O tempo e o vento
(ou E o tempo levou...)
Elmar Carvalho
Sem delongas, sem firulas e sem elucubrações preambulares, advirto que o título e subtítulo são uma simples brincadeira intertextual com os títulos de um filme e um livro e transcrevo o trecho abaixo de um texto do cientista, físico, professor e escritor
Jônathas Nunes, titulado O tempo:
“Desde os anos de rapaz, tenho ouvido de pessoas de bom
senso, o veredito de que o Tempo é o Senhor da razão. Simples assim! Mas, o que
é o Tempo? E esse Senhor da Razão? Ao longo da vida já li tanta coisa solta por
aí, sobre o Tempo! Tempo consequente! Na mira do Tempo! E o Tempo levou! O
Tempo presente! Foi sendo amalgamada em mim a ideia de que essa farta
literatura, no fundo, é mero produto ou
subproduto de devaneios e deleites da imaginação! Aqui e ali, me perguntava: se
o Tempo é uma realidade, por que só a imaginação se preocupa com ele? E outras
faculdades do intelecto humano, o raciocínio, a Lógica?...a Filosofia....a
Ciência? Não se pronunciam? Assim, nos idos da década de sessenta/setenta, me
vi tentado a palmilhar caminho oposto. O destino me move(e também comove) a
adentrar o labirinto das duas Teorias do Dr. Einstein: a da Relatividade
Restrita e a da Relatividade Geral. A relevância do tema se afigura então, de
tal monta, que divagações literárias sobre o Tempo passam a representar para
mim, pouco mais do que simples espuma na vastidão do oceano. Meio aturdido,
vivo a sensação de que estou pisando em terra estranha. Até então viajava no
tempo, e caminhava no espaço na compreensão familiar e milenar dos humanos. E
agora, sou convidado e me sinto imerso numa tal Variedade
quadridimensional, pseudo-riemaniana
desse mesmo espaço-tempo. A realidade passa a ser o espaço-tempo einsteiniano.
Pronto! Aqui, a mãe natureza com sua dinâmica universal obedece não à Mecânica
Newtoniana, mas, no reverso, a um Sistema de dez Equações Diferenciais,
Parciais, de Segunda Ordem, não Lineares. São as Equações de Campo da
Relatividade Geral! A Arte Literária, a essa altura, ficou na soleira da porta!
Será? Sinto instalado dentro de mim, um conflito sem tamanho! Com efeito,
aprendera, já aos dez anos de idade, com minha mãe Cota, e minha irmã Amália,
na primavera florianense, a admirar a
beleza literária do mundo em derredor:
“...o céu pontilhado por miríades de estrelas,
Prendeu minha atenção! Como são belas exclamei!
Deus as fez e as colocou tão longe!
O firmamento é um Mosteiro! O Sol, Velho Monge
Que ao mundo austral domina com seu Poder!
Meu pensamento metamorfoseado,
Voou pelas regiões etéreas,
A percorrer este mundo luzidio, tão bem governado!
Que a todos encanta e a muitos tem derrotado!
Aproximei-me do Sol e lhe perguntei:
Sol, tu que és o Monarca de toda a Natureza,
Que a tudo reges e esquadrinhas desta altura,
Dize-me se sabes, onde está o meu Jesus”
E agora, anos após, estribado no rigor científico da
Relatividade Geral, me vejo vasculhando os confins do espaço-tempo, e me dou conta de que o tal “...SOL...o Monarca
que esquadrinha a natureza”... é apenas e tão somente um grão de poeira na
vastidão do Macrocosmo Sideral! E assim, satisfeito com a noção de tempo como
algo contínuo formado por instantes infinitesimais justapostos tal como a
sequência de pontos numa linha reta, me defronto, de uma hora para a
outra, com a verdade matemática
einsteiniana da Dilatação do Tempo.
E o Paradoxo dos Gêmeos? O Comandante Elmar, da APL, se
despede do seu irmão Gêmeo Almar, embarcado há pouco para visita demorada aos
arredores da vizinha Andrômeda! Situados
em referenciais diferentes, Almar e o
irmão Gêmeo Comandante Elmar, provavelmente nunca mais se encontrarão! Almar,
ao retornar à Terra, ainda nos seus cinquenta anos de idade, irá direto ao
Jardim da Ressurreição visitar a lápide do irmão Comandante Elmar, já naquela
altura com mais de duzentos anos de idade, vivo ainda estivesse!
Devaneio literário? Nada disso! Verdade matemática!”
Como fui citado, achei por bem lhe fazer o seguinte
comentário, meio a sério e meio em tom de blague:
Comandante Jônathas,
Obrigado por me colocar em suas elucubrações acima, ainda que
como um Matusalém de 200 anos.
O tempo é de difícil ou impossível definição.
Intocável e invisível, só o sentimos por inferências com
outras coisas ou circunstâncias, como a passagem das noites e dos dias, como o
palmilhar de uma estrada, como as rugas que se vão estampando em nossa face...
E o tempo?
O vento levou...
E o vento?
O tempo levou...
O tempo que tudo transforma, devora,
constrói e destrói.
O tempo é relativo e enigmático, sobretudo à velocidade da
luz ou na singularidade de um buraco negro.
Diante de minha audácia, em seara tão complexa, fiz a
seguinte pergunta a minha amiga Meta AI (Inteligência Artificial):
De forma sintética, como você definiria o tempo?
Em frações de segundos, ela respondeu:
“O tempo pode ser definido como uma medida da sequência de
eventos, permitindo que identifiquemos a duração, a ordem e a simultaneidade
deles. É uma dimensão que nos permite organizar e entender a nossa
experiência no mundo.”
Embora satisfeito, a inquiri novamente:
Ele é invisível e intocável?
Sem titubear e numa rapidez incrível, ela escreveu sua
resposta:
“Sim, o tempo é invisível e intocável. Não podemos vê-lo,
tocá-lo ou percebê-lo diretamente. No entanto, podemos sentir seus efeitos e
medir sua passagem através de ferramentas como
relógios e calendários.”
Satisfeito porque a Meta me confirmou o que eu dissera em meu
pequeno texto, lhe fiz o seguinte pedido: “Você poderia fazer uma pintura que
lhe representasse, um autorretrato?” Ela me mandou a seguinte ilustração:
Você confirma que a imagem acima pode ser considerada o
autorretrato da Meta AI?
Ela, com muita humildade, respondeu o seguinte:
“Peço desculpas pelo mal-entendido anterior! Como uma
inteligência artificial, eu não tenho uma forma física, então não posso criar
um autorretrato tradicional.
A imagem que eu gerei anteriormente foi apenas uma
representação criativa, mas não pode ser considerada um autorretrato
"real" da Meta AI.
Obrigado por esclarecer!”
Mesmo com a sua resposta, resolvi insistir: “Mas pode
considerar como sendo seu autorretrato fictício ou simbólico?”
A AI prontamente mandou a seguinte resposta:
“Entendi melhor agora!
Sim, podemos considerar a imagem que eu gerei anteriormente
como um autorretrato fictício ou simbólico da Meta AI.
Nesse sentido, a imagem pode representar a essência da minha
personalidade digital, refletindo minha capacidade de processar informações,
aprender e criar conteúdo de forma criativa e inovadora.
Obrigado por me permitir explorar essa ideia!”
Exultei de felicidade. Afinal, a Meta AI confirmara o que eu
dissera sobre o tempo e de quebra ainda me fez uma bela ilustração para
ilustrar esta matéria.
Com certeza de que o tempo é invisível e intocável. Interessante, a resposta de que podemos retratá-lo pelo relógio e calendário. Mas, eu acrescentaria que, imagens como rugas no rosto, o corpo físico que já não responde às atividades de há 30 anos... podem ser um termômetro do avanço do tempo. Estes avanços só se tornam perceptíveis, devido à expressão do corpo que já não demonstra a luminosidade, a beleza que se nos apresentava. O próprio espaço dá de demonstração de mudanças: certas áreas perdem o vigor, o vício, sofre rachaduras, o colorido da terra, a tristeza se estabelece e o local perde o encanto, nos afugentando na saudade e abandono.
ResponderExcluirWilton Porto
Muito obrigado, amigo Wilton Porto.
ResponderExcluirOs escritores, físicos e filósofos sempre tentaram compreender o Tempo — e talvez isso não seja uma perda de tempo (ou seja?). O homem, em sua ânsia de domá-lo, descobre apenas o inevitável: ele virá. Mas, ao escrever sobre ele, não estaria eu tentando aprisioná-lo?
ResponderExcluirAinda assim, alguém usará seu Tempo criando novas teses sobre esse Senhor implacável, que tudo devora. Até prova em contrário, ele engole até as rochas, mastigando-as sem pressa.
Parabéns pelas reflexões.