ÉTICA E MORAL: VIRTUDES MAIORES
DO SER HUMANO
Andamos
tão descrentes de tudo e desacreditando de todos, que fatos publicados pela
mídia, ouvidos ou sabidos em decorrência de processos interativos ou
comunicativos, interpessoais, importantes ou não, quando não os descartamos,
sumariamente, não têm sido motivo para reflexões mais sérias. Se lhes
interessam, os menos céticos até tentam confirmar informações vindas de fontes
sobre as quais não deveriam recair quaisquer dúvidas, ou ainda que disseminadas
por pessoas ou veículos de prestígio e/ou idoneidade, pretensamente,
inquestionáveis.
Parece,
se formos levados a considerar, ao pé da letra, determinadas intervenções
feitas por pessoas ou entidades, em que possam estar em julgamento aspectos
éticos ou morais, que ninguém mais pode ser diferenciado ou prestigiado pelo
uso que faz ou pela valorização que atribui a tais preceitos. Ou seja, virtudes
morais e éticas poder-se-ia, infelizmente, tomar, hoje, por algo que não mais
separa os homens bons e probos, dos cafajestes, bandidos ou amorais. Tão
poucos, no entendimento de muitos, possuem-nas que, por isso, não passam de
exceções residuais. Melhor considerar a todos vítimas da falta de ética ou de
valores morais, do que se arriscar colocar a mão no fogo em defesa dos que não
padecem de essas falhas existenciais. É como se disséssemos – concordando com
George Bernard Shaw, para quem o segredo do sucesso é ofender o maior número de
pessoas -, sem que com isso pudéssemos estar ofendendo os bons, que melhor e
muito mais fácil seria colocar a todos nos mesmos nichos ou situações; desse
modo, não lograriam êxito os que ousassem se ofender por não quererem estar
posicionados ou entre os indivíduos indignos de respeito ou credibilidade, já
que todos estariam reunidos, senão pelos defeitos morais e éticos, não por suas
virtudes, o que tornaria ninguém melhor ou pior do que seus pares.
Fato é que não existe um ranking
ao qual alguém possa reivindicar, naturalmente, um posicionamento compatível
com seu grau de idoneidade moral e ética, e isso fica patente a partir do momento
em que as pessoas, para ganharem tempo ou não se preocuparem, passam quase a
não reconhecer méritos morais e éticos em quem quer que seja.
Para
comprovar e, aproveitando o ensejo, encerrar este arrazoado, pretendemos dar
exemplos de como andamos igualando todo mundo pelo que a humanidade tem de
pior: a falta de ética e o abandono aos princípios morais que devem nortear o
homem em suas inter-relações e interações com seus pares.
Como funcionário público que, no
exercício de suas funções, por dever de ofício, embasado em critério moral ou
ético inquebrantável, tem a obrigação de guardar sigilo sobre os fatos, os
documentos e as ações que orientam, disciplinam, controlam nosso mister
laboral, temos visto o órgão para o qual prestamos serviços colocando em cheque
a intrínseca e racional naturalidade daqueles princípios éticos e morais,
quando, a despeito do fato de havermos, ao tomar posse e entrar em exercício
funcional, jurado cumprir as leis, regulamentos e regimentos que norteiam a
profissão que abraçamos, vez ou outra, ou melhor, tantas vezes, reiteradamente,
emitindo instruções, orientações, portarias, memorandos, enfim, documentos que
tentam nos ensinar mais do que seja moral e ética, a nos comportar segundo
ditames que aqueles instrumentos legislativos e administrativos lecionam a
respeito dos mesmos. Parecem desconfiar os homens, alguns de entre nós mesmos,
funcionários, colegas de profissão, gestores, de que, sem a formalização ou
oficialização de normas que, coercitivamente, nos orientem e induzam a agir,
moral e, eticamente como cidadãos e profissionais ilibados, probos e honestos,
não conseguiremos sê-los.
Outro
exemplo. O presidente da República, em um decreto fresquinho, que entrará em
vigor no dia internacional do trabalho, vem determinando aos servidores
públicos federais como se dirigir, oralmente ou por escrito, a quase todas
categorias funcionais de trabalhadores e funcionários públicos, exceto a turma
do poder judiciário, ministérios públicos e de outros entes estatais: deveremos
tratar a todos por “senhor” ou “senhora”. Vossa senhoria, vossa magnificência,
doutor, ilustríssimo, digno ou digníssimo, respeitável, excelência ou
excelentíssimo, somente se os que assim quiserem ser tratados, dispensarem-nos
compatível tratamento. Ou seja, estaremos sendo antiéticos se não seguirmos tal
norma legislativa. Fato é que, enquanto perdemos tempo com demagogia, picuinhas
e cerimonialismos, o mundo pensa em coisas mais sérias.
Enfim,
quiséramos estar corretos ao considerar que os homens nascem predestinados a
ser moral e eticamente honestos, que o convívio social com aqueles que não
valorizam tais princípios é que estraga a muitos; também desejaríamos estar
certos se disséssemos que as pessoas precisariam, sim, ser segregadas ou
reunidas por suas diferenças e semelhanças em aspectos vários, dentre eles, os
princípios morais e éticos aceitos, conhecidos e, racionalmente, respeitados
por todos que, independentemente, de normas ou regras esdrúxulas, descabidas,
reconhecem-nos como indispensáveis à prática da convivência em sociedade.
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