HISTÓRIAS
DE ÉVORA
Este romance será publicado neste sítio
internético de forma seriada (semanalmente), à medida que os capítulos forem
sendo escritos.
Capítulo XXI
Idílio
Elmar Carvalho
Marcos, conforme convite e
recomendação feitos por Gracinha, após alguns dias, foi ao cabaré Montevidéu.
Encontrou-a na sala, a conversar com a mãe. Pachola arranjara uma amigação como uma
das mulheres que frequentavam o ambiente, e fora morar numa casinha, distante
vários quarteirões, de modo que só aparecia à tarde, para resolver algum
problema ou ajudar na arrumação de mesas e cadeiras.
O rapaz se manteve de forma discreta,
a certa distância da madame, que se encontrava bem vestida e com vestígio de
haver saído do banho há pouco tempo. Morena clara, de finos e lustrosos
cabelos, que lhe desciam ondulados até o ombro, sua pele era fresca, macia, sem
manchas, denotando muita limpeza. De seu corpo evolava suave perfume. Seu rosto
era bonito, porém de feições regulares, sem nenhum traço de exotismo. De boa
estatura, era ainda bonita, mas já começando a dar sinais de que tinha
tendência a engordar.
Gracinha e Marcos entretiveram breve
conversa. A mulher lhe perguntou acerca de algumas coisas do bairro e de como
iam seus estudos. Como se não tivesse muito interesse, simulando certo descaso,
indagou-lhe sobre suas paqueras e namoradas. Marcos respondeu que no momento
não tinha nenhuma, ao que ela, sorrindo, retrucou:
– Mas não é possível... Um rapaz tão
jovem e bonito, e com tantas garotas por aí, esperando por um namorado.
O rapaz, que não era nada bobo, tinha
o seu tanto de ator, e se fez de encabulado. Baixou um pouco a cabeça, e
fingindo hesitação:
– Pois é, para você ver, uns com tantas
e outros sem nenhuma.
O jovem, alegando que tinha um
problema a resolver no centro da cidade, disse que tinha que ir. Gracinha o
acompanhou até o alpendre, quando lhe tomou as mãos, como se o toque fosse
casual. Marcos, ante essa iniciativa, se voltou, e se curvou um pouco, como se
lhe fosse dar um beijo convencional de despedida, mas, em premeditado erro de
cálculo, lhe tocou os lábios.
Ela correspondeu e o abraçou, mas
logo se afastou. O rapaz não insistiu, renovando apenas o tchau de despida.
Ela, com um simpático sorriso, reiterou o seu convite de dias atrás:
– Não se acanhe; volte sempre. De
preferência, pela manhã. Você será sempre bem-vindo.
Marcos, para se valorizar, resolveu
retornar apenas na semana seguinte, no mesmo horário. Gracinha ficou muito
alegre em revê-lo, e disso deu demonstrações com acolhedoras palavras e
sorrisos, e com um delicioso suco de bacuri. Dona Lurdinha, não se sabe se por
recomendação da filha ou se captando mensagem em troca de olhar, tratou de
deixar a sala, e seguiu para o interior da antiga chácara.
A madame, sentada no sofá, começou a
afagar a mão direita de Marcos. Às vezes, a beijava e lhe roçava os lábios
carnudos e macios em seu dorso e dedos; outras vezes, a colocava entre as suas ou
sobre o coração. O rapaz se levantou, tomou-lhe as mãos e a fez se levantar.
Abraçou-a e a beijou com intensidade. Após breve intervalo, Gracinha se afastou
de seu corpo, contudo sem lhe soltar as mãos. Marcos quis conduzi-la para o
quarto que sabia ser o dela, mas sob o pretexto de que sua mãe poderia
retornar, simulando recato de casta donzela, a madame o puxou em direção ao
quintal, que era cheio de frondosas árvores.
Subiu ao galho baixo de um velho
cajueiro, recostando-se no grosso tronco. Marcos subiu até onde ela estava, e
começou a acariciá-la com ternura. Voltou a beijá-la com volúpia. Notou, porém,
que a mulher, novamente fingindo pruridos de arisca virgem, não deixava que ele
lhe encostasse o sexo, vibrante, vivo e intumescido, negaceando o corpo, aceitando-lhe
apenas os afagos no rosto e os beijos.
Sequer permitiu que ele lhe
explorasse os empinados, rijos e volumosos seios. Marcos se sentiu um poeta
árcade, em cenário bucólico, a cortejar sua virginal “pastora”, ninfa dos
bosques, musa de seus idílios e de suas odes líricas e castas. Próximo,
ouvia-se o canto rascante e melancólico de uma cigarra, e, ao longe, um sabiá
soltava seus melodiosos gorjeios.
Jogo de gato e rato, Poeta? Você está muito bom nisso.Enquanto isso, vamos nos envolvendo com a bela trama, e caindo de amores pela bela personagem. Logo, logo, todos os seus leitores, mesmo os mais conservadores, absolverão a madame dos pecados originais, esperando que se transformada na eleita do jovem personagem. É um belo truque literário, ou um gancho bem formatado.
ResponderExcluirAmigo JP Araújo,
ResponderExcluirNão sei se o nosso bravo Marcos vai conseguir vencer a resistência da Bastilha.
Breve saberemos.
O seu incentivo tem sido importante para que eu me entusiasme e prossiga na construção desse romance.
Obrigado, caro Mestre.