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Elmar Carvalho, Batista Rios e Carlos Dias |
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Marcelino Carvalho, Nílson Ferreira, Jessé Barbosa e Ricardo Arraes |
Duas Conversas WhatsAppianas
Elmar Carvalho
1
O amigo Batista Luzardo, que foi meu colega no Curso de Direito na UFPI, quando eu, brincando, o chamava de caudilho, em alusão a seu homônimo gaúcho, me mandou uma postagem de texto, da autoria de Valmir Pontes Filho, titulado “As sobras do que já fui”, que assim começa: “Houve um tempo em que tinha plena saúde, soma razoável de dinheiro na conta, fôlego para jogar um “racha” na praia (meu time se chamava “Maré Baixa”), cabelo farto e preto e outras coisas mais que...” Isso me fez lembrar as sombras que hoje sou.
Por oportuno, lhe mandei uma foto minha de quase 15 anos atrás, em que apareço ao lado dos amigos João Batista Rios e Carlos Dias, todos já aposentados, quando participávamos do XXVIII Encontro de Magistrados do Piauí, que aconteceu no período de 5 a 8 de março de 2009.
Em minha resposta lhe disse que já tivera vastos, fartos e bastos cabelos, que farfalhavam ao vento, quando eu cavalgava a minha moto uivante. Acrescentei que, na época da foto, eu era bonito e não sabia, tendo ele me respondido: “Muito bem! É a vida… Você só exagerou no “bonito e não sabia”. Mas, claro, como dizia Einstein, “tudo é relativo” e, dependendo da referência, né? Kkkkk”. De imediato retruquei que havia controvérsia; que as ninfas não concordariam com ele.
Ademais, resolvi filosofar sobre o tempo, em minha resposta: “Tempo, tempo, tempo. Já não tenho tempo para perder tempo. O tempo é misterioso, inefável e, praticamente, imperceptível, exceto pelas marcas de luz e sombra que deixa, assim como por outros sinais, como rugas e distâncias percorridas. Mas é também um grande juiz e um grande professor. Mesmo considerado inexorável, pode ser modificado ante diferentes forças de gravidade, como preconiza a teoria da relatividade.” Diante da gravidade ou da velocidade, o tempo pode ser mais lento ou mais fugaz.
Encaixei dois versos de minha autoria, referentes às perdas, que vamos acumulando ao longo de nossa vida, com os quais encerro esta parte de minha crônica: [recordações] “de amigos mortos / que nos acompanham / cada vez mais vivos”, extraídos do poema Eterno Retorno, e mais estes, de Elegias Inominadas (III): “Já não tenho epitáfios / para tantas lápides / em meu peito”.
2
Mestre Nílson Ferreira me disse, por WhatsApp, que minha ausência, na sexta-feira, numa reunião, em que estavam presentes, além dele, os professores Marcelino Carvalho, Jessé Barbosa e Ricardo Arraes, no Café Viena, havia sido “notorial”. Exagero noves fora, respondi: “Os ilustres presentes ofuscariam minha pálida presença”, tendo ele me respondido que eu era benquisto por todos e era um orgulho da Confraria Camões. Em tom de blague, retruquei que, a despeito do que alegara, “as luzes dos astros luminosos me iluminariam, e eu seria, pelo menos, um asteroide iluminado”.
O notável professor de História da UFPI, professor Ricardo Arraes, redarguiu, em postagem no grupo da Confraria: “Não deprecie sua fulgurante luz. No próximo encontro nos dê a honra de sua presença.” Outrora, eu perdia um amigo, mas não perdia a brincadeira; hoje, jamais eu me arriscaria a perder um amigo; prefiro perder a verve, a blague, por mais interessante ou engraçada que pudesse ser. Mesmo assim, respondi-lhe com a tinta da galhofa machadiana, ao dizer que era apenas uma luzinha de vaga-lume, já sem bateria. Acrescentei que o vaga-lume de minha resposta me fizera lembrar deste primoroso soneto de Machado de Assis:
“Círculo Vicioso
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
— “Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
— “Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
— “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
— “Pesa-me esta brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta azul e desmedida umbela…
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?””
Por fim, teci este brevíssimo comentário ao poema acima transcrito: “Excelente poema do Bruxo do Cosme Velho, que parece sintetizar a insatisfação humana. O soneto machadiano resume a eterna busca do ser humano, sempre insatisfeito. O homem percorre o mundo em busca do pássaro azul da felicidade, para descobrir, depois de velho e alquebrado, que ele estava no quintal de sua casa.”