Charge da autoria de Gervásio Castro
BREVE CRONOLOGIA DE CARLOS SAID
Elmar Carvalho
Fui visitar o amigo Carlos Said,
para lhe entregar o meu opúsculo PoeMitos da Parnaíba e para conversar um pouco
com ele. Aproveitei para anotar algumas coisas a seu respeito, uma vez que
conheço bem a sua notável biografia. Tive a honra de ter o meu livro O Pé e a
Bola, sobre o futebol campomaiorense e parnaibano, prefaciado por ele. Por
diversas vezes, tenho sido distinguido com comentários seus sobre a minha
poesia.
Nasceu em Teresina, em 14.01.31.
É quase, pois, um oitentão. Formou-se em Direito, Filosofia e em Geografia e
História. É jornalista esportivo desde 1943, quando tinha apenas doze anos de
idade. Foi professor de Geografia e História em quase todos os colégios da
capital. Exerceu o magistério na Faculdade de Filosofia (FAFI) e na
Universidade Federal do Piauí. Nesta, por falta de professores em seu início,
lecionou várias disciplinas, em virtude de sua cultural geral.
No tempo em que a rádio Pioneira
ficava no ar durante 24 anos horas, cunhou o slogan “a emissora que não para”.
Quando, em serviço de reportagem, em 02.03.64, sofreu um acidente, reza a lenda
que ele próprio narrou o episódio. Por esse fato e talvez por causa de sua
natureza resistente e quase incansável, surgiu o seu epíteto de Magro de Aço, a
que eu acrescentaria as palavras inoxidável e inolvidável, caso o apelido
original já não fosse demasiadamente forte.
Em 1948, ingressou na rádio
Difusora, a mais antiga de Teresina, como narrador e comentarista de futebol.
Em 1958, fundou a Associação dos Cronistas Desportivos do Estado do Piauí
(APCDEP), tendo sido o seu primeiro presidente. Em 1º de março de 1946, juntamente
com outros colegas do Colégio Leão XIII, dirigido pelos professores Moaci
Ribeiro Madeira Campos e Antilhon Ribeiro Soares, fundou o River Plate Club, em
homenagem ao time homônimo da Argentina, porém teve que modificar seus
estatutos, pois o autoritário presidente da Confederação Piauiense de Futebol,
Raimundo Ney Baumann, que foi titular da Delegacia Regional do Trabalho e
interventor de Campo Maior, não aceitava nomes estrangeiros, pelo que a
agremiação futebolística passou a denominar-se River Atlético Clube.
De 1946 a 1951 foi titular ou 1º
reserva, na posição de golquíper riverino. Nos anos de 52, 53 e 54 foi campeão
piauiense pelo River, na condição de goleiro titular absoluto. A partir de 1955
até a data do acidente (02.03.64) continuou a jogar no RAC, mas só atuando
quando convocado.
Casou no dia 14.07.56, com a
senhora Rochelene, barrense, das família Fernandes e Fortes, com quem teve
cinco filhos (duas mulheres e três homens). Dois deles, Fernando e Gustavo, lhe
seguiram os passos no jornalismo e no magistério universitário. Em plena lua de
mel, mais precisamente um dia após o casamento, foi defender a meta do River,
na decisão do campeonato de aspirantes, em que esse time se sagrou campeão
invicto.
Em 1955, foi fazer, em Fortaleza,
a cobertura de dois jogos em que o River enfrentaria as equipes do Calouros do
Ar, no sábado, e do Ferroviário, no domingo. Na primeira partida, os dois
goleiros do River, Afonso e Xavante, não puderam jogar, pelo motivo prosaico de
que estavam acometidos de uma forte diarreia. Diante dessa situação, Carlos
Said foi convidado a defender a equipe do Galo, e o fez com tanta garra e
brilhantismo, que sua atuação foi comparada ao discurso inflamado, entusiástico
e arrebatado do integralista Plínio Salgado, também de compleição franzina, que
então se encontrava na capital alencarina.
Foi diretor de jornalismo e
esporte da Rádio Pioneira, fundada pelo arcebispo Dom Avelar Brandão Vilela, em
08.09.62. Iniciou sua atividade de comentarista esportivo de televisão, em
1992, na emissora Antena 10. Atualmente, exerce essa atividade na TV Cidade
Verde. Tem coluna no jornal Meio Norte, na qual escreve sobre história,
literatura e esporte. Continua em atividade na rádio Pioneira. Foi comunicador
social da Previdência Social no Piauí durante quarenta anos.
Na década de 70, nas transmissões
esportivas, Carlos Said e Dídimo de Castro reinavam absolutos, o primeiro com
seus comentários judiciosos, e o segundo, como narrador. Geralmente, suas
previsões analíticas se concretizavam, tanto que muitos técnicos o ouviam, e
seguiam as “sugestões” radiofônicas de suas análises. Várias palavras,
consideradas “bonitas” e “difíceis”, com que ele enfeitava seus comentários,
com certa dose de humor, como energúmeno, apedeuta, pacóvio, bilinguinguim do
inferno, etc., se transformavam em verdadeiros bordões, repetidos por todos os
ouvintes.
Gostava de usar a expressão
“raios me partam”, se determinada situação não acontecesse. Um amigo meu,
ouvinte dele, amiúde a usava; porém, cautelosamente, trocava o pronome “me” por “te”, pelo que
nada sofreria se as coisas dessem errado.
O Carlos Said continua a ser,
quase oitentão, o mesmo homem incansável e inquieto de sempre, de forma que
permanece sendo o eterno Magro de Aço – aço inoxidável e inolvidável, porque
ele deixou de ser apenas professor de História para entrar na História, pelos
serviços que tem prestado ao jornalismo, à cultura, à historiografia e à
literatura do Piauí.
10 de julho de 2010
Excelente! Agora já são novena janeiros, mas essa lenda viva continua hígida em sabedoria e honorabilidade. Marcelino Barroso
ResponderExcluirMuito bom! Mas meus concunhado e compadre já está na casa dos noventa, com afirmou o primeiro que comentou!
ResponderExcluirObrigado, professor Marcelino e colega Ana Célia, pelos comentários acima. A crônica foi escrita há mais de treze anos, como indica a data no final do texto.
ResponderExcluirEle está no rol seleto de comunicadores cultos e singulares. Bela homenagem a este patrimônio (i) material, inoxidável e inolvidável.
ResponderExcluirCalos Said é realmente uma lenda, Poeta. E merece todas as homenagens que lhe fizerem, como está brilhante crônica biográfica e com sabor histórico sobre a vida dele e a do seu RAC.
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