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Saudade
Martins Napoleão (1903 – 1981)
É toda de lágrimas esta elegia de amor,
porque somente de lágrimas alivia a dor.
É feita de lágrimas, toda embebida de pranto,
esta elegia que eu não sei se choro ou canto.
Lividamente, a noite cai por sobre a natureza,
como um rosto infeliz, curvo sobre a tristeza.
Distante, além das nuvens, longe, além da vida,
sinto que vive alguém. Sinto-lhe a alma querida
no infinito, vagando sozinha, à procura de alguém,
- à procura de alguém, sem procurar ninguém...
Pálida chama, ainda guardando a forma corporal,
tendo-lhe ainda o esplendor, sem já lhe ter o mal,
no meio da alegria lírica do Paraíso,
não lhe ilumina o rosto a aurora de um sorriso...
Ela sente, por certo, saudade da terra distante,
pois me quis muito mais do que Beatriz a Dante.
Porque ainda sou poeira, porque ainda não esplendo,
alma pura, alma livre, em êxtase ascendendo,
eu não posso fundir-me, como numa outra flama,
na unidade do Amor, com esta alma que me ama.
E é por isso de lágrimas esta elegia de amor,
porque somente a lágrima alivia a dor...
Fonte: Cancioneiro Geral - EDUFPI (1999)
Fonte: Cancioneiro Geral - EDUFPI (1999)
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