, Jessé Barbosa, Frederico Rebelo e eu. Coroando tudo, à tarde, perto de nosso retorno, ainda tomei uma pinga no Bar do Cantarelli, reduto irredutível de intelectuais e boêmios. O proprietário ganhou esse honroso apelido em homenagem ao Flamengo e seu legendário goleiro, do qual é torcedor fla-nático. Posteriormente, participei de uma live, promovida pelo Institut Cultive Suisse Brésil, em que discorri sobre os poemas dramáticos de Gonçalves Dias, a qual se encontra disponível no You Tube.

Por último, fui convidado para ser debatedor na mesa-redonda “Interfaces entre a dramaturgia e a literatura”, juntamente com o escritor e professor Inaldo Lisboa, cineasta e dramaturgo. Foi um dos vários eventos artísticos e culturais da VI Feira de Literatura, Cultura e Turismo da Região dos Cocais – FLICT, e que teve a mediação do escritor e poeta Frederico Rebelo Torres.

Mesmo não sendo um homem de teatro, posto que não sou ator, diretor ou dramaturgo, resolvi enfrentar o desafio. Tentei encontrar, através das lojas internéticas, um livro sobre o assunto específico, mas não tive êxito em minha procura. Decidi, então, apelar para as lembranças de minhas leituras esparsas, ao longo de minha vida, e para o que aprendi com as poucas peças teatrais, a que assisti.

Na minha parte expositiva do debate, resolvi incluir o cinema, que considero filho da literatura, mas, talvez, sobretudo do teatro, conquanto seja fruto de sofisticada tecnologia, com o uso de muitos efeitos especiais e outros truques, e tenha cenas e cenários, mais amplos, mais flexíveis, mais dinâmicos. Ambos precisam de atores, de diretores e de um roteiro ou peça. Assisti a filmes e “dramas” ainda na minha meninice, porque havia em minha cidade o meu Cinema Paradiso, no caso o meu saudoso e inesquecível Cine Nazaré, e os circos mambembes de minha infância, que encerravam seu espetáculo com alguma peça teatral, muitas vezes tragédias lacrimejantes, a que meus pais me levaram algumas vezes.

Resolvi, em minha fala, ficar adstrito ao tema, sem entrar em digressões outras, sem tergiversações ou temas transversais. Como se diz, fui direto ao ponto proposto e dele procurei não me afastar. Dessa forma, falei dos pontos de contato entre o teatro e a literatura. Fiz o cotejo de suas afinidades e divergências, de suas vantagens e desvantagens comparativas, de suas limitações e possibilidades.

Disse que, no teatro ou no cinema, o assistente tem que acompanhar o seu tempo, a sua duração, e não pode “dar asas à imaginação”, uma vez que o cenário, as personagens e os sons são mostrados, no palco ou na tela, ao passo que na literatura o leitor pode imaginar o aspecto e detalhes de uma paisagem, as feições e a voz da personagem etc., e pode diminuir o ritmo da leitura, para melhor entendimento e reflexão. Evidentemente, deixei claro que o público ledor é cada vez menor, ao passo que o teatro, o cinema e os audiovisuais se tornam cada vez mais atraentes, mais aliciantes, com um público consumidor cada vez mais vasto.

Fiz a viagem a Caxias em companhia de meu amigo Frederico Rebelo Torres, que chamo de Dom Frederico de las Torres, bom camarada que me deu carona, e que não vive encastelado em altas torres ebúrneas. No parque ambiental, onde ocorria a Feira, contamos com a solicitude da professora universitária Francigelda Ribeiro e do poeta Wybson Carvalho, que faziam parte da organização da FLICT, realizada no período de 17 a 19 de outubro do corrente ano.

E constatamos que a Feira se tornou um acontecimento literário muito grande, poderoso e de alta qualidade, com dezenas de eventos realizados a cada dia, tais como palestras, debates, entrevistas e lançamentos de livros, e que efetivamente promove a literatura, os escritores e os poetas, dando-lhes visibilidade, porquanto conseguiu atrair razoável e interessado público.  

3 comentários:

  1. Parabéns, poeta! Um relato extraordinário, também pelo conteúdo diverso e profundo.

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  2. Na hora de falar sobre teatro, o poeta o desafio, mas com as devidas reservas para quem não é do "trecho".

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