Porra! Não aguento mais!
José Maria Vasconcelos
cronista,
josemaria001@hotmail.com
Umedeceram-me os olhos, misto raiva e
de compaixão, ao ver, no Face, o corpinho de uma bebê, morta, olhinhos abertos,
manchas de sangue na boca e faces, boquinha escancarada, como a suplicar
justiça e vida. Ao lado, outra foto, mas do canalha, rapaz, sentado, sorvendo cerveja. E
desesperado aviso anexo: “Estão vendo esse cara ai? Ele é um criminoso muito
cruel. Estão vendo essa bebezinha? Ela foi vitima dele. Ela está morta. Ele a
estuprou, cortou as partes intimas dela com faca e depois a matou. Ajudem a
encontrar esse demônio em pessoa. Compartilhem, por favor!”.
Nunca eu vira tanta manifestação de
internautas: 344 mil compartilhamentos, 16 mil curtidas, mais de 50 desabafos e
ódio, às vezes, com expressões vulgares. Uma explode, Brasil afora, diante da
crueldade que avassala o país: “Porra! Não aguento mais!”.
Quem pode aguentar um país, que perde
mais de 50 mil brasileiros, anualmente, vítimas da violência, estupros, acertos
de contas, disputas de território político e tráfico? Um país mais cruel do que
Iraque em chamas?
Que país é este, que pretende diminuir
índices altíssimos de criminalidade, concedendo benefícios, por “bom
comportamento”, a marginais condenados? Condenados à prisão perpétua, nos EUA,
têm bom comportamento, não são beneficiados por essa regalia.
A moral cristã ensina-me a perdoar, a
tolerar, a praticar misericórdia. Sinto imensa paz interior quando a exerço.
Todavia, vendo o Mestre aplicando chibatadas em mercenários e vendilhões, no
Templo, é hora de a Igreja refletir sobre ternura e misericórdia sem limites,
às vezes aviltando o direito de se viver em paz com os fora da lei. Imagino
como se pregava, no passado, o evangelho da paz e do perdão, porém aplicando
penas desumanas, como a fogueira, torturas a ferro e fogo, até o “infiel” ou
bruxo se arrepender.
Aos doze anos, meus pais internaram-me
em seminário. Punições eram mais frequentes que ternura, à base da palmatória,
que deixava palmas das mãos em fogo. Por nonada, obrigavam-nos a horas
ajoelhados ou em silêncio. Chibatadas com fios de arame (cilício), em sala
escura, orando e agradecendo aos céus. Amigo meu, da mesma idade, fora obrigado
a não jantar, recolhido em sala, noite toda acordado, para dar conta da lição
não aprendida. Hoje, coronel aposentado, chefiou a Casa Militar no governo
Alberto Silva.
Ternura e misericórdia com
exercício da justiça e da punição não fazem mal a ninguém, se aplicado sem a
exacerbação da cultura passada. Se Jesus pregou o céu para os do bem, não
esqueceu o Xeol, destinado aos de instintos satânicos. E aí, o que dizer da
criaturinha estuprada e morta, um anjo, por um canalha, sem dó, sem ternura e
misericórdia?
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