terça-feira, 16 de maio de 2023

VADE RETRO, ANTICRISTOS!

Fonte: Google

 

VADE RETRO, ANTICRISTOS!


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afscousa01@hotmail.com)

 

                Já um tanto confortável demais com a leitura de livros clássicos de primeira linha – José Saramago, Gabriel G. Marques, Vargas Llosa, Thomas Mann, Ernest Hemingway, Machado de Assis, Assis Brasil, decidi sair um pouco dessa zona de conforto e buscar obras menos conhecidas, o que, no meu entendimento, não somente me daria nova visão literária, como livraria de qualquer grande responsabilidade o leitor/livro escolhido.

                Passando pela praça de eventos daquele shopping center, encostei em uma livraria do tipo móvel ou itinerante, lá instalada. Diversas obras, desde George Orwell, a compactadas de Dante, Cervantes, Victor Hugo. Como minha atual intenção era dar um tempo aos clássicos, optei por um livro de autor, para mim, desconhecido, cujo título é Nostradamus e o Terceiro Anticristo. Leitura, de fato, diferenciada. O autor, que até escreveu outro livro sobre o vidente, ao qual intitulou Todas as Profecias de Nostradamus, contendo algo em torno de novecentos e quarenta e duas, descritas em quadras, versos e centúrias, assegura que, dessas, quarenta e sete são dedicadas ao primeiro anticristo, Napoleão Bonaparte; trinta ao segundo, Adolf Hitler e trinta e seis ao terceiro anticristo, que há de vir, segundo previsões, lá pelo ano dois mil e setenta. Como me havia imposto a penitência de ler a obra escolhida até o fim, fui em frente. Mutatis, mutandis, em alguns momentos, por vias transversas, a obra me remeteu a J. J. Benitez e seu best-seller Cavalo de Tróia; a outro bem-vendido escritor, Augusto Cury, em sua obra Colecionador de Lágrimas, Holocausto Nunca Mais, em razão do exagero fictício – no caso de esses dois últimos, ficção científica surreal, no daquele, excesso de niilismo. Tenho a impressão de que vou poder confirmar essa observação quando concluir a leitura, a qual já comecei, do livro Piquenique na Estrada; isso porque, diante do já lido, está fácil perceber – diversos críticos literários fizeram isso antes de mim – que o que não falta na obra são características niilistas.

                A mim pareceu que as traduções de diversos versos e quadras das centúrias, relacionados aos três anticristos, ou, talvez a interpretação delas, feita pelo autor, como que partem das consequências – a pretensa realização das previsões – para as causas – aquilo que o escritor entendia como necessário que fosse dito, de modo a atingir o objetivo já antecipado.

                Se foram, Napoleão Bonaparte e Hitler, anticristos, que pena pagaram seus contemporâneos. Quiçá, Lúcifer os tenha levado para sua morada; e o Todo-Poderoso de bondade recolhido os que sobreviveram a eles.

                Uma passagem do Nostradamus e o Terceiro Anticristo comenta que Hitler teria sido vítima de um evento bondoso: o anunciado e enviado filho do demônio respeitara uma obra católica, não somente não permitindo sua destruição, como protegendo a catedral, consoante permanente vigilância em seus arredores durante a segunda guerra mundial; o que garantiu à igreja manter-se de pé até hoje. Ou seja, até o diabo, quando pode, tem seus dias de pio.

                Outro fato que me chamou à atenção em relação ao entendimento que o autor tirava de algumas previsões de Nostradamus, é que elas se reportavam a eventos futuros, porém, ocorreriam em locais que não mais existiriam; cidades, povoados, há muito destruídos, terras arrasadas. Como se essas destruições não pudessem, ou estivessem protegidas das previsões daquele profeta. Quer dizer, se Nostradamus previu que aqueles locais em que suas previsões ocorreriam, e o tradutor das premonições (centúrias, quadras e versos) não percebeu isso, como querer crer que não tenha havido outras tantas incorreções ou incoerências na interpretação de diversas outras previsões?

                Para não parecer ainda mais hipócrita, ou quem sabe, irônico, do que já possa estar sendo, ao mesmo tempo em que não mais vou usar meus verbos para falar do terceiro anticristo, cuja presença com seus malefícios ocorreria lá pelos idos de dois mil e setenta, quando já não mais estarei por aqui para testemunhar seus malfeitos, declaro a quem por isso se interessar, que pretendo retomar, em breve, minhas leituras mais sérias. Vade retro, anticristos!              

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