15
de maio Diário Incontínuo
OBRAS
INACABADAS E UM DOS MEUS AVOENGOS
Elmar Carvalho
Estive
na casa do velho amigo Antenor Rêgo Filho para receber de suas mãos
o livro Obras Inacabadas, da autoria de nosso parente Francisco de
Assis Carvalho, cujo exemplar ele gentilmente me conseguira. Devo
dizer que já admirava sua residência e suas árvores à distância,
mais precisamente do posto de combustível em que ia abastecer o meu
carro, que lhe fica ao lado.
Logo
ao chegar recolhi vários frutos do enorme jatobazeiro, que sombreia
a casa e o seu jardim, com a intensão de reproduzir essa frondosa
árvore em nosso sítio da Várzea do Simão, situado às margens do
Parnaíba, no município de Buriti dos Lopes, perto do limite com
Parnaíba. O solar do Tena é amplo e alto; algumas de suas partes,
por recomendação estética do arquiteto, foram construídas em
espessa parede dupla.
Ficamos
a conversar em seu aconchegante alpendre, rodeado pelas árvores, que
nos transmitem a ilusão de estarmos em um sítio campestre. Falamos
sobre vários amigos e conhecidos, sobretudo barrenses, muitos dos
quais já falecidos. Quando estava prestes a deixar o casarão do
amigo Antenor, encontrei, em cima do cimento, quase prensado entre um
jarro e o muro, em local de pouca luminosidade, um jatobá cuja
plantinha tenra, na verdade apenas um broto, rebentara milagrosamente
da dura casca do fruto, conquanto todas as circunstâncias lhe fossem
adversas.
Segundo
informações contidas no próprio livro, Assis Carvalho vinha
escrevendo essa obra memorialística de forma discreta, quase
sigilosa, sem nenhuma pretensão literária, quando foi colhido pela
“indesejada das gentes”, deixando-a inconclusa; eis a explicação
do título. Talvez por esse motivo ou talvez mais provavelmente por
modéstia, pouco falou de si mesmo, de sua vida, de sua trajetória
profissional, preferindo falar de seus avós paternos e maternos, de
seus pais, de seus tios e de seus irmãos. Para suprir essa lacuna, o
médico Sebastião Aécio de Carvalho, seu irmão mais novo,
discorreu sobre sua vida e personalidade. O livro enfeixa ainda
vários depoimentos de filhos e netos do seu saudoso autor.
Seus
avós paternos foram João Antônio de Carvalho e Auta Fernandes
Pereira, e os maternos se chamavam João Bartolomeu de Carvalho e Ana
Rosa da Silva (Dondom). Era filho de João Fernandes de Carvalho e
Maria Carvalho, conhecida como Marocas. Este casal, além de Assis,
teve os seguintes filhos: Maria Judite, João Berchmans, Maria do
Rosário, José dos Santos (Bilé), Geraldo Majella, Lázaro e
Sebastião Aécio. Todos já faleceram, com exceção do caçula
Sebastião.
Segundo
meu pai, nosso parentesco com essa família era através de João
Antônio de Carvalho, proprietário da fazenda Santinho, localizada
perto da cidade de Barras. Contudo, o nome do avô materno do autor –
João Bartolomeu de Carvalho – não me pareceu estranho. Ao
contrário, me pareceu familiar. Fui conferir essa impressão em meu
pequeno trabalho “Breve Notícia Familiar” e nos livros “Ruas,
Avenidas e Praças de Piripiri” e “Ponta-de-Rama”, do primo
Fabiano Melo.
Desse
cotejo, confirmei que meu trisavô, por parte de mãe, tinha o nome
de João Bartolomeu de Carvalho. Restava-me a dúvida sobre se seria
a mesma pessoa, ou se se tratava de caso de homônimos. No livro de
Assis Carvalho, as informações sobre esse nosso avoengo eram
escassas e um tanto vagas. Consta nessa obra que ele seria natural da
região de Granja – CE, e que se casou “com Ana Rosa da Silva
(Dondom) lá pelos idos de 1894”, e que essa união durara pouco
tempo, porquanto ele falecera em dezembro de 1897. Fabiano Melo, em
seu livro Ponta-de-Rama (edição de 1990), afirma que ele seria
piauiense.
Em
“Obras Inacabadas” consta ainda a informação de que a
historiadora Judite Santana, em suas pesquisas históricas, teria
encontrado o registro de que ele seria um dos signatários da ata de
instalação da vila de Piripiri, fato ocorrido em 18 de setembro de
1874. Em seu livro Piripiri (edição de 1972), às páginas 24/25,
essa historiadora transcreve o auto de inauguração da nova vila, no
qual consta que fora assinado pelo Juiz de Direito, pelo escrivão e
“mais pessoas gradas desta localidade que compareceram a este ato
solene de inauguração da vila”. A povoação fora elevada a essa
categoria através da Lei Provincial nº 849, de 16 de junho de 1874.
João
Bartolomeu se casou com Mariana Rosa de Carvalho, minha trisavó, em
data que desconheço. Em 2 de outubro de 1880 a filha deste casal,
Antônia Quitéria de Carvalho, contraiu núpcias com Horácio Luiz
de Melo. Tomando-se por base o ano de casamento de sua filha, e
considerando-se que ela teria pelo menos quinze anos na época, é
fora de dúvida que ele já era casado, em primeira núpcias, em
1865. Fica claro desse conjunto de informações e documentos, que se
harmonizam, já que não se contradizem e nem se excluem, que suas
atividades na região de Piripiri e Piracuruca começaram bem antes
do seu casamento em Barras, ocorrido em 1894, conforme já consta
neste registro.
Após
todo esse cotejo de informações, fundamentadas em documentos ou
não, me é lícito inferir que se trata de um único e mesmo João
Bartolomeu. Sem dúvida, ele se tornara viúvo do primeiro casamento,
e convolou segundo matrimônio em Barras, talvez já um tanto idoso
ou maduro, tanto que faleceu três anos após.
Esclareço,
por fim, que fiz este registro apenas como uma modesta contribuição
à genealogia piauiense. Quanto ao jatobá, do qual falei no início
desta crônica, espero que dê inúmeros e bons frutos, como muitos
dos Carvalhos aqui referidos o fizeram.
onde posso comprar esse livro "Breve Notícia Familiar"? poderia mandar a resposta pelo meu e-mail que é: natpassosand@gmail.com
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