quarta-feira, 9 de julho de 2025

LIXÕES E MONTUROS

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Ficheiro:Lixao Urubus 20080220 - Marcello Casal Jr. - Agencia Brasil.jpg –  Wikipédia, a enciclopédia livre
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LIXÕES E MONTUROS

 

Elmar Carvalho

 

Muitos anos atrás, seguindo logo atrás de um carro de lixo, senti um fedor incrível, medonho. Escorria do carro um líquido, que alguém disse ser a origem daquele cheiro fétido, fino, ferino, que parecia tudo impregnar. A catinga era tão assombrosa, que parecia contaminar o mundo todo.

Era como se um “perfumista” do mal estivesse a extrair a essência de todas as matérias orgânicas em decomposição, e estivesse destilando aquele odor nauseabundo pelas ruas da cidade.

E ao sentir tão desagradável odor, não pude deixar de me lembrar do enorme poeta Augusto dos Anjos, que em sua originalidade visceral e em versos, muitas vezes sublimes, belos e perfeitos, cantou a decomposição da matéria, o horror dos sepulcros, dos esgotos e monturos, e a degradação da carne:

“Atabalhoadamente pelo becos,

Eu pensava nas coisas que perecem,

Desde as musculaturas que apodrecem

À ruína vegetal dos lírios secos.”

 

A propósito de lixo, sujeira e miséria, vejamos o que disse o poeta Manuel Bandeira, em poema claro, autoexplicativo:

 

“O Bicho

 

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

 

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

 

O bicho, meu Deus, era um homem.”

 

Em minhas viagens a cidadezinhas do Piauí, para minha profunda tristeza, tenho visto nas beiras das estradas verdadeiros monturos e lixões, sobrevoados pelas belas coreografias dos urubus, a farejar e cortejar as sujeiras dessas urbes.

E o pior de tudo isso não é apenas a fealdade e o fedor desses lixões. O pior é que esse chorume, se infiltrando pelo solo ou escorrendo pelos regos e esgotos, vai contaminar os nossos lençóis freáticos e os nossos rios e riachos. Acho que não preciso explicar o que isso significa, qual a implicação de tudo isso, quando a água contaminada estiver nas torneiras de nossas casas.

Tenho conhecimento de que Magno Pires, diretor-geral do Instituto de Saneamento Básico do Piauí, há mais de dois anos vem tentando acabar com esses lixões, ao menos em várias cidades do Piauí.

Contudo, vem encontrando resistência por parte de muitas pessoas, que tiram proveito econômico desses monturos e até mesmo, o que nos causa repulsa e estarrecimento, de gestores da administração pública.

Mas ele, de forma quixotesca, tenaz e resiliente, vem insistindo nesse seu mais do que louvável objetivo, e agora começa a sensibilizar os novos gestores municipais e, tudo indica, que começará a colher resultados benéficos para a população piauiense.

Espero que ele consiga extinguir a maioria desses lixões, com a implantação de manejo mais adequado desses monturos, sobretudo com a instalação das suas usinas de lixo ou de resíduos.

Para que possamos cantar, não aqueles versos que transcrevi acima, mas estes, abaixo, do mesmo e excelso poeta Augusto dos Anjos, em sua outra nuança, menos conhecida:

“A Esperança não murcha, ela não cansa,

Também como ela não sucumbe a Crença,

Vão-se sonhos nas asas da Descrença,

Voltam sonhos nas asas da Esperança.”

E se Magno Pires atingir o seu desiderato, como desejo sinceramente, passarei a considerá-lo um xerife do saneamento, e um legítimo Trimegisto: três vezes mestre, três vezes magno. 

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