Sobre “Bernardo de Carvalho – o fundador de
Bitorocara”, por Elmar Carvalho
Gilberto de Abreu Sodré Carvalho
Romancista, historiador e
genealogista
Foi
publicada a segunda edição, revista e ampliada, de “Bernardo de Carvalho, o
fundador de Bitorocara”, neste ano de 2015, como livro eletrônico pela AMAZON.
A qualidade historiográfica da obra me enseja, irresistivelmente, a falar sobre
ela.
A segunda
edição é tão rica em novidades e na criação de contextos históricos importantes,
que poderia ter um novo título. Acresce que o “volume” digital contém anexos muito
úteis de matéria relacionada com o corpo do texto.
Outro
ponto, que me encanta, é que o festejado poeta e ensaísta Elmar Carvalho, meu
primo remoto, com quem compartilho o mesmo sobrenome Carvalho, nos remete, aos
dois juntos, o escritor e eu, o seu leitor, aos nossos velhos antepassados Carvalho
de Almeida do Piauí. Nada mais prazeroso, para ele, eu imagino, como seria para
mim (que tiro proveito fazendo esta resenha), que escrever sobre Bernardo de
Carvalho e Aguiar. Esse herói foi tio dos nossos ancestrais, em comum, Manuel e
Antônio Carvalho de Almeida, e dos seus irmãos párocos: Miguel de Carvalho,
Tomé de Carvalho e Silva, e Inocêncio de Carvalho, esse último ativo no sul.
O livro é
um ensaio histórico, com sustentação bibliográfica pertinente, sobre Bernardo de
Carvalho, senhor da fazenda Bitorocara, da qual se originaram Campo Maior e
outras cidades. Foi ainda o realizador da conquista portuguesa das terras
nortenhas do Piauí.
A questão
da localização geográfica da antiga fazenda Bitorocara, que pertenceu ao grande
Bernardo, sugere algumas palavras minhas sobre o assunto, em linha com o que é
trazido de informação pelo autor. O assunto é bem coberto por Elmar Carvalho,
no bojo da sua ágil e agradável narrativa sobre a vida notável de Bernardo de
Carvalho, mestre de campo e cavaleiro da Ordem de Cristo.
A velha vila
de Campo Maior, no Piauí, teve uma extensão original vasta, na medida em que
correspondeu a boa parte da área que esteve sob o domínio de Bernardo, no final
do século 17 e início do 18. Com o tempo, desde o ano de 1762, data da criação
da vila, o seu território foi sendo reduzido, com a formação de entidades
políticas novas, ou seja, vilas e municípios, mediante desmembramentos. Tais
novos municípios surgiram a partir do desenvolvimento de antigas ou de novas circunscrições
proprietárias, a dizer, fazendas com seus currais, em combinação com freguesias,
no sentido de paróquias católicas ao mesmo tempo que unidades políticas
seminais.
Na fase
histórica anterior à organização político-administrativa do Brasil, os rios
foram importantes. Eles serviam tanto para dar acesso a novas áreas para a
conquista e ocupação da América Portuguesa, como para nomearem-se as regiões e
os sítios, na falta de outras alternativas mais pertinentes. São assim comuns
em todo o Brasil, e no Piauí, topônimos que remetem a um rio, quase sempre
antecedido por um nome de santa ou de santo. Os rios garantiam aos
conquistadores o comércio, o transporte de gente comum e de guerra, a nutrição
direta mediante os peixes e os demais, as melhores pastagens as suas beiras, a
água para a irrigação da lavoura e a energia para os moinhos.
Elmar
Carvalho, em seu ensaio histórico, registra, com desenvoltura e ótima síntese,
a argumentação do saudoso padre Cláudio Melo sobre a localização da fazenda
Bitorocara, do final do século 17. Tal fazenda foi a origem, por via do povoado
do Arraial Velho, nela situado, da freguesia, da vila e da posterior cidade de
Campo Maior.
O fato,
comprovado pelo Padre Melo, com o imediato acatamento de Odilon Nunes (que
antes pensava o rio Bitorocara ser o rio Piracuruca), é de que a fazenda
Bitorocara tinha, por território nuclear, a região da confluência dos rios
Longá, Surubim e Jenipapo. Se o rio Bitorocara fosse o rio Piracuruca, a
fazenda Bitorocara não poderia geograficamente corresponder a Campo Maior. São
justamente os elementos de convicção, de natureza geográfica, que levam a
entender-se que o rio Bitorocara é o mesmo que foi, em seguida, chamado de rio
Longá. Disso, dessa conclusão, percebe-se a antiga fazenda Bitorocara no seu
verdadeiro lugar.
Ocorre
que, de antes, no tempo de Bernardo e por conta de ele o ter chamado desse modo,
o rio Longá era conhecido como rio Bitorocara, e o rio Surubim era chamado de rio
Cobras. O nome Bitorocara só consta da “Descrição do sertão do Piauí”, escrita,
em 1697, pelo padre Miguel de Carvalho, sobrinho do grande Bernardo.
A
argumentação de Elmar Carvalho, sobre a origem do atual município de Campo
Maior na fazenda Bitorocara, é a apresentada originalmente, com bastante
documentação, pelo Padre Cláudio Melo no seu “Os primórdios de nossa história”,
de 1983, páginas 167 a 176, reafirmada por Afonso Ligório Pires de Carvalho, em
“Terra do gado – a conquista do Piauí na pata do boi”, Brasília: Thesaurus, 2007,
e, mais recentemente, por Valdemir Miranda de Castro, em “Enlaces de famílias”,
2014.
Existem,
em Elmar Carvalho, mais argumentos em favor de o berço de Campo Maior ser a fazenda
Bitorocara, com sua sede na confluência do rio Longá, antigo Bitorocara, com o
rio Surubim e o rio Jenipapo. Mais exatamente, na junção do Longá com o Surubim.
Ocorreu de a fazenda Bitorocara ter abrigado um arraial militar, chamado, após
os anos, de Arraial Velho. É, com esse nome, que consta do testamento de Miguel de Carvalho e Aguiar, filho de Bernardo, que o passa à sua neta. Tal sítio - de
encontro de homens de guerra lusos, mestiços e indígenas - foi estratégico na
conquista do norte do Piauí aos índios. Do Arraial Velho, ou seja, da povoação
permanente que lá se instalou, surgiu uma freguesia, sendo o primeiro pároco o
padre Tomé de Carvalho e Silva, sobrinho de Bernardo e irmão inteiro do padre
Miguel de Carvalho. Dela, da freguesia, em seguida, se teve a vila e, por fim,
o município de Campo Maior.
Bitorocara,
na confluência dos três rios, dava meios para deslocamentos variados de forças
armadas de portugueses e índios aliados. Neste cenário físico, o mestre de
campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, cavaleiro da Ordem de Cristo, era o chefe
militar, sendo seu lugar-tenente Manuel Carvalho de Almeida, seu sobrinho e
irmão inteiro do padre Miguel de Carvalho.
Grande Poeta,
ResponderExcluirO Arraial dos partidários da sua causa ganha um aliado de peso e substância com a chegada desse novo chefe de tropas. A leitura que o historiador Gilberto Sodré faz do seu livro, agregando ainda a ele a existência do Arraial Velho, somente vem reforçar o que tens dito sobre a origem da sua Campo Maior. Parabéns ao signatário do presente texto pela lucidez e clareza do mesmo.
Caro JP,
ResponderExcluirComuniquei ao Dr. Gilberto, grande historiador e genealogista, sobre o seu lúcido comentário. Adiantei-lhe que vc reproduzirá o seu ensaio sobre meu livro Bernardo de Carvalho, o Fundador de Bitorocara.