domingo, 16 de agosto de 2015

TERESINA, ETERNAMENTE! – Depoimento de um filho adotivo


TERESINA, ETERNAMENTE! – Depoimento de um filho adotivo
                                                       
José Pedro Araújo
Historiador, contista, romancista e cronista


         Lá pelos idos de 1966, me deparei pela primeira vez com a tua magnifica visão. Foi paixão à primeira vista, amor eterno. Fiquei extasiado com a beleza retilínea das tuas ruas; com a simplicidade agradável das tuas arborizadas praças, e com o sentimento de compenetração dos teus felizes habitantes. Naquela época, meus olhos jovens encantaram-se com o frescor da tua mocidade, e meus ouvidos se apaixonaram pelo som alegre que brotava do interior das tuas moradas. Foi pura emoção, primeiro encontro entre amantes. Paixão eterna e indissolúvel, como alguém que se encanta em sua primeira olhadela para o mar.
Naqueles dias o mundo se encantava também com um grupo de jovens nascidos em Liverpool, na Inglaterra, que cantava palavras de ordens incitando a juventude a quebrar as velhas regras e a criar um mundo em que só existisse a paz e o amor.
Aqui, como em todos os cantos do planeta, teus jovens cabeludos também lançavam fora suas roupas sisudas e incolores e vestiam-se com outras em cores vivas e berrantes, como a avisar para a humanidade que não aceitavam mais a velha ordem estabelecida, e que se insurgiam contra o arcaico sistema patriarcal. E olha que já estávamos no terceiro ano de um governo militar que instalava uma linha duríssima, fechando as fronteiras do país a toda e qualquer novidade que pregasse a insubordinação e a adoção de uma nova ordem onde o cidadão fosse de fato o dono do seu nariz.
Mas eu não estava nem ai para as questões políticas, de endurecimento do sistema ou de cassação dos direitos mais comezinhos do ser humano, que é a sua liberdade de ir e vir, e de falar o que sente; dizer o que estava doendo em meu peito de ave de arribação não estava entre as minhas prioridades. Antes, continuava embevecido com o teu desabrochar primaveril, com a elegância de teu caminhar em direção ao futuro de metrópole sem perder o ar de vila interiorana.  Preocupava-me em caminhar pelas tuas ensolaradas ruas; em contemplar as cores dos teus jardins em flor; embriagava-me de felicidade ante as coloridas bancas de revista, mais interessado nos gibis do Zorro do que nas dirigidas notícias dos jornais engarrotados. 
De lá para cá já se vão quarenta e sete anos e eu continuo cada vez mais apaixonado pelo verde do manto de folhagem que te cobre inteira, e pelo azul metálico do véu que cobre o teu céu. Continuo me emocionando com as manhãs douradas de maio, com o vento geral que varre a tua planície de sonhos para depois subir cantante pelos teus morros de esperança. Regozijo-me à vista de aves que, como eu, escolheram esta cidade para fazer a sua morada definitiva, seu lugar de descanso e de labor, em busca de serena sobrevivência.
Ainda estou por aqui por que te escolhi como minha ilha de Utopia, e porque me deste acolhida como o bom estalajadeiro aceita o viajante cansado que procura abrigo para fugir do sol inclemente e dos perigos da noite escura. Já não és mais a cidadezinha com ares provincianos e compenetração de megalópole que eu conheci. Cresceste verticalmente, e extensas ruas e avenidas foram incorporadas ao teu seio de mãe dadivosa, mas continuas faceira e gentil, acenando convidativa para tantos quantos têm a felicidade de contemplar a tua face de menina assanhada.
Por conta disto, continua chegando gente de outras plagas que procuram matar a sede bebendo das tuas águas cristalinas, e aplacam a fome comendo das delícias da tua mesa farta. E tu as aceita sem resmungos, sem cara feia, dividindo as tuas riquezas e somando mais um filho para dares proteção.
Se alguns te criticam por querer ser a eterna menina cantada pelos poetas e trovadores, pelos poderes a mim conferidos pela felicidade de morar no teu regaço, eu te declaro a mãe-menina de todos nós.

Como todo filho, sou também egoísta, e me esqueci de te homenagear-te no dia consagrado às mães. Mas agora me penitencio pelo erro cometido declarando-te todo o meu amor e respeito: Parabéns Teresina!  

3 comentários:

  1. Caro José Pedro Araújo:

    Cumpro com a minha obrigação de estar atento ao que de bom se escreve no Piauí e, sobretudo, em Teresina, e, nesta direção, me deparo com o sua belíssima crônica de amor confesso e de sentimento de eleição afetiva e de enraizamento voluntário em solo teresinense.
    Mas, fiquei sem saber se o cronista é do Piauí ou de outros estados vizinhos.
    De qualquer forma, basta o fato de haver produzido com tanta sensibilidade lírica. A crônica toda - "Teresina, eternamente" - um depoimento - é um poema em prosa dos melhores que já li sobre os encantos e feitiços da "Cidade Verde."
    Em clave lírica, só a vi em A. Tito Filho e em José Ribamar Garcia.
    Seu texto tem a vivacidade, a meiguice, a ternura de conversar com uma Teresina humanizada antropomorfiizada em linguagem criativa, saborosa, plena de imagens da melhor prosa de um escritor que conhece a linguagem do encanto e o encanto da linguagem a fim de nos brindar com esta crônica de paixão incondicional a Teresina.
    Parabéns, meu cronista.
    Cunha e Silva Filho

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  2. Caríssimo Cunha e Silva Filho,
    A vida me tem presenteado com coisas bacanas que eu costumo valorizar e guardar no fundo da minha alma para meu deleite nos momentos de maior dificuldade. Não presentes físicos, mercantis, mas coisas que alimentam o espírito e elevam a minha autoestima. E junto hoje a esta coleção de valor inestimável, o seu comentário sobre uma singela crônica por mim publicada sobre a minha querência definitiva: Teresina.Obrigado por ter usado um pouco do seu precioso tempo na sua leitura, e outro tanto para o seu comentário. Aproveito para lhe informar que sou leitor assíduo do blog do meu dileto amigo Elmar Carvalho e, de quebra, dos seus preciosos escritos ali publicados. E adquiri também o hábito de verificar as novidades do seu blog "As ideias no Tempo", que considero hoje de leitura obrigatória. Finalizo, informando que sou maranhense de Presidente Dutra, resido em Teresina desde o limiar dos anos setenta, com um pequeno período de interrupção, e que sou filho de um piauiense de Picos. Por outro lado, constitui família aqui mesmo, casando-me com uma piauiense, tenho três filhos e duas netas genuinamente piauienses. Para finalizar, de fato, gostaria de pedir mais um pouco do seu tempo para a leitura do blog que iniciei este ano, intitulado Folhas Avulsas(josepedroaraujo.blogspot.com). Informo também, e agora de maneira definitiva, que lancei recentemente um livro de ficção na Amazom.com(digital, portanto), intitulado Terra de Ninguém, e que tem como pano de fundo o conflito territorial travado entre o Piauí e o Ceará pelas terras limítrofes, e também a problemática da seca que atinge periodicidade aquela região.
    Grato.
    José Pedro Araújo

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    1. Meu estimado piauiense de coração:

      Li com cuidado tudo que me informa sobre a sua pessoa, seu e-book no Amazon e seus projetos de escritor, de seu blog, que vou anotar para posterior acesso, enfim, fico feliz por contar com mais um amigo-leitor e leitor-amigo.
      Um forte abraço do
      Cunha e Silva Filho

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