segunda-feira, 20 de junho de 2022

Carta sem resposta




Carta sem resposta


Carlos Rubem 


Em julho de 1979, estudante da Faculdade de Direito do Ceará, vim, como de costume, gozar férias em Oeiras. Tempo bom!


Por essa época, a Vanúzia França, que reside (ou residia) em Anápolis, cá veio rever sua parentela, conhecer melhor a terra natal de seus pais.


Tratava-se de uma supimpa morena de longas madeixas. Esbanjava beleza, simpatia e cordialidade.


Muito desejada pela rapaziada. Quem abocanhou o troféu fui eu. Interessante: um preterido questionou-lhe a escolha. Tomei conhecimento ao vivo dessa irresignação, porém nada disse a este “mui amigo”. Não tinha tempo a perder. Marcantes dias juntos passamos. Fizemos maravilhosos passeios.


Bola prá frente! Retomei meus estudos em Fortaleza. Ela retornou para aquela cidade goiana. A partir de então, passamos a trocar amáveis missivas. A vida nos afastou. Nunca mais dela tive notícias.


Há quarto anos localizei uma epístola da Vanúzia. De posse do endereço dela constante no envelope correspondente, redigi-lhe uma carta sem obter resposta, adiante transcrita:


Oeiras, 28 de agosto de 2018


Caríssima Vanúzia


Mesmo correndo o risco dessa carta nem chegar à sua destinatária — afinal, faz 38 anos que trocamos as últimas correspondências — torço por isso e, mesmo, ouso esperar que você a receba...


É que, remexendo meus arquivos implacáveis, encontrei uma supersimpática cartinha datada de 28 de fevereiro de 1980. Falando francamente, nem sei dizer, ao certo, se a respondi na época... Espero que sim, mas isso não vem ao caso. O que importa, mesmo, é relatar a emoção que senti ao lê-la hoje à tarde. Várias memórias voltaram... a nossa amizade, o carinho e a admiração mutuamente confessados, as confidências. Lembrei-me, também, de como a achava bonita e como me sentia bem fazendo inveja aos colegas quando saia com você. Gostarei se puder compartilhar essas memórias com você e, para tanto, estou-lhe enviando cópia xerox daquela missiva.


Sua carta faz referência ao livro, por mim editado em 1979, do meu “tio–herói” Gerson Campos e tenho imenso prazer de lhe informar que realizei, em 2013, uma segunda edição – ampliada e revisada – dos “Sonetos e Retalhos”. Naquele ano fazia 40 anos a morte do tio Gerson. Estou-lhe enviando um exemplar, por mim autografado, daquela obra póstuma.


Ansioso por saber se recebeu essa encomenda, despeço-me, com um terno e fraternal abraço.  

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