sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

ANO NOVO, ANO VELHO



ANO NOVO, ANO VELHO


José Expedito Rêgo (1928 - 2000)


Conheci velho ferreiro português, Mestre Orlando Peixe, com fama de burro. Nem tanto assim. Tinha habilidade com o martelo e a bigorna, fazia bonitas grades e utensílios de ferro.

Seu grande amigo, o Sr. José de Abreu, era dono de bar, jantava sempre com o ferreiro. Se José de Abreu não chegasse na hora, achava o prato feito. Não admitia impontualidade.

Uma noite, José de Abreu encontrou Mestre Orlando, no quintal, fazendo uma casinha de cachorros. O improvisado canil tinha duas portas, uma baixa, outra mais alta. Não havia divisões interiores. José de Abreu perguntou: – Mestre, porque duas portas?

– Ora, Senhor José de Abreu, uma porta grande para o cachorro maior e uma porta pequena para o cachorro menor.

– Bastava, então a porta grande, Mestre.

– Não, Senhor! E por onde passaria o cachorro pequeno?

Era assim Mestre Orlando. Uma noite de 31 de dezembro, estava ele a tomar uma cervejinha gelada, no bar do José de Abreu. O amigo veio cumprimentá-lo: – Feliz Ano Novo, Mestre Orlando!

– Ano Novo não! Ano Velho.

– Como assim, Mestre?

– Ora, se o senhor tem 68 e eu 69, quem é o mais velho?

– Senhor!

– Então? O ano 69 é mais velho do que o de 68. Assim, o ano que vai chegar é o ano velho, pois não?

Será que o Mestre Orlando tinha razão? O tempo não existe, é pura convenção. Não passa o tempo, nós é que passamos. Nada muda, tudo é sempre o mesmo. Cumprimentamos nossos amigos e parentes pela passagem do ano, desejamos saúde e felicidades para todos, mas tudo não passa de esperança vã.

Continuaremos no mesmo ramerrão de todo o sempre, falando mal do governo, queixando-nos da carestia da vida e da falta de dinheiro. Alguns poucos felizardos permanecerão bem de vida, independente da mudança de ano.

O tempo só mudou para o Mestre Orlando e o Sr. José de Abreu, que já descansam em paz, estão livres de aperreios.

O NEUROLOGISTA SILVA NETO




O NEUROLOGISTA SILVA NETO


Wilton Porto 


NA DÉCADA DE 80, integrantes de movimento popular e dos grupos ativos da igreja católica, principalmente de todo o Piauí, acorriam para Esperantina-PI, onde Pe. Ladislau João da Silva, filho da cidade de  Pedro II, atuava como Pároco daquela região. 


Seguindo os passos  do Concílio Vaticano II, na Colômbia, e Puebla, no México, que fizeram com que a Igreja Católica Apostólica Romana assumisse a preferência pelos pobres, Pe. Ladislau, com o seu trabalho libertador, tornou-se um dos ícones da igreja,  no Norte do estado, com irradiação para além dos batentes do Piauí. Esperantina recebia gente de várias cidades e de outros países, que comungavam das mesmas ideias. 


Eu era ativo na Igreja. E ia com frequência a Esperantina. Ficava lá a semana toda. Porque, eu fazia muitas palestras, cumpria missão em várias partes do Piauí e Maranhão.

Foram nessas idas e estadas em Esperantina, na década de 80, que conheci, o hoje Neurologista Raimundo Pereira da Silva Neto. Mais conhecido na atualidade como Neurologista Silva Neto.


Silva Neto, como muitos jovens de Esperantina, não ficou alheio às ações e comentários sobre Pe. Ladislau. Acompanhou de perto o desenrolar da história e, fez mais: foi parte ativa dessa história. 


Eu iniciei nas letras muito jovem. E Silva Neto também. Esta sintonia de sensibilidade aprouxinou-nos com maior integração. Silva Neto mostrou-me seus poemas e aproveitei para publicar em coluna que tinha em Parnaíba.

Segundo, o próprio Neurologista, o pai dele tinha uma carroça de fretes, e como menino de sonhos elevados, ele ajudava o pai nessa tarefa. Além disso, o jovem completava as suas ações de contribuir em casa, vendendo dindin e frutas.

Na foto de 1983, período em que nos conhecemos, diz Silva Neto: "O cenário era de extrema pobreza!" 


A pobreza foi razão sublimar para impulsionar muitas crianças e adolescentes e jovens a não se intimidarem com as adversidades. A não se deixarem colher nos braços da incompreensão e se atolarem nos vícios. 

Pe. Ladislau mostrava um Cristo Crucificado, que se importava com os decaidos,  desprezados, excluídos... E Silva Neto estava atento àquelas homilias. Nos encontros, o Evangelho era lido nas linhas e entrelinhas. E, se agia conforme falava.

Como à época dos primeiros cristãos, todos se ajuntavam e se ajudavam. 

Eu próprio fui em missão no interior e ajudei na construção de casa, à base do mutirão. 

"Terminei o ensino médio em Esperantina, aos 16 anos de idade, sem nunca tirar uma nota diferente de 10. Apesar de ter estudado sempre em escola pública, passei no vestibular para Medicina, na UFPI", afirmou o Neurologista. 

Esta determinação, tenho visto em muitos  que são tocados pelo Espírito Santo desde ternra idade. Vi essa Força agir em mim, quando eu ainda não sabia direito a importância do Pai-nosso e nem a riqueza do Sinal-da-Cruz. Compreendia a necessidade de ser arrimo de  família aos oito anos de idade, contudo, era-me inexplicável o destino pregar-nos tal peça. Não devo entrar no mérito de tal trajetória. 


Silva Neto também foi lapidado com um esmeril de mente elevada. Uma Força Maior do que a dele agia com sapiência na  mente e no destino dele desde sempre.

Embora, a situação de pobreza, ele se destacava na escola. A sua mente não é tão nova. A bagagem que esse Neurologista possui, os enfrentamentos que encontrou na sua trajetória de caminhada, o que esse rapaz já conquistou e o destaque que vem alcançando, falam por si só. 

Se o brilho que irradia da fronte desse esperatinense, tivesse a receptividade no Brasil, como o tem em outros países, a neurologia brasileira, acima de tudo no tocante à cefaleia, que deixa tanto com muitas faltas no trabalho, poderiam olhar de frente este nordestino, que usando de uma metáfora, é sol escondido nas nuvens da incompreensão, que gera o estufado ego, na medicina dos elevados cifrões. 


O jovenzinho que muitas vezes prometeu a si próprio, nos dias de Sol a pino, que seria um nome escrito com os raios do Sol piauiense, cumpriu a sua meta, superou todos os obstáculos, com sete livros publicados incontáveis artigos publicados em revistas internacionais,  prêmios de alto valor, disse-me com o ar de tristeza, ele que nasceu numa cidade de batalhas tantas e cores inúmeras, que hoje a sua integração em grupo é só da igreja, "a política muito me decepcionou!" 


"Sou membro da International Headache Society(Sociedade Internacional de Cefaleia), em Londres.

Reviso artigos científicos para as principais revistas da Europa e EUA.

Ganhei o prêmio do Melhor Artigo, publicado na América Latina.

Alguns meses antes da pandemia, recebi um convite para estágio de Pós-Doutoral, em Cambridge, na Universidade de Harvard(sonho adiado pela pandemia).

Há alguns meses, convite da Editora Springer para escrever um livro sobre cefaleia.  Esta Editora distribui os seus livros em todos os Continentes. Aceitei o convite e o livro está na fase de correção. Terei como coautora a Dra. Dagny Holle-Lee, uma renomada Neurologista da Universidade de Essen, na Alemanha", disse-me. 


Ele também trabalha na Universidade do Delta do Parnaíba, como Professor, Doutor Adjunto de Neurologia, na graduação em medicina, atuando no ensino, pesquisa e extensão; Professor Doutor Permanente na Pós-Graduação em Ciências Biomédicas, como orientador do curso de mestrado. Médico Neurologista Especialista em Cefaleia (Cefaliatra), na Clínica Neurocefaleia,  em Teresina, a primeira clínica do Norte e Nordeste do Brasil, especializada no diagnóstico e tratamento das cefaleias. 


Para um jovem que ajudava o pai, como carroceiro, e completava a renda da família, vendendo dindin e frutas, que em 08 de abril 1989 enviou-me uma poesia, em que versava sobre um amor platônico, quanto crescimento! Quantas vitórias!

Ele merece um olhar, que não lhe leve a um furtivo sorriso platônico.  

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

AS RODAS DE SÃO GONÇALO

Imagens pescadas no Google


AS RODAS DE SÃO GONÇALO


Elmar Carvalho


Recebi a visita do professor Alexandre Costa. Fazia meses que não o via. Estava feliz, porque fora eleito delegado de Regeneração em um congresso cultural e porque irá cursar mais uma especialização. Lembrei-lhe que, desde que assumi a Comarca de Regeneração, tanto para pessoas com interesse cultural, como nos eventos culturais de que tenho participado, venho defendendo a ideia de que o município deve restaurar os folguedos das danças e cantigas de São Gonçalo.

Tenho dito que, bem ou mal, o folguedo bumba meu boi vem sendo preservado, tanto na capital como em vários municípios do estado. Defendo que em terras gonçalinas, mormente em Regeneração, cuja matriz foi erigida sob a invocação desse santo alegre, violeiro e festeiro, o grande diferencial seria o cultivo das rodas de São Gonçalo, que outrora eram praticadas em vários municípios.

Já observei que Amarante, situada a dezoito quilômetros de Regeneração, vem preservando as suas tradições, a sua cultura e os seus folguedos, como a dança do cavalo piancó, as danças portuguesas, o seu patrimônio arquitetônico, que é um dos mais ricos do Piauí, o cultivo do poeta maior Da Costa e Silva e da literatura amarantina.

O professor Alexandre revelou-me que, para minha satisfação, a comunidade de Morro Branco vem realizando as rodas de São Gonçalo, e que, de uniforme novo, patrocinado pelo município, fez bela apresentação no dia 2 de dezembro passado. Contou-me que o Ponto de Cultura de Regeneração, dirigido pelas Irmãs Franciscanas, conseguiu aprovar o projeto “Fulô de Piqui”, que contempla, entre outras metas, o apoio e incentivo a esse grupo gonçalino de Morro Branco, para que a dança e as cantigas de São Gonçalo voltem a ter a pujança que já tiverem no passado.

E isso fará jus à história da Vila de São Gonçalo da Regeneração, outrora habitada pelos índios gueguês e acoroás, que tanto gostavam de cantar e dançar, como igualmente gostava o padroeiro São Gonçalo, conquanto para finalidades pias. 

4 de março de 2010

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Pecado que não cometi




Pecado que não cometi


Carlos Rubem 


Nesta data em que assinala o nascimento de Cristo da Palestina — 25.12.2021 — como diria o lunático Geraldo Sá, acordei tarde. Na noite anterior, participei da ceia natalina na casa do vovô Joel. Muita reza e comilança. A petizada brincou pra valer!


Feita as abluções diárias, tomei meu café, ainda sonolento. Pelas 11h, dirigi-me à casa do meu avô paterno, Natu Reis, situada no coração de Oeiras, isto é, na Praça das Vitórias, donde se descortina evocativo cenário colonial.


Lá, encontrei as minhas irmãs Ceiça e Amada que foram visitar a tia Dóris, solteirona. A prima Darinha se fazia presente. Caiu um chuvinha mansa, fazia um friozinho gostoso. Afloram muitas lembranças familiares. 


Então, relatei um fato que me marcou para sempre, adiante exposto.


Natal de 1965. Os meus avós maternos passavam temporada na Casa-de-Fazenda Canela, encravada, hoje, no perímetro urbano. Quando pulei da rede, vi os presentes que Papai Noel me trouxe. Fiquei exultante!


Num quarto contíguo havia uma bicicleta que a mana Amada ganhou. Apesar das rodinhas laterais, ela não se aprumava neste veículo.


Sem que ninguém notasse, montei-me na bicicleta. Rumei-me ao centro da cidade. Passei na residência dos meus pais localizada na Rua da Feira. Estive na Igreja da Conceição onde era celebrada uma missa. Permiti que meninos do me tope desse umas voltinhas.


Depois, fui à casa do vovô Natu. Ao estacar defronte à calçada, a tia Dóris, deduzindo apressadamente, veio me parabenizar pelo presente que havia sido contempla.Nada lhe disse, porém. No fundo, queria que fosse verdade.


À tardinha, o meu pai, Ditinho Reis, como de praxe, usando um terno de linho branco, foi fazer parte da tradicional roda com seus irmãos, também enfatiotados, e demais familiares, na casa de seus pais. E ficou sabendo que eu teria dito que aquela bicicleta era minha.


Carrancudo, muito severo, à noite daquele dia, papai apareceu na Casa do Canela. Chamou-me às falas. Asseverei-lhe que não havia dito que a bicicleta a mim pertencia. Não acreditou. Aplicou-me três lapadas de palmatórias em cada mão. Pisa conversada para que nunca invejasse brinquedos das outras crianças.


Tudo se deu pela atrapalhação da tia Dóris. Nunca me esqueci desta injustiça sofrida. Por outro lado, não sou afeito ao pecado da cobiça!   

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

ENTREVISTA AO NEUROLOGISTA SILVA NETO



ENTREVISTA AO NEUROLOGISTA SILVA NETO 


Entrevista concedida ao jornalista Wilton Porto


1. Nome completo?


Raimundo Pereira da Silva Néto


2. Idade?


55 anos


3. Formação/Profissão?


Médico Neurologista


4. Local de nascimento?


Nascido no povoado Várzea, no município de Esperantina-PI, no dia 9 de julho de 1966.


5. Locais onde atua?


Trabalha na Universidade Federal do Delta do Parnaíba, em Parnaíba-PI, como Professor; Doutor Adjunto de Neurologia, na graduação em medicina, atuando no ensino, pesquisa e extensão; e Professor Doutor Permanente na Pós-Graduação em Ciências Biomédicas, como orientador do curso de mestrado. Além disso, atua como Médico Neurologista Especialista em Cefaleia (Cefaliatra), na Clínica Neurocefaleia, em Teresina, a primeira clínica do Norte e Nordeste do Brasil, especializada no diagnóstico e tratamento das cefaleias.


6. Universidades de formação?


Graduação em Medicina na Universidade Federal do Piauí e Pós-Graduação na Universidade Federal de Pernambuco (Mestrado e Doutorado) e Universidade Federal do Piauí (Pós-Doutorado).


7. Cursos mais importantes?


 diplomado

Em 1995. Concluiu o curso de Medicina (UFPI, Teresina); em 1998, a Residência Médica em Pediatria (Hospital da Restauração, Recife); em 2001, a Residência Médica em Neurologia (Hospital da Restauração, Recife); em 2002, a Especialização em Cefaleia (São Paulo); em 2012, o Mestrado em Neurologia

(UFPE); em 2016, o Doutorado em Neurologia (UFPE); e em 2021, o Pós- Doutorado em Ciências Farmacêuticas (UFPI).


8. Áreas que mais atua nas formações?


Atua, quase que exclusivamente, na área das Cefaleias.


9. Por que a cefaleia é uma doença de tanta ação no Brasil?


A cefaleia é a principal queixa da humanidade e um dos sintomas de mais de 300 doenças. Ela pode ser secundária a qualquer doença, mas pode ser primária, sendo gerada pelo próprio cérebro e caracterizando-se por ser a própria, como, por exemplo, a migrânea (conhecida, popularmente, como enxaqueca).

A enxaqueca acomete, aproximadamente, 15% dos brasileiros. Dos 100% dos sofredores de enxaqueca, apenas 5% são acompanhados por especialistas. O não tratamento torna a enxaqueca como a doença que mais ocasiona dias perdidos (aquele dia que você não viveu). Segundo a OMS, a enxaqueca é a segunda doença mais incapacitante.

No Brasil, temos a Sociedade Brasileira de Cefaleia que promove ações de capacitação médica e conscientização da população.


10. Somos um país de muitos acidentes e povo displicente no uso de cinto de segurança e capacete. Temos uma medicina preparada para evitar tantos traumas?


Infelizmente não. Antes da pandemia da Covid-19 (quando o Brasil divulgava dados epidemiológicos de outras doenças), os acidentes de trânsitos eram responsáveis pela ocupação de 90% dos leitos das emergências. Acredito que são necessárias medidas mais  rígidas, de conscientização e punição.


11. Brasileiro gosta de farmácia e não de médico. Existem 300 tipos de dor de cabeça. Acho que se trabalha com menos de 10 por cento. Quais os risco de sermos nossos próprios médicos?


A Classificação Internacional das Cefaleias (International Classification of Headache Disorders, Third Edition – ICHD-3) confirma a existência de mais de 300 tipos diferentes de dores de cabeça. A imensa maioria não é tratada. Esses sofredores, por diversas razões, recorrem à automedicação, sem noção dos seus riscos. Há vários riscos de sermos nossos próprios médicos, dentre eles, o desenvolvimento de uma cefaleia denominada “cefaleia por uso excessivo de analgésicos”. O analgésico em excesso (mais de 2 comprimidos por semana, por mais de 3 meses) causa o efeito contrário. Mas há riscos mais graves, como as lesões gástricas (hemorragia digestiva) ou insuficiência renal.


12. Quais seus enfrentamentos para ser um médico de destaque internacional?


Nos últimos 25 anos, tenho me dedicado à ciência, sem nenhum apoio institucional. Tudo o que consegui foi às custas de meus próprios méritos. Muitas vezes, gasto do meu próprio dinheiro para pagar as pesquisas (nunca recebi ajuda financeira). Participo de congressos médicos para atualização de conhecimentos, também sem ajuda. Minhas publicações me projetaram internacionalmente.


13. Hoje, o Sr. é mais conhecido no exterior do que no Brasil. Onde está a falha?


Primeiro, a imensa maioria dos médicos brasileiros não se atualiza. Se eu escrevo um artigo científico em português, poucos leem. Por isso, passei a escrever em inglês. Lá fora, meus artigos são lidos e citados.

Segundo, a não valorização da prata da casa. Aqui, se valoriza o que é de fora. Por exemplo, muitos piauienses, principalmente os mais abastados, vão a São Paulo para tratar suas dores de cabeça. Mas chegando lá, o médico que os atende me conhece e os manda de volta ao Piauí.

Terceiro, a maldita politização de tudo. Vou citar dois exemplos. Em 2018, fui convidado para um entrevista na TV Globo, no Jornal Nacional, mas alguém me cancelou. Em 2020, eu concorri ao Prêmio de Melhor Artigo Científico publicados nos EUA, um feito nunca conseguido antes por um brasileiro, e fiquei em 5o lugar. Naquele mesmo ano, ganhei um Prêmio no México pela melhor pesquisa em cefaleia na América Latina (pesquisa que foi realizada em Parnaíba). Isso mereceria um destaque na mídia piauiense? Eu acredito que sim. Isso seria bom para o Piauí. Gravei uma entrevista para uma TV no Piauí, mas cancelaram minha entrevista porque votei em um candidato que a TV não gosta.


14. Quantos livros publicados e o valor deles dentro da medicina mundial. São estudados?

 Aplicados?


Já publiquei 7 livros que se encontram em todas as universidade brasileiras e, em algumas delas, esses livros são adotados como livros textos. Mas a nível mundial, meus livros circulam por alguns países do mundo. No início do próximo ano, publicarei mais um livro pela Editora Springer, uma editora internacional e terei uma médica alemã como coautora.


15. Consideraçõesfinais...


Apesar de eu ser mais conhecido no exterior do que no meu país, isso não muda minha rotina, nem minhas amizades. Continuo aquela mesma pessoa humilde que veio de Esperantina. Sou um pesquisador que trabalha sempre pensando em ajudar as pessoas, independe do reconhecimento.

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Li uma Entrevista, em que, Silva Neto cresceu enfrentando imensas dificuldades. Até lembrei de mim, que quando criança, vendi tojolinhos de doce de leite e engraxei sapatos.

Silva Neto também foi um vendedor ambulante.

Se a fome bateu muitas vezes, com ele não foi diferente.

Aquele menino ousado, que quebrou todos os tijolos, que nadou em rios poluidos, que pulou muralhas e se machucou em pedras, ainda assim, foi grande destaque  nas escolas, hoje, é o Neurologista de nível internacional, com a mesma tenacidade, com sublime humildade.

Tenho que tirar o chapéu, aplaudir,  dizer-lhe que, muitos passaram por isso e se não tiveram o brilho reconhecido na Terra, nos Céus a tocha é elevada.

Estamos a dois dias do Natal. Cristo é o nosso maior exemplo.

O pão que um dia nos faltou; se o reconhecimento não nos veio na Terra, no Alto Escalão Celeste há um Livro com tudo registrado com letras garrafais e douradas.  

domingo, 26 de dezembro de 2021

MÚSICA VIVA

Fonte: Google

 

MÚSICA VIVA


Elmar Carvalho

 

Passarinhos cantando

saltitavam e dançavam

sobre os fios elétricos

– pássaros ou dedos sobre cordas

de violinos, violas ou violões –

eletrocutando corações.

Aladas notas vivas

fazendo acrobacias e coreografias

sobre as paralelas da pauta.

O vento que passava fazia

coro e uma música celeste

se evolava.

sábado, 25 de dezembro de 2021

MINHA FAMÍLIA PORTUGUESA


 

MINHA FAMÍLIA PORTUGUESA

 

Antonio Gallas Pimentel

Jornalista, poeta e escritor

 

"É uma casa portuguesa com certeza

É com certeza uma casa portuguesa"

(Refrão de uma famosa canção portuguesa difundida no mundo todo na voz de Amália Rodrigues e de outros cantores de fado das terras d'além mar).

 

             Manhã de sábado,  18 de dezembro deste ano de 2021. Recebo comunicado de que dr. Roberto Cajubá,  meu confrade da Academia Parnaibana de Letras estaria em minha residência,  à minha procura. Por conta de um problema de saúde que me havia apresentado na madrugada do dia anterior tive dificuldades em sair da cama de imediato para ir ao seu encontro. Pedi que abrissem o portão e que o mandassem entrar,  enquanto eu me arrumaria para recebê-lo,  como assim manda a etiqueta social.  Porém,  neste momento minha esposa  entrega-me uma sacolinha amarela com um livro dentro e disse-me que no livro algo estaria relacionado à minha pessoa.

 

                            Alegrei-me evidentemente, fiquei feliz pelo gesto, pela consideração do amigo confrade em me prestigiar e trazer à minha residência um livro escrito por sua esposa Maria Tereza, filha de um ilustre cidadão português que muito contribuiu, com sua verve, com os seus conhecimentos,  para a educação brasileira, especialmente para a educação parnaibana - professor Eduardo Augusto Lopes, de saudosa memória.

 

                 Imediatamente iniciei a leitura do referido livro,  e, ao chegar à página 50, deparei-me com trechos de uma crônica feita por mim e lida nos microfones da Rádio Educadora de Parnaíba, por Reginaldo Mendes ou Gilvan Barbosa, não lembro agora, no Programa "Rádio Repórter Educadora" dirigido pelo também saudoso Jornalista Batista Leão, e  na sequência final, "A Crônica da Cidade" lamentando o trágico acontecimento ao ilustre mestre da educação parnaibana naquela fatídica tarde de 16 de setembro de 1975.

 

                         O fato de ver, no presente livro,  a citação e reprodução trechos  de minha crônica, escrita e publicada há 46 anos, deixou-me surpreso, emocionado e ao mesmo tempo trouxe-me um alívio para as dores que sentia, tanto assim que, enquanto dedicava-me à leitura  do livro, esquecia a angustia e o sofrimento que me causavam a crise de saúde pela qual passava naquele momento.

                                Também, o poeta V. de Araújo e o Jornalista Rubem Freitas que  manisfestaram seu pesar através da imprensa, mais especificamente através do Jornal "Folha do Litoral" estão citados na obra.

                                  Tive o prazer de trabalhar com o professor Eduardo e dona Oneide no Colégio  Édson Cunha. Eu, professor de Língua Inglesa, ele, Superintendente do Complexo Escolar Regional Parnaíba I  e a professora Oneide como coordenadora da disciplinas de Estudos Sociais. Fui professor de dois do seus filhos: Luiz Augusto funcionário aposentado do Banco do Nordeste do Brasil  e Eduardo Augusto,  conceituado médico otorrinolaringologista. 

                                  Aprendi com o professor Eduardo que as tristezas devem ser esquecidas e que devemos tocar a vida com alegria, pois ele era uma pessoa bastante alegre,  como citei no início da crônica que fiz em sua homenagem: "possuía, o professor Eduardo, por sua maneira alegre e agradável, um grande número de amigos nesta cidade, e todos gostávamos de sua presença. Onde quer que estivesse o ambiente tornava-se alegre".

                              O livro "Minha Família Portuguesa" muito bem escrito por Maria Tereza de Melo Lopes Cajubá de Britto, mostra a árvore genealógica de seus parentes portugueses pelo lado paterno,  bem assim narra,  de uma forma que torna a leitura agradável, a história de uma família humilde, determinada que soube vencer com galhardia as intempéries da vida e galgar lugar de destaque não apenas na Europa mas em países do outro lado do atlântico como o Brasil, com particularidade Parnaíba,  cidade na qual, descendentes da família destacam-se na sociedade local,  principalmente no ramo da medicina e odontologia.

"O tempo é passageiro e tudo isso um dia será só saudade e lembranças, mas, a melhor parte é poder contar para meus filhos e sobrinhos que essa é a MINHA FAMÍLIA PORTUGUESA", finaliza a autora.

                                   Talvez tenha sido eu um dos primeiros a ler "Minha Família Portuguesa" de  Maria Tereza de Melo Lopes Cajubá de Britto, livro que desde o dia em que o recebi passou a ter um lugar de destaque em  minha ESTANTE DE LIVROS. Agradeço ao confrade Roberto Cajubá pela consideração e por haver me proporcionado uma leitura agradável e rica em conteúdos sobre uma família nobre das  "terras d'além Mar", da qual, sua esposa, a autora, é descendente.       

Fonte: Blog do Professor Gallas

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Uma certa lembrança de Natal

Fonte: Google

 

Uma certa lembrança de Natal


Elmar Carvalho

 

Um amigo me solicitou fizesse um texto sobre um certo aspecto do Natal. Tentei atender esse velho amigo. Mas não consegui. Me faltou jeito, talento, engenho e arte, e até a memória não me foi propícia. Não me lembrei de certos detalhes e não me veio à mente nada que eu considerasse relevante para um texto literário.

O que me veio à memória, com muita insistência, foi a lembrança de um presépio humilde, como a gruta em que Jesus nasceu, feito de papel, que meus pais montaram em minha infância. O abrigo e as figuras eram recortadas e pintadas, e deveriam ser montadas e grudadas no local indicado do piso.

Ali estavam os hieráticos reis magos – Gaspar, Baltazar e Melchior – com os seus presentes, os humildes pastores, o anjo com sua trombeta, a estrela e alguns animais, como ovelhas, um camelo e um burro. José e Maria, a sagrada família, se postavam ao redor do berço do menino Jesus, em atitude acolhedora e de adoração.

Porém o mais importante era a devoção e o respeito de meus pais para com a sagrada família, o modo como eles falavam do nascimento de Jesus. Não havia preocupação com comidas, presentes e muito menos bebida. O simbolismo religioso daquele simples presépio de papel cartonado é o que importava.

Para lhe dar maior beleza, minha mãe lhe adicionou um espelho com areia ao redor, para simular uma pequenina lagoa, e plantou numa lata sementes de arroz, cujas plantinhas, tenras e muito verdes, simulavam capim. Ainda hoje não esqueço o lindo verde daquele pequenino arrozal, que encheu de vida, graça e beleza o humilde (humilde como o verdadeiro) presépio de meus pais.

Esse presépio, que não me sai da memória, ainda foi montado, creio, mais duas ou três vezes, e se perdeu amarrotado em algum desvão do tempo, e meus pais agora são saudade, encantados na celestial eternidade. É a lembrança desse presépio de papel e a doce saudade de meus pais, que me punge a alma neste instante de suave melancolia.

E isso me traz à lembrança um tempo em que eu acreditava no papai Noel. Será se eu ainda acredito no bom velhinho? Talvez. Porque eu ainda acredito que este nosso mundo será um mundo melhor, com pessoas melhores. E essa crença é o meu melhor presente de Natal.   

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A São João dos velhos tempos

Fonte: Google


A São João dos velhos tempos


João Libório


Era bem simples a nossa cidadezinha, porém bem bonitinha. Os quarteirões quadradinhos, e as ruas tão retas que até podíamos ver as duas extremidades.

Eram somente três ruas. A Rua Grande, onde morávamos, era a principal e parecia não ter fim quando com nossas perninhas infantis precisávamos ir ao outro lado, geralmente a mando de algum adulto. No meio dela, se localizava a pracinha, que também servia de divisória entre o lado de cima e o lado de baixo, toda de mosaicos, com passeios sinuosos sempre ladeados por fileiras de boas-noites e bons-dias, e que às tardinhas nós passeávamos animadamente com velocípedes, sempre disputando corridas com outros meninos.

Sempre faltava luz elétrica, pois o velho motor diesel geralmente se encontrava com defeito, e que por isso, tão logo anoitecia, os mais velhos sentavam-se às calçadas para infindáveis conversas com os vizinhos, e nós, os meninos, saíamos à rua, ainda descalça, para nossas brincadeiras típicas de meninos do interior que não tinham outra coisa para fazer senão brincar de esconde-esconde, adivinhações ou contar estórias, enquanto as meninas brincavam, com muita gritaria, de “bola envenenada”, ou cantando em uníssono, bem afinadas, lindas canções de rodas, que devido ao silêncio se ouvia de muito distante.

Também não havia água encanada, mas no nosso quintal havia um poço cacimbão, com água salobra, que supria nossas necessidades e que também serviu para demonstrar mais tarde, que eu estava crescendo, pois já conseguia girar o grande carretel que puxava o balde e ajudar na tarefa de encher os potes e reservatórios de água da casa. Para nossa alegria água para beber íamos buscar em cacimbas no rio, (Beco do Potão) momento que aproveitávamos para tomar banho e passar grande parte do tempo brincando na areia, fazendo castelos, casas e os nossos próprios sonhos.

E assim fomos crescendo, juntamente com nossa pequena cidade, que hoje tem muitas ruas, todas calçadas, muitas praças, muitos carros, muita gente, mas que também, assim como nós, deve sentir saudades do sossego e da paz dos velhos tempos.

Teresina (PI) novembro/01.  

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

3 poetas (na) Entrelivros



3 poetas (na) Entrelivros


Elmar Carvalho


Recebi convite do poeta Walter Lima para me encontrar com ele na Livraria Entrelivros, ontem, às 15:30 horas, a pretexto de tomarmos um cafezinho e de que tinha um livro para me dar. Quando cheguei, no horário combinado, lá já se encontrava o poeta Adriano Lobão Aragão.

Walter Lima é altoense, mas o conheci em Teresina, onde era radicado. Alguns anos atrás foi morar em Rio Preto – SP, onde exerce a sua profissão de contador. É um poeta talentoso, muitas vezes experimentalista, a jogar com as palavras de maneira criativa, com o uso de novas formas, fôrmas e fórmulas.

Quando se compromete a revisar um trabalho literário, o faz com competência, rigor e olhos de lince. Detalhista, descobre erros que dificilmente outra pessoa descobriria. Contudo, claro, sabe distinguir muito bem uma licença poética ou literária, cometida propositadamente pelo autor, do que realmente seria um erro gramatical, seja de concordância ou de sintaxe. É também um grande leitor, arguto, observador e constante no vício salutar da leitura.

Costuma garimpar raridades e preciosidade em sebos de São Paulo. E foi justamente um desses livros que ele me entregou na Entrelivros, com amável dedicatória. Fez uma observação sobre algum possível simbolismo ou cabalismo da data: 21.12.21. A obra é Primaveras, de Casimiro de Abreu, editada por Livraria Exposição do Livro, sem data, infelizmente.

Sem termos pretensão a peritos ou detetives, eu e o poeta Adriano Lobão, pela tipologia, pelo tipo de papel e pela ortografia, atribuímos que seja anterior aos anos 60. Os textos preambulares são antigos, da lavra do próprio Casimiro, e datados, tanto a apresentação como o poema/dedicatória, do ano de 1859. Seu poema inicial é Canção do Exílio, de suave, singelo e belo lirismo, que é uma marca do grande poeta do Romantismo Brasileiro.

Com relação ao poeta Adriano Lobão Aragão posso dizer que o considero um dos melhores poetas de sua geração. Muitos anos atrás, ao fazer parte de um júri de concurso literário, atribuí as melhores notas aos seus versos. Não havia identificação dos autores, mas quando vi os poemas publicados, recordei que lhes destinei alta pontuação. Contudo, só o conhecia através de leitura e de vista, posto que nunca fomos formalmente apresentados, nem nunca estivemos numa mesma roda de conversa. Mas sempre lhe admirei a discrição e o talento poético. Disse discrição, porque ele não é um poeta/pavão, nem tampouco poeta/ostentação. Segue seu caminho sem trombetas e sem forçar barras, como se dizia outrora.

Nesse encontro, lhe ofertei meu romance Histórias de Évora, e ele me retribuiu com seu livro “destinerário”, com excelente projeto gráfico dele próprio. As fotografias e os desenhos são também de sua autoria. Os poemas e as fotografias se referem a diversas cidades do Piauí, mas também a algumas paragens/paisagens do Ceará, Maranhão, Tocantins, Minas Gerais, Alagoas e Sergipe.

O livro, pelo formato e projeto gráfico, pelas suas fotografias e imagens, termina sendo um objeto de arte em si mesmo, e o guardarei entre meus livros/álbuns, que fogem aos padrões vulgares. As fotografias são flagrantes de logradouros e paisagens, e os poemas se referem a essa temática, mas não são meramente descritivos.

Aliás, quase sempre não são descrições, porém alusões líricas, impressões, sentimentos, estados de alma que a contemplação dessas paragens/miragens provocaram no poeta. São, à falta de melhores palavras, uma espécie de pintura poética, de feição abstrata, concreta e impressionista ao mesmo tempo, tudo impregnado em versos concisos, líricos e de forte carga metafórica.  

Foi, portanto, uma boa tarde o nosso encontro, o encontro desses 3 poetas, em que só faltou mesmo o cafezinho, que terminamos esquecendo.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Inácio Gondó



Inácio Gondó


José Expedito Rêgo (1928 - 2000)


            “Inácio Gondó, mija na rede e diz que é suó…” (folclore oeirense)


Ao contrário do que se pensa, Inácio Gondó, ladrão célebre, não é filho de Oeiras, nasceu em Valença do Piauí e foi trazido, muito pequeno, nos braços da mãe, para a terra mafrensina.


Foi batizado em Oeiras, sendo padrinho o Coronel Jesuíno Moura, de ilustre família.


Cresceu nas margens do Mocha, brincou na colina do Rosário, apanhou caju nas roças das Laranjeiras. A cleptomania começou desde a infância. Os estudiosos dizem que esse impulso mórbido para o furto é conseqüência de frustração sexual. Nada podemos adiantar sobre a vida íntima de Inácio, naqueles tempos Freud era completamente desconhecido. Conta a lenda que, não encontrando o que afanar, Gondó tirava a própria camisa, escondendo-a num buraco de muro, e ficava à espreita. Quando passava qualquer pessoa, puxava a camisa do esconderijo e saía correndo, só para que se pensasse que estava roubando.


Na maturidade, foi valente, brigador, exímio caceteiro. Deu muito trabalho à polícia, nos forrós do Condado e da Várzea. Certa vez. A fim de que fosse contido, tiveram de amarrá-lo a uma estaca, foi carregado sobre os ombros de dois soldados, para a prisão, como porco que se levasse ao matadouro.


Por esse tempo, morava no Sobrado Nepomuceno, junto à Igreja Matriz o Esdra Beleza, boa vida e brincalhão. Inácio Gondó era analfabeto e, por certo, um mentecapto. O Esdra vestia o coitado de fraque e cartola, gravata e colarinho duro, punha-o nas calçadas, com um jornal de cabeça para baixo, nas mãos. Gondó empolgava-se, fazia compridos discursos, completamente sem nexo, numa oratória babada.


Esdra Tinha uma loja, no andar térreo sobrado. Desleixado, certa noite, deixou a porta principal da casa de comércio aberta. Inácio, de passagem, notou a falha. Mas não se aproveitou. Tratava-se de um amigo. Ao contrário do que possa imaginar, passou o resto da noite de guarda e, pela manhã, foi avisar o dono no andar de cima.

 

Só não dispensou o padrinho, Jesuíno Moura, que morava na casa grande, antiga residência do Visconde da Parnaíba. Na esquina, Jesuíno montara a casa de comércio, bem sortida. Por trás da loja, um armazém com estoque de reserva. Preocupado com o procedimento do afilhado, Jesuíno chamou-o e aconselhou:


– Inácio, você precisa mudar de vida. Desse jeito não está certo. Você acha bom viver sendo preso quase todo dia, é preciso que eu ou outro amigo vá tirar você da cadeia, acha?


– Não sinhô!


– Pois então! Olha aqui, eu sei que você é um bom ferreiro, sabe fazer foice, machados... Eu lhe pago quinhentos réis por cada foice que me trouxer. Comece a trabalhar.


Na mesma tarde, Inácio trouxe uma foice, muito bem feita, brilhado de nova.


– Muito bem, meu afilhado! Ponha a foice ali no depósito e tome aqui os quinhentos réis.


Inácio obedeceu. No dia seguinte, nova foice e a mesma satisfação do Jesuíno.


– Bravo, meu afilhado, você está tomando jeito de gente!


Depois de alguns dias, Jesuíno resolveu mudar.


– Inácio, já basta de foices, agora quero que me faça machados. Vamos ver quantas foice já temos ali no depósito.


Triste surpresa! A foice que havia no armazém era apenas a que Inácio trazia na mão. Todos os dias, ele recebia o dinheiro, guardada a foice e, mais tarde, vinha roubá-la, para trazê-la de volta, no dia seguinte.

domingo, 19 de dezembro de 2021

A ERO MOÇA

Fonte: Google

 

A  ERO  MOÇA


Elmar Carvalho

 

A aeromoça

abre os braços

e mostra as saídas

de emergência ...

 

E eu a sonhar

que ela abrisse

as pernas e mostrasse

as entradas de quintessência.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

DOLORES, ESFINGE E ENIGMAS

Fonte: Google


DOLORES, ESFINGE E ENIGMAS


Elmar Carvalho


Encontrei há pouco, no restaurante Gula-Gula, em Regeneração, a professora Maria Dolores. Com o seu jeito alegre e expansivo, disse que estava com saudades de mim, mas do poeta, e não do juiz. É que estive de recesso e de férias, e fazia meses que não nos víamos. Tempos atrás, num ato falho, chamei-a de professora Maria da Cruz. Pareceu-me que ela não me ouviu, o que me causou estranheza.

Quando a abordei, explicou-me haver pensado que eu não estava falando com ela, uma vez que seu nome era outro. Imediatamente, respondi-lhe, em tom de blague, que Cristo morrera na Cruz, mas que certamente sentira muitas “dolores”, e fora por isso que eu a chamara de Maria da Cruz, e não, Dolores. De qualquer modo, a cruz tornou-se o símbolo da Fé em Cristo e mesmo do cristianismo (e não propriamente de um instrumento de tortura e morte).

*        *         *

Soube, por uma nota do Simão Pedro, publicada no blog Bitorocara, que falecera em Campo Maior o decano dos comerciantes. Vendia miudezas, como equipamentos de pesca, tubos de linha, balas, guloseimas etc., no centro comercial da cidade. Morava num pequeno apartamento, no fundo de sua loja. Pelo que interpretei do texto e da conversa que mantive com Simão Pedro, ao telefone, ele era um celibatário, de hábitos um tanto esquisitos.

Embora fosse comerciante, e como tal tivesse que manter contatos com seus clientes e fornecedores, levava uma vida reclusa, quase um ermitão, fechado em si mesmo e no seu pequeno aposento. Tempos atrás, saía à noite, para passear em sua Rural, provavelmente no intuito de se desanuviar de suas tristezas e preocupações. Criava, no quintal, mais de duas centenas de gatos, o que, só pela quantidade, já era uma excentricidade.

Por que ele criava tantos gatos? Dois ou três não lhe seriam o bastante? Seria uma maneira de driblar e compensar a tristeza e a depressão, se é que as tinha? Gato é um animal que aguça e excita o imaginário popular, inclinado a acreditar em crendices, lendas e superstições. Diz-se que o gato tem sete vidas e que vê e pressente coisas, que ninguém mais percebe.

Esse comerciante, de nome Moisés, não recebia visitas, não tinha amizades íntimas. Era recluso, calado, sem expansões emotivas, embora fosse educado e tratasse bem os seus clientes. Sentia-se uma nota de tristeza, escondida em seu olhar. Fico imaginando em que pensaria ele, na solidão de seu quarto, à noite, morando num local que era movimentado durante o dia, mas que, nas madrugadas, transformava-se numa cidade morta, num quase cemitério.

Que emoções sentiria ele? Que segredos guardaria? Seria infenso às emoções humanas? Seu segredo seria não ter nenhum segredo, e levar a vida comum de um homem simples e bom, mas que optou em viver sozinho? Não sei. Talvez ninguém saiba. E ele, para sempre, levou as respostas consigo.

Respostas que – quem sabe? – nem mesmo ele as tivesse, posto que, muitas vezes, o homem é a esfinge e o enigma de si mesmo.

3 de março de 2010 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Depoimento sobre Vicente Correia



Depoimento sobre Vicente Correia


Kenard Kruel

 

Rua Coronel José Narciso, 844, na Praça Santo Antônio, localizada na Metrópole do Norte, com assim denominou Parnaíba dom Pedro I. Endereço que jamais esquecerei em minha vida. E nem o casal que ali morava. Dr. Vicente Correia e sua Teresa Carvalho Correia, pais de Fernando, Ronaldo, Aloísio, José Cláudio (falecido), Marcelo, Márcio, Cristina, Vânia e Edna. Dr. Vicente de Paulo Santos Correia era proprietário e fundador da Atalaia Turismo, a agencia de turismo mais antiga do Piaui (desde 1976). Hoje, de propriedade de Francisco Moraes, ex-gerente. 

Meninote, querendo ser jornalista, achei de criar um jornal, que nominei de Batalha do Estudante. Precisava de uma máquina de escrever, mimeógrafo, stencil e resmas de papel. Estávamos vivendo o início da era do mimeógrafo, meu caro poeta irmão Emerson Araújo, que se criou e se forjou dentro de uma gráfica. Dr. Vicente Correia forneceu a máquina de escrever. Todos os dias, à tarde, por voltas das 16 horas e ia à casa dele. 

Sentava-me à mesa central e ali instalava a redação do Batalha do Estudante. Tinha uma secretária eficiente, dona Teresa Correia que, de meia em meia hora, servia deliciosos sucos de frutas colhidas no quintal, com bolinhos que ela mesmo fazia em sua cozinha mágica. Ao lado, o seu Ozias Correia, rádio amador, numa espécie de apartamento próprio, a falar com o mundo inteiro e com quem aprendi os primeiros rudimentos de inglês, italiano, espanhol e francês. No outro dia, no Colégio Estadual Lima Rebelo, onde cursava o técnico em Administração de Empresa, recebia a cumplicidade de Cora, secretária, hoje esposa do conselheiro Olavo Rebelo, presidente do Tribunal de Contas do Estado - TCE - PI. Ela, nas horas de folga, passava no mimeógrafo o stencil, imprimindo o Batalha do Estudante. 

Além do ato, era a primeira a comprar um exemplar do jornal. O Dr. Vicente Correia, o segundo comprador. 10 exemplares. Dois reais, no dia de hoje. Eram 500 exemplares. Seis páginas. Ilustradas por Fernando Costa, de saudosa memória, Flamarion Cunha, José Vilson Santos, entre outras ilustrações que eu capturava nos jornais do Rio e de São Paulo. Passei a colaborar com o jornal Folha do Litoral, levado pelo amigo e mestre Bernardo Silva. 

Vibrava a cada publicação de um artigo ou poema meu. Às vezes, escrevia até mesmo o editorial, dentro da generosidade do mestre Bernardo Silva com o seu aprendiz. Logo me tornei escritor. Meu primeiro livro foi Em Três Tempos, também no mimeógrafo, em parceria com José Elmar de Melo Carvalho, que se tornou o grande poeta que é, e Paulo Couto. Nossas caricaturas foram feitas pelo Flamarion Cunha. A capa do José Vilson Santos. Rodado na Comepi - Companhia Editora do Piauí, graças à bondade do jornalista Deoclécio Dantas, então presidente. 

Dr. Vicente Correia comprou, em primeira mão, 10 exemplares. E isto se tornou rotina. Todos os meus livros seguintes, os primeiros 10 exemplares eram remetidos para ele, que os recebia com alegria imensa. Além do pagamento, nunca deixava de agradecer a deferência. Morando em Teresina, passei a editar, também, em mimeógrafo, o Cobaia, este de cunho político, posto que eu estava vivenciando a rebeldia típica da juventude. Era estudante de Letras na Universidade Federal do Piauí, envolvido com as lutas estudantis universitárias. Os 10 primeiros exemplares, não precisa que perguntem, eram enviados para o Dr. Vicente Correia. 

Quando ia à Parnaíba, a primeira casa a visitar era a do Dr. Vicente Correia. - "Como vai esta juventude? Como vai o meu nobre escritor? Se tivesse me avisado teria pedido ao prefeito que fosse recebê-lo na entrada da cidade, com a Banda de Música". Era sempre assim que me recebia, todas as vezes. Em sua casa, ampla e confortável, uma capela própria. Nela, em sua companhia e de dona Teresa Correia, eu aliviava os muitos pecados das costas, ou assim rogava, em muitas orações. 

O Dr. Vicente Correia era um homem muito religioso, de uma fé inabalável! A foto que eu publico, talvez seja de um dos nossos últimos encontros. Foi clicada na inauguração da Sala Deoclécio Dantas, no prédio Agostinho Pinto, do SESC, por detrás do Liceu Piauiense, em Teresina. Ao me aproximar dele, ele foi logo dizendo: - "Como vai esta juventude? Como vai o meu nobre escritor?" E ficamos horas a conversar, esquecidos da grande festa ao nosso redor. No dia 9 de maio de 2013, na paz da Ilha Kenardiana, em Tutóia (MA), eu recebi a notícia de que o Dr. Vicente Correia tinha ido ao encontro do Pai, onde está sob sua proteção e em bom lugar, Santo que era na terra e reconhecido na morada do Senhor. 

Esta semana, viajando de Parnaíba para Teresina, de carona com o sobrinho Francisco Correia, e acompanhado pelo filho Marcelo Correia, recebi o pedido de fazer a biografia de Dr. Vicente Correia. Nada me honrará e me deixará mais feliz. Tudo que eu faça por ele, em sua memória, será pouco. Mãos à obra, Kenard Kruel! Com fé, esperança e amor.   

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Instituto Histórico divulga lista de alunos selecionados na oficina Processo de Percepção e Criação de Desenho

 


Instituto Histórico divulga lista de alunos selecionados na oficina Processo de Percepção e Criação de Desenho

 

Entre os dias 01 a 10 de dezembro estiveram abertas as inscrições para selecionar 10 alunos de escolas da rede pública de Parnaíba para participarem da Oficina "Processo de Percepção e Criação de Desenho" e para receberem, ao término da atividade, uma bolsa de incentivo no valor de R$ 100,00. 

 

É uma realização da Ocupação Espaço Fonte da Memória, em parceria com o Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba e tem por finalidade promover o aprimoramento de habilidades artísticas em processos criativos e desenho e incentivar essa modalidade artística em adolescentes.

 

A direção do projeto parabenizou todos os alunos que se inscreveram. “As histórias contadas e os desenhos enviados são dignos de nota”, declarou a entidade. 

 

Segundo o IHGGP os alunos selecionados receberão mensagem no e-mail informado, com link para o grupo de WhatsApp que será usado como canal de comunicação.

 

A lista de alunos selecionados é a seguinte: Carlos Henrique Cirqueira Costa, SESC- Centro Educacional Miranda Osório; Cristovão da Cunha Costa, Escola Municipal Borges Machado; Guilherme Jefferson Oliveira Mota, CEEP Ministro Petrônio Portela; Isaac Oliveira de Araujo, Liceu Parnaibano; Keliane dos Santos Cruz, CEEP Ministro Petrônio Portela; Lukas Gabriel Almeida Soares, Unidade Escolar Jeanete Souza; Maria Rita de Sousa Ramos, CEEP Ministro Petrônio Portela; Milena Machado Pontes, CEEP Ministro Petrônio Portela; Ramon Aimar dos Santos Nascimento, Unidade Escolar Jeanete Souza; Uriel Serra, CEEP Ministro Petrônio Portela.

Fonte: IHGGP. Foto: JP. Edição: APM Notícias.

Covid 19

 

Fonte: Google

 

Covid 19


Sousa Filho

 

D   i   s  

          

             t   a    n   

                     

 

                       c    i    a   

                           

                                  m    e    n  

                                        

                                                        t    o

 

       S              c                   a

       o               i                    l

                  

              ou

hhhhhhhhiiiiiiiiiippppppppppooooooccccccrrrrrriiiiisssssiiiiiiiiaaaaaa?

Depoimento sobre Emerson Araújo


Depoimento sobre Emerson Araújo


Kenard Kruel


Conheci Emerson Araújo labutando, entre poemas, tintas e graxas, na gráfica do pai dele, o venerando senhor Haran Silva, na Avenida Pedro Freitas, divisa da São Pedro com a Vermelha, em Teresina.

Eu estava vindo da Parnaíba. Tinha concluído o Curso Técnico em Administração de Empresa. Precisava enfrentar o vestibular para o sonhado Curso de Letras, na Universidade Federal do Piauí.

Albert Piauhy me acolheu e passou a ser uma espécie de tutor meu, cargo que até hoje ele não se empenha em deixar. E eu deixo que assim seja, para despeito do queridinho número um dele, o estatístico, fotógrafo e professor João Batista Mendes Teles. Albert Piauhy tornou-se meu compadre, quando tive a coragem de dar a ele, para padrinho, o meu filho primeiro Rafael Cavalcanti, fruto de muito amor com Maria Rita Cavalcanti. A madrinha é a jornalista e professora Helena Arcoverde, uma das mulheres mais inteligentes e bonitas do pedaço. Hoje residindo em Curitiba, aposentada pela Escola Técnica Federal do Piauí. 

Nos meados de 1977,  Emerson Araújo lançou Vendedor de Picolé, no Colégio Zacarias de Góis, livreto, ensaio de poesia, por meio de um colega do Bairro São Pedro, que estudava com ele no Liceu Piauiense, chamado Raimundo Nonato. Este, depois se tornou sacerdote católico e nunca mais eu soube notícias dele. 

Éramos jovens cheios de planos literários. Estudantes do Curso de Letras da Universidade Federal do Piauí, durante o dia, e pecadores das lindinhas, durante a noite, nos bares da cidade. Não havia um específico. O que estivesse aberto e nos aguentasse, era o nosso porto seguro. Não havia a história do bar da época, do point, do famosão. Famosos éramos nós. Porém, no meio da boêmia, pontificava o Bar Acauã, onde, geralmente, a gente aquietava o facho, dormindo, de qualquer jeito, em qualquer lugar do nosso Bar doce Bar. Acauã era do Chicão, irmão da Marleide Lins.

Era tempo do Emerson Araújo, William Melo Soares, Zé Magão, Wilton Santos, Chico Castro, José Menezes de Morais, Eduardo Lopes, Albert Piauhy, estes mais infiltrados no jornalismo oficial, contaminando-o por dentro com literatura vã. Ao redor, na deles, João Luiz Rocha Nascimento, Airton Sampaio, Bezerra, Leonam, também na prática do jornalismo subterrâneo e na contística já da melhor qualidade. Seriam os Tarântulas da nossa melhor literatura. Mais adiante, com ares de mestres, Durvalino Couto, Arnaldo Albuquerque, Assai Campelo, Edmar Oliveira, Chico Pereira Trevo Art, Etim, Paulo José Cunha etc.

As mulheres ainda viviam o regime do talibã. Poucas ousavam cair na pândega. Lembro de uma Marleide Lins, ativa em Teresina, ainda nos dias de hoje, e de uma outra, a Beth Rêgo, que foi marinhar, hoje em algum farol apagado de São Luís. E da Rosa Kápila, que ainda brilha no Rio de Janeiro.

Era tempo de reativação da UNE, que uniu Edvaldo Nascimento e Edna Magalhães, do DCE da UFPI, dos CAs, da criação do PT, da CUT, CEPAC, FAMC, da eliminação da pelegada encastelada nos Sindicatos dos Jornalistas, Comerciários, Gráficos, Mecânicos, Construcão Civil etc, alguns há mais de 40 anos de mando e desmando. Era tempo de jovens combativos, aguerridos, destemidos, mas também sensivelmente poéticos. Perdulários do amor. E nós nos amamos até hoje. Somos uma geração unha e carne. Nunca largamos um a mão do outro. Não nos vencem a distância e o tempo. Estamos sempre de tocaia, um em campana vigiando o outro.

Emerson Araújo, pelo exemplo, e que belo e forte exemplo, me fez professor. Mesmo já professor, quando numa folga ou outra no meu quadro de horário, eu ia, como aluno, vê-lo e ouví-lo no campo de batalha dele. Voz firme, didática, contínua, sem qualquer anotação, a desafiar, de memória, nomes de autores, livros, jornais, revistas, períodos, escolas, grupos, clãs, o que seja. Emerson Araújo é minha inspiração como professor. E, claro, como cidadão, por completo. 

Anos depois nos encontramos, nas madrugadas da Universidade Estadual do Piauí, como estudantes de Direito. Nos formamos. Eu ainda me iludi por dez anos, Emerson Araújo, mais prático, nem mesmo tentou. É muito difícil, neste país, vencer as leis do mais forte e do menor esforço, como um dia me disse o professor e também bacharel em Direito Cineas Santos. 

O Piauí, como tantos, também não soube amar o Emerson Araújo. E ele se auto exilou em Tuntum MA. Aposentado, poderia estar de pijama fazendo versos para as eternas musas. Porém, sempre atento aos clamores do tempo, tornou-se voz ativa na política e, principalmente, na Educação de Tuntum. Virou novamente caixeiro viajante da Educação, a fazer reuniões, palestras, simpósios, conferências onde um ou dois estiverem em nome da Educação. Tanto compromisso que até hoje, apesar dos reiterados convites, ainda não nos deu a honra de visitar a Ilha Kenardiana. Mas ela está cá, deslumbrante, a esperá-lo, com a trupe. No dia que bater a veneta, virá e estará entre os seus. 

O chamo de poeta irmão. Nos últimos anos, tem sido mais, tem sido um pai. A ele, minhas orações. Com fé, esperança e amor.