Fotografia de Rosa dos Ventos Gerais, exposto no Terraço Lisboa, de propriedade de meus amigos e compadres Neide e Gelvan Lisboa. |
Poeta, contista, cronista, romancista, memorialista e diarista. Membro da Academia Piauiense de Letras. Juiz de Direito aposentado. *AS MATÉRIAS ASSINADAS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES, E NÃO TRADUZEM OBRIGATORIAMENTE A OPINIÃO DO TITULAR DESTE BLOG.
Data: 05/09/2020, às 16H00
Sala: 714 1906 3497
Senha: mxYW0E
Endereço: https://us04web.zoom.us/j/71419063497?pwd=UFZkV1QwQmVQQW5Wazd6L1lkNzRMdz09
Fonte: Folha de Oeiras/Google |
ENGENHEIRO PEDRO CRONEMBERGER
Engº Cid de Castro Dias
Escritor e historiador
O engenheiro Peter Cronemberger chegou a Oeiras no governo de João José Guimarães e Silva (1829/1831).
Por muitos anos prestaria serviços à província. Executou cartas topográficas de várias Freguesias, projetos de prédios públicos e, como profissional liberal, arrematou e construiu a Cadeia e Casa de Prisão de Oeiras entre outras obras.
Apresentou projeto para desobstrução do canal do rio Canindé, com correção de suas cacheiras, objetivando de torná-lo navegável desde a sua barra até a do Moucha, o que traria muitos benefícios do comércio da província.
Projetou e construiu a primeira ponte do Piauí, executada em alvenaria de pedra sobre o riacho mocha, em Oeiras.
Em 08 de maio de 1840, naturalizou-se cidadão brasileiro.
CRONEMBERGER, Pedro – tte. do Imperial Corpo de Engenheiros, chegou a Oeiras no governo de João José Guimarães e Silva (1829/1831). Veio com o sgt.-mor Ricardo Joaquim dos Santos e fizeram levantamentos topográficos da Província, em área superior a 150 léguas quadradas. Deve ter sido o fundador da família desse apelido no Piauí. Em 1831 levantou uma “Carta Topográfica da Freguesia de Marvão, Província do Piauí, por Imperiais Ordens, e do Exo. Presidente desta Província João José Guimarães e Silva”. Foi contratado para destruir as cachoeiras que obstruíam a navegação do Rio Canindé (1832). (in dicionário histórico e geográfico do estado do Piauí - Cláudio Bastos
Vejamos os documentos oficiais da época.
Livro no 466, fls. 74, em 20 de julho de 1832, consta:
“O Vice Presidente da Província transmite à Câmara Municipal desta cidade para seu conhecimento e execução quanto resolvera o Conselho Geral da Província em sessão de vinte de dezembro do ano passado, comunicado por ofício do Conselheiro Secretário Arnaldo José de Carvalho: que a cadeia existente desta mesma cidade seja posta em hasta pública e arrematada por quem mais der, conhecendo-se vantajoso o lanço, precedidas as formalidades da lei, e quando isto se não possa conseguir ser demolida para se utilizar na nova cadeia o que estiver no caso de ser aproveitado. Que a dita Câmara dê já princípio à construção do sobredito prédio com a soma de dois contos e setecentos mil reis decretados pela Lei de 15 de dezembro de 1830 e com o valor por que for arrematada a atual cadeia, no caso de assim se verificar, deduzida a importância precisa para modificação e preparação das prisões do Quartel, para onde devem ser mudados os presos da Cadeia Civil enquanto se prontifica a nova, para cuja obra o Conselho ia pedir à Assembléia sete conto e trezentos mil réis para perfazer a soma de dez contos de réis em que avaliam a construção da referida nova Cadeia e Casa de Câmara, servindo de regra à tal construção o modelo das da América do Norte. Palácio do Governo em Oeiras, 17 de julho de 1832. a) Barão da Panahiba”
Capitania – livro 1º de bandos – 1814 a 18382 de janeiro de 1833 – n 6 – edital
Tendo procedido perante o Juiz de Fora pela Lei Ângelo Custódio Ferreira, em virtude da Portaria de 28 de novembro do passado a avaliação das Casas de Cadêa e Prisão com trabalhos para esta capital à vista das duas plantas feitas pelo Engenheiro Pedro Cronemberger ......
Consta no Livro no 466, fls. 82, de 23 de janeiro de 1833- Governo Barão da Parnaiba:
“O Presidente da Província determina que a Câmara Municipal desta cidade faça marcar e alinhar o terreno conveniente para a construção da nossa Cadeia e Casa de Prisão com Trabalhos, cujas obras se acham tratadas com o Engenheiro Pedro Cronemberger, em conformidade com a Resolução do Conselho de Governo de dezoito de setembro do passado, tendo precedido avaliação legal, e concorrendo o dito Engenheiro como Empreiteiro, em virtude do Edital de dois de outubro, digo, de dois do corrente mês, pela quantia de quatorze contos de réis. Palácio do Governo em Oeiras, vinte e dois de janeiro de mil oitocentos e trinta e três. a) Barão da Parnahiba
N 8 - Edital
EDITAL – Tendo sido levantada a Planta e Plano, e orçada sua despesa da distribuição e das cachoeiras do Rio Canindé desde a sua barra até a do Moucha pelo Engenheiro Pedro Cronemberger por deliberação do Excelentíssimo Presidente em Conselho nas (?) de dezoito de setembro do ano findo, e de vinte e nove de março do presente a fim de o fazer navegável a benefício do comércio desta província ............
Oeiras, 25 de maio de 1833
Naturalização Brasileira
Livro no 470, fls. 40, em 08 de maio de 1840, consta:
“TERMO DE COMPROMISSO – Nos oito dias do mês de maio de mil oitocentos e quarenta, na Sala de Sessões da Câmara Municipal desta cidade Oeiras do Piauhi, em sessão compareceu Pedro Cronemberger, brasileiro naturalizado e por bem da carta de naturalização que está cumprida pela Câmara Municipal desta cidade, o Senhor Presidente deferiu ao dito Pedro Cronemberger o juramento dos Santos Evangelhos em um livro velho sobre o que pôs a sua mão direita e disse as palavras seguintes: Juro e prometo obediência e fidelidade à Constituição e às Leis do país e reconhecer o Brasil por minha pátria de hoje em diante. Para constar, se fez o presente termo em que assinou toda a Câmara de rubrica e juramentado de nome inteiro o senhor Roberto Pereira Leite de Sousa, Secretário da Câmara Municipal. Seguem as diversas assinaturas e a de Pedro Cronemberger
Ponte grande sobre o riacho da mocha – Oeiras
A primeira ponte da Província do Piauhy, construída em alvenaria de pedra, localizada no início da estrada real para o Maranhão, em Oeiras, foi inaugurada pelo Presidente Zacarias de Gois e Vasconcelos no ano de 1847. Obra de engenharia que deve ser creditada ao engenheiro Pedro Cronemberger.
Conforme consta do documento a seguir, no ano de 1848 Cronemberger estava em plena atividade como empreiteiro de obras públicas.
Quando tomei conta da Presidencia da Provincia estava o engenheiro Pedro Cronemberger administrando, mediante a gratificação mensal de 50 000 rs, a obra da calçada do largo da Mariz d’esta Cidade, calçada, que então se estava em começo. Logo que foi terminada esta obra, e a do concerto do barrocão da rua do Norte, dispensei dito engenheiro da administração, de que estava incumbido.....
Mestre Isidoro França
O referido documento de 1848, também faz referencia ao mestre obras Isidoro França, comprovando sua presença em Oeiras naquele ano, onde já estava a construir obras públicas.
No tempo, à que me refiro, também estava o mestre d’obras. João Isidoro da Silva França, de que já em outro lugar vos falei, trabalhando na do Hospital de Caridade, com o salário de 3.800 rs, diários para si, e de perto de 5.000 rs, para os seus aprendizes .....
Quando em 7 de setembro de 1850, José Antônio Saraiva, assume o comando do Governo do Piauí, encontrou Isidoro França ocupando o cargo de mestre de obras da Província, cargo este criado em 1847, estando a executar os serviços da ladeira do Castelo situada no município de São Gonçalo do Amarante.
Vale registrar o fato histórico, que foi nessa obra que Saraiva teve o primeiro contato com o mestre Isidoro, quando então lhe incumbiu da importante missão de edificar a futura cidade de Teresina na confluência dos rios Poti e Parnaíba.
Teresina setembro de 2020
ANOIA (A leviandade)
Durvalino Couto Filho (1953)
Dito escravo da família,
ao trabalho devotado
— um barnabé pontual,
lambe-botas renitente
inda metido a janota
— o promissor candidato
a deputado federal
contava horas longa
separando-se de Brasília,
onde se instalaria
num “funcional” arretado
com todas as regalias.
Agora faria carreira
no engole sapos e verbas
da Grande Secretaria,
Sua mãe não esperava
que um astuto inimigo
aplicasse àquele filho
o golpe definitivo:
apesar das preferências
que aludia ter feito
pelas donzelas fogosas
toddy-criadas ao leito,
seria espalhado na city
para fim de seu Eldorado:
— Senhoritas, infelizmente
o Secretário é viado!
Fonte: site Antonio Miranda
Fonte: Google |
RECONSTRUÇÃO
Poncion Rodrigues
Essa saudade que eu tenho,
do tempo em que eu era gente,
parece um cheiro gostoso,do que não se vê,mas sente.
É a viagem maluca,onde o caminho é o tempo;
Pois eu estou no comando,correndo ou andando lento.
Sou eu quem escolho onde choro,onde rio e em qual momento.
Vou em busca de mim mesmo,
Um sujeito que adoro,
Revisitando passagens,sejam fatos ou miragens,vou burilando a história ao ponto de me esbaldar;
Retocando ao meu prazer,o que vi acontecer,
eu quero é me renovar.
DIÁRIO
[Live das Guitarradas de Mestre Vieira]
Elmar Carvalho
28/08/2020
Recebi ontem, dia 27, um link enviado pelo professor José Francisco Marques, através de WhatsApp, para que eu assistisse a uma live musical, a ser veiculada pelo Facebook. Não a vi em sua integralidade, mas em boa parte, de modo que bem pude aquilatar a sua qualidade.
A banda de cordas, com predominância de guitarras, é liderada
pelo médico Edmilson de Miranda, campomaiorense de velha estirpe, que, após
muitos anos residindo em Brasília, voltou ao seu torrão natal. É casado com a
jornalista Luselene Macedo, que em seu blog tem divulgado a história e a
cultura de Campo Maior. O grupo musical é composto por Edmilson de Miranda
(guitarra solo), José Francisco Marques (guitarra base), Flávio Roberto (baixo),
Júnior Gomes (banjo) e André Duarte (bateria).
Hoje, após algumas trocas de mensagens escritas e de voz, por
WhatsApp, pedi ao Zé Francisco para que escrevesse uma nota, ou mesmo um
artigo, sobre o seu evento virtual, para que eu o divulgasse em meu blog.
Depois, resolvi acolhê-lo em meu Diário destes reclusos tempos covidianos, que venho
publicando na internet, mas espero publicar no formato impresso, quando passar
o período crítico da pandemia. Portanto, segue adiante o texto do caro amigo,
ao qual, no final, acrescentarei alguns comentários, que julgue pertinentes:
“Criamos o grupo de guitarradas em Campo Maior, no intuito de
mostrar aos que ainda não conhecem esse ritmo contagiante. A ideia partiu do
Dr. Edmilson de Miranda (musicista), que voltando de Brasília para desfrutar
merecida aposentadoria no campo da medicina, trouxe em sua bagagem musical para
a terrinha, essa novidade.
A humildade de Mestre Vieira, criador das guitarradas (mistura
de chorinho com ritmos caribenhos como a cúmbia, salsa, merengue), foi sempre
em sua vida marca registrada. Ele compôs 16 álbuns com várias músicas de
sucesso.
De início, relutou em levar a sua arte para outras partes do
país. Fato que de certa forma adiaria a sua visibilidade por determinado tempo,
visto que o amor por sua terra natal, Barcarena no Pará, parecia falar mais
alto. Porém, tamanho talento não poderia viver para sempre recluso ao grande
público. Assim sendo, partiu literalmente para o mundo. Tocou em diversos países da Europa e Estados
Unidos. Na Escócia, recebeu o título de maior guitarrista do mundo.
O Brasil não foi campeão na copa da Alemanha, porém Mestre
Vieira brilhou ao tocar na abertura do mundial de futebol. Recentemente suas
músicas são bem tocadas nos EUA e Austrália. Ele teve músicas tocadas em
comercias, telenovelas, filmes, etc. O Mestre faleceu em 2018, como um
instrumentista reconhecido internacionalmente. Seu legado jamais será
esquecido. Seus filhos, Valdecir Vieira, Wilson Vieira e Waldir Vieira
continuam com a banda e pretendem fazer um memorial com os objetos e músicas
deixados pelo Mestre das Guitarradas.
Tentamos ao máximo
difundir suas músicas, inclusive tocando várias delas, assim como outros
músicos Brasil a fora, que compreenderam a importância de Vieira dentro da
música brasileira. Entre os profissionais temos os mestres das guitarradas:
Aldo Sena, Curica, Pio Lobato, Solano, Bimartins (que mantém um substancial
canal no You Tube, abordando o tema guitarradas), entre outros.
Somos um grupo musical amador de apaixonados pelas
GUITARRADAS.”
Logo de início notei que as músicas eram de alta qualidade,
harmoniosas, de rico ritmo, de perfeito arranjo. Senti que a banda havia
ensaiado todas as músicas à exaustão, porque não havia vacilo nem titubeios,
nem necessidade de consulta a papéis pautados. Todos os instrumentistas bem
sabiam o que estavam fazendo, e deram conta do recado com maestria. Posso dizer
que foram exímios na execução de todas as músicas que ouvi.
Pelo que ouvi e li, o Mestre Vieira (Joaquim de Lima Vieira),
nascido em Barcarena, em 29 de outubro de 1934, e nesta cidade paraense
falecido em 2 de fevereiro de 2018, foi o criador das ditas Guitarradas, em
que misturou a lambada e o carimbó do Pará a vários ritmos caribenhos como cúmbia,
mambo, salsa e merengue. Tudo com muita arte, muita criatividade e beleza rítmica.
Não bastasse tudo isso, foi ainda um exímio guitarrista, tendo merecido o
título, conferido pela Escócia, como enfatizou Zé Francisco no seu texto acima,
de o maior do mundo.
A live, segundo soube, teve uma enorme assistência. Vários
espectadores virtuais mandaram mensagens entusiasmadas de aplauso e incentivo,
tanto por escrito, como através de eloquentes figurinhas, que falavam mais do
que as próprias palavras. Eu mesmo expressei que a execução era de altíssima
voltagem e que o repertório era composto de canções escolhidas com todo cuidado
e rigor.
Numa de minhas mensagens, disse que o Zé Francisco estava se
transformando em um homem literalmente de sete instrumentos. Sim, porque
executa com invulgar talento teclado, violão, cavaquinho, guitarra e um outro
esquisito instrumento de cordas, cujo nome não recordo, fora outros que
desconheço, além dos destinados à percussão.
Menino, não!
Carlos Rubem
Rita de Cássia Campos, minha tia materna, era professora por vocação. Fez diversos cursos de aperfeiçoamento em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Teresina e noutras cidades. Autoridades do ensino público, como os Professores A. Tito Filho, Wall Ferraz e Baldoíno Barbosa, lhe deram muito apoio nessa empreitada, sabiam da sua dedicação, compromisso educacional.
Depois que exerceu seu mister no Grupo Escolar Armando Burlamaqui, tornou-se Supervisora de Ensino ao tempo em que lecionava Psicologia no Curso de Magistério da Escola Normal de Oeiras. Era muito versátil!
Menino curioso, gostava de ler os cadernos ilustrativos e provas das alunas de Ritinha que levava para casa visando análise e atribuição de notas. Achava tudo bonito, instigante!
Há pouco tempo me relembraram um episódio relatado pela Ritinha, em forma de alegoria, a cerca de um determinado assunto, na sala de aula. Disse que eu, certa feita, estava escondido debaixo da mesa de refeição, na casa do vovô Joel, enquanto os adultos almoçavam. Notaram a minha ausência. Em dado momento, sentiram um mal cheiro. Havia soltado um pum... A Mãe Ice (Alice), desconfiada, descobriu onde me encontrava:
— Sai daí, menino!
— Menino não, cachorro, respondi.
Hoje (27.08.2029), é o Dia do Psicólogo. Mais do que nunca faz-se necessário a presença e a participação deste profissional para se obter o equilíbrio social, valorização da vida.
Fico muito honrado ser pai de uma Psicóloga, a doce Letícia Lopes Reis, residente em Teresina. Especializada na compreensão do fenômeno relacionado ao envelhecimento humano.
Em nome dela, cumprimento a todos que exercem esta atividade que muito contribui para tornarmos mais tolerantes, integrados no meio familiar, aceitos no grupos sociais.
Salve o Psicólogo!
Antiga igreja de Santo Antônio do Surubim |
As praças de Campo Maior
Celson Chaves
Professor e historiador
A instalação da vila de Campo Maior está ligada ao processo de ocupação e exploração das terras do vale do Longá pelos portugueses, no final do século XVIII. A localização da sede da povoação foi estabelecida por Bernardo de Carvalho e Aguiar, ao construir numa pequena elevação plana, às margens do rio Surubim, uma linda igrejinha em homenagem a Santo Antônio de Pádua.
Largo ou praça e a primeira Igreja de Santo Antônio. Década de 1934.
A segunda Igreja de Santo Antônio. Tornou-se Catedral Matriz da Diocese de Campo Maior
Área urbana nasceu acanhada e
assim permaneceu por todo o século XIX. Aos poucos, ao redor da igrejinha,
circundado por ruas e casas rústicas, formou-se um lindo campo aberto, que no
transcorrer dos séculos, recebeu diversas denominações.
Praça Bona Primo. À direita na foto, o antigo prédio da Prefeitura Municipal e do Fórum. Década de 1930.
Praça Bona Primo, sem pavimentação e poste de madeira. Ao fundo, o prédio da Câmara Municipal. Década de 1940. Foto Décio Bona.
No século XIX, a área do imenso
campo aberto, frente a igreja, recebeu naturalmente o nome de Largo da Matriz
ou Largo da Igreja. Em 04 de julho de 1913, ganhou sua primeira denominação
oficial como praça Marechal Pires Ferreira, na gestão do intendente coronel
Emygdio Genuíno de Oliveira. Depois, em 05 de outubro de 1930, passa a
denominar-se praça João Pessoa, na administração do prefeito Francisco Alves
Cavalcante. E assim permaneceu durante toda a Era Vargas (1930-1945).
O paraibano João Pessoa foi candidato à vice-presidente em 1930 na chapa encabeçada por Getúlio Vargas. Seu assassinato em Recife foi considerado uma das causas políticas para a Revolução de 1930. Francisco Alves Cavalcante foi agraciado com a nomeação para prefeito de Campo Maior pelo novo regime. Ele tomou o cargo de chefe do executivo do seu arquirrival o médico Sigefredo Pacheco, eleito pelo voto popular. Em gratidão ao cargo de prefeito, Chico Alves, passou a nomear algumas vias e órgãos públicos com nome que remetem ao movimento getulista.
Com o fim do Estado Novo (1945), a fase ditatorial da chamada Era Vargas, o Brasil volta à normalidade democrática, e em 09 de julho de 1948, o prefeito Waldeck Bona, muda mais uma vez o nome da praça, colocando o nome do seu avô: Antônio José Nunes Bona Primo.
Esse nome permanece até os dias de hoje, apesar de terem tentado alterar mais uma vez o nome da praça. O plano foi obstruído na Câmara pela força e prestígio da família Bona, que descobriu o projeto do vereador Francisco Pedro Barros intencionado a modificar o nome da praça Bona Primo para Santo Antônio. A família se mobilizou politicamente para derrubar o projeto de Lei do vereador Chico Barros e conseguiu.iu pela culatra – A saga de Lívio Lopes Castelo Branco e Silva
A praça Bona Primo centralizava tudo. Era centro comercial, residencial e administrativo da vila. No século XIX, além da Igreja Matriz e da Câmara, o logradouro abrigava o Tribunal do Júri, a Cadeia Velha e o Quartel do Regimento de Cavalaria, depois Guarda Nacional. O primeiro Mercado Público de Campo Maior, criado na década de 1850, era o único prédio público localizado fora do eixo urbano da Praça Bona Primo.
Praça Bona Primo, pavimentação na gestão de Raimundo Nonato Monteiro de Santana. Década de 1950. Fonte: IBGE.
Na passagem do século XIX ao XX,
a área urbana da cidade se expande até ao Largo da Igreja do Rosário. Campo
Maior passa a possuir três praças: Bona Primo e Rui Barbosa, em torno da Igreja
de Santo Antônio; e a do Rosário, em torno da Igreja de mesmo nome. Um pouco
afastado das três praças foi construído, na década de 1850, o primeiro
cemitério urbano da cidade, pertencente a Irmandade de Santo Antônio.
Centro Histórico de Campo Maior.
Destaque para a praça Bona Primo (antigo Largo da Matriz) e a Igreja de Santo
Antônio. O traçado atual da praça Bona Primo, deu-se na reforma promovida na
gestão do prefeito professor Raimundinho Andrade. Olhando do alto percebemos
que a praça tomou a forma de uma flor.
A praça Rui Barbosa, além de centrar parte do fluxo comercial da cidade, também foi o principal palco de eventos sociais, principalmente comícios políticos, muitos dos quais acabavam em confusões, brigas e mortes. Crônicas jornalísticas e a literatura de cunho memorialista estão repletas de relatos sobre episódios trágicos ocorridos na Rui Barbosa por conta de campanhas eleitorais.
Praça Rui Barbosa, construída na gestão do prefeito Francisco Alves Cavalcante-1933.
Outro aspecto urbano da praça rui
Barbosa.
A praça Dr. Miguel Rosa (1914),
primeira denominação da atual Rui Barbosa, foi bastante relatada na literatura
de memória. Os escritores campo-maiorenses a descrevem do tempo de suas
experiências juvenis. A pequena praça Rui Barbosa foi por longas décadas o
principal point de encontro de jovens e enamorados. Havia todo um “ritual” em
torno do coreto da praça para os solteiros que desejam encontrar um parceiro.
A Rui Barbosa não era apenas local de passeios e encontros de jovens, mas também no em torno situava lojas, hotéis, pensões e bares bastante frequentados. O Bar Santo Antônio, esquina com a Rui Barbosa, era a taberna onde reunia políticos e personalidades da cidade. Muita boemia regrada a bebidas e cigarros ao tira gosto de muitas conversas. Algumas brigas ocorriam por contam de acaloradas discussões políticas. A Rui Barbosa correspondia a parte do velho centro comercial da cidade.
A praça da Igreja do Rosário, ao contrário da Bona Primo e Rui Barbosa, ficou esquecida pelas crônicas provincianas, sendo lembrada apenas em algumas obras da nossa historiografia. Porém, de modo vago. A praça do Rosário, mesmo central, não conseguiu a mesma visibilidade e notoriedade como as praças Bona Primo e Rui Barbosa.
Praça Luís Miranda e o complexo administrativo da prefeitura municipal, inaugurado 08 de maio de 1976.
Na antiga praça do Centenário,
depois Floriano Peixoto, e hoje Luís Miranda (1948), foi construído o segundo
Mercado Público da história de Campo Maior, em 1923, na gestão do intendente
municipal Luís Rodrigues de Miranda. Em 1932, o Mercado Velho passa por uma
ampla reforma na gestão do prefeito Francisco Alves Cavalcante tornando mais
atraente aos olhos. Na administração do prefeito Raimundo Nonato Monteiro de
Santana, o edifício recebeu a última melhoria: construção de um anexo predial
para a comercialização de frutas (1952). Depois foi demolido, na gestão do
prefeito Dácio Bona (1973-1977), para a construção do moderno complexo
administrativo da prefeitura municipal.
As praças dão aspectos especiais a qualquer cidade. Local privilegiado para os jovens e para as flores. Ela nos remete a nostalgia de tempos passados. Cada geração se apropria de um espaço que deixa seus melhores momentos e páginas de histórias ritualizadas nas memórias do cidadão de hoje e no personagem de ontem.
Aspecto moderno da praça Dr. Antônio Cícero Correia Lima, primeira denominação da atual praça Valdir Fortes (antiga praça da “Radar”). Construída na administração do ex-prefeito Joãozinho Félix.
Atual e moderna praça Valdir Forte, antiga Radar. Hoje abriga um complexo de lojas e bares e um hotel. Construído na gestão do ex-prefeito Joãozinho Félix. Quem da antiga churrascaria da Radar.Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Complexo_Cultural.jpg
Praça Francisco Alves Cavalcante, conhecida popularmente como praça da Rodoviária ou antiga praça do Relógio recheada de mistérios. Hoje se encontra totalmente desfigurada por conta dos inúmeros trailers.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Obelisco_do_rel%C3%B3gio_p%C3%BAblico_de_CM.JPG
Obelisco do Relógio Público da
praça Francisco Alves Cavalcante praça da Rodoviária). O Relógio, símbolo de
uma época gloriosa, ainda permanece de “pé”, mesmo não funcionando há décadas.
Efígie do Físico Albert Einstein. Praça Estado de Israel. Conjunto Agenor Melo. Gestão Marco Bona.
Praça Antônio Andrade, às margens do Açude Grande de Campo Maior. Bairro Nossa Senhora de Fátima. Assim como a praça da Rodoviária, a praça Antônio Andrade também encontra-se desfigurado em sua paisagem por conta dos inúmeros trailers.
Fonte: Estado da Arte/Google |
DE LÍDER A MÁRTIR - 24 DE AGOSTO DE 1954!
Jônathas de Barros Nunes
Membro da Academia Piauiense de Letras
O BRASIL, em instantes críticos de sua história, tem exigido de alguns de seus filhos, as formas mais desumanas, de desagravo à alma da Nação brasileira, quando ela é vilipendiada por forças nocivas ou estranhas. Foi assim em agosto de 1954.
A crise politico-militar brasileira
se aprofunda com o assassinato do Major
da Ativa da Aeronáutica Rubens Vaz, ocorrido em cinco de agosto, em
companhia do Senhor Carlos Lacerda, de quem era segurança. As primeiras
conclusões do IPM instaurado na Base
Aérea do Galeão apontavam o envolvimento direto de elementos da Guarda pessoal do
Presidente Vargas no crime. Oficiais Generais
da Aeronáutica, arvorando-se em donos da situação no Rio de Janeiro, lançam
ultimato exigindo a renúncia do Presidente Vargas. Na esteira da Aeronáutica, o
Almirantado majoritariamente também se
manifesta pela renúncia do Presidente. Na raiz de tudo o ódio explosivo alimentado pelas duas derrotas eleitorais consecutivas
impostas por Getúlio à candidatura udenista do lider da Aeronáutica, Brigadeiro
Eduardo Gomes. Este Oficial exercia grande liderança na Força Aérea Brasileira.
No pano de fundo emerge a figura de Carlos
Lacerda, líder radical da oposição nacional a Getúlio. Extremista de Direita,
radical e incendiário, inoculou na mente de umas duas centenas de Oficiais das
Forças Armadas, a firme convicção de que o Brasil estava dominado pela
corrupção e pelo comunismo, sendo Getúllio o grande responsável por essa
situação. Não media as consequências dos
ataques por ele desfechados contra a pessoa e a família do Presidente. Uma
espécie de Bolsonaro da época, mas intelectualmente anos-luz mais preparado. E
o Exército?
O Ministro da Guerra, General
Zenóbio da Costa, veterano da FEB, sentiu-se entre a “cruz e a espada”. De um
lado, sua fidelidade ao Presidente constitucionalmente eleito. E de outro lado,
a posição dos colegas de farda da
Aeronáutica e da Marinha, fanatizados pelo ódio udenista e lacerdista a tudo
que representava o getulismo. Com a Vila
Militar em prontidão rigorosa, sob o
Comando dos Generais Nelson de Melo e Odilio
Denys, à espera das decisões do Ministro Zenóbio da Costa, este na reunião ministerial
no Palácio do Catete(que se prolonga pela noite adentro), assim se manifesta: “Presidente,
o Exército está com a Constituição, está com o Senhor. Agora Presidente, muita gente tá
achando que talvez seja bom o Senhor tirar uma licença.” O velho Getúlio(GêGê) entendeu
tudo! E foi contundente na resposta :
“Não renuncio!...E se esses amotinados vierem até a porta do Catete, daqui só
me levarão morto!” Pouco depois, o General Zenóbio deixa a reunião do
Ministério e se dirige à Vila Militar, com o Presidente ainda em plena reunião
ministerial. Ao deixar o Catete, o
General é indagado por um repórter da Folha da Manhã, hoje Folha de São Paulo:
Ministro, a situação agora parece que está normal, não é?
“Parece não, normalíssima. Enquanto
eu for Ministro da Guerra não haverá golpe nem desrespeito à Constituição. A
ordem será mantida e a Constituição respeitada”.
Mas ontem, Ministro, as coisas
estavam pretas, não acha?
“Preta por que?” responde o
Ministro, alteando a voz. “Não tenho medo de cara feia. Já lutei na Itália a
frente de meus comandados e nunca tive medo. Pode a nação ficar tranquila que o
Exército saberá cumprir o seu dever. E quando falo, não o faço em meu nome, mas
no do Exército que está coeso para defender a Constituição”.
Entrementes, os militares
amotinados em assembleia permanente no Clube da Aeronáutica, recusam, claro e bom
som, até mesmo uma licença do Presidente.
Às 08 horas e 35 minutos de 24 de agosto de 1954, o Presidente Getúlio
Vargas pressente a chegada iminente dos protagonistas da República do Galeão! Em seu quarto, no Palácio do Catete, toma a
pistola automática e atira contra o
peito. Consumatum est. Como rastilho de
pólvora, os “Miseráveis” de Vitor Hugo”,
nesse lado do Atlântico, observam no céu
cinzento e triste daquela manhã de agosto carioca, raios inesperados cortando o céu pra todo lado com a mensagem mais triste que o
canto da Acauã... “mataram Getúlio!” Num piscar de olhos a região do Catete,
Largo do Machado, Flamengo Passeio Público, Cinelândia, estavam com dezenas e
dezenas de milhares de pessoas, a imensa maioria formada pelos “miseráveis de
Vitor Hugo” descendo das favelas dos morros cariocas. Praticamente todos os
efetivos do Exército e da polícia tiveram que ser mobilizados para tentar conter
os justos excessos do estado de comoção da população com o sacrifício de Getúlio. O Senhor Carlos Lacerda,
um dos principais alvos da ira popular, ao que se soube foi se refugiar no
recinto da República do Galeão.
Certa feita, quando servia na Escola
de Material Bélico do Exército, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, de 1961 a
1964, meu Comandante, o então Coronel Vicente de Paulo Dale Coutinho comentando a situação do
seu grupo politico-militar, radicalmente
anti-getúlio, dentro do Exército, por sinal muito bem articulado, comentou:
“...pois é, em 54, estava tudo preparado
para a gente assumir tudo por dez anos, mas ai o Getúlio se suicida e estragou
tudo.”
O silêncio de Getúlio não terá sido em vão! Até no instante supremo, conseguiu dar uma rasteira nos inimigos da Pátria com incrível maestria.
O hilário Bamba
Carlos Rubem
Juarez Hilarião Cunha, vulgo Bamba, era meio amalucado. Agregado do casal Socorro e Abdias Oliveira, que foi arrendatário do Café Oeiras e depois proprietário do restaurante Esplanada e do Hotel Velha Cap.
Bamba era alcoólatra, passa temporada em abstinência. Mas, quando malinava nos vidros, não parava de beber, ia à lona. Maltrapilho, juntava-se aos bebuns da cidade. Deu muito espetáculo.
Ao influxo dos vapores etílicos, qualquer coisa que se lhe dizia, ficava amofinado. Língua ferina, gostava de jogar indiretas, sempre arrancando risos dos circunstantes.
Uma vez quando caminhava nas calçadas da Farmácia Popular que pertencia ao meu pai, Ditinho, reparou que o então prefeito Juarez Tapety estava conversando no interior daquele estabelecimento comercial. Neste momento, o Juarez de Evinha, negro do Rosário, galhofeiro, disparou-lhe uma piada. Com o dedo polegar esquerdo apontado para o alcaide, sentenciou: — Nunca vi um Juarez prestar!
Fumava cigarro pau-ronca. Caprichava no corte alemão do seu cabelo. A molecada gostava de dar tapa na sua região parietal de forma dissimulada. — Quero saber quem bateu na minha cabeça, indagava atônito.
Reagindo a essa brincadeira de mal gosto ocorrida no Calçadão do Visconde, Bamba, involuntariamente, quase derrubou da cadeira um cliente de outro tipo popular, o Mudo Engraxate, enquanto este desenvolvia o seu ofício. Houve uma bruta e surpreendente discussão entre ambos. O Mudo gesticulava freneticamente, tentava falar, ou melhor, grunhia demonstrando o seu descontentamento. Os gozadores fizeram a festa. Forte, sentindo-se aviltado, Bamba se atracou com o Mudo que o estocou de leve com um cutelo. Transtornado, propalava que estava morto!
Depois deste fato, comprou uma peixeira de 12 polegadas embainhada. Aonde chegava, fazia o maior alarido. Batia a mão na cintura, bravateando: — Cabo de chifre falará e não falhará. Vou matar o Mudo, meu inimigo!
Quando conversava com alguém que assentia com seu pensamento, gritava de satisfação: — Dou valor, meu filhinho! Bonito de se vê narrando um gol do seu time de coração, o Palmeiras Futebol Club. Desentoado, cantarolava uma canção predileta. Gostava de dizer que havia morado na Rua do Hospício, no Recife. Muito se orgulhava de sua tez. — Sou o branquinho de Pedro Cunha (pai), jactava-se!
Só sabia ferrar o nome. Era uma luta para votar. Não sabia escrever o numeral 1106 correspondente ao seu xará, candidato a Deputado Estadual. Tentava grafar, mas assentava apenas uns garranchos. O seu chefe Abdias Oliveira, já nervoso com a “burrice” do Bamba, teve uma genial ideia para salvar o sufrágio do seu fâmulo. Disse-lhe escrevesse apenas o seu prenome na cédula eleitoral. — E se eu botar o Hilarião, serve?, indagou ao seu interlocutor que ficou apoplético mais ainda.
Com o mano João formava uma dupla interessante. Moravam com Letícia Cunha, tia solteira e palradora. Um dia, na hora do almoço, chegou em casa e encontrou um prato feito sobre a mesa. Comia bem.
— De quem é este pratarrão, perguntou a tia pensando que fosse do seu irmão.
— É seu...
— Este pratarrim?
No restaurante Esplanada havia um local reservado ao carteado. Jogava-se pif-paf regado a muita cerveja. Um belo dia o banqueiro da jogatina, cansado, quis se recolher um pouco. Ordenou que Bamba vigiasse uma manta de carne-de-sol estendida para secar num varal do saguão. Preveniu-lhe que tomasse cuidado contra as investidas dos urubus.
Passado algum tempo, o velho Abdias, curtindo bruta ressaca, notou o sumiço da carne. Chamou-lhe às fala. Passou-lhe boa descompostura.
— Eu fechei o portão do quintal, justificou-se.
— Imbecil, os urubus atacam por cima, esbravejou o patrão.
São muitas as passagens protagonizadas por Bamba. São relembradas, com muita alegria, até hoje. Era muito engraçado. Gente Boa!
Faleceu na madrugada do dia 15 de novembro de 1978, data de uma eleição. Foi encontrado desfalecido com uma pancada na cabeça. Era epilético. Há quem diga que foi assassinado. Um mistério...
Universitário
defende mais produções audiovisuais sobre a história de Parnaíba
Fonte: Jornalista Pádua Marques
Preocupado com a pouca ou nenhuma produção audiovisual sobre a história de Parnaíba, Nailton da Silva Rodrigues, estudante do curso de História no campus Alves de Oliveira, da Universidade Estadual do Piauí, acredita que o momento comporta a produção e realização de documentários.
Com a experiência de quem
no terceiro ano do ensino médio em 2019 fez o documentário Brasil, País de
Cotas, na Unidade Escolar Edson da Paz Cunha e considerado o melhor entre os
trabalhos apresentados, Nailton Rodrigues diz que há necessidade de se fazerem
mais documentários sobre a história da construção social, econômica e cívica de
Parnaíba.
Ainda segundo o hoje
universitário Nailton Rodrigues, este material de divulgação da cidade feito em
audiovisual deve ficar além dos livros. Seria uma forma de alavancar o
interesse coletivo e minimizar o preconceito que se faz sobre a cidade e seus
protagonistas históricos.
Medalhista de prata e de
bronze na Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa em 2016, na categoria
crônicas, Nailton Rodrigues gosta de poesia e escreve regularmente para o
portal Opiaguionline. Sobre a vida escolar,
ainda não decidiu, mas pensa em trocar o curso de História pelo de Psicologia. Sobre o documentário, diz que é uma ideia. “E
eu buscarei fazer com que aconteça”, concluiu.
Cinco
desejos e cinco pecados
Pádua Marques
Romancista, contista e cronista
De longe e perto da porta de entrada seu Miguel Ferreira ficou olhando o movimento de casais de namorados e maridos levando suas mulheres pra mais aquela sessão de cinema no Edén, mas sem desgrudar os olhos de cinco sujeitos que desde cedo estavam rondando pelas calçadas das casas comerciais vizinhas da praça da matriz em Parnaíba. Eram eles, Raimundo Celestino, o Mundico das Vassouras, Vicente Moeda, Dominguinho, Natim da Burra e Nereu da Coroa.
Era um sábado daquele
outubro de 1937, dia de boa bilheteria e pelo visto eles estavam num pé e
noutro prontos pra entrar no cinema, talvez até sem pagar o bilhete. Mas os
olhos e os ouvidos do sírio Miguel Carcamano estavam bem abertos pra tudo que
era canto. Aquilo não era certo, tendo que ficar de cuidado porque aqueles
sujeitos andavam, fazia tempo, tentando invadir seu negócio. O primeiro era
Raimundo Celestino, o Mundico das Vassouras.
Mundico das Vassouras,
nascido nos Morros da Mariana, queria ter dinheiro pra um dia ir ao Cine Éden,
todo com a melhor roupa, um paletó ganho de gente rica, calçado de sapatos e
com um lenço no bolso, feito seu James Clark. Achava bonito todos aqueles
homens importantes de Parnaíba, andando pela praça da matriz, todos bem
vestidos, sapatos lustrados. Quando vendia suas vassouras de palha de carnaúba,
costumava, dependendo da cara do freguês, aumentar o preço.
Outro que não saiu dos
olhos de Miguel Carcamano foi Vicente Moeda. Era engraxate ali perto da firma
de seu Celso Nunes, no canto na praça da matriz, perto do Banco do Brasil. E
que dizia pra todo mundo ouvir, desde o comércio de seu Bembém, desde a Duque
de Caxias até o Mercado Central, que seu maior desejo era um dia engraxar de
graça os sapatos de doutor Mirócles Veras, o prefeito. E de um dia comer
galinha assada. Rico, na sua cabeça, só devia comer galinha assada. Tinha um
sestro, o de viver rangendo os dentes. Aquilo deixava muito freguês incomodado.
Mais lá na frente, perto
do coreto e no meio da praça, estava um rapazinho branco, sujo, de olhos
remelentos, amparado por uma muleta por causa do pé esquerdo tordo pra dentro,
vestido de calça de mescla e de camisa de botões, muito curta, quase deixando a
barriga de fora. Domingos, o Dominguinho, não tinha família, veio numa caravana
de cearenses e entrou em Parnaíba vindo pelo Camocim.
Um dia quis ir conhecer o
Campo de Aviação do Catanduvas. Foi de trem e no meio de tarde, sol quente. Em
lá chegando, no meio daquela multidão de gente, ele aleijado, foi empurrado pra
cá e pra lá, se largou no chão e acabou todo mijado. Vivia de fazer um mandado
pra um e outro entre a praça e o mercado e era quando ganhava alguma moeda.
Dinheiro que gastava comprando cigarro. Mas muita gente tinha Domingos com o
defeito de pegar no alheio.
Outro que estava na lista
de Miguel Ferreira naquela boca de noite era Natim da Burra, sonso, voz fanha, um
botador de água, nascido no Labino. Raimundo Nonato da Assunção gostava de aos
sábados e domingos, bolso cheio, andar perfumado. Dizia que era pra ser aceito
pelas mulheres da vida na Coroa e dos Tucuns. Um dia foi preso a mando de
Ademar Neves porque achou de acordar todos os doentes da Santa Casa de
Misericórdia, altas horas, quando passou raspando os tamancos na parede. Passou
dois dias dormindo naquele inferno de delegacia nos Tucuns e dando sangue pra
muriçocas. Foi solto a pedido de dona Genésia, uma mulher da alta sociedade.
Mas de todos os
anarquistas, arruaceiros, vagabundos e sem origem e que estavam empestando a
praça da Graça e prontos pra invadir o Cine Éden naquela noite, o pior deles
era Nereu. Sujeito de seus vinte e dois anos, parrudo, nem branco e nem negro,
sempre de faca curta embainhada por dento da calça. Diziam uns que havia matado
um homem, coisa de uns sete anos, ainda quase menino, pra os lados da Coroa,
por causa de uma aposta de jogo de damas e tendo mulher pelo meio. Mas era
coisa negada por outros.
Miguel Carcamano não queria sonhar com Nereu da Coroa, aquele rapaz mal encarado e que tinha como desejo um dia trabalhar numa padaria pra comer pão quentinho toda hora, até ficar empanzinado. Iria tomar garapa de cana no Mercado Central ou lá pra os lados de seu Bembém. Nereu, quando não tinha ninguém por perto e todo mundo já estando dentro do cinema, vinha e mijava no canto da parede só por perversidade de zangar o sírio. O dono do cinema reclamava, xingava, ameaçava polícia, até chamar doutor Mirócles queria.
Será amanhã, sexta-feira, dia 21, a partir das 19 horas, a live, na verdade um verdadeiro sarau lítero-musical, da magistratura piauiense, com apoio da AMAPI e da EJUD.
A parte musical ficará a cargo da Banda Jus Som – o som da
Justiça, sob a liderança do juiz e cantor Sebastião Firmino, com a participação
especial do juiz Luís Carlos Barbosa, o mago das cordas, homem literalmente de mais
de sete instrumentos, entre os quais violão, violino, cavaquinho, bandolim...
Também participarão como cantoras Irecê Santana e Fátima Lima.
Participarão da parte poética, cada um recitando poemas de
sua autoria, os magistrados e poetas Sebastião Firmino, Tânia Regina, Raimundo
Macau, Antônio Noleto, Joaquim Santana (Des.), José James Gomes Pereira (Des.)
e Elmar Carvalho.
Nos vídeos, que terão o título geral de "O Martelo e a Lira: Poeta e Magistrados", e serão inseridos em cada pausa musical, os magistrados e poetas aparecem dizendo seus poemas, com a inserção de imagens ilustrativas de seu conteúdo. A edição dos videopoemas foi realizada pelo professor, poeta, contista e cronista Claucio Ciarlini, que o fez com exemplar maestria.
ASSISTA EM: youtube.com/bandajussom
Dílson, Elmar e Claucio Fotomontagem: Claucio Ciarlini |
DIÁRIO
[Triálogo: Dílson, Elmar e Claucio comentam a Literatura
Parnaibana]
Elmar Carvalho
20/08/2020
Após mais de quatro dias tendo acessos de uma espécie de
tosse braba, fui no dia 4 deste mês me consultar com um otorrinolaringologista,
que solicitou um exame para detecção do novo coronavírus, que fiz no dia
seguinte. O resultado foi negativo. Eu havia feito uma tomografia no dia
anterior. Com esses dados, o médico me prescreveu um tratamento que segui à
risca. Como a tosse continuasse sem ceder, voltei a me consultar com ele.
Fiz novos exames e testagens, com bons resultados, no sentido
de que não estava acometido pela covid-19. Finalmente, após cerca de vinte dias
de tortura, a tosse começou a ficar mais branda. De forma que, somente hoje,
tive ânimo para fazer este triálogo, elaborado sem nenhum planejamento e
premeditação através do WhatsApp, entre o poeta, romancista e professor Dílson
Lages Monteiro, este diarista e o escritor, poeta e professor Claucio Ciarlini.
Fiz umas pequeninas correções, adaptações e tênues costuras,
em que tentei alinhavar os textos, para que o conjunto não ficasse como um “samba
do crioulo doido”, ou afrodescendente, se o leitor assim o preferir.
Entretanto, o conteúdo dos textos, com exceção da revisão, meramente
gramatical, quase sempre apenas ortográfica, é fiel ao que cada autor escreveu,
como teria que ser.
No grupo de WhatsApp da Academia Piauiense de Letras
encontrei a seguinte postagem do confrade e amigo Dílson Lages Monteiro, salvo
engano datada do dia 15/08/20:
“Parnaíba, que aniversaria, tem bela história de ativa
atuação de agentes culturais. No passado, Almanaque da Parnaíba, Inovação. A
vida literária de Parnaíba está bem representada em Literatura, imprensa e vida
literária em Parnaíba.
Hoje essa atuação continua vigorosa de modo ímpar. De
Parnaíba, chegam-nos os únicos jornais literários entre nós: Bembém e Piaguí,
além do mais vigoroso centro cultural em atividade no Estado hoje, fruto do
protagonismo e trabalho do acadêmico Valdeci Cavalcante, no belo Sesc/Caixeiral.
Viva Parnaíba por sua fascinante energia!”
Achei por bem cravar a seguinte resposta, na mesma data acima
indicada:
Sendo eu um "parnaibano" por título de cidadania,
devoção e vocação, venho dizer que fiquei feliz com suas palavras, e dizer que
sou testemunha do que você afirma, até porque tenho sido um participante, em
menor ou maior grau, dos movimentos e veículos que você cita, inclusive dos
livros de contos (editado) e poemas (em fase de editoração) editados pelo
professor Claucio Ciarlini, dinâmico líder dessa geração mais jovem que a
minha, que já chamo de velha guarda.
Dílson não se fez esperar em sua resposta:
“Fico feliz, confrade Elmar, em confirmar meu ponto de vista
em sua vivência real e não apenas de leitura e observação, como é a minha. A
história dos dois jornais por si já demanda um profundo ensaio e nos põe a
questionar que ambiência existe em Parnaíba que dá fôlego a essas
publicações. Em elas existindo,
existirão também novos literatos, novos historiadores, para além da vida
acadêmica universitária.
Saí há pouco da leitura de Literatura, imprensa e vida
literária em Parnaíba, de Daniel Castelo B. Ciarlini, livro cuja leitura eu
iniciara em outro momento e não concluída por força das obrigações do
magistério privado, agora li e com entusiasmo... Só cresceu minha admiração
pela energia que emana do idealismo dessa cidade.”
Quase me senti na obrigação de lhe dar a seguinte resposta:
O Daniel é um notável escritor e intelectual, jovem de muitas
e profundas leituras. Sem dúvida é versado em teoria literária, e já vem se
firmando como um de nossos principais críticos de nossa literatura, bem como
também já prestou relevante serviço na história da literatura piauiense, e da
parnaibana, mais especificamente.
Em seguida, copiei os textos acima e os encaminhei ao
professor e poeta Claucio Ciarlini, com a seguinte observação: “Como você pode
perceber foi uma espécie de diálogo entre o Dílson e eu. Talvez, se fosse feita
uma ‘costura’ de alinhavo, dessem um texto publicável.” Publicável, claro, no
sentido de digno de publicação por eventual qualidade no conteúdo, e não pelo
calão, que pudesse ter ou não ter.
Depois, em vários e sucessivos momentos, mas todos do dia 15
do corrente mês, o Claucio me foi enviando as seguintes respostas, que
aglutinei nos seguintes parágrafos, por mim abertos:
“Bom dia, meu amigo. Fico muito feliz com a menção de meu
nome por você e Dílson. Não sabia que ele era da APL. Apesar de acompanhar há
algum tempo o portal Entretextos, o conheci
há poucos meses e intensificamos o contato nas últimas semanas.
Mas gostei tanto dele, que o convidei ontem de manhã para mediar
nosso lançamento virtual do Poemas entre Gerações no fim do ano. Que,
inclusive, será realizado em 4 lives. Depois lhe explicarei em áudio.
Estive até conversando com Dílson de minha intenção para um
segundo volume daqui há uns anos do projeto Entre Gerações, que é de expandir,
ou seja, convocar autores de várias cidades do Piauí e até alguns de outras
localidades. No que seria o volume II de uma coletânea de Contos, outra de
Poemas e findando com Crônicas. Tal qual estamos fazendo agora, mas que o foco
neste primeiro volume foi essencialmente Parnaíba.”
O Claucio, graças a seu dinamismo, liderança e capacidade de
planejamento já havia organizado Versania - Coletânea Poética, de 2017. Essa
obra enfeixou 22 poetas, que estrearam nas páginas de O Piaguí, ao longo de 10
anos. Ela teve uma segunda edição, com o mesmo conteúdo da primeira, porém com revisão mais aprimorada e capa alternativa.
Parafraseando o que se disse outrora do grande educador Anísio Teixeira, eu diria que o Claucio Ciarlini, pelo seu dinamismo e espírito empreendedor, pela sua notável vontade de realizar, de promover a edição de livros, é um intelectual que pensa também com as mãos.