Caldeirão, em Piripiri |
Barragem Corredores, em Campo Maior |
Barragem do rio Longá, em Barras |
Barragem do rio Piracuruca |
José
Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Nada de chorar ou resmungar por falta de chuva ou
secura prolongada, como punições dos céus ou sinais apocalípticos.
Fenômenos climáticos obedecem, quase rigorosamente, a ciclos de
chuvas generosas e secas tórridas. É só tirar proveito, como
saborosa a carne de sol, cultura da seca. Várias regiões do planeta
já se adaptaram a ciclos climáticos, de lascar, como Oriente Médio
e parte dos EUA. No tempo de Abraão e dos faraós ocorriam secas.
Pior que fenômenos climáticos é ignorância da
população, queimadas criminosas, incompetência e interesses
espúrios de políticos e gestores.
Desde a infância, acostumei-me contemplar a
natureza, a exemplo de meu pai: fases lunares e seus efeitos na
floração das plantas e no parto dos bichos, a neblina indesejável,
presságio de pouca chuva. Em setembro e outubro de 2011, caíram
chuvas torrenciais, destruindo a floração de caju e manga. Em
crônica, eu advertia que o fenômeno anunciava inverno fraco a
partir de janeiro. Em 2009, escrevi "APROXIMA-SE GRANDE SECA",
que ocorre no final ou começo de cada década, especialmente nos
anos terminados em 7, 8 e 9, ou em 1, 2 e 3. O ciclo de invernos
generosos prevalece nos anos terminados em 4, 5 e 6. Lembra-se da
crônica, "SHOPPINGS SERÃO INUNDADOS"? Não deu outra:
meses depois, as águas do Poti adentraram a Av. Raul Lopes e
saudaram o Shopping Riverside. A leitora, Cláudia, de Timon,
lembrou-se da matéria, telefonou, gracejando-me de profeta.
O primeiro registro de seca, no Nordeste, data de
1559(final de década). No século XVIII, autoridades começaram a se
preocupar com os efeitos das secas, porém sem obras estruturantes.
Em 1877(final de década), a seca matou mais de 550 mil pessoas. D.
Pedro II enviou técnicos franceses e portugueses a Quixadá-CE, para
construção do açude Cedro, aproveitando a mão de obra dos
fragelados. Só em 1909(final de década) foi inaugurado, com grades
e cerâmicas da Europa. Gigante, mas me entristeci vê-lo
transformado em bonito balneário e raquítica agricultura. Açude
Orós-CE, projeto do século XIX, e de estudos técnicos na seca de
1912(começo de década). Foi lembrado nas secas de 1931, 32, 51 e
52(começo de década), porém a construção somente na grande seca
de 1958(final de década). Antes da conclusão, em 1961, chuvas
torrenciais encheram-no, provocando enorme ruptura e tragédia. No
final da década de 1920, plena seca, o DNOCS construiu o açude do
Forquilha, que beneficiou centenas de agricultores. Transformou-se em
vila, hoje cidade. Lá, nasci.
No Piauí, construiu-se açude em Piripiri(Caldeirão:
há mais funcios do DENOCS do que peixes), Cocal (Arrombado pela
enchente de irresponsabilidades), Beneditinos, Campo Maior, que
servem mais para balneários e se esbaldarem em farras); barragem em
Piracuruca(projetada para culturas agrícolas; virou invasão e
recreio de ricos). A cidade às margens do rio perenizado não produz
um pé de tomate, só baladas e comilanças na Prainha. Em Barras, em
vez de agricultura, plantaram-se botecos, chamegos e sacolejos nos
arredores da barragem. Lagoas, a maioria perenes, espalham-se pelo
Piauí para quase nada de cultivo: Parnaguá (a mais bela e
borbulhante), Cajueiro, Joaquim Pires, Luzilândia. Poços jorrantes
para cachaçadas e prazeres. 1.500 km de rio Parnaíba e afluentes -
vários órgãos públicos cheinhos de funcionários, enquanto o
tomate e produção agrícola vêm de outros estados, inclusive de
regiões mais secas, como Ceará e Pernambuco. Que falta de vergonha!
Açude Jaburu, Serra da Ibiapaba, exemplo de cultura produtiva e
comercial. Barragem do Jenipapo(São João do Piauí), Petrônio
Portela(São Raimundo Nonato), Bezerro (José de Freitas), Nazaré do
Piauí, todos só atraem festeiros e farofeiros. A lagoa de Buriti
dos Lopes é aproveitada para modesta cultura de arroz.
Grandes latifundiários e aliados políticos interferem
nas decisões, em escala federal, em proveito próprio. Beneficiam-se
da divulgação dramática das secas para não pagarem dívidas
contraídas. Desse jeito, podem inventar SUDENE, PROTERRA, EMATER,
DENOCS, CODEVASF.
Seca não é castigo dos céus. As ambições é que
ressecam corações. Mirem-se no empreendedorismo de Israel e países
vizinhos. Secura produtiva é com eles.
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