quinta-feira, 7 de novembro de 2019

REMINISCÊNCIAS GOLEIRÍSTICAS E OUTRAS

Elmar em charge de Gervásio Castro


O velho goleiro

Zé Francisco em Francinópolis, onde morei, quando tinha um ano de idade


REMINISCÊNCIAS GOLEIRÍSTICAS E OUTRAS

Elmar Carvalho

No sábado passado foi comemorado o aniversário natalício do amigo Zé Francisco Marques. Ele é filho do senhor Gerson, amigo de meu pai, e que foi seu colega no velho DCT – Departamento de Correios e Telégrafos. De forte inclinação musical, toca violão e teclado eletrônico, além de cantar. Seu repertório é sofisticado, porém eclético, sem preconceitos elitistas. É ainda radialista e professor de inglês.

Não pude comparecer a sua comemoração natalícia, em razão do lançamento de meu livro PoeMitos da Parnaíba, ocorrido nessa cidade do litoral piauiense, onde morei por muitos anos. Vi depois a notícia na internet, e sei que foi concorrida, com a presença de vários amigos. Houve forte libação e farto churrasco. De já advirto, não posso perder a próxima.

No início de minha adolescência, fui goleiro de um time do qual faziam parte ele, seu primo João Bartolomeu e o nosso amigo comum Assis Capucho, hoje médico de nomeada em São Paulo, com direito a proferir conferências na área de neurologia pelo Brasil afora. Com a minha ida para Parnaíba, em junho de 1975, não mais nos vimos por mais de duas décadas.

Voltamos a nos rever em 1996 ou 1997, na chácara Alto da Olaria, no bairro Flores, de belo, florido e cheiroso nome. Esse local aprazível, cheio de velhas e frondosas árvores, de onde se tem uma bela e panorâmica vista da velha Bitorocara, pertence ao amigo João Alves Filho, fundador e animador de várias associações, inclusive da Academia Campomaiorense de Artes e Letras. No Alto da Olaria, disse certa vez (e se não disse deveria ter dito), parafraseando Napoleão, a contemplar a torre da catedral de Santo Antônio do Surubim: Velha Bitorocara, do alto desta colina quase três séculos te contemplam!

Conversamos e logo nos identificamos, e restabelecemos fraterna amizade. Na época, meus pais haviam retornado a Campo Maior, enquanto quase todos os meus amigos tinham ido embora da cidade. Disse-lhe que quem me dava assistência e me fazia companhia quando eu vinha a passeio era o Zé Henrique, de quem minha irmã Maria José ficou viúva três anos atrás. Contei-lhe que o Henrique me havia dito que quem fosse seu amigo não mais o procurasse, pois pretendia entrar na lei seca, tornando-se radical abstêmio.

O Zé Francisco, com providencial presença de espírito, respondeu-me que me pediria exatamente o contrário, e que eu não o deixasse de procurar quando viesse a Campo Maior. Retomamos a amizade a partir de então. Claro está que o saudoso Zé Henrique não cumpriu a promessa por muito tempo, e muitas vezes estivemos juntos com o Zé Francisco. Sempre que vou a minha cidade natal o procuro, e o faço quase mensalmente.

Numa dessas vezes, Zé Francisco contou-me um fato que eu já esquecera completamente. Narrou-me que, numa das vezes em que eu havia prometido defender a meta de seu time, eu fora a uma festa na noite anterior, de modo que quando ele e o Assis Capucho chegaram à residência de meus pais eu estava dormindo.

Acordado de um sono profundo misturado com ressaca, que me puxava para a rede de dormir, e não para a das traves de um campo de futebol, que sequer as tinha, honrei a palavra empenhada e fui cumprir a minha sina de goleiro. Disse-me ele que eu era um bom goleiro. Creio que se eu não tivesse algum valor ele e o Assis não me procurariam, pois ambos moravam, na época, distante de minha casa.

Cultivo a sua amizade porque é ele um cidadão de forte interesse cultural; mantém-se atualizado com o que acontece na chamada aldeia global, cada vez mais aldeia e mais global; gosta de arte, sendo ele próprio um artista musical; tem interesse literário, e além de bom de papo é bom de copo, ou vice-versa, sendo certo que é um boêmio no bom sentido da palavra, porquanto bebe com sabedoria socrática, é bom pai, bom marido, bom amigo e é ferrenho cumpridor de seus devedores magisteriais, pelo que tem o respeito de sua comunidade e de seus amigos.


2 de abril de 2010

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