quarta-feira, 28 de maio de 2014

RIO PARNAÍBA – PROBLEMAS E SOLUÇÕES



25 de maio   Diário Incontínuo

RIO PARNAÍBA – PROBLEMAS E SOLUÇÕES

Elmar Carvalho

No sábado, dia 17, no “Encontro em Defesa do Rio Parnaíba”, por mim idealizado, e que contou com o apoio integral do presidente da Academia Piauiense de Letras, Nelson Nery Costa, proferi a palestra “Rio Parnaíba – problemas e soluções”. A solenidade foi presidida pelo desembargador Oton Lustosa, em virtude da ausência justificada do titular. Nunca fui tão aplaudido em minha vida, o que parece demonstrar a justeza de minhas críticas e denúncias, e o acerto das soluções que apontei.

Além da APL, apoiaram o evento a Associação dos Magistrados Piauienses – AMAPI e o Grande Oriente do Brasil/Piauí – GOB-PI. Também discursaram o acadêmico Humberto Guimarães, versando o tema “O rio Parnaíba na Literatura Piauiense”, e o deputado federal José Francisco Paes Landim, que proferiu a palestra “Em defesa do rio Parnaíba”. Compareceu um público razoável, composto por pessoas interessadas em cultura e ambientalismo.

Foram homenageados, por seus trabalhos em defesa do rio Parnaíba, os escritores e intelectuais Lauro Correia, Manoel Paulo Nunes, Paes Landim, Carlos Augusto Pires Brandão, Cid Castro Dias, Humberto Guimarães e Elmar Carvalho, e ainda a AMAPI. Dr. Lauro, além de haver enviado uma bela carta justificando sua ausência, foi representado pelo professor Israel Coreia e pelo economista Canindé Correia, que vieram de Parnaíba exclusivamente para essa finalidade.

Esclareci, logo no início, após recitar os versos do Postal III, componente de meu poema “3 Postais de Parnaíba”, que minha fala seria concisa, sintética, clara, sem palavras técnicas. Citei os versos de Fernando Pessoa, em que o poeta dizia que era um técnico, mas que era um técnico só dentro da técnica, e que fora disso era um doido, com todo o direito a sê-lo. Explicitei que, conquanto não fosse maluco, me despojaria de todo tecnicismo, de toda linguagem tecnicista ou de erudição balofa. Contei que meu pai, aluno do Colégio Diocesano em 1940, ouviu o professor de geografia Álvaro Ferreira asseverar que, em 50 anos, se providências não fossem adotadas, o Parnaíba morreria. Ainda bem que o velho mestre e presidente da APL não foi um profeta perfeito, pois o nosso maior curso d'água ainda se mantém vivo, embora estrebuchando, embora nas vascas de lenta e dolorosa agonia.

Vislumbrei o final da navegação no Velho Monge, tanto em Teresina como em Parnaíba. Quando fui morar nesta última cidade, em junho de 1975, ainda vi grandes embarcações e chalanas ancoradas no Igaraçu, no porto Salgado, e nelas viajei a lazer para Tutoia e Água Doce, no delta maranhense. Também ainda cheguei a viajar de trem, em poucas ocasiões.

No lugar de a navegação e as ferrovias terem sido revitalizadas e melhoradas, com motores mais velozes e mais potentes, terminaram sendo suprimidas ou abandonadas, ao contrário do que ocorre em diversos países desenvolvidos de várias partes do mundo. Afirmei que essas duas formas de transportes são importantes e mais baratas que as demais opções; e mais importantes tornar-se-iam quando da conclusão do porto de Luís Correia. Mas ponderei que esta obra parecia um manto de Penélope, cuja urdidura, feita e desfeita, nunca terminava.

Falei que as várias cidades ribeirinhas, inclusive e principalmente Teresina, nossa mesopotâmica capital, despejam os seus esgotos, sem nenhum tratamento, no Parnaíba; que as cidades necessitam de galerias pluviais, mas que particulares, empresas e órgãos públicos muitas vezes lançam seus dejetos e águas servidas nas galerias e sarjetas. Obviamente esse procedimento nocivo polui as águas do Velho Monge, que é o principal (ou mesmo o único) fornecedor de água para essas urbes. Informei que estudos indicam que o lençol freático profundo de Teresina é formado por água salobra, não potável. Chamei a atenção para o que está acontecendo com o sistema de abastecimento d'água da cidade de São Paulo.

Abordei os desmatamentos e as queimadas, que vêm destruindo as matas ciliares de nosso mais importante curso d'água. Demonstrei que nosso poeta maior, (Antônio Francisco) Da Costa e Silva, no livro Zodíaco, publicado em 1917, já vergastava essas duas mazelas, em fulgurantes e imortais versos candentes. Sugeri que o Poder Público poderia fazer uso de guardas ou agentes florestais que esclarecessem os ribeirinhos sobre a importância das matas ciliares, até mesmo para a conservação de suas terras, mas que também exercesse o seu dever/poder de fiscalizar e punir, quando necessário; que poderia oferecer a essa população sementes e mudas e até certas isenções tributárias para que conservasse a floresta das beiras de nossos rios, ou fizesse o reflorestamento.

Os desvios d'água, para qualquer finalidade, e a construção de barragens provocam danos ambientais e, sem dúvida, em menor ou maior grau, prejudicam os rios, razão pela qual os estudos do impacto ambiental são indispensáveis, para que esses prejuízos possam ser minimizados ou mesmo evitados. Nesse ponto, discorri sobre a campanha liderada por Lauro Correia e Paulo Nunes contra a construção de cinco barragens no Parnaíba, que iriam produzir irrisórias quantidades de eletricidade, mas que iriam prejudicar algumas cidades, com a inundação de parte delas, e impediriam para sempre a navegabilidade do Velho Monge, mesmo porque até hoje a eclusa da Barragem de Boa Esperança ainda está por ser concluída. Acrescentei que fui um soldado raso dessa peleja, mas que também desferi os meus “tirambaços”.

Fatalmente essas barragens iriam diminuir o volume d'água, o que iria afetar o delta parnaibano. Com isso a influência das marés seria exercida com maior intensidade, o que tornaria salobro o precioso líquido na região litorânea, provocando possivelmente grandes danos ao abastecimento de água potável na cidade de Parnaíba, sobretudo. Talvez – quem poderia garantir? – a extraordinária beleza do Delta, com suas ilhas, canais e mangues, ficasse comprometida. Além de tudo isso, as usinas eólicas substituem com demasiadas vantagens essas intervenções prejudiciais e perigosas. E instáveis e quase sempre imprevisíveis, tanto pelo excesso de chuva como por causa das rigorosas estiagens.

Falei de outras mazelas, inclusive a agricultura e a pecuária predatórias, que podem provocar erosões, assoreamento de lagos e rios, envenenamento de aquíferos, e destruição dos mananciais, brejos e olhos d'água, sem falar nos danos à fauna. Portanto, o governo deve exercer a fiscalização com firmeza e de maneira contínua, para que os nossos cursos d'água não desapareçam. Indispensável a criação e fiscalização de áreas de preservação das nascentes do Parnaíba e de seus afluentes. Deixei bem claro que os cuidados referentes ao nosso principal rio deverão ser estendidos aos seus tributários. Não pode o interesse particular e egoístico prevalecer sobre o coletivo.

Para surpresa e mesmo perplexidade do auditório, no tocante às sugestões, eu disse que a grande solução para os problemas do Parnaíba era exatamente não se fazer nada e não se deixar fazer; não se fazer sistema de esgotos que depositem as vazas podres da cidade em suas águas; não se construir mais nenhuma barragem; não desmatar e nem queimar as florestas de suas margens; não se desviar ou retirar suas águas desnecessariamente.

Aduzi que os órgãos públicos ambientais deveriam exercer os serviços de orientação e fiscalização em relação aos ribeirinhos, com programas de reflorestamento e incentivos fiscais, conforme já explicitei acima. Retirar-se, na medida do possível, os esgotos já existentes. Com essas providências e talvez um serviço de dragagem moderno, com o uso de estacas ou outros equipamentos e métodos, em que o rio dragar-se-ia a si mesmo, talvez o Parnaíba voltasse a se tornar mais estreito e mais profundo, e por conseguinte mais saudável.

Ainda no campo das soluções, retomando uma ideia antiga do engenheiro, advogado e administrador Lauro Andrade Correia, ainda do tempo em que ele foi presidente da FIEPI, no início da década de 1980, afirmei que o Velho Monge poderia ser rejuvenescido e revitalizado com a transposição de águas do Tocantins, na altura de Carolina (MA), para um dos afluentes do rio Balsas, o qual deságua em nosso mais importante rio, a montante da cidade de Uruçuí (PI).

Expliquei que essa transposição exigiria a construção de um canal, de apenas 100 quilômetros, sem necessidade de grandes bombeamentos, já que a gravidade, o afluente e o Balsas tudo fariam, sem emprego de maiores esforços. Não haveria necessidade de obras faraônicas e/ou mirabolantes de engenharia, nem do uso de complicadas e sofisticadas tecnologias. Por conseguinte, seria uma obra simples e de baixo custo, em termos de governo federal.


Fernando Pessoa, num de seus magníficos poemas, disse que o Tejo era mais belo que o rio que corre pela sua aldeia, mas que o Tejo não era mais belo que o rio de sua aldeia, porque o Tejo não era o rio que corre pela sua aldeia. Parafraseando-o, bradei que os rios Amazonas e São Francisco são mais importantes e mais bonitos que o Parnaíba, mas que eles não são mais importantes e nem mais bonitos que o Parnaíba, porque eles não são o rio que banha a nossa província.     

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