sexta-feira, 30 de março de 2012

O GINÁSIO MUNICIPAL DE OEIRAS - GMO


Antonio Reinaldo Soares Filho

O Ginásio Municipal de Oeiras foi a entidade pública de ensino mais importante de Oeiras e de todos os municípios circunvizinhos, entre os anos 50 até o final dos anos 60. As gerações de jovens estudantes oeirenses, desse período, se submeteram ao seu exame de admissão. No exame, uma espécie de vestibular, só era aprovado quem realmente estava preparado. Ele credenciava o jovem a ingressar na sua primeira série.
A história do GMO principiou do anseio do povo de Oeiras em ter um curso ginasial. Os intelectuais abraçaram a causa, as famílias aderiram e participavam quando chamadas, o que exigiu muita luta e sacrifícios. Foi o operoso prefeito Orlando Barbosa de Carvalho quem adquiriu para a Prefeitura Municipal, em 1945, um grande terreno. Foi murado e ficou reservado pelo lado norte uma vasta área que alcançava a Avenida José Tapety. Na sua frente foi deixado um agradável espaço aberto para uma ampla praça pública. E, iniciou a construção majestosa do prédio para abrigar a instalação de um curso ginasial. A obra foi ambiciosa. O Ginásio Municipal de Oeiras – GMO foi inaugurado no ano de 1952.

Nos seus primeiros anos, o curso ginasial funcionou com os rapazes frequentando as aulas em local diferente do das moças. Tempos depois, todos os seus alunos foram reunidos e o prédio passou a sediar as turmas masculinas e femininas.
No prédio do GMO havia duas entradas. A principal só permitida para acesso das alunas e uma porta lateral oeste, ao lado do salão nobre, que dava passagem aos rapazes. Os professores ingressavam por onde desejassem. A frente era cercada por uma mureta onde todos ficavam ao seu redor, aguardando que os portões se abrissem.
O primeiro dia de aula de cada ano era temido por todos os calouros. O receio do trote, de como seriam recebidos pelos veteranos. Os alunos se juntavam no balaústre, veteranos para um lado e os novatos timidamente na outra posição, à espera da abertura dos portões. Nos seus primeiros tempos o trote foi praticado, mas, com o passar dos anos, entrou em desuso. A aula de abertura do ano letivo era no salão nobre, com a presença de toda a comunidade escolar. Espaço magnífico onde se faziam as comemorações e festas estudantis. Todos se encantavam com a beleza e suntuosidade do recinto. O Diretor apresentava aos alunos os seus professores, fazia um discurso de boas-vindas, agradecia a Deus em forma de oração e éramos encaminhados para conhecer as respectivas salas de aula.

Os educandos usavam duas fardas. Uma de gala, para as apresentações nas solenidades sociais e religiosas, e a outra para ser usada no dia a dia das aulas. A de gala era formada por calça/saia azul-marinho e blusa branca de mangas compridas com viés azul, complementada por uma boina para as moças e gravata escura para os rapazes. E, a comum, para os homens, era constituída de sapatos pretos, meias pretas, calça e blusa de cor cáqui de mangas compridas, com viés vermelho. A graduação da série era em forma de estrelas em cima dos ombros – primeira série, uma estrela em cada ombro e assim por diante - o símbolo GMO nos braços e gravata vermelha. Para as mulheres, sapato preto, meias brancas, saia vermelha e blusa branca, com viés vermelho e os mesmos complementos externos.

O primeiro diretor foi o padre Balduíno Barbosa de Deus. Muito jovem, preparado, dinâmico, orador sacro brilhante, latinista, culto e inteligente. Acabava de chegar de Roma,onde concluíra o doutorado na formação católica romana. Naquela época, um diploma universitário ou da Escola Normal de Teresina eram sinônimos de respeito, de domínio de sua respectiva profissão e plenitude da língua pátria. Reuniram-se os detentores do saber, residentes da cidade, para serem os primeiros professores do GMO.
Foto do GMO nos seus primeiros anos
O primeiro Exame de Admissão ao ginásio, na primeira Capital, foi realizado no final do ano de 1951. No ano seguinte, teve início o curso ginasial em Oeiras. Os rapazes assistiam às aulas no majestoso e imponente prédio localizado na Praça Dom Expedito Lopes, antigamente chamada Praça do Ginásio. As moças no sobrado dos Governadores da Província, naquele período ocupado pelas Irmãs de Santa Teresinha, onde mantinham um colégio.
Em dezembro de 1955, a cidade viveu a festa de solenidade de formatura da primeira turma de concludentes do Ginásio Municipal de Oeiras.
A turma masculina teve inicio com 22 alunos aprovados, mas apenas 12 colaram grau nesse ano. Os homens frequentavam suas aulas no turno da tarde no próprio prédio do GMO. As mulheres, pela manhã, ministradas no Colégio das Irmãs, sediado no sobrado do Palácio dos Governadores da Província. A masculina foi constituída por: Antônio Ubiratan Reis de Carvalho, Benedito Barros (B. Barros), Benjamim Madeira Reis, Geraldo de Carvalho Martins, João Borges Caminha, Joel Campos Filho, José Amorim, José Nauto Macedo Reis, Juarez Martins dos Santos, Pedro Barroso Neto, Plácido José Ferreira Neto e Robert Rêgo Amorim. No salão nobre daquele prédio esteve durante muitos anos uma maquete, onde, em cada janela do seu frontispício, estava preenchida pela fotografia dos seus primeiros concludentes.
A turma feminina foi formada por: Maria do Socorro Praça, Irene Clementino Santos, Maria Soledade, Teresinha Clementino do Rêgo Brandão, Maria das Dores Campos Ferreira, Camélia Nunes Queirós, Maria da Conceição Carvalho, Luzia Áurea Campos Ferreira, Maria das Dores Ferreira Freitas, Maria do Socorro Freitas Martins, Rita de Cássia Campos, Maria do Socorro Rêgo, Irmã Jacinta, Teresinha de Jesus Carvalho, Maria de Lourdes Carvalho, Madre Barreto (Francisca Barreto), Maria da Conceição Oliveira, Valdália Reis Freitas, Célia Maria Barreto, Isabel de Freitas Lima, Maria das Dores Pereira (Maria Silva) e Irmã Juliana.
Alunas da primeira turma feminina formada no GMO em 20 de novembro de 1955.
Da esquerda para a direita: Padre Balduíno, padre Rufino, Maria do Socorro Praça, Irene Clementino Santos, Maria Soledade, Teresa Clementino do Rego Brandão, Maria das Dores Campos Ferreira, Amália do Espírito Santo Campos (Professora de desenho), Camélia Nunes Queirós, Maria da Conceição Carvalho, Luzia Áurea Campos Ferreira, Maria das Dores Ferreira Freitas, Maria do Socorro Freitas Martins, Irmã Cristina (Professora de educação doméstica), Rita de Cássia Campos, Maria do Socorro Rego, Irmã Jacinta; Teresinha de Jesus Carvalho, Maria de Lourdes Carvalho, Professor Gerardo Helcias, Professor José Coelho Reis, Madre Barreto (Francisca Barreto), Maria da Conceição Oliveira, Valdália Reis Freitas, Isabel de Freitas Lima, Maria das Dores Silva e Irmã Juliana.
Os primeiros mestres: Padre Balduíno Barbosa de Deus - diretor e professor de história e língua francesa. Dom Francisco Expedito Lopes, substituído pelo Padre, depois Bispo Dom Joaquim Rufino do Rêgo – geografia. Gerardo Helcias – matemática. Raimundo Barbosa de Deus (Mundiquinho) – latim e português. Dr. José Expedito Rêgo – Ciências. Dr. José Coelho Reis – inglês, para os rapazes e a irmã Juliana, para a turma feminina. Padre (depois Monsenhor) Leopoldo Portela Barbosa – religião. Irmã Cristina, professora de educação doméstica. Amália Nogueira Campos – trabalhos manuais. Nadir Martins Tapety – artes e Zuleica de Freitas Tapety – desenho.


As aulas de educação física eram realizadas em locais diferentes: para as moças no pátio interno do GMO, às cinco horas da manhã, ministradas pela magnânima professora Aldenora de Moura Nunes. Para a rapaziada, na sede do Tiro de Guerra 199, pelo seu comandante e instrutor, o sargento Edelberto de Sousa Costa.

Primeiros professores
Assim, o GMO passou a receber alunos dos municípios de Ipiranga, Simplício Mendes, Santa Cruz do Piauí, Itainópolis e até de Jaicós. Para acolher essa procura, durante um tempo, foi criado um internato. Como o prédio era muito grande eles passaram a residir no próprio local. Padre Balduíno se doou à educação dos oeirenses.
Os ginasianos constituíam a mocidade estudiosa do lugar, se preparando para assumir responsabilidades, posições e ajudar a impulsionar o progresso desta nação. Ao tempo era a alegria da cidade. Enquanto estudantes aprontaram ações, divertimentos esperados de toda juventude saudável. Uma delas aconteceu em uma noite escura, a cidade silenciosa a dormir, quando os estudantes Sigmund Lewinter, Luiz Ubiraci de Carvalho e Mário Portela da Silva, com um tubo de linha zero, após ter burlado a vigilância do sacristão, amarraram-na ao sino da igreja e pela meia-noite deram ao badalo. A população despertou assustada e acorreu ao patamar da Catedral. Depois foi sabido ser uma brincadeira dos alunos do ginásio.

Certa feita, em maio de 1960, após o sargento Miguel Carvalho dispensar a aula de educação física, uma parte dos alunos combinou subir o Morro do Leme, aventura para poucas pessoas. A escalada era difícil e um tanto perigosa, pois exigia coragem. Na descida, resolveram tomar banho no poço dos fundos do Hospital, abandonado. Decidiram que a ordem de primazia do banho era pela chegada ao poço. Quem primeiro o alcançou foi Moisés Ângelo de Moura Reis, seguido por Norbelino Lira de Carvalho. Pedro Mendes se encarregou de girar a alavanca mecânica da bomba para que Moisés tomasse banho. Nessa hora, Norbelino se descuida e um dedo de sua mão entrou na engrenagem da roda dentada do engenho, que só parou quando já havia esmagado sua falange. Judas Tadeu de Andrade Maia, Abel Alves Avelino e Helvídio Moreira Reis chegaram a seguir, presenciaram a tragédia, e o conduziram imediatamente ao Dr. Expedito Rêgo.

A vontade de ensinar de seus primeiros professores e o campo fértil receptivo, encontrado nos alunos matriculados, logo impuseram respeito por toda região. Os que concluíam o curso ginasial em Oeiras sempre logravam êxitos logo nos exames e concursos a que se submetiam. No ano de 1964, o Banco do Nordeste do Brasil realizou um concurso para acesso àquela instituição. Foram inscritos cento e trinta pessoas, tendo sido aprovados apenas treze deles; desses exatos dez por cento, doze foram oriundos do GMO. O primeiro lugar coube a Benedito do Carmo Tapety. Os outros aprovados foram: Francisco Nunes Raposo, Moisés Ângelo de Moura Reis, Joaquim Alves Ferreira, Getúlio Borges Caminha, Ariosto de Carvalho Rêgo, Rodolfo Pereira Filho, Ângelo Leal, uma sobrinha de Sinhá Torres,................... Pinheiro... O único que não pertencia ao ginásio foi Devaldino Fernandes Lima, natural de Floriano, Piauí.
Prosseguindo com os acontecimentos, o GMO recebe o seu segundo diretor, o padre José Pereira de Maria, um florianense, abnegado educador, intelectual dedicado. Embalado pelas respostas que recebia dos seus discípulos, o padrão de ensino se manteve o mesmo. Padre Pereira circulava pela cidade, com sua lambreta – influência romana. O clero, então, o transferiu para Goiânia e recebemos o padre David Ângelo Leal, conterrâneo de seu antecessor, como o novo diretor. Sacerdote íntegro, moralista, latinista brilhante, exegeta, professor da língua pátria e de francês, sempre vestido em sua batina preta. Enquanto dirigiu o GMO, o fez da melhor forma e com dedicação integral, mantendo o mesmo padrão de qualidade do ensino. O povo de Oeiras, muito lhe deve.

Os nossos professores, no início da década de sessenta, foram: Gerardo Helcias, de matemática. Possidônio Queirós, de português, no pleno domínio – intelectual de cultura eclética, jurista, historiador, músico, compositor, esteio do saber linguístico de muitos, extravasava os limites do saber. Suas aulas eram, sobretudo, lições de vida. Padre David, de francês e também grande latinista. Padre Leopoldo Portela Barbosa ensinava religião e latim com suas declinações, a cada semana uma declinação, o que nos fez compreender melhor a nossa língua. Dr. Raimundo da Costa Machado, de história, com sua saudação ao entrar na sala de aula: Glória a Deus nas alturas, ao que nós alunos respondíamos: Paz na terra aos homens de boa vontade. Dona Eva Feitosa, com o seu profundo conhecimento ministrava geografia ao mesmo tempo em que orientava suas descrições, em vernáculo castiço. Dona Waldália Reis Freitas, de Canto Orfeônico. Amália do Espírito Santo Nogueira Campos, de artes manuais. Ana Amélia de Mendes Freitas Barroso de inglês. Celina Vieira de Sousa Martins ensinava a língua inglesa, para a segunda série. A secretária do GMO naqueles dias era a boníssima Belisa Portela Barbosa, sempre com uma palavra de carinho para com todos nós.

Em latim, o professor Leopoldo nos ensinou a rezar a Ave Maria. Todas as vezes que ouço esta prece cantada, procuro interromper o que estou a fazer, para dar vez à emoção, à devoção e às lembranças das aulas na primeira série do ginásio.
Em 1961, mais uma geração de jovens ingressava no ginásio e passava a vestir a farda daquela instituição tão bem conceituada pela sociedade oeirense. A primeira série foi dividida em duas, uma masculina e outra feminina. A turma masculina foi composta por 27 alunos.

Em 2009, estas foram as últimas notícias deles: Abraão Lincol do Carmo Batista - bancário aposentado do Banco do Nordeste do Brasil BNB, funcionário do Tribunal Regional do Trabalho TRT, compositor, músico, advogado. Afrânio Vieira de Sá, o bedel - comerciante em Oeiras. Airton de Freitas Sousa - funcionário aposentado da Secretaria da Fazenda do Piauí.  Alcir Oliveira Nunes, Aldir Oliveira Nunes (Aldir gêmeo de Alcir), Ângelo Leal - bancário aposentado do BNB. Antônio de Alencar Freitas Neto (Freitinhas) - engenheiro civil, funcionário da COHAB-Piauí. Antônio Reinaldo Soares Filho - geólogo do Serviço Geológico do Brasil - CPRM. Aroldo Alves, funcionário público aposentado. Francisco das Chagas Nunes Ferraz - bancário aposentado do Banco do Estado do Piauí-BEP, empresário. Francisco Tavira dos Santos – funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo, graduado em Administração Postal e em Economia. Getúlio Mendes de Mesquita - funcionário público aposentado, em São Paulo. João Damasceno de Oliveira Leite - proprietário, vereador de Oeiras em várias legislaturas. José Alves Teixeira - comerciante em Oeiras. José Barroso Maia Filho - funcionário aposentado da CHESF, graduado em história, professor. José Inácio Rufino, bancário aposentado do Banco do Brasil. José Ribamar de Morais Rêgo - bancário aposentado do BNB. Juscelino Luz Nunes - bancário aposentado do BEP, funcionário do Tribunal de Contas do PI, advogado.  Manoel Moreira Amorim Filho- corretor, em São Paulo. Manoel Inácio Dantas - bancário aposentado do BB. Nicolau Melo - residente em São Paulo. Pedro Caramuru – falecido, bancário aposentado do BNB. Raimundo Nonato do Carmo Tapety, bancário aposentado do BNB. Raimundo Nonato Nunes Ferraz, arquiteto, funcionário da SEPLAN-Piauí. Romão da Cunha Nunes, médico veterinário, aposentado pelo CNPq., professor universitário da UFGO. Sebastião Cronemberger Sobrinho, médico, doutor-professor da Escola de Medicina, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Wartene Portela Lopes, médico renomado, em Goiás.

No segundo dia de aula era realizada uma eleição para escolher o bedel e o seu vice. Ao detentor do cargo cabia fazer o controle da turma quando da ausência de um professor. Anotava-se o nome do suposto infrator e o levava à diretoria para ser punido. Aquela pequena autoridade era representada por um veterano que liderava o ato.
Naquele primeiro semestre, certo dia antes das aulas se iniciarem, José Maia Filho se desentendeu com Pedro Caramuru e partiram para uma refrega entre as carteiras geminadas. A algazarra foi muito grande e logo o padre David chegou apressado. Ao ver aquela balbúrdia ordenou peremptoriamente que todos se retirassem da sala. Estavam suspensos das aulas, por aquele dia. E mais, que aquela ocorrência iria constar nas cadernetas de registro diário. Portanto, a caderneta escolar estreava com a anotação de uma suspensão e tinha que ter a assinatura do pai, como ciente. A educação era severa.
Noutra ocasião, Antônio Camarço Neto, em meio a uma aula de francês, perguntou ao padre David como seria a pronuncia de seu nome em francês, ao que lhe foi dito: “Antoine Petit Fils”, e assim ele passou a ser identificado pela turma.
No dia a dia do período escolar, entre as duas primeiras aulas e as duas últimas, havia um horário de recreio. Os alunos ficavam no pátio interno a conversar, por vezes ao redor das inúmeras colunas que compunham as coberturas dos pequenos alpendres internos. Quando os professores sabiam que algum deles estava namorando uma das garotas, os dois não podiam participar de uma mesma roda de conversa. Era complicado controlar um bando de adolescentes, mas o que se fazia à vontade era flertar.
Um fato marcante naqueles dias foi à inauguração de um bebedouro, com várias torneiras. Ficava ao lado do salão de festas, próximo da entrada dos homens, na parede da cantina, que era administrada por dona Elisa Caetano. Muitos alunos foram suspensos das aulas por molhar os colegas.

Durante o mês de maio, mês de Maria, o Padre David celebrava todas as noites, na Catedral de Nossa Senhora da Vitória, a novena a Mãe de Deus. Ritual romano solene, com pompas e ladainhas à Maria. O turíbulo incensava o altar mor, irradiando a fragrância do incenso por toda a nave. A cada semana, uma série do Ginásio ficava responsável pela freqüência, arranjos e organização do ato litúrgico. Os alunos da série responsável pela semana assistiam às novenas trajados com a farda de gala. Após o término das solenidades religiosas diárias, todos ficavam por algum tempo conversando no patamar. No encerramento da festa, o ginásio completo participava do evento. As freiras do Colégio das Irmãs promoviam uma semana de quermesses e convidavam os alunos do ginásio. Era muito animado. Havia apresentações de cantores, declamações, peças teatrais religiosas e venda de comidas. Durante os festejos, os portões do Colégio das Freiras se abriam, a partir das dezenove horas, encerrando as vinte e três. O Colégio participava das tradicionais procissões da cidade, entre elas, a de Corpus Christi que passava pelas três igrejas católicas.
Duas outras festas eram marcantes no calendário escolar do GMO. Em junho, as festas de São João com a dança das quadrilhas, liderada pelas meninas, que faziam as composições dos pares de rapazes e moças. Com um mês de antecedência, uma vez por semana, eram realizados os ensaios no pátio interno, entre dezenove e vinte e duas horas. O diretor acompanhava e coordenava os encontros. Nas inesquecíveis noites de São João se dançava a quadrilha, onde eram vendidos aluás, bolos de milho, cocadas, manuês e sucos de frutas ao som das músicas juninas. Um sanfoneiro, com triângulo e zabumba, animava a festa. Pelas ruas da cidade pontilhavam fogueiras de lenhas na escuridão.
Outro acontecimento era a comemoração da independência no dia 7 de setembro. Com algumas semanas de antecedência eram realizados os treinos preparatórios para aparada. Por duas a três vezes na semana, entre as dezesseis e dezoito horas, todos os alunos saíam marchando pelas ruas do centro histórico. O toque dos tambores, ditando o passo da marcha, era comandado por Freitinhas no domínio da caixa. O desfile oficial, no dia da independência, era aberto pelos soldados do Tiro de Guerra, ao som da corneta e rufando seus tambores, seguidos pelos pelotões dos ginasianos, acompanhados pelos estudantes dos grupos Armando Burlamaqui e Costa Alvarenga. À frente dos ginasianos desfilava uma baliza, escolhida entre as alunas, tendo sido representada por Gleice Martins, Regina Sá e Isone Cronemberger – o Péricles Martins Portela se encantava e se apaixonava por todas elas.

Em 1962, o Padre David comprou uma fanfarra com muitos instrumentos e todos queriam fazer parte da banda. Raimundo Nunes Queirós, oficial músico do Exército Brasileiro, servindo no Rio de Janeiro, que se encontrava na cidade visitando seus pais, Possidônio Queirós e Otacília Carneiro, organizou e treinou a banda.  Nesse mesmo ano, três jeeps participaram como carros alegóricos no desfile. No ano seguinte, coloquei o Jeep azul de meu pai como um deles, tendo eu como motorista. À noite que antecedia o desfile já era de festa, com as moças animadas colocando os adereços em cada Jeep que ia desfilar.

Por algum tempo, os aniversariantes do mês eram homenageados em cada sala de aula. Padre David pronunciava uma saudação, sequenciada por declamações de sonetos, poesias e recitais. Antônio de Sá Camarço Neto tinha uma voz boa e era muito aplaudido, ele sempre era requisitado por todos para cantar os sucessos do momento. Muitos gostavam das músicas de Silvinho e a preferida era “Amor Perdido”. O Padre, a tudo espreitava e preferia Maria das Graças Amorim cantando a Ave Maria. Ela soltava a voz: “Ave Maria, nos seus andores. Rogai por nós, os namorados, abençoai! Nestas terras morenas, seus rios, seus campos e as noites serenas. Abençoai as cascatas, e as borboletas que encantam as matas. Ave Maria, cremos em vós. Virgem Maria rogai por nós. Ouvi as preces, murmúrios de luz, que aos céus ascendem e o vento conduz, conduz a vós, Virgem Maria. Rogai por nós”. Pura beleza.

Com efeito, aquele cotidiano deixava todos maravilhados, principalmente quando Antonio Neto e Maria das Graças cantavam em dueto. Alegria e juventude caminham juntas. Tudo isso fazia parte da vida saudável dos jovens adolescentes de uma cidadezinha de interior, cheia de magias. No entanto, quem transgredisse a disciplina estabelecida era punido com uma suspensão das aulas. Três suspensões, durante o ano, conferiam ao aluno a expulsão do ginásio.

Naquele núcleo de cultura não havia desperdício. Um mesmo livro era repassado e usado repetidamente pelos novos alunos daquela série. Suas mensalidades não agrediam os orçamentos financeiros familiares. Foram beneficiários de bolsa escolar em 1969: Antônio Borges Leal, Francisco de Assis Alves Ferreira (Tatico), Itamar Lima Ferreira, Isac de Sousa Mendes, Maria do Rosário Alves, Paulo Jorge Campos e Reis, Alcides de Alencar Freitas Júnior, Arlete Maria de Freitas Sá, Celso Mendes da Costa Filho, José Epifânio Batista Filho, Raimunda Maria Cassiano de Sene, Rosa Ester Madeira dos Santos*. O mérito prevalecia. Muitas gerações de jovens passaram por aquele templo de educação.  Cada uma com sua história, saudosas lembranças.
O GMO por não ser um empreendimento comercial, tampouco ter o lucro como meta, sucumbiu. O tão conceituado centro de excelência em educação, que tanto beneficiou muitas gerações de toda aquela região, fechou suas portas no final do ano de 1969. Ficou a saudade do ensino eficiente e barato.
Eterna homenagem àqueles abnegados auxiliares de ensino, serventes, diretores e professores que, mesmo sendo tão pouco remunerados, dedicavam-se com amor ao ofício de ensinar.
Por favor, não deformem o prédio do antigo GMO, não ocupem os espaços das suas laterais, não alterem a sua estrutura interna, respeitem sua arquitetura. Não cometam esta barbaridade, contenham-se.

2 comentários:

  1. Eu tenho saudosa lembrança de que fui aluno neste renomado Ginásio Municipal de Oeiras no ano de 1965, quando era seminarista e ficava hospedado no Palácio Episcopal Diocesano, mais precisamente num pequeno seminário construído contíguo a este, apenas para abrigar os seminaristas.

    ResponderExcluir