O psiquiatra José Ribeiro Chagas e o poeta Alcenor Candeira Filho |
João Câncio Rodrigues Neto, José Ribeiro Chagas, Alcenor e Cosme Sousa |
R. Petit participa desta coletânea |
Antologia da qual fazem parte Alcenor e R. Petit |
O LADO DESCONHECIDO DA BIOGRAFIA
DE R. PETIT
Alcenor
Candeira Filho
Membro da APL.
Poeta, cronista e crítico literário
R. PETIT, pseudônimo de Raimundo
Araújo Chagas, nasceu em Belém do Pará em 1891 e faleceu em Sorocaba (São
Paulo), em 1969.
Ainda criança veio
residir em Parnaíba, onde permaneceu por cerca de quarenta anos.
Publicou as seguintes obras poéticas:
ANTE OS ABISMOS DA VIDA (1924), LIVRO DE MISS PIAUÍ (1929) e NORTADAS (1937),
edição ilustrada com desenhos de Nestablo Ramos. Deixou livros de poesia
inéditos, dentre os quais TABERNA DOS SENTIMENTOS.
O seu poema mais famoso é o seguinte
soneto, inserido em NORTADAS (Rio de Janeiro, Pongetti, 1937, p. 15/16):
PAPAGAIOS DE
PAPEL
Aos vaidosos.
Quando eu era pequeno, venturoso,
Meus lindos papagaios empinando,
Dizia: - Não há nada
mais pomposo
Que um papagaio de papel voando.
Cresci...
Hoje, tristonho,
pesaroso,
Esses brinquedos de papel, olhando,
Logo descubro o vulto carunchoso
Dos que sobem a tudo se apegando.
Tipos que sobem de alma feita em
trapos,
Mostrando ao mundo, despreocupados,
Uma cauda nojenta de farrapos...
Tipos de nulidade tão cruel
Que só sabem subir encabrestados
Como esses papagaios de papel.
Embora grande poeta, R. PETIT
imortalizou-se sobretudo como autor da letra do HINO DA PARNAÍBA, com música de
Ademar Neves, oficializado através da Lei Municipal Nº 255, de 07.09.1963, sancionada pelo
Prefeito Lauro Andrade Correia. Antes da lei, a famosa obra era conhecida como
Hino do Parnahyba Sport Club. Eis os versos iniciais:
Ó Parnaíba,
Teu nome exprime
Em nosso peito
Ardor sublime
Que nos inspira a repetir a doce
escala
Da voz do rio que te envolve e que
te embala.
O HINO DA PARNAíBA é uma das mais
belas composições cívicas do Brasil. Nessa peça poética de exaltação à cidade
de Parnaíba, identifica-se verdadeiramente um hino patriótico, isto é, um canto
de louvor ou de veneração a uma cidade e a seu povo, com características
marciais ou solenes, traduzidas na retumbância de sons de clangor. Por isso mesmo os parnaibanos conhecemos bem a composição, que
cantamos com entusiasmo em festas cívicas e em solenidades.
Já ouvi alguns hinos de cidades,
inclusive piauienses, que não entusiasmam as pessoas, nem pela letra nem pela
melodia, exatamente pela ausência de recursos sonoros essenciais em obras dessa
natureza. Não citarei exemplos para não
ferir suscetibilidades.
Recentemente fui visitado pelo médico
psiquiatra José Ribeiro Chagas, neto de R. Petit, cearense residente em São
Paulo. Ele estava acompanhado do amigo Cosme Sousa. Com 67 anos de idade, o dr.
José Chagas nunca tinha vindo a Parnaíba. Agora resolveu conhecer a cidade
amada e homenageada pelo avô. Visitou o ex-prefeito Lauro Andrade Correia e o
atual Florentino Alves Veras Neto.
Através do ilustre visitante, com
quem conversei por mais de uma hora, fiquei sabendo que R,PETIT foi compelido
por autoridade local a sair de Parnaíba e ir para o Rio de Janeiro e depois
para São Paulo, contra a própria vontade e a de familiares, poque havia
contraído lepra, infecção crônica e contagiosa , que provoca lesões na pele, mucosas e nervos
periféricos, sem cura na época. A “expulsão” ocorreu numa madrugada de 1944,
coincidentemente ano das comemorações de
1º Centenário de elevação da Vila de São João da Parnahyba à dignidade de cidade.
Em conversa por telefone, o poeta
Elmar Carvalho me recomendou a leitura do capítulo - “O
Preconceito da Lepra no Piauí” - , constante do livro GENU MORAES - A
MULHER E O TEMPO. Nas páginas 283 a 287, Genu Aguiar de Moraes Correia presta
corajoso depoimento sobre como a lepra
ou a simples suspeita da doença tornou pessoas e famílias vítimas de
preconceitos. GENU se refere a várias
pessoas que na primeira metade do século XX foram hostilizadas no Piauí em
razão de fofocas ou de comentários maldosos de que eram leprosas. Dentre as
vítimas, ela cita o desembargador e
escritor Cristino Castelo Branco. Inventaram que uma de suas filhas estava com
lepra. O magistrado, contrariado com as fofocas, que não correspondiam à
realidade, aposentou-se como desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do
Piauí aos 55 anos de idade, indo morar no Rio de Janeiro.
Durante a conversa com o dr. José
Chagas, eis que repentinamente entra na sala o vereador Neto – João Câncio
Rodrigues Neto - com uns papéis que eu deveria assinar. Tomando
conhecimento da revelação do médico, exclamou:
- Puxa! Só agora entendo por que, na
minha infância, quando meu pai (Olavo Pinho) quis comprar a casa da av. Capitão
Claro, onde o poeta morou e que ainda hoje pertence à minha família, ouvia
conselhos de que não deveria fazer a aquisição por se tratar de casa mal-assombrada.
R. PETIT é patrono da Cadeira Nº 09
da Academia Parnaibana de Letras – APAL, cujo primeiro ocupante é Alberto
Tavares Silva.
Parnaíba,
09.08.2016.
Qual o endereço na Av. Capitão Claro?
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