Cartaz da Bitorocara Festa, da autoria de João de Deus Netto
Hoje o velho Ron Montilla foi reabilitado pelo Zé Francisco Marques, que eu chamo de Gran Montilla, pirata mor dos sete mares de água doce de Bitorocara
11 de junho
OS EMBALOS DOS SÁBADOS DE ANTIGAMENTE
Na antessala da Corregedoria Geral da Justiça, enquanto esperava ser atendido pela desembargadora Eulália Ribeiro Gonçalves, uma pessoa me ofereceu um bombom. Escolhi um da marca Piper, e fiquei admirado de que ainda fosse fabricado. Enquanto o saboreava, lembrei-me de minha adolescência. Eu, o Otaviano, o Carlos Cardoso, Zé Moura, Zé Wilson, e creio que quase todos os adolescentes da época, o usávamos para disfarçar o bafo de onça provocado por algumas talagadas de pinga que tomávamos, para criarmos coragem de, nas festas, fosse no Campo Maior Clube, no Grêmio Recreativo ou na AABB, tirarmos uma garota para dançar. Com escasso dinheiro na algibeira, adotávamos a estratégia de, antes do baile, ingerirmos algumas doses de bebida destilada, geralmente cana serrana ou cuba libre, um coquetel de rum, invariavelmente da marca Ron Montilla, que chamávamos de Velho Pirata, limão e Coca-Cola. Guardávamos uns trocados para, no interior do clube, degustarmos umas duas ou três garrafas de cerveja, o que achávamos o máximo, e que nos davam a impressão de ser os próprios donos da festa. Nunca fui um legítimo dançarino. Retraído, algo tímido nos primeiros contatos com o belo sexo, a dança era meu principal estratagema para iniciar um namoro. Isto porque, conforme o modo como a garota se aconchegava e de acordo com o modo como ela me enlaçava e punha as mãos em minhas costas, era uma sinalização de que ela desejava ou não iniciar um namoro ou mesmo tirar um simples “pino”, “sarro” ou “amasso”, que era, na linguagem dos jovens da época, uns beijos e abraços mais apimentados e apertados. Mas também dançava – por que não confessar? – para sentir o aconchego e o calor de um corpo feminino. Nessa época, década de 70, as moças do interior do Piauí se conservavam virgens até o casamento, de modo que namoro era apenas namoro, e namorado era apenas namorado, e não tinha o significado de amante, como nos dias atuais. Recentemente, por causa dos retumbantes anúncios da Bitorocara Festa, trombeteados nos blogs Bitorocara e no do ZAN, que se propunha reviver os bons anos 60 e 70, das festas de arromba da Jovem-Guarda, das quase ingênuas tertúlias dançantes, que eram quase sempre regadas a “leite de onça”, um coquetel de cachaça e leite “Moça”, lembrei-me desses bons tempos dos sapatos “cavalo de pau”, das calças boca de sino e do jeans US-Top; das minissaias assanhadas, que mostravam pelo menos um palmo de coxa, dos singelos “tubinhos” das cocotas, e dos “tomara-que-caia”, que nunca caíam, para frustração geral da galera masculina. No final dos anos 70 inventaram a chamada “dança solta”, que eu abominava, pois se fosse para dançar sozinho eu preferiria fazê-lo no aconchego de minha casa. Então, resolvi sepultar, de vez, a minha incipiente e insipiente carreira de dançarino; de dançarino sem nenhum talento, admito.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
DIÁRIO INCONTÍNUO
Elmar Carvalho
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As experiências narradas eu também já vivi. Era comum fazer a base tomando a velha meiota, Rum ou Cachaça tomada com Pepsi ou Coca e pra te tirar o cheiro da bicha o salvador da pátria, o milagroso bombom Piper.No Campo Maior Clube e no Iate eu fazia muitas estripulias,lá dentro do clube completava com uma bem geladinha. Essa turma de hoje não conheceu o verbo pinar,não souberam degustar a fruta antes de experimentá-la.Dançei muito Carimbó, roçando coxa com coxa e pisando em muito pé.Quando a coisa se animava e a menina não refugava eu me enchia de coragem e convidava pra sair. Era muito beijo e amasso, pino pra todo lado, querer mais eu queria,mas o limite me impedia.
ResponderExcluirSemana passada esbaldei-me revendo um pouco esses momentos,bitoroquei a noite inteira no salão do Iate, relembrei muitos momentos e encontrei vários amigos.Dançei a noite inteira mastigando bombom Piper. No final da festa, com o sol já apontando,os acordes da guitarra me fizeram levitar no salão,ao som do Milionário fechei os olhos e me entreguei nos braços de Afodite.
As experiencias e os locais narrados(muito bem narrados) pelo Elmar e pelo Simão foi por mim vivenciado
ResponderExcluirCaro Simão Pedro,
ResponderExcluirO seu comentário - uma verdadeira minicrônica - ratifica e complementa o que eu disse. Fico, então, com a certeza de que fui fiel à realidade sociológica e cultural da época, e de que não fui traído pela memória, cujo tecido de fios tênues vai se ergarçando com o passar das eras.
Meritíssimo, como disse o Simão Pedro, logo ali "em riba", eu também vivenciei a época e o estilo (e os goles, principalmente) citados por V. Excia. Se Grêmio Recreativo e Campo Maior Clube (de boas memórias) falassem, teriam muita história (positiva, claro) para contar. Realmente, doses da famosa Cuba Libre eram providenciais para que criássemos coragem no momento de "atacar" jovens, belas e, digamos assim, indefesas etc. etc. e etc. E até para ensaiar um passe de dança... Era infalível guardar um "troco" para o sábado, de tal forma que estavam garantidos o Rum e sua mistura milagrosa (afrodisíaca?), além da cerveja.
ResponderExcluirTudo numa boa, digamos assim, até porque, naquela época, a violência não era extrema, como ocorre hoje nas famosas baladas.
Muito oportuno o seu texto, aproveitando a "onda" do Bitorocara Fest. Infelizmente, não foi possível "enforcar" o trabalho, aqui em Cuiabá. Mas, se Deus quiser, em dezembro, estarei na minha querida Campo Maior e, certamente, vou ter a oportunidade de bater um bom papo com o velho amigo de adolescência. Pode agendar uma audiência, desde já.
Abraços
Antonio de Souza
Cuiabá - MT
Caro Antônio Francisco,
ResponderExcluirSe Deus quiser, iremos nos encontrar na velha Bitorocara, e em companhia do Zé Francisco, o abominável pirata Gran Montilla, iremos explorar os sete mares de água doce dos vastos campos maiores, quiçá degustando uma cuba mais do que livre, uma cuba sempre livre.