terça-feira, 25 de maio de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO

Elmar Carvalho


25 de maio

TRÁGICO DESENCONTRO

Nesta sexta-feira, estive na CEF, tratando de assuntos de meu interesse. Fui atendido pela Natália, servidora dinâmica e atenciosa. Estava presente uma senhora que não conhecia. Não sei por que motivo, começamos a falar sobre assuntos de Oeiras. Eu disse a essa senhora que eu era um quase oeirense, e me dava com quase todos os intelectuais da velhacap, que são muitos e de escol; que havia escrito poemas e crônicas, em que fiz a louvação da Terra Mater. Ela me perguntou se eu conhecera o saudoso escritor e médico Expedito Rêgo. Respondi-lhe que sim, e que ainda no final do ano passado eu tivera a honra de ser o apresentador de seu livro Crônicas Esquecidas, que também prefaciara. Disse-lhe que também havia sido, por indicação de Ferrer Freitas, o apresentador de Vidas em Contraste, em memorável noite de cultura, em que vi pela derradeira vez Balduíno Barbosa de Deus, que havia sido meu professor no curso de Direito da UFPI. A senhora terminou por me contar uma tragédia que se abatera sobre sua vida, quando era recém casada e estava na flor da idade. Manoel Felipe, seu marido, era irmão de Expedito Rêgo, que apesar da cara fechada e de poucos sorrisos, era um médico humanitário e um homem bom. Quando ela estava prestes a ganhar seu bebê, o Dr. Expedito recomendou-lhe que viesse tê-lo em Teresina, tendo ela seguido o conselho. Teve parto normal, sem nenhuma complicação, de sorte que dois dias depois pode retornar a Oeiras. Seu marido achou por bem ir a seu encontro, em um jeep, como uma forma de homenagear a mulher e a filha. Seguiram pela estrada que vai para o povoado Gaturiano, que na época era uma carroçável de piçarra. Em certo trecho, próximo do povoado São João da Varjota, hoje cidade, um caminhão emparelhou com o jeep, em que iam Manoel Felipe, um amigo deste, e o motorista, um jovem de aproximadamente 18 anos de idade, provavelmente com pouca experiência e talvez com o entusiasmo próprio da idade. Ao que parece seguiram em parelha durante algum tempo, com o pó da piçarra turbilhonando no ar, o que terminou fazendo com que o motorista do caminhão fizesse uma manobra, de modo que a traseira da carroceria atingisse o carro menor, que foi projetado para fora da estrada. Acredita-se que essa manobra tenha sido proposital, pois soube-se que ele se gabara de tal proeza, ao parar em um posto de combustível. Manoel Felipe foi conduzido para Teresina, enquanto seu amigo faleceu no local do acidente. Poucos dias depois veio a falecer, quando tirava um cochilo, em consequência de sequelas do desastre, com apenas 26 anos de vida. Acompanhei a narrativa atentamente, com poucas interrupções para duas ou três perguntas. Olhei para o rosto de Durcila Sá Rêgo, era este o nome de minha interlocutora. Seus olhos vertiam sentidas e copiosas lágrimas. O poeta Manuel Bandeira, em célebre e elegíaco poema, chorou pelo que não foi, mas que poderia ter sido. Ela parecia chorar pelo que fora, mas que poderia não ter sido, se em lugar do desencontro ocasionado pelo trágico desastre automobilístico houvera acontecido o encontro sonhado e buscado por Manoel Felipe. Perguntei-lhe se poderia contar o caso. Com voz firme, sem titubeios, respondeu-me que sim. Certamente, tem o consolo de ter tido uma boa filha, a competente médica Conceição Sá, casada com o seu colega Tupinambá Vasconcelos, de cujo consórcio lhe vieram os netos.

2 comentários:

  1. Disso posso testemunhar, a Dra Conceição Sá, é uma médica competente e humana,atende com muita paciência e educação aos que lhe procuram.Fui encaminhado a ela diante de uma difilculdade e presencie a forma como trata seus pacientes.Atende duas vezes por semana em um hospital público da cidade,trata a todos de forma delicada, facilitando a vida dos mais pobres que não podem ir a uma clinica particular.Através do Sus também fui atendido, na última visita que lhe fiz descobrimos que temos em comum duas tias que são religiosas e que serviram juntas na mesma congregação religiosa, Irmã Yvette Andrade( Irmã do Irmão Turuka) e Irmã Franco, duas irmãs de caridade,que cultivaram na ordem uma grande amizade servindo a causa do Cristo com muita responsabilidade.De onde estiver com certeza seu Pai deve sentir uma enorme alegria pela filha que tem.

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  2. Caro Simão Pedro,
    O seu comentário muito enriquece o meu texto, e é um belo depoimento. Li sua crônica no blog Bitorocara, e devo confessar que também viajei através de suas reminiscências. Embora não tenha conhecido a maioria das pessoas que você cita, no entanto me emocionei ao me lembrar de pessoas que foram amigas minhas ou de meus pais, e que já partiram para o outro do mistério, como disse célebre escritor.

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