Foto do dia do lançamento - O autor é o quinto da esquerda para a direita |
A HISTÓRIA DE CHICO MAROCA
José Pedro Araújo
Romancista, contista e cronista
No começo deste fatídico ano de
2020 – fatídico por nos ter brindado com a peste do tal Convid 19. Quanto ao
resto, nada a reclamar - fui surpreendido por uma ligação do meu grande amigo
Chico Acoram, entusiasta colaborador do nosso pequenino Blog Folhas Avulsas.
Passava a mim, neste telefonema, a notícia de que estava preparando um livreto
com a história de seu pai. Até aí, a notícia não nos trazia nada de fantástica,
pois já esperávamos algo assim desde que o autor do contato havia me dito que
gostaria de enfeixar em um livro suas crônicas publicadas no blog. A surpresa
veio quando ele me disse que contaria a história da vida do seu pai em versos.
Confesso ter ficado preocupado, uma vez que o bravo amigo estava se dedicando
há muito pouco tempo à laboriosa forma de escrever nesse formato; e posto
conhecer apenas trabalhos seus no campo das crônicas já mencionadas. Duvidar,
contudo, nunca duvidei, de que ele preparava algo com muito cuidado e, se é
possível dizer, com extremo “asseio literário”. Passei, então, a aguardar algo
que deveria surgir – pensei - na segunda metade do ano, se muito rápido o Chico
Carlos andasse.
Mas eis que me veio a segunda
surpresa. Dias depois deste episódio que narrei da sua ligação telefônica, eis
que recebo nova chamada dele com a afirmação de que o lançamento do livro já
tinha data marcada. E me enviou por meio do WhatsApp, fotos da capa do livro já
impresso. Estávamos no começo de fevereiro, portanto, não muitos dias após a
sua primeira notícia de que estava trabalhando na história versificada do seu
adorável pai.
Nesta última ligação, ele me
convidava para o lançamento do livro e marcava a data do dia 13/02. Tudo assim,
rápido e açodado, não muito dentro dos padrões do meu amigo, que pensa e
repensa antes de fazer qualquer coisa, sobretudo quando o que que planeja se
reveste de muita importância. Estava a me deparar com o novo Francisco Carlos
Araújo que eu não conhecia, e que atacava de poeta popular. Digo novo, porque o
que eu conhecia era meio preguiçoso, literariamente falando, precisava mesmo de
uns empurrões para me enviar algo para publicar no blog. Agora, surgia esse,
operoso, diligente, nervoso mesmo, no bom sentido da expectativa pela chegada
do novo acontecimento que pretendia iminente.
Fui ao seu encontro no dia
aprazado. Feliz com a oportunidade de participar do lançamento do primeiro
livro do meu amigo dileto, dirigi-me à Livraria Entrelivros, espaço literário
que tem se notabilizado por abrigar e organizar grandes eventos desse tipo em
uma terra em que se dá pouca ênfase ao mister dos morejadores dessa seara.
Deparei-me lá com um seleto grupo composto por alguns dos grandes escritores da
terra mafrense, além de uns poucos amigos seus de trabalho.
Lançamento festivo dos mais
animados, sem a sisudez de outros tantos por mim assistidos, o evento primava
pela organização e pela animação. Contudo, animação, animação, mesmo, era a do
pai da criança, digo, do autor que mostrava naquele momento a bela cria que
apresentava ao mundo da narrativa escrita. Normalmente uma pessoa feliz,
sorridente, o autor extravasava aquela alegria pouco contida dos pais de
primeiro rebento, o que me fez lembrar da crônica de Josué Montello escrita na
sua coluna no Jornal do Brasil, em que, ao relembrar o lançamento do seu primeiro
livro Janelas Fechadas, dizia que “um
mestre português, Afonso Lopes Vieira, chamava de sensualidade gráfica do
escritor – do prazer efusivo de quem gosta de apertar contra o peito um menino
bonito e rechonchudo”. Assim estava o
nosso autor a acariciar com desvelo de pai extremoso a sua criação que vinha à
luz naquela tarde.
E o que dizer da obra? Mesmo sem
o conhecimento de um crítico literário, não tenho receios ao afirmar que se
trata de obra rebuscada, uma criação à altura dos experientes cordelistas que
tive o prazer de ler durante todos esses anos em que me debrucei neste ramo
literário eminentemente nordestino. Autores como o grande Leandro Gomes de
Barros, respeitado por muitos como o principal nome da arte cordelista, fizeram
parte da minha apreciação. Chico Carlos produziu uma epopeia narrativa em
estrofes que emociona ao mais duro dos seres humanos com a história, às vezes
tristes, às vezes vitoriosa, do homenageado Francisco Maroca, que vem a ser o
pai do artista.
Algumas das passagens descritas
de forma quase romanesca pelo autor, eu já as conhecia de ouvir da sua própria
boca. Contudo, sem o sentimento e o lirismo com que estava sendo contada agora
em versos. As perseguições sofridas, as armadilhas urdidas por adversários
inescrupulosos, ou mesmo as rasteiras tomadas da própria vida, só não foram
maiores do que as vitórias alcançadas, os pontapés certeiros nos fundilhos da
imoralidade ética, ou as alegrias desfrutadas ao conseguir elevar ao
promontório da segurança a sua prolífica família. Para depois presenciá-la
fora, portanto, do alcance dos espertalhões ou dos obtusos senhores feudais
vestidos em trapos em vez das brilhantes indumentárias de cavaleiros medievais.
Imagino com que sentimento o seu
livro de estreia deve ter sido lido por aqueles personagens que também compõe a
história da vida do Chico Maroca. Imagino ainda, terem vertido, se não rios,
pelo menos córregos de lágrimas, iguais em volume ao decantado Riachinho, quiçá
ao Marataoan das suas lembranças diárias. Imagino, por fim, que o autor deve
ter molhado com suas próprias lágrimas o teclado do seu computador no momento
em que ia desfiando suas mais tristes lembranças de um período de sofrimento
extremo, vivido nas duas cidades que ambientam a saga do mestre da vida, Chico
Maroca. E até mesmo desatado o riso farto ao versificar suas passagens
vitoriosas e seus dribles fantásticos aplicados nas dificuldades do cotidiano.
Lá se vão trinta anos desde que
nos conhecemos, apresentados que fomos pelo nosso querido e saudoso amigo Dr.
Rômulo, engenheiro agrônomo dos mais talentosos que conheci, um poliglota
consumado que tinha na leitura um dos seus, talvez únicos, passatempos. Desde
então, a nossa amizade só cresceu e se encorpou. Lá se vão também os dias em
que o autor só se debruçava sobre números e planilhas financeiras, por conta da
sua própria profissão de Contador. De lá para cá, veio-lhe a fase das grandes
leituras, da troca de carinho com as brochuras, do aspirar o cheiro da tinta
fresca das publicações literárias. Para, somente então, descobrir que poderia
se tornar também, além de leitor compulsivo, um cidadão lido. E então passou a escrever as suas crônicas
que logo passaram a chamar a atenção dos apreciadores da boa escrita e dos bons
assuntos.
As duzentas e vinte uma estrofes
que compõe a História de Chico Maroca são, portanto, o momento maior de
afirmação do cultor das letras que se transformou em um beletrista refinado. É
o que se pode deduzir ao chegarmos à contracapa do seu livro de estreia.
Ficamos ansiando por mais, meu caro amigo! E que não tarde muito.
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