Reginaldo Miranda
As
origens da família Miranda mergulham fundo na história de Portugal
e Espanha. Segundo alguns registros, ainda no recuado ano de 711, um
cavaleiro de nome Obrão de Miranda, participando de guerra contra os
mouros, luta bravamente ao lado de D. Rodrigo, último rei dos godos,
na histórica Batalha de Guadelete, de que foi vítima o monarca,
ruindo, então o Reino Visigótico de Toledo. Em 718, Obrão de
Miranda foi um dos primeiros a empunhar armas ao lado do futuro rei
Pelágio, de cujas lutas fundam o reino das Astúrias, embrião dos
outros reinos cristãos ibéricos responsáveis pela reconquista da
península. É possível que seja esse guerreiro cristão o primeiro
tronco da família Miranda na península ibérica, com descendência
espalhando-se por Portugal e Espanha. Ainda nas Astúrias, outro
cavaleiro, este da casa de Ponce de Leon e, talvez descendente
daquele, por nome Albar Diaz de Miranda deu origem à importante
linhagem da família.
Não
resta dúvida, porém, segundo a maioria dos dicionaristas e
heráldicos, de que este sobrenome tem origem toponímica,
relacionando-se à região norte portuguesa, no alto Douro, onde se
situa a cidade de Miranda e tiveram a alcaidaria-mor. Provém do
latim Miranda, “que é para admirar, coisa digna de admiração”.
Os primeiros representantes dessa linhagem eram sempre identificados
por “de Miranda”, a indicar a região de onde provinham. Foi
nessa região, próxima às fronteiras de Leão, que, segundo alguns
cronistas, os primeiros portugueses receberam títulos de nobreza e
foram governantes de províncias. Portanto, é esta a mais plausível
origem dessa família.
Por
esses fatos, quase todos os genealogistas preferem apontar para uma
origem espanhola, também ligada a domínios de terras, com posterior
migração para Portugal através de casamentos entre nobres. A nosso
sentir, porém, como a região de Miranda, no atual norte de
Portugal, é fronteiriça com a Espanha, teriam aí mesmo surgidos os
primeiros desse sobrenome, inclusive o cavaleiro Obrão, passando a
descendência para os dois lados da península ibérica, sempre
identificados com a origem geográfica “de Miranda”, como a não
deixar dúvidas. Ademais, por aqueles dias tudo isso era muito
emaranhado, às vezes surgindo domínios diferentes, com fronteiras
imprecisas e mutáveis. Situada nesse imbróglio milenar, a referida
Miranda do Douro, possui até idioma próprio, o mirandês3.
Muitos
representantes dessa família, no outro lado da península ibérica,
sempre trouxeram a indicação da origem de seus ancestrais, todos
“de Miranda”, e não apenas “Miranda”. Um exemplo é o
revolucionário Francisco de Miranda, descendente de espanhóis e
precursor da independência venezuelana.
Todavia,
é importante ressaltar que existem outras localidades com o nome de
Miranda em Portugal, na serra pertencente ao Conselho de Arcos de
Valdevez, distrito de Viana do Castelo; no Conselho de Guimarães; no
Arcebispado de Braga; a conhecida Miranda do Corvo, vila e sede de
Conselho, no distrito de Coimbra; Mirandas, em forma plural, na
freguesia de Sacavém, margens do rio Tejo, encostada em Lisboa; e,
por fim, uma Mirandela, belo diminutivo, nas margens do rio Tua,
afluente do Douro, distrito de Bragança, província de
Trás-os-Montes. Por seu turno, em Espanha existem ao menos dezenove
localidades com o nome de Miranda. Fora da península, existe uma no
distrito de Gers, na França, e outra na província de Isérnia, na
Itália, nessa última existindo também a forma Mirândola. Por fim,
o nome foi também bastante difundido nas colônias do Novo Mundo,
nominando cidades, rios e províncias.
Pois,
esquecidos daquele tal cavaleiro Obrão de Miranda, ou sem fontes
documentais para traçarem a origem da família até àquele vetusto
ancestral, antigos registros genealógicos somente traçam a origem
dessa família aos descendentes de D. Martim Afonso e Emília
Gonçalves de Miranda, esta de origem espanhola, além de Fernão
Gonçalves de Miranda. Seguramente, é desta descendência que se
originou o brasão dos Miranda, hoje consagrado na heráldica e muito
conhecido entre os interessados pelos assuntos genealógicos.
Desde
cedo, porém, representantes da família Miranda chegaram ao Brasil.
É conhecido aquele Simeão de Miranda, que comandou uma das naus da
esquadra de Pedro Álvares Cabral, que disseram ter descoberto o
Brasil para os europeus, em 22 de abril de 1500. Presentes, portanto,
desde o tal descobrimento, estão também entre os primeiros
colonizadores da nova terra. Existem registros de colonizadores de
sobrenome Miranda em praticamente todas as regiões do Brasil: São
Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso; no nordeste, desde cedo chegaram à
Bahia, Pernambuco e Ceará.
Miranda
é nome muito difundido no mundo ocidental, sobretudo na Europa e
América Latina. Em Portugal, sobressaíram: o
referido Simeão de Miranda(f. 1515), navegante, foi um dos capitães
de caravelas da frota de Pedro Álvares Cabral; Francisco Sá de
Miranda(1481 – 1558), festejado poeta, irmão do
governador-geral Mem de Sá; Caetano Pinto de Miranda
Montenegro(1748 – 1827), magistrado e político português com
atuação no Brasil, primeiro barão, visconde com grandeza e
marquês de Vila Real da Praia Grande. Na Espanha: Juan Carreño de
Miranda(1614 – 1685), destacado pintor na corte espanhola de Felipe
VI; Álvaro Fernández de Miranda(Oviedo, 1855 – 1924), escritor e
político asturiano; Diego Arias de Miranda (1845 –
1929), político, foi senador vitalício e ministro da marinha(1910 –
1911) e da Justiça(1912); Torcuato Fernández-Miranda Hevia(1915 –
1980), político e jurista de Gijón (Asturias). Na América latina
são inúmeros os exemplos.
No
Piauí, os primeiros registros datam de 1712, quando o chantre
Baltazar de Faria e Miranda foi nomeado vice-vigário da freguesia de
N. Sra. da Vitória(Oeiras)3. Por esse tempo muitos religiosos que
vinham catequizar rebanhos no Novo Mundo, costumavam trazer parentes,
principalmente sobrinhos para colonizarem as novas terras
recém-descobertas. Entre nós, o padre Tomé de Carvalho e Silva,
primeiro vigário de Oeiras e ainda titular ao tempo de Baltazar
Miranda, é um exemplo, ao trazer alguns sobrinhos que iniciaram a
família Carvalho, no Piauí. Mais tarde, o padre português João
Manoel d’Almendra, vigário de Campo Maior, no Piauí, trouxe os
sobrinhos Jacob Manoel d’Almendra e José Almendra de Freitas, que
iniciaram as famílias Almendra, Freitas e Gaioso, no Piauí.
Portanto, não é despropósito se pensar que o vice-vigário
Baltazar Miranda possa ter trazido para Oeiras alguns irmãos ou
sobrinhos para iniciarem vida nesses dilatados sertões de dentro.
Desde que tivemos notícia da existência desse religioso em Oeiras,
alimentamos essa hipótese porque foi exatamente nos arredores dessa
povoação, mais precisamente no vale do rio Piauí, que encontramos
os primeiros membros da família na bacia parnaibana.
Parentes
ou não daquele religioso, nesse mesmo período adentram o sertão,
desbravam, colonizam e assentam as caiçaras de seus currais os
irmãos João Rodrigues de Miranda e Francisca de Miranda do Rosário.
Que motivos os teriam trazido ao Piauí? Não seria plausível a
presença de outros parentes já aqui estabelecidos? Ou mesmo de
conterrâneos? Por esses dias existem registros de muitos colonos do
Alto Douro, de Algarve e até da Galícia.
O
certo é que atuando firmemente na margem ocidental do rio Piauí,
João Rodrigues de Miranda combate os índios que infestavam os vales
do riacho Fundo e de seus afluentes, os riachos do Brejo e de Santa
Maria. Então, estabelece seus primeiros rebanhos em fazenda que
denomina Buriti, nas margens do riacho do Brejo, também chamado
Brejo do Buriti, hoje cidade de Brejo do Piauí, onde constrói casa,
curral, capela e primeiros roçados. No Mapa do Piauí, de Henrique
Antonio Galluzzi(1760), aparece como fazenda com capela. Todavia,
mesmo arriscando sua vida para colonizar essas terras, é obrigado a
pagar renda aos Regulares, como sucessores de Domingos Afonso Sertão,
no valor de 10$000 (dez mil réis) anuais(AHU-Piauí. Cx. 4, Doc. 4;
Cx. 25, Doc. 60; AHU-ACL-CU-016, Cx. 4, Doc. 309). E com o
crescimento de seu rebanho bovino e cavalar vai alargando seus
domínios pela região, cedendo parte aos filhos à medida que vão
crescendo e se estabelecendo. Assim, é que na relação de fazendas
e criadores que o Conselheiro Francisco Marcelino de Gouveia elabora
e finaliza em 15 de novembro de 1762, aparece como possuidor e
morador na “fazenda Buriti, com três léguas de comprido, e de
largura em a metade de uma légua, e em outra nada, por serem matas
bravas, do qual também foram (por ele) povoadas”. Informa que
“destas duas fazendas também se pagou renda aos Regulares até o
tempo que cessou a satisfação delas” em razão de sua
expropriação e expulsão dos mesmos, assumindo aquele o domínio do
imóvel(AHU-Piauí. Cx. 07, Docs. 26 e 27; AHU-ACL-CU-018, Cx. 8,
Doc. 513).
Sobre
seus filhos o mesmo documento informa que “Antonio Pereira de
Miranda, possui uma fazenda chamada Trindade, com légua e meia de
comprido, e de largura meia, a qual povoou com consentimento de seu
pai, a quem pertenciam as terras dela” (AHU-Piauí. Cx. 07, Docs.
26 e 27; AHU-ACL-CU-018, Cx. 8, Doc. 513). Também, “Francisco
Félix de Miranda, possui uma fazenda chamada as Guaribas, com duas
léguas de comprido e uma de largura, a qual povoou também, por
consentimento de seu pai, a quem pertenciam as terras/ por serem como
as da sobredita fazenda/ da do Buriti, de que são possuidores os
ditos seus pais” (AHU-Piauí. Cx. 07, Docs. 26 e 27;
AHU-ACL-CU-018, Cx. 8, Doc. 513)). Essa fazenda Guaribas é,
provavelmente, a origem da cidade de Canto do Buriti. Mais tarde, em
1764, o mencionado Francisco Félix de Miranda aparece como
intendente na arrecadação de alimento(gado e farinha) para
abastecer a tropa capitaneada pelo tenente-coronel João do Rego
Castelo, e que ia ao mato combater os índios Gueguês, Timbiras e
Acoroás. Fora designado pelo governador João Pereira Caldas para
arrecadar esses mantimentos no médio curso do rio Piauí e lados
dele(Arquivo Público do Piauí. Códice 146, p. 156/157).
Outro
documento importante para se reconstituir a presença dessa família
na colonização do vale do rio Piauí, é a relação de fazendas e
moradas da freguesia de N. Sra. da Vitória, elaborada pelo vigário
Dionísio José de Aguiar, em 29 de maio de 1763, com base nos róis
de desobrigas do ano anterior. Segundo anotou o referido vigário, o
pioneiro João Rodrigues de Miranda havia falecido, encontrando-se
residindo na aludida fazenda Buriti, a viúva Josépha de Souza, com
os filhos Ignácio, Luiz e João, mais quatorze escravos e um forro;
também residiam na fazenda, Antonio Pereira e Julião Pereira, que
devem ser seus filhos, embora o vigário não indique o parentesco,
apenas dos que residiam sob o mesmo teto, e suas respectivas esposas
Mariana da Silva e Inocência de Abreu; o último casal residia com
os filhos solteiros José e Joana, além de Ignácia de Abreu, filha
viúva(AHU-Piauí. Cx 8., Doc. 13; Cx. 7, Doc. 13; AHU-ACL-CU-016, Cx
9, Doc. 547). Antonio Pereira, não seria o mesmo Antonio Pereira de
Miranda, do registro anterior, e que não aparece nesse? Também,
nesse segundo registro não aparece Francisco Félix de Miranda,
apenas Francisco Félix, residindo na fazenda Santa Maria, com sua
esposa Eugênia Maria. Parece que o vigário gostava de economizar na
tinta, abreviando os nomes.
Portanto,
até o momento está comprovada a filiação de cinco filhos do casal
João Rodrigues de Miranda e Josépha de Souza, faltando comprovar a
filiação de outros.
Todavia,
outros Miranda residiam no vale do rio Piauí, muito próximo desse
casal e de seus filhos. Na fazenda São João, situada no riacho de
Antonio Pereira, afluente do Piauí, residia a viúva Maria de
Miranda, com os filhos Manoel, Joana, Ana, Ignácia, Antonia e
Francisca; também, Manoel de Miranda, que aparece sem indicação de
parentesco. A fazenda lhe pertencia “por falecimento de seu marido
Antonio Pereira de Abreu, que a tinha descoberto e povoado”. Na
fazenda Piripiri, residia Manoel Barbosa de Miranda, que a descobrira
e povoara, já não existindo em 1762, apenas a viúva Helena de
Brito, com dez escravos e dois forros(AHU-Piauí. Cx 8., Doc. 13; Cx.
7, Doc. 13; AHU-ACL-CU-016, Cx 9, Doc. 547)..
Também,
logo depois do rio Piauí, Canindé abaixo, na fazenda Retiro residia
Joana de Miranda, com seu marido Manoel Ferreira Guimarães e os
filhos José Rodrigues, Manoel Ferreira, Leonardo Ferreira, Joaquim
Ferreira, Antonio Ferreira(menor), Maria da Purificação e Teresa de
Jesus(AHU-Piauí. Cx 8., Doc. 13; Cx. 7, Doc. 13; AHU-ACL-CU-016, Cx
9, Doc. 547).
Por
fim, ainda na ribeira do Piauí, na fazenda Palmeira de São Tiago,
morava a pioneira Francisca de Miranda do Rosário, viúva do
capitão-mór Domingos de Abreu Valadares, com os filhos Gaspar de
Abreu Valadares, que fora almotacé, vereador, juiz ordinário e de
órfãos da vila da Mocha, depois cidade de Oeiras, José de Abreu
Valadares e Francisca de Miranda. A filha Ignácia da Conceição,
nossa ancestral, casara com o português Manuel Alves da Rocha e fora
morar na fazenda Craíbas, vale do rio Gurguéia. Segundo uma petição
datada de 24 de novembro de 1769, da “viúva que ficou do
capitão-mór Domingos de Abreu Valadares(...), tem a trinta anos que
(este) é falecido, ficando por seu falecimento de todo exaurido de
bens, que todos os gastou no serviço de Sua Majestade, no princípio
da povoação desta Capitania em desinfestar o gentio das ribeirras
do Piauí, Canindé, Itaim e Itaueira, e à sua custa” (AHU –
Piauí, Cx. 9, Doc. 22. AHU-ACL-CU-016, Cx. 10, Doc. 628; AHU-Piauí,
Cx. 10., Docs, 3 e 19; AHU-ACL-CU-016, Cx. 11, Doc. 655).
Toda
essa gente morava, com exceção de Joana de Miranda, na ribeira do
Piauí e, certamente, era aparentada. É que, por esse tempo, essa
proliferação de Miranda não existe em outros vales ribeirinhos,
somente passando ao Itaueira e Gurguéia depois de alguns anos. E
seria muita coincidência que todos eles fossem morar próximo sem
serem parentes. Não há dúvida, porém, de que D. Francisca de
Miranda do Rosário era irmã de João Rodrigues de Miranda. Então,
os que não forem filhos de um serão filhos do outro. Existe
documento que comprova o parentesco entre os filhos de ambos4.
E
porque a ribeira do Piauí vai se consolidar como berço de nossa
família durante o século XVIII, ainda citamos um casal de
portugueses de avultados cabedais, segundo os cronistas, que também
morava nesse vale e que seus descendentes iriam se entrelaçar com os
Miranda. Segundo o relatório do vigário(1763), residia na fazenda
das Mutucas(não seria Malhada?), os fazendeiros Antonio Pereira da
Silva e Maria da Purificação, com os filhos Manoel Caetano,
Antonio, Francisco(então menor, e nosso ancestral), Joséfa
Maria(casada que era com o tenente Hilário Vieira de Carvalho,
também nosso ancestral), Leandra e Simoa, com nove escravos, dois
forros e um agregado. Por esse tempo, a filha Maria Pereira da Silva
já não residia em companhia dos pais, e sim do marido José Vieira
de Carvalho(AHU-Piauí. Cx 8., Doc. 13; Cx. 7, Doc. 13;
AHU-ACL-CU-016, Cx 9, Doc. 547). Os filhos varões foram membros da
Junta Trina de Governo do Piauí(1775 – 1798).
Também,
outra família dessa ribeira e que iria se entrelaçar com a nossa
seria a dos Ribeiro Soares, cujo embrião fora a viúva Maria Josépha
de Jesus, cujo marido já não existia em 1765. Morava ela na fazenda
da Onça, em companhia dos filhos José, Gabriel, Ana, Ignez, Izabel
e Manuel Ribeiro Soares, este último casado com Iria Dias(AHU-Piauí.
Cx 8., Doc. 13; Cx. 7, Doc. 13; AHU-ACL-CU-016, Cx 9, Doc. 547). A
essas, mais tarde, iriam se juntar outras famílias de outros vales
ribeirinhos.
Entre
os filhos de João Rodrigues de Miranda, vai sobressair o capitão
Ignácio Rodrigues de Miranda. Nascido em 1737, na fazenda Buriti,
vale do rio Piauí, termo de Oeiras, inicia carreira militar desde
muito cedo, quando sentou praça no posto de soldado da Companhia
Franca de Dragões. Em pouco tempo foi promovido a Ajudante do Terço
das Ordenanças(as primeiras que foram organizadas no Piauí,
posteriormente extintas). Mais tarde(1777), quando foi novamente
organizado o Terço de Ordenança do Piauí, teve ele o nome indicado
novamente, sendo, porém, recusado pelo general do Estado, porque não
se encontrava servindo na tropa ao tempo da proposta. Por esse tempo,
a Junta Trina de Governo do Piauí, testemunha ser ele um “homem
distinto” e merecedor da nomeação. No mesmo ano de 1777, em que
ocorrem esses fatos, foi nomeado Capitão do Terço de Cavalaria da
Capitania de São José do Piauí. Durante os anos de 1782/83, foi
eleito Ouvidor-geral, e como tal assumiu a presidência da Junta
Trina de Governo. Portanto, Ignácio de Miranda, em companhia de dois
adjuntos(um vereador e um militar), por dois anos consecutivos
governou a Capitania de S. José do Piauí. Posteriormente, em 1790
comandou a tropa militar que marchou para as cabeceiras do rio Piauí,
em combate aos índios Pimenteiras. Após alguns entreveros,
conseguiu aprisionar onze deles, tratando-os com todo o cuidado,
sendo essa a primeira vez que índios dessa nação foram
aprisionados no Piauí. Depois dessa campanha, permanece em sua
fazenda Buriti, que fora de seu falecido pai. É que nomeado pela
Junta Trina de Governo, assumiu o comando militar do rio Piauí.
Nesse posto permanece até à morte em princípio do século XIX.
Por
seu turno, no segundo lustro do século XIX, o governador Carlos
César Burlamaque vai enfrentar firmemente a prepotência dos
governantes do Maranhão, cuja capitania era geral, sendo-lhe a do
Piauí subalterna. E como resultado desse conflito jurisdicional
deflagrado pelo governador do Piauí, que não se conformava com a
condição humilhante de subalterno do Maranhão, foi o mesmo preso e
afastado de suas funções, por ordem daquele. Então, a sociedade
piauiense levanta-se em defesa de seu governador e em protesto contra
as arbitrariedades que se praticava, de que resultou na plena
autonomia do Piauí, que foi elevado à categoria de capitania geral.
O movimento de solidariedade foi liderado pelo Senado da Câmara de
Oeiras, a ele se juntando o clero, os militares, a aristocracia rural
e o povo em geral. A esse movimento não poderiam se furtar os
Miranda, sempre afeitos à luta. Reunidos para esse fim, 79
fazendeiros do vale do rio Piauí, entre esses, treze Miranda e
outros parentes, firmaram documento em defesa do governador. Embora o
documento não seja datado, o despacho que o recebe é de 18 de
agosto de 1807. Assinaram o mesmo, entre outros, os seguintes
parentes6: Raimundo Pereira de Miranda, João Barbosa de Miranda,
Felipe Neri de Miranda, Leandro Rodrigues de Miranda(1º), Ladislau
Pereira de Miranda, Francisco Bernardino de Miranda, Manoel Pereira
de Miranda, José Barbosa de Miranda, Manoel Barbosa de Miranda,
Leandro Rodrigues de Miranda(2º), Pedro Rodrigues de Miranda, Cosme
Barbosa de Miranda e José Pereira da Silva Miranda. Note-se que
existem dois com o prenome Leandro, talvez tratando-se de pai e
filho. Também, assinaram esse documento Francisco Pereira da Silva e
João Vieira de Carvalho, nossos parentes. Entre os demais
signatários do documento, alguns deveriam ser casados com mulheres
de nossa família. É que por esse tempo apenas os homens
participavam dessas reuniões. Também, aí já participaram
representantes da segunda e terceira geração da família no vale do
rio Piauí (AHU-Piauí – Cx. 23, Doc. 20, 25, 29; AHU-ACL-CU-016,
Cx 30, Doc. 1573).
Documentos
com o mesmo teor foram firmados pelos fazendeiros de outras regiões
da capitania. Entre os moradores do vale do rio Gurguéia aparecem as
assinaturas de Antonio Rodrigues de Miranda e Albino Rodrigues de
Miranda, além de Manoel Caetano da Rocha e Bernardo Luís da Rocha,
todos nossos parentes. E entre os da vila de Jerumenha, firmam o
requerimento Francisco Félix de Miranda e Lutero de Miranda, além
de João Alves da Rocha e Antonio da Rocha, também parentes.
(AHU-Piauí – Cx. 23, Doc. 20, 25, 29; AHU-ACL-CU-016, Cx 30, Doc.
1573).
Então,
esses documentos comprovam que no início do século XIX, os Miranda
já começavam a migrar para os vales do Itaueira e Gurguéia, no
termo de Jerumenha, onde vão aumentar vertiginosamente, entre esses
Francisco Félix de Miranda.
Porém,
Felipe Neri de Miranda ainda residia na ribeira do Piauí, onde
assina o documento, logo mais passando para o Itaueira. Sobre esse
antepassado ainda existe alguma dúvida a respeito de sua filiação.
Na ausência de documentos, recorremos às probabilidades, ao
entender ser ele filho de Ignácio Rodrigues de Miranda ou de seu
irmão Francisco Félix de Miranda, ambos filhos do pioneiro João
Rodrigues de Miranda. Assim pensamos porque, entre outros fatos,
batizou um de seus sete filhos com o nome de Francisco Félix de
Miranda(2º do nome) e outro com o nome de Ignácio Francisco de
Miranda. E entre seus netos e bisnetos vamos encontrar muitos com o
prenome “Ignácio” e outros com nome e sobrenome “Rodrigues de
Miranda”. Inclusive, o próprio era tratado ora por Felipe Neri de
Miranda, ora por Felipe Rodrigues de Miranda. Nos registros
eclesiásticos aparece Joaquim Felipe Neri de Miranda. Embora ao
final de sua vida fosse residente na fazenda Tabuleiro Grande, no
vale do rio Itaueira, termo de Jerumenha, próximo aos limites com
Oeiras, em 1807 ainda residia no vale do rio Piauí, onde firma o
documento em apoio ao governador Burlamaque. Também, na relação de
seus bens aparece uma propriedade denominada Buriti, no termo de
Oeiras, em clara evidência ao imóvel de seus ancestrais. E o
capitão Ignácio Francisco de Miranda, seu filho, por muito tempo
residiu no termo de Oeiras, onde se casou, demonstrando a ligação
deles com aquele termo, berço dos primeiros Miranda, aqui
relacionados.
Não
pense, porém, o leitor que em nossa pesquisa genealógica trabalha a
fantasia, sendo ela toda calcada em fonte documental, principalmente
autos de inventário e cíveis em geral, termos de qualificação
eleitoral, atas de eleição, livros de registros de ofícios e
correspondências oficiais, listas de recenseamentos descritivos, de
fazendas e de criadores, registros de imóveis, livros de registros
de nascimentos, batizados, casamentos e de óbitos, etc.
Formado
em Direito em julho de 1988, desde então iniciamos na advocacia, nos
primeiros anos com quase toda a militância no sul do Piauí. E nos
primeiros três anos de advocacia, por todas as comarcas em que
militamos, desde Floriano a Jerumenha, São João do Piauí,
Bertolínia e Bom Jesus, onde nos levavam os interesses dos clientes,
aproveitamos sempre essas oportunidades para bisbilhotar os arquivos
judiciais e restaurar o passado dessa família sul-piauiense a que
temos a honra de pertencer. Complementamos esses dados com pesquisas
no Arquivo Público do Piauí, nosso velho conhecido desde a
elaboração de um livro anterior sobre a cidade de Bertolínia, onde
nascemos. Foram três anos de pesquisa, ao fim da qual elaboramos uma
apostilha impressa e encadernada que traz na capa o ano de 1991.
Desde então, conhecidas as informações centrais que fazem as
ligações de Felipe Neri de Miranda com as atuais gerações,
deixamos essa apostilha numa gaveta e de vez em quando anotávamos um
dado novo fortuitamente encontrado. Recentemente, encontramos
importantes informações na documentação do Arquivo Histórico
Ultramarino(AHU), de Lisboa. Assim nasceu a árvore genealógica da
família Miranda e de outras que lhe são entrelaçadas.
Por
fim, as probabilidades sobre os demais filhos de João Rodrigues de
Miranda e sobre a ascendência de nosso ancestral Felipe Neri de
Miranda, ficam como sugestões para outros interessados que desejem
investigar as origens mais remotas dessa família. A documentação
eclesiástica de Oeiras, à qual até agora não tivemos acesso, pode
esclarecer tudo. Recomendamos, então, a análise de registros
eclesiásticos dessa freguesia e de Jerumenha, documentação
judicial da comarca de Oeiras, além de requerimentos e registros de
sesmarias. A análise cuidadosa dessa documentação esclarecerá
essas dúvidas, pois certamente existirão registros, vez que todos
esses primeiros ancestrais foram militares, proprietários rurais,
membros de câmaras municipais, juízes ordinários, etc., não sendo
impossível se encontrar anotações sobre eles. A quem interessar,
fica aberto o caminho através destas primeiras informações.
Também,
gostaríamos de lembrar que essas informações genealógicas visam
dar conhecimento aos descendentes e a quem interessar possa, sobre as
origens da família Miranda e de outras que lhe são entrelaçadas.
Traz o caule e os principais galhos da árvore, sem atualização das
ramificações mais recentes. É que anotamos apenas os dados que
encontramos nos arquivos. Não fomos buscar informações nos
descendentes atuais dessas gerações, porque achamos enfadonha essa
tarefa de incomodar os parentes com busca de informações pessoais.
Sabe-se que, nessa luta renhida pelo capital, nem todos dão valor a
estudos genealógicos. E para evitar dissabores preferimos não
incomodar ninguém. Ficamos, porém, à disposição daqueles que
desejem atualizar seus dados ou de seus respectivos ramos familiares,
bastando nos entregar pessoalmente as informações ou enviá-las
pelos correios ou via e-mail, a fim de que possamos inscrevê-los na
árvore genealógica da família, o fazendo com o maior prazer. Por
essa razão, as disponibilizamos na Internet, para facilitar a
complementação. Por oportuno, esclarecemos que os dados da
descendência do major José Felipe Neri de Miranda, nosso ancestral,
quase todos sem o apelido Miranda, estão um pouco mais atualizados
porque esses descendentes também são pertencentes à família
Rocha6, do sul do Piauí, e tiveram a sua árvore genealógica
atualizada recentemente, de onde retiramos algumas informações
sobre pessoas mais recentes. Frise-se que além de termos participado
daquela reedição (3ª), cedemos os originais desse livro para
complementar aquela, de forma que se comparando a terceira edição
com as anteriores de Dados Genealógicos da Família Rocha,
verificaremos que muitas informações por nós levantadas foram ali
incorporadas, com nossa aquiescência, constando, inclusive, na
bibliografia. A bem da verdade, deixamos de traçar nesse estudo a
genealogia completa da família Rocha, a que também pertencemos e
sobre a qual temos muitas anotações, porque a mesma já foi
levantada por outros pesquisadores, sendo desnecessário repeti-los.
Por fim, outro fator que tem atrasado a publicação desse estudo é
a necessidade de complementar a ascendência das famílias Brasil,
Rodrigues, Santana, Martins e Ramos, do lado paterno, cuja tradição
familiar remonta ao capitão Roberto Ramos da Silva7(Roberto da
Cachoeira), fazendeiro estabelecido na fazenda Cachoeira, divisa do
Piauí com Pernambuco, também entrelaçada aos Miranda. É que sendo
descendentes do português estabelecido no Piauí, Valério Coelho
Rodrigues, passaram para a divisa de Pernambuco, hoje Município de
Afrânio(PE), e dali algumas gerações retornaram ao Piauí, de
qualquer forma obrigando uma pesquisa em Pernambuco, a fim de fazer a
ligação entre as gerações. Infelizmente, ainda não temos essas
informações.
***
JOÃO
RODRIGUES DE MIRANDA, fazendeiro, pioneiro da colonização do Piauí,
desbravador e povoador de extensas áreas no vale do rio Piauí e de
seu afluente, o riacho Fundo, este formado pelos riachos de Santa
Maria e do Buriti, que desinfestou do gentio e onde assentou a
caiçara dos primeiros currais; residente na fazenda Buriti, hoje
cidade de Brejo do Piauí; foi c.c. D. Josépha de Souza, que lhe
sobreviveu; filhos(ao que conseguimos apurar):
F.1.
Francisco Félix de Miranda(1º), fazendeiro, residente na fazenda
Guaribas e depois na fazenda Santa Maria, ambas no vale do rio Piauí,
de onde passou para o termo de Jerumenha no início do século XIX;
foi c.c. D. Eugênia Maria; ainda sem filhos em 1765. (Nota: Na
relação de fazendas do Conselheiro Francisco Marcelino de Gouveia,
aparece como rendeiro da fazenda Guaribas, por disposição de seu
pai; e na lista dos moradores, conforme rol de desobriga do vigário
Dionísio José de Aguiar, aparece apenas com o nome de Francisco
Félix e residindo na fazenda Santa Maria, que seu pai vendera a
Vidal Afonso Sertão).
F.2.
Antonio Pereira de Miranda
F.3.
D. Maria de Miranda*, residente na fazenda São João, vale do rio
Piauí, foi c.c. Antônio Pereira de Abreu(já falecido em 1762);
filhos: Manoel, Joana, Ana, Ignácia, Antônia e Francisca; também,
morando na fazenda aparece Manoel de Miranda, mas o rol de desobrigas
não indica o parentesco acaso existente.
F.4.
Manuel Barbosa de Miranda*, residente na fazenda Piripiri, vale do
rio Piauí, já não existindo em 1762; foi c.c. D. Helena de Brito,
que lhe sobreviveu; no rol das desobrigas, não morava com ela, já
viúva, qualquer descendente, que parece não existir, apenas dez
escravos e dois forros.
F.5.
José Fernandes de Miranda*, foi c.c. uma filha de Francisco Xavier
de Azevedo; possuía a fazenda da Alagoa, terras de engenho e pagava
160$000 de renda anuais aos Regulares, como sucessores de Domingos
Afonso Sertão.
F.6.
Ignácio Rodrigues de Miranda, fazendeiro, militar e político de
larga atuação na segunda metade do século XVIII.
F.7.
Luiz
F.8.
João
(Confirmada
a filiação apenas de cinco filhos; os três que aparecem com
asterisco ainda não tiveram a filiação comprovada, embora morassem
entre esses, razão de terem sido relacionados, podendo ser também
irmãos dos pioneiros).
***
D.
FRANCISCA DE MIRANDA DO ROSÁRIO, fazendeira, pioneira da
colonização(era irmã de João Rodrigues de Miranda), residente,
senhora e proprietária da fazenda Palmeira de São Tiago, no médio
curso do rio Piauí, onde faleceu c. de 1770; foi c.c. o capitão-mór
Domingos de Abreu Valadares, fazendeiro, militar, pioneiro da
colonização do Piauí, f. c. 1739 e segundo declarou a viúva em 24
de novembro de 1769, “tem a trinta anos que é falecido” (AHU –
Piauí, Cx – 9, Doc. 22); filhos(ao que conseguimos apurar):
F.
1. Gaspar de Abreu Valadares, fazendeiro, político e magistrado
piauiense, “e das famílias nobres desta Capitania, natural desta
mesma freguesia (de N. Sra. da Vitória, de Oeiras), donde sempre foi
morador e ocupando os empregos mais honrosos desta cidade (de
Oeiras), como almotacé, vereador, juiz ordinário e de órfãos”
conforme declarou e foi comprovado por testemunhas em auto de
justificação que tramitou em agosto de 1772; com o prematuro óbito
do pai tornou-se arrimo de família, ajudando a criar os irmãos mais
novos.
F.2.
D. Inácia da Conceição(f. 25.06.1791), c. 1747, c.c. Manuel Alves
da Rocha(f. 16.06.1771), fazendeiro, português de nascimento, ao que
diz a tradição, fixando residência definitiva na fazenda Craíbas,
no vale do Gurguéia, onde já residia o esposo; filhos: 2.1) Joséfa
Maria de Santana, faleceu sem deixar sucessores; 2.2) Manuel Caetano
da Rocha, não se conhece nada sobre a existência de sucessores;
2.3) João Alves da Rocha, foi c.c. Antônia Vieira de Carvalho,
deles descendendo muita gente, inclusive o saudoso padre José
Marques da Rocha, os acadêmicos Petrarca Rocha de Sá e Pedro da
Silva Ribeiro e o ex-governador do Maranhão, Luiz Alves Coelho
Rocha; 2.4) Ana, faleceu sem sucessores; 2.5) Gonçalo Francisco da
Rocha, foi c.c. Maria Vieira de Carvalho, filha de Hilário Vieira de
Carvalho e Joséfa Maria da Conceição(deles descendem os acadêmicos
João Crisóstomo da Rocha Cabral, Adelmar Soares da Rocha, Zenon
Rocha e Reginaldo Miranda da Silva, bem como o ex-governador João
Clímaco de Almeida); 2.6) Jerônima Teresa de Jesus, foi c.c. o
capitão José Vieira de Carvalho, não deixando sucessores; 2.7)
Bernardo Luís da Rocha, foi c.c. Claudina Maria de Jesus, de cujo
consórcio deixou quatro filhas: Inácia, Ana, Bibiana e Raimunda;
F.3.
José de Abreu Valadares
F.4.
Francisca de Miranda(2ª)
***
CAPITÃO
FELIPE NERI DE MIRANDA (nos registros eclesiásticos aparece Joaquim
Felipe Neri de Miranda; em vários registros aparece Nery),
fazendeiro piauiense, n.c.1772, no vale do rio Piauí, neto de João
Rodrigues de Miranda e sua mulher, D. Josépha de Souza; residente na
fazenda Tabuleiro Grande, na ribeira do Itaueira, naquele tempo
pertencente ao termo de Jerumenha, depois, sucessivamente da Manga,
de Floriano, de Itaueira, de Rio Grande do Piauí e, por último, de
Pavussu, onde veio a falecer ab intestato no dia 9 de maio de 1828;
c. 1797 c. c. D. QUITÉRIA VIEIRA DE CARVALHO, que lhe sobreviveu,
sendo ela filha do tenente Hilário Vieira de Carvalho (2.º do
nome), Juiz Ordinário e Órfãos, residente na fazenda Várzea
Grande, do termo de Jerumenha, onde faleceu em 1813, e de D. Josefa
Maria da Conceição; neta paterna de Hilário Vieira de Carvalho
(1.º do nome), fazendeiro, vereador, residente na fazenda da Volta,
no vale do rio Canindé, arrematador dos dízimos da Capitania do
Piauí durante os anos de 1725 a 1727 e 1740 a 1742 e de D. Maria do
Rego (esta filha do Capitão-mór Manoel do Rego Monteiro); bisneta
de José Vieira de Carvalho e Maria Freire da Silva, casal paulista
de origem portuguesa que entrou no Piauí na bandeira de 1719,
fundando um arraial de paulistas que deu origem à cidade de
Paulistana(PI); neta materna de Antonio Pereira da Silva e D. Maria
da Purificação, casal de abastados fazendeiros portugueses
radicados na fazenda Mutucas, vale do rio Piauí; eram devotos de
Nossa Senhora da Conceição; do entrelaçamento matrimonial,
nasceram sete filhos, com idades em 1828, segundo consta no
inventário do genitor:
F.1-
Major José Felipe Neri de Miranda - 29 anos;
F.2-
Manuel Felipe de Miranda - 25 anos;
F.3-
Francisco Félix de Miranda - 20 anos;
F.4-
Thereza Maria da Conceição - 16 anos;
F.5-
D. Leandra Maria da Conceição - 15 anos;
F.6-
Cap. Ignácio Francisco de Miranda - 13 anos;
F.7-
Carolina Maria da Conceição - 10 anos;
Destes,
D. Leandra Maria da Conceição, n. em 1813, casou-se e transferiu-se
para o termo de Pilão Arcado, na Bahia, onde deixou filhos, já não
existindo em 1867. Nada sabemos informar a respeito do destino de
Thereza e Carolina. Teriam seguido a irmã para a Bahia? Faleceram
solteiras? Casaram e não tiveram filhos? É difícil asseverar. Por
essas razões, a descendência do capitão Felipe Neri de Miranda,
será traçada apenas por seus filhos varões. Sempre há a esperança
de que um dia alguém possa complementar esta pesquisa. José Felipe
Neri de Miranda e Francisco Félix de Miranda, também são
ancestrais do autor dessas notas.
Nos
livros de registros de correspondências da capitania de S. José do
Piauí, arquivados no Arquivo Público Estadual encontramos duas
missivas do governador D. João de Amorim Pereira a Felipe Nery de
Miranda, datadas do ano de 1799, então com a patente de
porta-estandarte. Interessante é que a primeira dessas missivas o
trata por Felipe Rodrigues de Miranda, talvez em alusão ao nome de
Ignácio Rodrigues de Miranda. A segunda, certamente com os dados da
resposta, já o trata pelo nome correto. A título de registro
histórico seguem na íntegra. A primeira correspondência se reporta
às diligências militares de que esse Miranda era encarregado e
sobre a dispensa de alguns moradores encarregados das fazendas do
Real Fisco:
“Carta
ao Porta Estandarte Felipe Roiz de Miranda.
‘Chegando
a mim a notícia por várias vezes que V.M.ce chama para o exercício
não só aos vaqueiros das fazendas do Real Fisco, mas também
aqueles que se hão empregados nas obras das mesmas fazendas como o
carpina que atualmente se acha fazendo carros e mais acessórios das
ditas fazendas vou declarar a V.M.ce que as pessoas que se declarem
como essa mencionada, ocupadas no indispensável e ativo serviço das
fazendas de Sua Mag.e não se deve enquanto este durar distrair das
suas ocupações tão essenciais para a conservação do patrimônio
Real// Deus guarde a V.M.ce. Palácio de Oeiras 10 de Setembro de
1799/ Dom João de Amorim Pereira/ Snr. Porta Estandarte Felipe Roiz
de Miranda”(CABACap. Cod. 157. P. 194).
No
mesmo sentido da primeira, também essa segunda correspondência se
reporta à disciplina militar de vaqueiros e demais empregados das
fazendas do Real Fisco, sob responsabilidade do Porta-Estandarte
Felipe Miranda. Era ele responsável pela disciplina militar em sua
região.
“Carta
ao Porta Estandarte Felipe Nery de Miranda.
‘Pelo
portador foi entregue nesta Secretaria a carta que V. M.ce me dirigiu
inclusa a que recebeu do seu comandante cuja volta outra vez. Tendo
determinado a V.M.ce assim como a todos os mais encarregados da
disciplina militar o que se deve obrar com os vaqueiros e mais
pessoas empregadas no serviço das fazendas do Real Fisco, o mesmo
seu comandante me propôs o que V.M.ce lhe representou respeito o
acharem-se disciplinados os soldados dessa Ribeira sobre cujo assunto
lhe ordenei o que havia de fazer. Deus guarde a V.M.ce. Palácio de
Oeiras 9 de Outubro de 1799/Dom João de Amorim Pereira/Snr. Porta
Estandarte Felipe Nery de Miranda”(CABACap. Cod. 157. P. 212).
Portanto,
são esses alguns dados sobre esse nosso antepassado da família
Miranda, do centro-sul do Piauí. No tempo da correspondência supra,
ocupava o posto de porta-estandarte, depois foi promovido, sendo
reformado no posto de capitão de um dos regimentos da capitania. Em
outra oportunidade divulgaremos dados sobre sua descendência.
NOTAS
Texto adaptado da introdução ao livro Memória dos
ancestrais, ainda inédito.
Advogado
e escritor. Titular da Cadeira n.º 27 e atual presidente da
Academia Piauiense de Letras.
CARVALHO
Jr, Dagoberto Ferreira de. História episcopal do Piauí. 2.ª Ed.
Recife: Editora Thormes, 2011: “Nomeia-se por provisão de 1712,
segundo pesquisa do bacharel Jerônimo Martiniano de Melo, o Chantre
Baltazar de Faria e Miranda para vice-vigário da freguesia de Nossa
Senhora da Vitória. O documento acha-se registrado na Câmara
Eclesiástica de Olinda. Depreende-se do fato, o crescimento da
freguesia, a exigir já àquela época, auxiliar de tão elevada
dignidade hierárquica” (p. 44).
Autos
da devassa feita pelo cônego João Maria da Luz Costa, por ordem do
Bispo frei D. Antônio de Pádua, sobre o procedimento do vigário
colado da igreja matriz de Oeiras, padre Dionísio José de Aguiar.
Depoimento da testemunha n.º 23, Francisco José dos Santos, sobre
o fazendeiro e político Gaspar de Abreu Valadares ter falecido sem
receber o sacramento de unção, por recusa do aludido vigário:
“sabe por lhe dizer o mesmo Gaspar de Abreu ao tempo de sua
enfermidade que para haver de receber o sacramento da eucaristia,
havia pedido, ou escrito a seu primo o capitão Ignácio Rodrigues
de Miranda, então Ouvidor interino, nesta cidade(de Oeiras), que de
outra forma não podia conseguir por ter inimizade com o Reverendo
vigário; e o mandava esperança que logo o faria” (AHU-Maranhão.
Cx. Nv 886; Piauí, Cx. 12, Doc. 2; AHU-ACL-CU-016, Cx. 15, Doc.
829). O importante a ressaltar é o parentesco existente(a
testemunha declarou serem primos), entre Gaspar e Ignácio, filhos,
respectivamente, dos pioneiros Francisca de Miranda do Rosário e
João Rodrigues de Miranda.
Segue
o documento, na íntegra: “Ilmo. Senado. Nós abaixo assinados,
moradores na ribeira do Piauhy, constando-nos que V. Sas., à frente
do Clero, Nobreza e povo dessa cidade, como Metrópole da Capitania,
recorriam a S. Alteza para que fosse servido por sua inata piedade
conservar por mais nove anos no governo da Capitania o Ilmo. Sr.
Carlos César Burlamaque, seu atual governador, e desanexar para
sempre da Capitania Geral do Maranhão, dita Capitania e lhe
permitir liberdade para livremente comerciar com a Capital do Reino.
Tendo não só nós, mas todos os moradores desta Capitania,
experimentado quão útil e vantajoso nos é, e tem sido o suave,
piedoso, sábio e justo governo do dito Ilmo. Sr., que com tanta
eficácia cuida na fidelidade pública, e em desterrar os males que
os pretéritos governos nos haviam causado, e pela falta de
liberdade do comércio. P//a V. Sas., Ilmo. Senado, que à sobredita
representação queiram unir este nosso requerimento, pelo qual nos
obrigamos a cumprir, da nossa parte toda, e qualquer proposição
que para o conseguimento das referidas graças V. Sas., fizerem a
Sua Alteza Real, ou aqueles outros que este Sr. for servido impor
para este fim. E. R. Mce..Ass: Francisco Pereira da Silva; Antonio
de Medeiros Chaves; Francisco Xavier de Macedo; Joaquim da Silva
Barbosa; Raimundo Pereira de Miranda; Joaquim Jorge Afonso; João
Barbosa de Miranda; João Vieira de Carvalho; Felipe Neri de
Miranda; Martinho Soares dos Santos; Luís Soares da Cunha; Manoel
Soares de Brito; José Joaquim Soares; Leandro Rodrigues de Miranda;
Joaquim Ribeiro Soares; Ladislau Pereira de Miranda; Plácido
Ribeiro Soares; Damião Barbosa; José Pereira da Silva Araújo;
José Ribeiro Soares; Francisco Bernardino de Miranda; João
Baptista Ribeiro; João Paulo da Silva; Manoel Pereira de Miranda;
Bernardo Alves de Araújo; José Barbosa de Miranda; Manoel Barbosa
de Miranda; Manoel dos Santos P....; Eugênio José P...; Manoel da
Costa Passos; Patrício Alves; Eliziário Pereira de Araújo; Manoel
de Souza; Clemente Ribeiro de Souza; Manoel Pereira Maciel; Manoel
de Oliveira Lima; Antonio Félix Gansolo; José de Matos Z...; José
de Araújo; José Francisco Soares; Antonio José L...; José
Joaquim de ...; ...... ..... Lima; Manoel Gomes Afonso; José
Pereira de Máximo; Leandro Rodrigues de Miranda; Manoel Roberto
Ferraz Porto; Joaquim José de Santa Ana; Manoel Pinto Ramalho; João
da ....; Alexandre José da Costa; .... Júlio Ribeiro; Manoel
Vicente; Manoel Gomes; Eucário Ferreira; José Maria de Oliveira;
Antonio de Oliveira Araújo; Custódio de Oliveira; Floriano de
Souza Estrela; Miguel Ferreira de A...; André Correia de Mesquita;
Antonio Leal da Mota; Agostinho da Fonseca; João Paulo de Souza;
Manoel Vicente; Antonio Nunes; Antonio Félix; Sebastião de Souza;
Lucas Félix; Thomaz Ferreira da Cruz; Adriano Pereira de Novaes;
José Pinto de Aguiar; Félix dos Santos; Pedro Rodrigues de
Miranda; Cosme Barbosa de Miranda; José Pereira da Silva Miranda;
Bento Pereira Rego; Paulo de Brito Porto; João Baptista Damasceno.
Registrado à fls. 183 até 185 do Livro 10 deste Senado. Corrª
(assinatura ilegível)” (AHU-Piauí – Cx. 23, Doc. 20, 25, 29;
AHU-ACL-CU-016, Cx 30, Doc. 1573). O documento possui despacho
datado de 18 de agosto de 1807.
Esses
são também descendentes da pioneira Francisca de Miranda do
Rosário e de seu esposo, o capitão-mór Domingos de Abreu
Valadares. É que a filha desses, Ignácia da Conceição, casou com
o português Manoel Alves da Rocha e passou a morar no vale do
Gurguéia, de cujo consórcio gerou a família Rocha. E duas netas
suas, irmãs, de forma sucessiva, vão casar-se com José Felipe de
Miranda, gerando grande descendência, que são os Costa e Silva(da
ribeira do Itaueira), os Pereira Nunes e os Mendes da Rocha(os dois
últimos do Gurguéia), inclusive o autor dessas notas, que descende
de ambos os irmãos pioneiros.
Roberto
Ramos da Silva era natural de Oeiras, onde casou e ainda residia no
final do século XVIII. É testemunha em autos de devassa realizada
em Oeiras no ano de 1798.