Mistérios e sonhos da Quarta Vigília
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Antigos
sábios afirmavam que o espírito levita e passeia, enquanto o corpo dorme. Povos
bíblicos e orientais dividiam a noite em quatro vigílias, três horas cada, a
partir das 18. Na quarta vigília, entre
as 3 e 6 da manhã, corpo e espírito, já restaurados das forças,
experimentavam sensações indescritíveis com seres celestiais. Alcançar esse
estágio não é fácil, especialmente na vida moderna agitada e insone.
Privilégios
da quarta vigília só ocorrem com pessoas
que dormem cedo, exercitam espiritualidade, oração e virtudes. No passado, de
noites sem luminosidade elétrica e
barulhenta, de vida menos estressada e egoísta, havia espaços para a oração e a
presença de Deus.
Na quarta
vigília da noite, as pessoas de fé despertam, tocadas por espíritos celestiais,
recebem avisos, como ondas psicanalíticas freudianas. A Bíblia relata
experiências fantásticas e proféticas através de imagens oníricas recebidas.
José, filho de Jacó, irritava os irmãos, quando relatava sonhos de futuro
reinado. Decifrou o pesadelo de Faraó sobre sete anos de vacas gordas e sete de
terrível seca (Gênesis, 7). Quando criança, o profeta Samuel acordara, três
vezes, na mesma noite, despertado por uma voz divina. Só parou, quando
respondeu: “Fala, Senhor, que teu servo escuta!” O Senhor, então, avisou-lhe o
fim trágico de Heli, sacerdote de conduta irregular (1 Samuel, cap. 3). Os reis
magos foram avisados, em sonho, para não retornarem a Jerusalém. José ouviu, quando dormia, aviso do anjo
para levar a criança e a esposa Maria
para o Egito. Nas caladas da noite, Jesus costumava recolher-se nos montes para
repousar e orar. No evangelho de Mateus, capítulo 14, durante repouso e oração
da quarta vigília, ele se desloca e aparece andando nas águas do Mar da
Galileia, e resgata os apóstolos de naufrágio. No Monte Tabor, resplandeceu, e
três apóstolos o contemplaram dialogando com Moisés e Elias, profetas que
viveram quase mil anos antes. Os Atos dos Apóstolos relatam aparição de anjo ao
apóstolo Pedro, altas horas, enquanto dormia na prisão, e o libertou. Francisco
de Assis recebeu, em sonho, aviso divino para reconstruir a Igreja cambaleante
de vícios do clero. Outrossim, o Papa Inocêncio, também em sonho, viu um monge
tentando segurar as torres decadentes da igreja do Vaticano. Referia-se a
Francisco, que tentava registrar sua Ordem.
São João Bosco, em sonho, ouviu uma voz dizendo-lhe que uma
cidade seria construída entre os paralelos 15 e 20 e grande lago próximo. Faltavam quase 70 anos para a fundação de Brasília.
Quando se fala em vigília e avisos proféticos, geralmente o
assunto é visto com sensacionalismo, indiferença e tapeação. É preciso cautela
com oportunistas da propagação da fé, prevendo apocalipse ou previsões de ano
novo.
Grandes pensadores, desde Aristóteles a Freud, debruçaram-se
sobre os mistérios dos sonhos e manifestações oníricas. Avisos, premonições e
pesadelos envolvendo desastres, afogamentos, perda de emprego, vingança, ganhos
e fortunas, quase sempre são resultado da má digestão e de conflitos do
cotidiano. Sonhos que tentam desafogar a mente ou atender a alguma necessidade
do corpo e do espírito. Sonhos e embriaguês revelam quem somos.
Sem intenções exibicionistas, confesso que já me dei com
experiências fantásticas na quarta vigilia da noite. Até me aporrinha cortar
meu sonho. Premonições saudáveis e trágicas, como a que ocorreu, quatro dias
antes da morte de meu adolescente sobrinho, Marcos Hidd Júnior, vítima de
acidente de moto. Aprendi de pessoas espirituosas que, em casos assim,
submete-se a corrente oração para desviar a carga negativa. Dito e feito:
avisado em sonho de que minha irmã morreria em acidente caseiro, reuni meus
pais e oramos. Aconteceu o acidente, mas sem consequências graves.
É hora de as pessoas de bem refugiarem-se nas vigílias da
oração. Os dasatinos dos que comandam o Brasil se aceleram. Se demorarem as
mãozinhas da proteção, nem levitação acordará o país.
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