Campo
Maior, 250
No
município permanece a cabeça norte do ‘feudo’ da Casa da Torre
de Tatuapara, litoral baiano, o sítio Abelheiras: prova da dilatação
gadeira que afugentou os valerinos longazes.
Fonseca
Neto
O
município de Campo Maior aniversariou – 250 anos – no último 8
de agosto, exato dia em que sua população agitava-se em meio a uma
mudança de prefeito. Fato histórico secular assinala a instalação
da municipalidade, dada no ano de 1762.
Com
a palavra, um notável historiador da terra (fala Olavo Pereira F.°
sobre tua amada!): “Campo Maior vicejou [...] naquele território
chamado Longá, suavemente estendida na planície de perpétuas,
fincada de carnaubeiras prateadas, entre a serra azul de perfil
preciso e arestas cortantes e o rio de águas mansas e refulgentes
que consagram o espírito, sombreado de moitas de mofumbo, habitado
de surubins e mandis, onde lavadeiras de bustos ao sol ainda hoje
coram roupa nos lajeados ardentes. (...). As posturas pombalinas
encontraram ali uma configuração rarefeita de 30 fogos, assentados
em consonância com a natureza. As novas construções foram se
perfilando sem, contudo, eliminar por completo as irregularidades do
caminho grande predefinido [rumo a Barras] pelas primeiras moradias.
Na vizinhança da igreja-templo [de Santo Antonio] se levantaram os
edifícios mais representativos. Aí se cristalizou Campo Maior”.
Esse
lugar tão poetica e historicamente narrado é uma das paragens mais
encantadoras dos sertões do Piauí, vale do rio Longá, antigamente
habitado pelos nativos alongá, ou longazes. Gente suprimida desse
paraíso a partir do século XVII cristão, por obra de
latifundiários sedentos de corpos para escravizar e currar e de seu
chão para criar e curralar bovinas criaturas trazidas do outro lado
do mundo – o gado vacum, cavalar, muar, cabrum. Obra, idem, de
padres da igreja romana que também pastoreavam e cativavam almas.
Naquele
8 de agosto o primeiro governador do Piauí ali esteve em missão
oficial, solenizando a instalação do município, por meio da
eleição da Câmara de vereadores, erguimento do Pelourinho, além
de outras medidas concernentes à estruturação da nova unidade
política do reino de Lisboa, vinculada ao Estado (colonial) do
Maranhão e Grão Pará. Para a sede, seguindo a diretiva régia, foi
fixado o lugar-matriz da Freguesia de Santo Antonio do Surubim, por
sua vez situada num núcleo colonial branco criado ainda na transição
do Seiscentos para o Setecentos, com a designação de Bitorocara.
Ressalte-se, daí, que Campo Maior é assistido regularmente por cura
católico desde pelo menos 1712-1713. Diz dom frei Manuel da Cruz –
bispo do Maranhão que a conheceu, em 1742 – que, por decisão do
rei (resolução de 20 de maio de 1740), por ele, bispo, em pessoa,
posta em prática, foi criada e erigida “em nova vigararia colada o
curato da igreja de Santo Antonio do Surubim”. Hoje sede diocesana,
a igreja católica é parte indissociável da estruturação
jurídica, política, administrativa e cultural de Campo Maior. Na
esfera propriamente econômica, são muito relevantes, seus currais,
além do pó cerífero da carnaúba. Figuras notáveis nas letras e
noutras artes dali surgem para os cultivos de si e do mundo.
É
da toponímia lusa a chancela citadina Campo Maior, que, aliás,
ajustou-se à paisagem local, bem caracterizados campos verdes de
bastante planura, sobressaindo as ditas palmas das carnaubeiras
providenciais. Nesse município, no Oitocentos, mobilizado pela ideia
de Liberdade, aconteceu a crucial batalha do Jenipapo, um acerto de
contas banhado em sangue entre trabalhadores sertanejos e os símbolos
da dominação reinol.
CROMOS DE CAMPO MAIOR
Elmar Carvalho
VII
Na casa grande da fazenda
o brasão é uma grande
caveira de boi erado
de chifres enormes
às vezes descrevendo
curvas
como obra de arte.
O vaqueiro e o cavalo
se fundem e se confundem na desabalada
alada
carreira quase vôo
campeando gado pelos campos
de Campo Maior.
A perneira e o gibão
dependurados na parede
como se vestissem invisível corpo
são a lembrança palpável do vaqueiro
morto na desobriga.
O vaqueiro em seu terno de couro
– segunda pele áspera de seu corpo –
solta seu canto de guerra
e paz: o aboio – eeeeei! boooooi!
O eco é o aboio de
outro vaqueiro: – eeeei! boooooi!
Sempre que vou a Campo Maior faço as minhas caminhadas no entorno do açude grande.
ResponderExcluirNa curva da orla
O vento espalhou seus cabelos.
A brisa leve, vindo da Serra
Toca o seu rosto
Pele lisa, lábios
Perfeitos, vermelhos
Perfil de sobrancelhas.
Observo o seu caminhar
Na tarde ensolarada
Suor que transpira
Desejo de te amar.
(hl-sp)