NORDESTE
(Introdução)
Hermes Vieira (1911 - 2000)
Hermes Vieira (1911 - 2000)
Meu Nordeste feiticeiro,
Morenão de brônzeo peito,
Genuíno brasileiro,
Eu me sinto satisfeito
Em ser filho de um teu filho
E no chão por onde trilho,
Que venero com respeito;
Meu Nordeste das moagens
Nos engenhos de madeira,
Dos açudes, das barragens,
Da lavoura rotineira,
Das desmanchas de mandioca,
Do foguete-de-taboca
Irmão gêmeo da ronqueira;
Meu Nordeste onde os velórios
São rezados no sertão,
E improvisam-se os casórios
(Sem juiz, sem capelão),
Os padrinhos e os compadres,
As madrinhas e as comadres,
Na fogueira de São João;
Meu Nordeste do bornal,
Rifle, bala e cartucheira,
Da "lombada" e do punhal,
da "garruncha" e da peixeira,
Do cacete e do facão,
Com que um cabra valentão
Desmantela festa e feira;
Meu Nordeste em rede armada
(De algodão ou de tucum),
Aguardando a maxixada
Com quiabo e jerimum,
Mel, canjica e milho assado,
Feijão verde e arroz torrado,
Na semana de jejum;
Meu Nordeste a boi de carro...
Carro-de-boi do Nordeste,
Tosco, humilde, simples, charro,
Submisso e a nada investe,
Que, arrastado estrada afora,
Range, grita, canta e chora
Ajoujado à canga agreste;
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