José
Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Frei
Hermínio, cearense de Crateús, estudioso, cursos na Europa, aulas
em seminário de Teresina, reside em Roma, onde representa a Ordem
Capuchinha no Vaticano, como tradutor de documentos. Escreve no
jornal Diário do Nordeste, de Fortaleza. Trocamos emails
frequentemente.
Há
um ano, Frei Hermínio narrava episódios delicados que ocorriam no
Vaticano. Pedia-me que os repassasse a seus colegas, padres, de
Teresina. Em 12 de julho, produzi uma crônica, baseando-me nas
informações do frade, em DORES DE PARTO NO VATICANO. Destaco alguns
trechos:
"No
Vaticano, trava-se uma guerra surda, imunda, cujos petardos envolvem
corrupção, disputa de poder, fraudes, sigilos revelados, traição,
crise de autoridade, prisão. Não se trata de uma guerra de
adversários da Igreja. É igreja dentro da Igreja... naturais
conflitos não alteram o fervor do rebanho de Cristo, um gigantesco
exército de heróis a serviço do bem, nas paróquias e dioceses,
mundo afora." E, na crônica, reproduzia o sentimento de Frei
Hermínio: "Vejo, preocupante, a situação hodierna da Igreja.
Por isso, me sentiria omisso, se nada dissesse, pelo simples fato de
responsabilidade cristã na ação eclesiástica... Frise-se, eu não
sou um contestador dissidente." O frade pedia que enviasse as
informações, bastante divulgadas na Europa, a amigos sacerdotes,
bispos, sem alarde."
A
renúncia de Bento XVI me sugere atitude de "QUO VADIS, DOMINE?"
Em 1901, o polonês Henryk Sienkiewicz publicou o romance "QUO
VADIS, DOMINE?', inspirado no Império Romano de Nero. Em 1951,
transformou-se em filme épico de enorme sucesso. O romancista
inspirou-se em cenas típicas de alguns imperadores como Nero:
perseguição a cristãos, em espetáculos de sangue e carnificinas
no Coliseu. Temendo o martírio, o apóstolo Pedro fugiu à
perseguição. Jesus apareceu-lhe, e Pedro assustou-se: "Quo
VADIS, DOMINE?"(Aonde vais, Senhor?) E o Mestre: "Estou
indo a Roma para ser novamente crucificado, em seu lugar." O
apóstolo entendeu o recado. Voltou à cidade, foi crucificado de
cabeça para baixo." Uma lenda de heroica lição.
Entre
a renúncia de Bento XVI e a permanência de João Paulo II até a
morte desperta um paradoxo em favor do segundo. João Paulo encarou
os muros da separação comunista, sofreu atentado a bala,
fragilizou-se, sob mal de parkinson, continuou firme, cumpriu longas
viagens, sem QUO VADIS. Ao contrário, carismático, seduziu cristãos
e o mundo com a aura de mártir. João Paulo, autêntico pastor,
enquanto Bento, profundo teólogo.
Na
renúncia de Bento XVI, um mérito: desperta mudança no período de
pontificado, aposentando-se, como os bispos, aos 70 anos. Um QUO
VADIS realista e corajoso. A chance para eleição de líderes mais
jovens e idealistas. "Igreja e Juventude", oportuno tema da
Campanha da Fraternidade deste ano.
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