sábado, 29 de agosto de 2015

Mistérios e sonhos da Quarta Vigília


Mistérios e sonhos da Quarta Vigília

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

  
            Antigos sábios afirmavam que o espírito levita e passeia, enquanto o corpo dorme. Povos bíblicos e orientais dividiam a noite em quatro vigílias, três horas cada, a partir das 18. Na quarta vigília, entre  as 3 e 6 da manhã, corpo e espírito, já restaurados das forças, experimentavam sensações indescritíveis com seres celestiais. Alcançar esse estágio não é fácil, especialmente na vida moderna agitada e insone.

            Privilégios da quarta vigília  só ocorrem com pessoas que dormem cedo, exercitam espiritualidade, oração e virtudes. No passado, de noites sem  luminosidade elétrica e barulhenta, de vida menos estressada e egoísta, havia espaços para a oração e a presença de Deus.

            Na quarta vigília da noite, as pessoas de fé despertam, tocadas por espíritos celestiais, recebem avisos, como ondas psicanalíticas freudianas. A Bíblia relata experiências fantásticas e proféticas através de imagens oníricas recebidas. José, filho de Jacó, irritava os irmãos, quando relatava sonhos de futuro reinado. Decifrou o pesadelo de Faraó sobre sete anos de vacas gordas e sete de terrível seca (Gênesis, 7). Quando criança, o profeta Samuel acordara, três vezes, na mesma noite, despertado por uma voz divina. Só parou, quando respondeu: “Fala, Senhor, que teu servo escuta!” O Senhor, então, avisou-lhe o fim trágico de Heli, sacerdote de conduta irregular (1 Samuel, cap. 3). Os reis magos foram avisados, em sonho, para não retornarem a Jerusalém.  José ouviu, quando dormia, aviso do anjo para  levar a criança e a esposa Maria para o Egito. Nas caladas da noite, Jesus costumava recolher-se nos montes para repousar e orar. No evangelho de Mateus, capítulo 14, durante repouso e oração da quarta vigília, ele se desloca e aparece andando nas águas do Mar da Galileia, e resgata os apóstolos de naufrágio. No Monte Tabor, resplandeceu, e três apóstolos o contemplaram dialogando com Moisés e Elias, profetas que viveram quase mil anos antes. Os Atos dos Apóstolos relatam aparição de anjo ao apóstolo Pedro, altas horas, enquanto dormia na prisão, e o libertou. Francisco de Assis recebeu, em sonho, aviso divino para reconstruir a Igreja cambaleante de vícios do clero. Outrossim, o Papa Inocêncio, também em sonho, viu um monge tentando segurar as torres decadentes da igreja do Vaticano. Referia-se a Francisco, que tentava registrar sua Ordem.

      São João Bosco, em sonho, ouviu uma voz dizendo-lhe que uma cidade seria construída entre os paralelos 15 e 20 e grande lago próximo.  Faltavam quase 70 anos para a fundação de Brasília.

      Quando se fala em vigília e avisos proféticos, geralmente o assunto é visto com sensacionalismo, indiferença e tapeação. É preciso cautela com oportunistas da propagação da fé, prevendo apocalipse ou previsões de ano novo.

      Grandes pensadores, desde Aristóteles a Freud, debruçaram-se sobre os mistérios dos sonhos e manifestações oníricas. Avisos, premonições e pesadelos envolvendo desastres, afogamentos, perda de emprego, vingança, ganhos e fortunas, quase sempre são resultado da má digestão e de conflitos do cotidiano. Sonhos que tentam desafogar a mente ou atender a alguma necessidade do corpo e do espírito. Sonhos e embriaguês revelam quem somos.

      Sem intenções exibicionistas, confesso que já me dei com experiências fantásticas na quarta vigilia da noite. Até me aporrinha cortar meu sonho. Premonições saudáveis e trágicas, como a que ocorreu, quatro dias antes da morte de meu adolescente sobrinho, Marcos Hidd Júnior, vítima de acidente de moto. Aprendi de pessoas espirituosas que, em casos assim, submete-se a corrente oração para desviar a carga negativa. Dito e feito: avisado em sonho de que minha irmã morreria em acidente caseiro, reuni meus pais e oramos. Aconteceu o acidente, mas sem consequências graves.

      É hora de as pessoas de bem refugiarem-se nas vigílias da oração. Os dasatinos dos que comandam o Brasil se aceleram. Se demorarem as mãozinhas da proteção, nem levitação acordará o país.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário