COISA NENHUMA
Elmar Carvalho
Meus olhos jogados ao
acaso como pedaços
de espelho quebrado.
Meus cabelos arrancados
flutuando como
cabelos do vento.
Minhas mãos decepadas
acenando em vão e em vão
apertando coisa nenhuma.
Minha cabeça atirada
numa lata de lixo
onde o lixo era ela.
Minhas células espalhadas
por uma tempestade que
partiu de mim.
Os pedaços de meu
corpo mutilado depois
se agregam como antes,
exceto a cabeça.
(Ai! Dalí, Dalí, Dalí...
O meu corpo sem cabeça,
como o Farmacêutico de Ampurdán,
anda à procura de coisa nenhuma.)
Parnaíba, 1978.
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