segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Quo Vadis, Bento XVI?!



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Frei Hermínio, cearense de Crateús, estudioso, cursos na Europa, aulas em seminário de Teresina, reside em Roma, onde representa a Ordem Capuchinha no Vaticano, como tradutor de documentos. Escreve no jornal Diário do Nordeste, de Fortaleza. Trocamos emails frequentemente.
Há um ano, Frei Hermínio narrava episódios delicados que ocorriam no Vaticano. Pedia-me que os repassasse a seus colegas, padres, de Teresina. Em 12 de julho, produzi uma crônica, baseando-me nas informações do frade, em DORES DE PARTO NO VATICANO. Destaco alguns trechos:
"No Vaticano, trava-se uma guerra surda, imunda, cujos petardos envolvem corrupção, disputa de poder, fraudes, sigilos revelados, traição, crise de autoridade, prisão. Não se trata de uma guerra de adversários da Igreja. É igreja dentro da Igreja... naturais conflitos não alteram o fervor do rebanho de Cristo, um gigantesco exército de heróis a serviço do bem, nas paróquias e dioceses, mundo afora." E, na crônica, reproduzia o sentimento de Frei Hermínio: "Vejo, preocupante, a situação hodierna da Igreja. Por isso, me sentiria omisso, se nada dissesse, pelo simples fato de responsabilidade cristã na ação eclesiástica... Frise-se, eu não sou um contestador dissidente." O frade pedia que enviasse as informações, bastante divulgadas na Europa, a amigos sacerdotes, bispos, sem alarde."
A renúncia de Bento XVI me sugere atitude de "QUO VADIS, DOMINE?" Em 1901, o polonês Henryk Sienkiewicz publicou o romance "QUO VADIS, DOMINE?', inspirado no Império Romano de Nero. Em 1951, transformou-se em filme épico de enorme sucesso. O romancista inspirou-se em cenas típicas de alguns imperadores como Nero: perseguição a cristãos, em espetáculos de sangue e carnificinas no Coliseu. Temendo o martírio, o apóstolo Pedro fugiu à perseguição. Jesus apareceu-lhe, e Pedro assustou-se: "Quo VADIS, DOMINE?"(Aonde vais, Senhor?) E o Mestre: "Estou indo a Roma para ser novamente crucificado, em seu lugar." O apóstolo entendeu o recado. Voltou à cidade, foi crucificado de cabeça para baixo." Uma lenda de heroica lição.
Entre a renúncia de Bento XVI e a permanência de João Paulo II até a morte desperta um paradoxo em favor do segundo. João Paulo encarou os muros da separação comunista, sofreu atentado a bala, fragilizou-se, sob mal de parkinson, continuou firme, cumpriu longas viagens, sem QUO VADIS. Ao contrário, carismático, seduziu cristãos e o mundo com a aura de mártir. João Paulo, autêntico pastor, enquanto Bento, profundo teólogo.
Na renúncia de Bento XVI, um mérito: desperta mudança no período de pontificado, aposentando-se, como os bispos, aos 70 anos. Um QUO VADIS realista e corajoso. A chance para eleição de líderes mais jovens e idealistas. "Igreja e Juventude", oportuno tema da Campanha da Fraternidade deste ano.

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