19 de setembro Diário Esquecido
RODRIGO M. LEITE E A MUSA ESQUECIDA
Elmar Carvalho
Tempos atrás, através de e-mail, mantive contato com o
poeta Rodrigo M. Leite. Chamou-me a atenção o fato de que ele
selecionou os meus poemas, publicados no A Musa Esquecida, da
coletânea Poemágico – a nova alquimia. Por essa razão,
mandei-lhe alguns de meus livros, cujo recebimento ele acusou.
Elogiei os poemas que dele conhecia. Pediu-me escrevesse algo a
respeito, pois pretendia publicá-los. Por causa de alguns
contratempos, sobretudo relacionados com o assoberbamento de serviços
em minha Comarca, mas também por causa de alguns compromissos de
ordem pessoal, demorei a cumprir o prometido. Tento fazê-lo aqui e
agora.
Tomei conhecimento da existência e do trabalho do poeta
por intermédio de seu importante blog A Musa Esquecida, para o qual
chamo a atenção de meus poucos e seletos leitores. Nesse espaço
literário virtual, Rodrigo vem estampando belos poemas de autores
piauienses, quase todos imersos em injusto esquecimento – daí o
nome do sítio internético. Apesar do título – A Musa Esquecida –
o blog não é nada esquecido, e tem retirado do olvido poetas
valorosos. Desejo apenas que essa Musa continue a se lembrar dos
poetas esquecidos.
Pedi, por bilhete virtual, que o poeta me mandasse sua
síntese biográfica. Ele, demonstrando ser uma pessoa desprovida de
empáfia e empavonamento, me mandou uma verdadeira “mini-síntese”,
se é que se pode usar a expressão, de apenas duas linhas. Foi então
que fiquei sabendo a sua idade. Tem ele apenas vinte e pouquíssimos
anos. Nessa idade, eu praticamente não tinha biografia, exceto a que
todos temos, mas tinha o coração cheio de sonhos e a alma repleta
de ilusões. Pude realizar alguns de meus sonhos; de outros, me
despojei, e alguns, perdi pelo caminho de minha vida. Algumas ilusões
apegaram-se a mim, e ainda, teimosamente, me acompanham; outras,
feneceram; aqueloutras, morreram, por mais que eu as aguasse.
Espero que o poeta tenha um grande baú cheio de sonhos,
e que todos se realizem. Na sua idade, é proibido não sonhar. Tenho
observado que alguns jovens literatos, para se sobressaírem ou para
chamarem a atenção, gostam de aplicar bordoadas nos mais velhos.
Não foi o método que escolhi. Não foi o caminho escolhido por
Rodrigo M. Leite. Ao contrário, seu notável blog tem distinguido
poetas bem mais velhos que ele. Isso parece demonstrar que é ele
infenso à inveja e à provocação de escândalos e tumultos
literários, que invariavelmente levam de nada a coisa nenhuma, posto
que o eventual brilho não passa de efêmero fogo fátuo.
Sem dificuldade percebi que os seus poemas, embora
inseridos no que existe de mais atual, não se perdem em vãs
vanguardas, em superados formalismos. Também não enveredam em
pretensiosos hermetismos, com que muitos pretendem adquirir a glórias
de poeta sábio, filósofo, profundo, ou sibilino, quando muitas
vezes não passam de mistificadores, inflados de presunção e
bazófia. Igualmente não desejou seguir a trilha dos chamados poemas
visuais, que nunca foram novidade, uma vez que em épocas remotas já
se urdia o carmen figuratum, e já, faz várias décadas, que se
comete o poema concretista.
Fiquei sabendo que ele só publicou até hoje uma
plaqueta com seus versos. Isso denota que não é preocupado com
quantidade, mas com qualidade. Pude sentir que seus poemas, embora
sejam produtos da contemporaneidade, são impregnados das eternas
lições da lírica de todas as épocas, da tradição que se mantém
viva, porque amálgama da própria vida, porquanto embebida dos
sentimentos que sempre existiram em todos os homens, a despeito de
épocas, “ismos” e rincões.
Os seus versos cantam a vida, com seus encantos e
vicissitudes. Suas metáforas são assimiláveis, e harmônicas ao
conteúdo a que se referem. Por outro lado, não contêm imagens
gastas, repisadas, inócuas, como comprimidos que já perderam o
efeito. São límpidas e vívidas, e revestidas de novas substâncias,
mesmo quando se reportam aos eternos temas da lírica de ontem e de
sempre. Como Drummond, Rodrigo canta o tempo presente, as coisas e os
homens presentes; mas como bom poeta, trata também de todos os
tempos, até do des-tempo de um tempo sem tempo, “de um tempo sem
medida, fugitivo / de ampulhetas e relógios”, como assinalei no
meu Noturno de Oeiras.
Sou um vigilante e leitor do nobre poeta Elmar Carvalho. Visualizando as musas, bem provável nos anos 70, sorrisos estampados, calça boca de sino, Praça Bona Primo?. Juventude sadia, musas de um espaço de tempo que só deixaram recordações. E esta foto, está presa em alguma moldura?
ResponderExcluirMusa menina
Moça mulher
Olhar que me seduz
Bocas que se perdem na paixão
Abafando a respiração.
SP, (próximo mês estou indo a Campo Maior)