sábado, 1 de outubro de 2016

Porra! Não aguento mais!


Porra! Não aguento mais!

José Maria Vasconcelos
cronista, josemaria001@hotmail.com

         Umedeceram-me os olhos, misto raiva e de compaixão, ao ver, no Face, o corpinho de uma bebê, morta, olhinhos abertos, manchas de sangue na boca e faces, boquinha escancarada, como a suplicar justiça e vida. Ao lado, outra foto, mas do canalha,  rapaz, sentado, sorvendo cerveja. E desesperado aviso anexo: “Estão vendo esse cara ai? Ele é um criminoso muito cruel. Estão vendo essa bebezinha? Ela foi vitima dele. Ela está morta. Ele a estuprou, cortou as partes intimas dela com faca e depois a matou. Ajudem a encontrar esse demônio em pessoa. Compartilhem, por favor!”.

         Nunca eu vira tanta manifestação de internautas: 344 mil compartilhamentos, 16 mil curtidas, mais de 50 desabafos e ódio, às vezes, com expressões vulgares. Uma explode, Brasil afora, diante da crueldade que avassala o país: “Porra! Não aguento mais!”.

         Quem pode aguentar um país, que perde mais de 50 mil brasileiros, anualmente, vítimas da violência, estupros, acertos de contas, disputas de território político e tráfico? Um país mais cruel do que Iraque em chamas?

         Que país é este, que pretende diminuir índices altíssimos de criminalidade, concedendo benefícios, por “bom comportamento”, a marginais condenados? Condenados à prisão perpétua, nos EUA, têm bom comportamento, não são beneficiados por essa regalia.

         A moral cristã ensina-me a perdoar, a tolerar, a praticar misericórdia. Sinto imensa paz interior quando a exerço. Todavia, vendo o Mestre aplicando chibatadas em mercenários e vendilhões, no Templo, é hora de a Igreja refletir sobre ternura e misericórdia sem limites, às vezes aviltando o direito de se viver em paz com os fora da lei. Imagino como se pregava, no passado, o evangelho da paz e do perdão, porém aplicando penas desumanas, como a fogueira, torturas a ferro e fogo, até o “infiel” ou bruxo se arrepender.

         Aos doze anos, meus pais internaram-me em seminário. Punições eram mais frequentes que ternura, à base da palmatória, que deixava palmas das mãos em fogo. Por nonada, obrigavam-nos a horas ajoelhados ou em silêncio. Chibatadas com fios de arame (cilício), em sala escura, orando e agradecendo aos céus. Amigo meu, da mesma idade, fora obrigado a não jantar, recolhido em sala, noite toda acordado, para dar conta da lição não aprendida. Hoje, coronel aposentado, chefiou a Casa Militar no governo Alberto Silva.


Ternura e misericórdia com exercício da justiça e da punição não fazem mal a ninguém, se aplicado sem a exacerbação da cultura passada. Se Jesus pregou o céu para os do bem, não esqueceu o Xeol, destinado aos de instintos satânicos. E aí, o que dizer da criaturinha estuprada e morta, um anjo, por um canalha, sem dó, sem ternura e misericórdia?  

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