25
de maio Diário Incontínuo
RIO
PARNAÍBA – PROBLEMAS E SOLUÇÕES
Elmar Carvalho
No
sábado, dia 17, no “Encontro em Defesa do Rio Parnaíba”, por
mim idealizado, e que contou com o apoio integral do presidente da
Academia Piauiense de Letras, Nelson Nery Costa, proferi a palestra
“Rio Parnaíba – problemas e soluções”. A solenidade foi
presidida pelo desembargador Oton Lustosa, em virtude da ausência
justificada do titular. Nunca fui tão aplaudido em minha vida, o que
parece demonstrar a justeza de minhas críticas e denúncias, e o
acerto das soluções que apontei.
Além
da APL, apoiaram o evento a Associação dos Magistrados Piauienses –
AMAPI e o Grande Oriente do Brasil/Piauí – GOB-PI. Também
discursaram o acadêmico Humberto Guimarães, versando o tema “O
rio Parnaíba na Literatura Piauiense”, e o deputado federal José
Francisco Paes Landim, que proferiu a palestra “Em defesa do rio
Parnaíba”. Compareceu um público razoável, composto por pessoas
interessadas em cultura e ambientalismo.
Foram
homenageados, por seus trabalhos em defesa do rio Parnaíba, os
escritores e intelectuais Lauro Correia, Manoel Paulo Nunes, Paes
Landim, Carlos Augusto Pires Brandão, Cid Castro Dias, Humberto
Guimarães e Elmar Carvalho, e ainda a AMAPI. Dr. Lauro, além de
haver enviado uma bela carta justificando sua ausência, foi
representado pelo professor Israel Coreia e pelo economista Canindé
Correia, que vieram de Parnaíba exclusivamente para essa finalidade.
Esclareci,
logo no início, após recitar os versos do Postal III, componente de
meu poema “3 Postais de Parnaíba”, que minha fala seria concisa,
sintética, clara, sem palavras técnicas. Citei os versos de
Fernando Pessoa, em que o poeta dizia que era um técnico, mas que
era um técnico só dentro da técnica, e que fora disso era um
doido, com todo o direito a sê-lo. Explicitei que, conquanto não
fosse maluco, me despojaria de todo tecnicismo, de toda linguagem
tecnicista ou de erudição balofa. Contei que meu pai, aluno do
Colégio Diocesano em 1940, ouviu o professor de geografia Álvaro
Ferreira asseverar que, em 50 anos, se providências não fossem
adotadas, o Parnaíba morreria. Ainda bem que o velho mestre e
presidente da APL não foi um profeta perfeito, pois o nosso maior
curso d'água ainda se mantém vivo, embora estrebuchando, embora nas
vascas de lenta e dolorosa agonia.
Vislumbrei
o final da navegação no Velho Monge, tanto em Teresina como em
Parnaíba. Quando fui morar nesta última cidade, em junho de 1975,
ainda vi grandes embarcações e chalanas ancoradas no Igaraçu, no
porto Salgado, e nelas viajei a lazer para Tutoia e Água Doce, no
delta maranhense. Também ainda cheguei a viajar de trem, em poucas
ocasiões.
No
lugar de a navegação e as ferrovias terem sido revitalizadas e
melhoradas, com motores mais velozes e mais potentes, terminaram
sendo suprimidas ou abandonadas, ao contrário do que ocorre em
diversos países desenvolvidos de várias partes do mundo. Afirmei
que essas duas formas de transportes são importantes e mais baratas
que as demais opções; e mais importantes tornar-se-iam quando da
conclusão do porto de Luís Correia. Mas ponderei que esta obra
parecia um manto de Penélope, cuja urdidura, feita e desfeita, nunca
terminava.
Falei
que as várias cidades ribeirinhas, inclusive e principalmente
Teresina, nossa mesopotâmica capital, despejam os seus esgotos, sem
nenhum tratamento, no Parnaíba; que as cidades necessitam de
galerias pluviais, mas que particulares, empresas e órgãos públicos
muitas vezes lançam seus dejetos e águas servidas nas galerias e
sarjetas. Obviamente esse procedimento nocivo polui as águas do
Velho Monge, que é o principal (ou mesmo o único) fornecedor de
água para essas urbes. Informei que estudos indicam que o lençol
freático profundo de Teresina é formado por água salobra, não
potável. Chamei a atenção para o que está acontecendo com o
sistema de abastecimento d'água da cidade de São Paulo.
Abordei
os desmatamentos e as queimadas, que vêm destruindo as matas
ciliares de nosso mais importante curso d'água. Demonstrei que nosso
poeta maior, (Antônio Francisco) Da Costa e Silva, no livro Zodíaco,
publicado em 1917, já vergastava essas duas mazelas, em fulgurantes
e imortais versos candentes. Sugeri que o Poder Público poderia
fazer uso de guardas ou agentes florestais que esclarecessem os
ribeirinhos sobre a importância das matas ciliares, até mesmo para
a conservação de suas terras, mas que também exercesse o seu
dever/poder de fiscalizar e punir, quando necessário; que poderia
oferecer a essa população sementes e mudas e até certas isenções
tributárias para que conservasse a floresta das beiras de nossos
rios, ou fizesse o reflorestamento.
Os
desvios d'água, para qualquer finalidade, e a construção de
barragens provocam danos ambientais e, sem dúvida, em menor ou maior
grau, prejudicam os rios, razão pela qual os estudos do impacto
ambiental são indispensáveis, para que esses prejuízos possam ser
minimizados ou mesmo evitados. Nesse ponto, discorri sobre a campanha
liderada por Lauro Correia e Paulo Nunes contra a construção de
cinco barragens no Parnaíba, que iriam produzir irrisórias
quantidades de eletricidade, mas que iriam prejudicar algumas
cidades, com a inundação de parte delas, e impediriam para sempre a
navegabilidade do Velho Monge, mesmo porque até hoje a eclusa da
Barragem de Boa Esperança ainda está por ser concluída.
Acrescentei que fui um soldado raso dessa peleja, mas que também
desferi os meus “tirambaços”.
Fatalmente
essas barragens iriam diminuir o volume d'água, o que iria afetar o
delta parnaibano. Com isso a influência das marés seria exercida
com maior intensidade, o que tornaria salobro o precioso líquido na
região litorânea, provocando possivelmente grandes danos ao
abastecimento de água potável na cidade de Parnaíba, sobretudo.
Talvez – quem poderia garantir? – a extraordinária beleza do
Delta, com suas ilhas, canais e mangues, ficasse comprometida. Além
de tudo isso, as usinas eólicas substituem com demasiadas vantagens
essas intervenções prejudiciais e perigosas. E instáveis e quase
sempre imprevisíveis, tanto pelo excesso de chuva como por causa das
rigorosas estiagens.
Falei
de outras mazelas, inclusive a agricultura e a pecuária predatórias,
que podem provocar erosões, assoreamento de lagos e rios,
envenenamento de aquíferos, e destruição dos mananciais, brejos e
olhos d'água, sem falar nos danos à fauna. Portanto, o governo deve
exercer a fiscalização com firmeza e de maneira contínua, para que
os nossos cursos d'água não desapareçam. Indispensável a criação
e fiscalização de áreas de preservação das nascentes do Parnaíba
e de seus afluentes. Deixei bem claro que os cuidados referentes ao
nosso principal rio deverão ser estendidos aos seus tributários.
Não pode o interesse particular e egoístico prevalecer sobre o
coletivo.
Para
surpresa e mesmo perplexidade do auditório, no tocante às
sugestões, eu disse que a grande solução para os problemas do
Parnaíba era exatamente não se fazer nada e não se deixar fazer;
não se fazer sistema de esgotos que depositem as vazas podres da
cidade em suas águas; não se construir mais nenhuma barragem; não
desmatar e nem queimar as florestas de suas margens; não se desviar
ou retirar suas águas desnecessariamente.
Aduzi
que os órgãos públicos ambientais deveriam exercer os serviços de
orientação e fiscalização em relação aos ribeirinhos, com
programas de reflorestamento e incentivos fiscais, conforme já
explicitei acima. Retirar-se, na medida do possível, os esgotos já
existentes. Com essas providências e talvez um serviço de dragagem
moderno, com o uso de estacas ou outros equipamentos e métodos, em
que o rio dragar-se-ia a si mesmo, talvez o Parnaíba voltasse a se
tornar mais estreito e mais profundo, e por conseguinte mais
saudável.
Ainda
no campo das soluções, retomando uma ideia antiga do engenheiro,
advogado e administrador Lauro Andrade Correia, ainda do tempo em que
ele foi presidente da FIEPI, no início da década de 1980, afirmei
que o Velho Monge poderia ser rejuvenescido e revitalizado com a
transposição de águas do Tocantins, na altura de Carolina (MA),
para um dos afluentes do rio Balsas, o qual deságua em nosso mais
importante rio, a montante da cidade de Uruçuí (PI).
Expliquei
que essa transposição exigiria a construção de um canal, de
apenas 100 quilômetros, sem necessidade de grandes bombeamentos, já
que a gravidade, o afluente e o Balsas tudo fariam, sem emprego de
maiores esforços. Não haveria necessidade de obras faraônicas e/ou
mirabolantes de engenharia, nem do uso de complicadas e sofisticadas
tecnologias. Por conseguinte, seria uma obra simples e de baixo
custo, em termos de governo federal.
Fernando
Pessoa, num de seus magníficos poemas, disse que o Tejo era mais
belo que o rio que corre pela sua aldeia, mas que o Tejo não era
mais belo que o rio de sua aldeia, porque o Tejo não era o rio que
corre pela sua aldeia. Parafraseando-o, bradei que os rios Amazonas e
São Francisco são mais importantes e mais bonitos que o Parnaíba,
mas que eles não são mais importantes e nem mais bonitos que o
Parnaíba, porque eles não são o rio que banha a nossa província.
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