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Fonte: Floriano News/Google |
Coleção Florianenses nº 8: um belo e festivo lançamento
Elmar Carvalho
Sábado passado, seis de julho, por volta de uma da tarde, em
companhia de meu irmão Antônio José, segui com destino a Floriano, para
participar da solenidade de lançamento do anuário, na verdade um livro de mais
de 370 páginas, denominado Coleção Florianenses (volume 8), todo em papel
couchê, com inúmeras fotografias, organizado por Cristóvão Augusto Soares de
Araújo Costa, Rosenilta Maria de Carvalho Attem e Teodoro Ferreira Sobral Neto.
Os grandes homenageados da edição foram uma centenária carnaubeira, tombada em
2018, vítima de um impiedoso vendaval, e o saudoso professor Luiz Paulo de Oliveira
Lopes, que fora um dos mais entusiasmados membros da Fundação Floriano Clube.
Atendia convite do amigo Cristóvão, um dos seus organizadores
e membro da Fundação, que o editara. Iria lhe entregar o Diploma e a Medalha do
Centenário da Academia Piauiense de Letras, como representante do presidente
Nelson Nery Costa. Tenho a honra de ser o autor da proposta de concessão da
honraria, que lhe foi outorgada a unanimidade pelos membros da Assembleia.
Cristóvão, após a morte do jornalista e escritor Deoclécio Dantas, tornou-se o
presidente vitalício do Sinédrio do Riverside, roda de conversa de que faço
parte, na verdade um conselho consultivo e deliberativo de assuntos aleatórios
e outros mais.
Do Hotel Maktub, em que nos hospedamos, fomos a pé, eu e meu
irmão, conhecer o local do evento, e fazer um lanche. Perguntei a uma jovem que
passava onde ficava a sede da fundação e a lanchonete mais perto. Ela indicou a
rua e a direção, que por sinal ficava perto de onde estávamos. Acrescentou que
estava indo para a lanchonete, e que poderíamos acompanhá-la.
Ao saber de minha missão, disse que era nora do senhor José
Bruno dos Santos e filha de dona Maria Amélia, que no dia seguinte lançaria um
livro e tomaria posse de uma cadeira na Academia de Letras e Belas-Artes de
Floriano e Vale do Parnaíba, de que fazemos parte eu e seu sogro, sendo este o
seu presidente. Como eu estivesse defronte a um velho e imenso sobrado,
perguntei se acaso ele pertencera aos ancestrais do meu amigo José Demes,
funcionário do Banco do Brasil, compositor e instrumentista, tendo ela
respondido afirmativamente.
Conheço Bruno dos Santos há muitos anos e tenho conhecimento
de suas lutas e biografia. Fez parte do MDB histórico, e ouvi alguns de seus
pronunciamentos pelo rádio, em minha meninice, no horário eleitoral, no final
dos anos 60, começo dos 70. Diz-se jocosamente que os emedebistas históricos do
Piauí cabiam num fusca. Eram eles Josípio Lustosa, Celso Barros Coelho, padre
Solon Aragão, Manoel Veloso, João Mendes Nepomuceno, Manoel Nogueira Lima Filho,
Severo Maria Eulálio, Filadelfo Freire de Castro, Bruno dos Santos, como dito,
e outros que não me acodem à memória de imediato.
Bruno foi deputado estadual e prefeito de Floriano. Quando
foi diretor da Comepi, fez duas obras da mais alta importância cultural: criou
o Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado (dentro do qual, como
presidente da UBE-PI, consegui uma página cultural denominada “Textos e
Pretextos”) e publicou duas notáveis obras do poeta popular Hermes Vieira, que
entrevistei, com Domingos Bezerra, para a revista Cadernos de Teresina, da qual
fui editor. Já conhecia o grande poeta através do Almanaque da Parnaíba, e dele
guardei os versos de um poema sobre o lobisomem, que cito de memória (e,
portanto, sem exatidão): “A feiura nele é tanta / Que até mesmo ele se espanta
/ de se ver tão feio assim”.
Saindo da rápida digressão, em que presto singela homenagem a
José Bruno dos Santos, volto a falar da solenidade de lançamento da Coleção
Florianenses, na qual ele se encontrava presente. Fui recepcionado por
Cristóvão Augusto, que já se encontrava autografando exemplares do anuário. Ele
me mostrou detalhes do velho Floriano Clube, e me levou para ver umas
excelentes maquetes, que são a memória fiel e em miniatura de antigos prédios
da cidade, alguns já demolidos. Pedi-lhe que retornasse à sessão de autógrafos.
Encontrei uma pessoa, que disse se chamar Antônio Carlos Torres, que é uma
memória viva de Floriano. Disse possuir todos os números da Coleção, e ter
comparecido a todos os lançamentos. Prestou-me informações sobre todos os
painéis estampados nas paredes da sede da Fundação, que contam muito da história
cultural da cidade, sobretudo da área musical, com seus grandes instrumentista
e conjuntos.
Compunham a mesa de honra altas autoridades do estado e da
cidade, entre as quais o prefeito Joel Rodrigues, o bispo emérito Dom Augusto
Rocha, o presidente da Fundação Floriano Clube, Teodoro Sobral Neto, e o
ex-deputado federal B. Sá. Após fazer a entrega do diploma e da medalha
outorgados pela APL ao amigo Cristóvão Augusto, fiz conciso discurso, em que
enalteci as suas qualidades pessoais e o seu trabalho e o de seus companheiros
em prol da memória histórica e cultural de Floriano, além de comentar a
coletânea biográfica que estava sendo entregue ao público ledor. Enfatizei que
algumas de suas peças biográficas poderiam ser consideradas verdadeiros
ensaios, como a produzida por Alcebíades Costa Filho, ilustre historiador e meu
velho conhecido, sobre seu pai, que despontava como um notável líder operário, quando
o seu trágico assassinato lhe interrompeu a carreira, cujos augúrios a
anunciavam como auspiciosa.
Parte do que disse foi uma espécie de resumo do que escrevi
para a contracapa do volume 5 da Coleção, que segue abaixo, na íntegra:
“A Coleção Florianenses, já em seu
quinto número, editada pela Fundação Floriano Clube e sendo sua organização
capitaneada por Cristóvão Augusto Soares de Araújo Costa, pode ser considerada
um misto de revista, anuário e almanaque, pela diversidade de autores e
matérias, algumas pequenas, outras com características de verdadeiros ensaios
biográficos. Versam diferentes temáticas, mas todas relacionadas a Floriano.
Quase todos os textos são ricamente ilustrados por fotografias, que os
documentam, tomando, algumas vezes, o status de ensaio ou reportagem
fotográfica. Neste número (cito apenas como exemplo), há uma sequência delas
sobre velhos carnavais e folguedos juninos, que nos fornecem a nítida imagem de
costumes e sociabilidades de outrora, quase sempre singelos e mesmo ingênuos.
Os perfis biográficos, alguns longos
e profundos, em que o caráter e o ideário do biografado são fixados, retratam
não só florianenses ilustres, mas também notáveis piauienses e brasileiros, que
lhe prestaram bons e inestimáveis serviços, como o barrense Raimundo Artur de
Vasconcelos, signatário da lei que elevou a povoação à categoria de cidade.
Entretanto, não apenas as figuras proeminentes da história oficial são objetos
desses estudos, mas também pessoas humildes, que fizeram ou fazem parte da
paisagem humana da comunidade; nessa seara figuram profissionais liberais,
mestres dos mais diversos ofícios, artesãos, artistas, poetas e intelectuais,
além daqueles que se celebrizaram como figuras ditas folclóricas, pelos
episódios engraçados, jocosos de que foram protagonistas, mercê de sua verve ou
de seu espírito brincalhão.
A coletânea, logo em suas páginas iniciais,
registra as “Curiosidades Florianenses”, tanto através de textos, como de
anúncios publicitários e “santinhos”, todos fac-similados, para que o leitor
possa ter noção de uma época sem internet, sem redes sociais, em que o tempo
parecia escoar com maior lentidão. Nas páginas finais, sob o título de
“Verdades, boatos e mentiras contadas na barbearia do Zé Venâncio e no bar do
Sinhozinho”, foram relatados os “causos” e as façanhas pitorescas e hilárias de
pescadores, caçadores, boêmios, cachaceiros e outros mentirosos e fanfarrões,
todos integrantes e enriquecedores da mais legítima fauna folclórica
florianense.
Na capa de todas as edições aparece,
de forma emblemática e simbólica, a porta principal do Estabelecimento Rural
São Pedro de Alcântara, que originou Floriano. Pode-se dizer que ela é o portal
por onde entrou, fulgurante em sua glória, a Princesa do Sul. É o seu pórtico
inaugural e o seu Arco do Triunfo.”
Os biografados na Coletânea, foram ainda homenageados através
de banners e de slides, projetados por data show, além de que suas qualidades e
feitos foram sintetizados pelos apresentadores da solenidade. Não bastasse isso,
a família de cada um deles teve um representante, que discorreu sobre os fatos
marcantes de sua vida, de sorte que a história, a sociologia e os costumes de
Floriano foram enaltecidos por diferentes pessoas e familiares. Todos se
referiram ao extraordinário serviço prestado pela Fundação Floriano Clube em prol da
preservação da memória florianense, sobretudo à Coleção Florianenses, graças à
dedicação e esforço de seus organizadores, Cristóvão Augusto Soares de Araújo Costa, Teodoro Sobral Neto e
Rosenilta Maria de Carvalho Attem.
Nesse ponto, não posso deixar de lembrar o poeta Antônio
Veras de Holanda, que clamou em versos aos poetas do porvir: “Lembrai-vos de
mim. / Afastai do meu túmulo o anonimato da morte.” Esses versos, literalmente
lapidares, estão inscritos na lápide de sua sepultura, em cemitério
florianense. A Coleção Florianenses, cumprindo esse testamento literário do
saudoso vate, estampou a sua biografia no seu volume nº 5, assim como vem
retirando do esquecimento outras ilustres personalidades, que já não eram
lembradas ou que não eram conhecidas pela geração atual.
Foi uma esplêndida festa cultural e literária. Em Cadernos de
Lanzarote li, em alguma parte, que Saramago já se dava por satisfeito quando a
um evento literário compareciam, salvo engano, mais de setenta pessoas. Pois na
festa de lançamento do nosso anuário foram contadas 365 pessoas, fora outras
que escaparam à contagem ou que chegaram depois, de modo que se acredita que
compareceram em torno de quatrocentas. Importa dizer que foram vendidos
inúmeros exemplares, o que não acontece no Piauí e nem mesmo do Brasil.
Foi, repito, uma esplêndida festa cultural.