terça-feira, 25 de agosto de 2020

As praças de Campo Maior

Antiga igreja de Santo Antônio do Surubim

As praças de Campo Maior

Celson Chaves

Professor e historiador

A instalação da vila de Campo Maior está ligada ao processo de ocupação e exploração das terras do vale do Longá pelos portugueses, no final do século XVIII. A localização da sede da povoação foi estabelecida por Bernardo de Carvalho e Aguiar, ao construir numa pequena elevação plana, às margens do rio Surubim, uma linda igrejinha em homenagem a Santo Antônio de Pádua.

Largo ou praça e a primeira Igreja de Santo Antônio. Década de 1934.

 

A segunda Igreja de Santo Antônio. Tornou-se Catedral Matriz da Diocese de Campo Maior

Área urbana nasceu acanhada e assim permaneceu por todo o século XIX. Aos poucos, ao redor da igrejinha, circundado por ruas e casas rústicas, formou-se um lindo campo aberto, que no transcorrer dos séculos, recebeu diversas denominações.

Praça Bona Primo. À direita na foto, o antigo prédio da Prefeitura Municipal e do Fórum. Década de 1930.

Praça Bona Primo, sem pavimentação e poste de madeira. Ao fundo, o prédio da Câmara Municipal. Década de 1940. Foto Décio Bona.

No século XIX, a área do imenso campo aberto, frente a igreja, recebeu naturalmente o nome de Largo da Matriz ou Largo da Igreja. Em 04 de julho de 1913, ganhou sua primeira denominação oficial como praça Marechal Pires Ferreira, na gestão do intendente coronel Emygdio Genuíno de Oliveira. Depois, em 05 de outubro de 1930, passa a denominar-se praça João Pessoa, na administração do prefeito Francisco Alves Cavalcante. E assim permaneceu durante toda a Era Vargas (1930-1945).

O paraibano João Pessoa foi candidato à vice-presidente em 1930 na chapa encabeçada por Getúlio Vargas. Seu assassinato em Recife foi considerado uma das causas políticas para a Revolução de 1930. Francisco Alves Cavalcante foi agraciado com a nomeação para prefeito de Campo Maior pelo novo regime. Ele tomou o cargo de chefe do executivo do seu arquirrival o médico Sigefredo Pacheco, eleito pelo voto popular. Em gratidão ao cargo de prefeito, Chico Alves, passou a nomear algumas vias e órgãos públicos com nome que remetem ao movimento getulista.

Com o fim do Estado Novo (1945), a fase ditatorial da chamada Era Vargas, o Brasil volta à normalidade democrática, e em 09 de julho de 1948, o prefeito Waldeck Bona, muda mais uma vez o nome da praça, colocando o nome do seu avô: Antônio José Nunes Bona Primo.

Esse nome permanece até os dias de hoje, apesar de terem tentado alterar mais uma vez o nome da praça. O plano foi obstruído na Câmara pela força e prestígio da família Bona, que descobriu o projeto do vereador Francisco Pedro Barros intencionado a modificar o nome da praça Bona Primo para Santo Antônio. A família se mobilizou politicamente para derrubar o projeto de Lei do vereador Chico Barros e conseguiu.iu pela culatra – A saga de Lívio Lopes Castelo Branco e Silva

 

A praça Bona Primo centralizava tudo. Era centro comercial, residencial e administrativo da vila. No século XIX, além da Igreja Matriz e da Câmara, o logradouro abrigava o Tribunal do Júri, a Cadeia Velha e o Quartel do Regimento de Cavalaria, depois Guarda Nacional. O primeiro Mercado Público de Campo Maior, criado na década de 1850, era o único prédio público localizado fora do eixo urbano da Praça Bona Primo.

Praça Bona Primo, pavimentação na gestão de Raimundo Nonato Monteiro de Santana. Década de 1950. Fonte: IBGE.

Na passagem do século XIX ao XX, a área urbana da cidade se expande até ao Largo da Igreja do Rosário. Campo Maior passa a possuir três praças: Bona Primo e Rui Barbosa, em torno da Igreja de Santo Antônio; e a do Rosário, em torno da Igreja de mesmo nome. Um pouco afastado das três praças foi construído, na década de 1850, o primeiro cemitério urbano da cidade, pertencente a Irmandade de Santo Antônio.

 

Centro Histórico de Campo Maior. Destaque para a praça Bona Primo (antigo Largo da Matriz) e a Igreja de Santo Antônio. O traçado atual da praça Bona Primo, deu-se na reforma promovida na gestão do prefeito professor Raimundinho Andrade. Olhando do alto percebemos que a praça tomou a forma de uma flor.

A praça Rui Barbosa, além de centrar parte do fluxo comercial da cidade, também foi o principal palco de eventos sociais, principalmente comícios políticos, muitos dos quais acabavam em confusões, brigas e mortes. Crônicas jornalísticas e a literatura de cunho memorialista estão repletas de relatos sobre episódios trágicos ocorridos na Rui Barbosa por conta de campanhas eleitorais.

Praça Rui Barbosa, construída na gestão do prefeito Francisco Alves Cavalcante-1933.

Outro aspecto urbano da praça rui Barbosa.

A praça Dr. Miguel Rosa (1914), primeira denominação da atual Rui Barbosa, foi bastante relatada na literatura de memória. Os escritores campo-maiorenses a descrevem do tempo de suas experiências juvenis. A pequena praça Rui Barbosa foi por longas décadas o principal point de encontro de jovens e enamorados. Havia todo um “ritual” em torno do coreto da praça para os solteiros que desejam encontrar um parceiro.

A Rui Barbosa não era apenas local de passeios e encontros de jovens, mas também no em torno situava lojas, hotéis, pensões e bares bastante frequentados.  O Bar Santo Antônio, esquina com a Rui Barbosa, era a taberna onde reunia políticos e personalidades da cidade. Muita boemia regrada a bebidas e cigarros ao tira gosto de muitas conversas. Algumas brigas ocorriam por contam de acaloradas discussões políticas. A Rui Barbosa correspondia a parte do velho centro comercial da cidade.

A praça da Igreja do Rosário, ao contrário da Bona Primo e Rui Barbosa, ficou esquecida pelas crônicas provincianas, sendo lembrada apenas em algumas obras da nossa historiografia. Porém, de modo vago. A praça do Rosário, mesmo central, não conseguiu a mesma visibilidade e notoriedade como as praças Bona Primo e Rui Barbosa.

 

 Praça Luiz Miranda, antiga Floriano Peixoto e Centenário.

 

Praça Luís Miranda e o complexo administrativo da prefeitura municipal, inaugurado 08 de maio de 1976.

Na antiga praça do Centenário, depois Floriano Peixoto, e hoje Luís Miranda (1948), foi construído o segundo Mercado Público da história de Campo Maior, em 1923, na gestão do intendente municipal Luís Rodrigues de Miranda. Em 1932, o Mercado Velho passa por uma ampla reforma na gestão do prefeito Francisco Alves Cavalcante tornando mais atraente aos olhos. Na administração do prefeito Raimundo Nonato Monteiro de Santana, o edifício recebeu a última melhoria: construção de um anexo predial para a comercialização de frutas (1952). Depois foi demolido, na gestão do prefeito Dácio Bona (1973-1977), para a construção do moderno complexo administrativo da prefeitura municipal.

As praças dão aspectos especiais a qualquer cidade. Local privilegiado para os jovens e para as flores. Ela nos remete a nostalgia de tempos passados. Cada geração se apropria de um espaço que deixa seus melhores momentos e páginas de histórias ritualizadas nas memórias do cidadão de hoje e no personagem de ontem.

Aspecto moderno da praça Dr. Antônio Cícero Correia Lima, primeira denominação da atual praça Valdir Fortes (antiga praça da “Radar”). Construída na administração do ex-prefeito Joãozinho Félix.

Atual e moderna praça Valdir Forte, antiga Radar. Hoje abriga um complexo de lojas e bares e um hotel. Construído na gestão do ex-prefeito Joãozinho Félix. Quem da antiga churrascaria da Radar.Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Complexo_Cultural.jpg

Praça Francisco Alves Cavalcante, conhecida popularmente como praça da Rodoviária ou antiga praça do Relógio recheada de mistérios. Hoje se encontra totalmente desfigurada por conta dos inúmeros trailers. 

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Obelisco_do_rel%C3%B3gio_p%C3%BAblico_de_CM.JPG

Obelisco do Relógio Público da praça Francisco Alves Cavalcante praça da Rodoviária). O Relógio, símbolo de uma época gloriosa, ainda permanece de “pé”, mesmo não funcionando há décadas.

Efígie do Físico Albert Einstein. Praça Estado de Israel. Conjunto Agenor Melo. Gestão Marco Bona.

Praça Antônio Andrade, às margens do Açude Grande de Campo Maior. Bairro Nossa Senhora de Fátima. Assim como a praça da Rodoviária, a praça Antônio Andrade também encontra-se desfigurado em sua paisagem por conta dos inúmeros trailers.      

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