sexta-feira, 30 de abril de 2021

Escritor Parnaibano participa do Livro Literatura e Cultura em Tempos de Pandemia

 



Escritor Parnaibano será anunciado como um dos autores do Livro Literatura e Cultura em Tempos de Pandemia, no 5 Festival Internacional de Lisboa

 

Marciano Gualberto, escritor Parnaibano, foi o primeiro Brasileiro com poesia selecionada para compor a obra “Literatura e Cultura em Tempos de Pandemia” representando não somente seu Estado e Cidade, mas também seu País, através da poesia Nordestina intitulada “Olhar sobre as Pestes.”


O Lisboa 5L é um festival literário que decorre em Lisboa entre 5 e 9 de maio de 2021 e que se propõe celebrar simultaneamente a Língua, a Literatura, os Livros, as Livrarias e a Leitura. Acontece por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, com o propósito de inscrever a cidade nos roteiros nacionais e internacionais dos festivais consagrados às letras, suas formas, seus lugares, seus públicos, seus agentes, seus amantes. O evento tira partido da vida cultural de Lisboa e conjuga o seu dinamismo com uma série de atividades organizadas propositadamente para o festival mas nascidas de um contexto que o precede.

 

O lançamento da obra em que o autor Parnaibano encontra-se presente, poderá ser acompanhado através do link: https://lisboa5l.pt/agenda/literatura-e-cultura-em-tempos-de-pandemia/  , no dia 06/ 05 a partir das 17h30 no CN de Cultura, e  também online com a apresentação  a cargo do Secretário Geral da UCCLA, Dr. Vítor Ramalho e Goreti Pina, poetisa de São Tomé e Príncipe, convidada que será a representante dos 75 autores. A obra será distribuída nas livrarias portuguesas com a chancela da Guerra e Paz Editores.

 

Matéria: Instituto MG: Ciência, arte e cultura.   

Chá das 5 - Memória e Poesia

 

quinta-feira, 29 de abril de 2021

3 POSTAIS DE PARNAÍBA


 

3 POSTAIS DE PARNAÍBA


Elmar Carvalho

 

           POSTAL I

 

As águas podres

da vala da Quarenta

tomam banho nas águas puras do Igaraçu,

nas imediações da Munguba,

onde bêbados pobres de dentes podres

dizem coisas doces por entre

o bafo azedo de vômito e de cachaça.

Um bolero, o tilintar de copos, os ruídos

da noite e os gemidos de camas e casais

completam as cenas e o cenário.

 

           POSTAL II

 

No cais da beira-rio

lavadeiras sem roupas

lavam as roupas dos ricos.

O vento brinca de pegar

parelha com o Igaraçu

e venta vadio no ventre

das velas dos veleiros e

verga suas vigas entre

vagidos e volatas.

À noite filhos-de-papais

tomam cerveja e Coca-Cola

encostados nos carrões,

enquanto as lavadeiras

passam as roupas lavadas.

A noite passa. Passa o vento.

             Passa o rio, o riso/rosa

rápido passa.

 

           POSTAL III

 

Hoje o Porto Salgado

                       sal’do nominal

                       do naufrágio

de uma barcaça de sal

é salamargo na lembrança

dos vareiros e embarcadiços.

E a água do Igaraçu

é uma lágrima de saudade

                        (ou sal’dade?)

do fastígio de outrora.

Os parcos barcos são

poemas de chegadas e partidas

e símbolos da decadência.   

terça-feira, 27 de abril de 2021

Vento na alma e nos cabelos



VENTO NA ALMA E NOS CABELOS


Elmar Carvalho


De Parnaíba jamais esquecerei

o vento dedilhando a harpa eólia

da palma dos coqueiros

e uma música divina destilando.

Jamais esquecerei a ventagonia fiando

e desfiando os novelos de meus cabelos

encrespados em espumas e salsugens

e arrastando minha alma

–  veleiro de aventureiros e corsários

        bandoleiros e libertários –

pelo largo mar onde

                           onda após onda

o sonho vai quebrar. 

sábado, 24 de abril de 2021

CENTENÁRIO DE UM GRANDE HOMEM

 

Tenente Jaime da Paz, no dia de seu aniversário, dois anos antes de seu falecimento. Os presentes eram para os seus convidados, pessoas humildes e amigas, às quais ele entregava presentes e cestas básicas em seu natalício.




CENTENÁRIO DE UM GRANDE HOMEM

 

Gregório Adilson Paranaguá da Paz

 

Em 22 de abril de 1921, nascia em um lugarejo denominado São Domingos, à época município de Campo Maior, hoje Jatobá do Piauí,  Jaime da Paz.

Ficou órfão de pai e mãe ainda garoto e o destino o levou a cidade de Campo Maior, onde foi adotado pela sua tia e madrinha Cândida da Paz (Sicândida) e o esposo Cazeba. Esse primeiro obstáculo não abalou sua beleza espiritual, nem tão pouco o afastou da bela missão que Deus havia reservado para aquele garoto que se tornou um homem de sentimento apurado e de coração generoso.

Na sua juventude, morou em Fortaleza, onde estudava e trabalhava, mais tarde foi a São Paulo e Rio de Janeiro, tendo sido tenente do exército e formado em contabilidade. Depois de formado retornou a sua cidade Natal e se estabeleceu como comerciante, com o comércio "CASA O LAVRADOR DE JAIME DA PAZ", na época o maior da cidade.

Em 11 de julho de 1955, nosso pai conheceu nossa mãe, dois anos depois casaram-se e tiveram seis filhos. Fomos criados em um ambiente de amor, de entendimento e fraternidade, em que a justiça, a ética e o amor ao próximo era o princípio básico do nosso lar. O respeito aos humildes sempre teve um destaque muito grande, e como ele se realizava em festejar seu aniversário com as pessoas mais humildes, hoje certamente era um dia de muita alegria se ele ainda estivesse fisicamente conosco.

Na vida pública foi um prefeito marcante, geriu o município de Campo Maior quando as cidades de Coral de Telha, Nossa Senhora de Nazaré, Boqueirão do Piauí, Jatobá do Piauí e Sigefredo Pacheco, ainda não haviam sido emancipadas. Deixou obras marcantes tais como: Mercados públicos em Campo Maior, Sigefredo Pacheco e Jatobá do Piauí, Rodoviária de Campo Maior, iniciada pavimentação do açude de Campo Maior e construção de diversas unidades escolares.

Foi um homem de fé, temente a Deus, sempre deixou sobressair o sentimento de gratidão, tinha uma capacidade de fazer quem convivia com ele se sentir muito especial, sempre arranjava uma forma descontraída para superar dificuldades, uma de suas maiores satisfações era poder ajudar ao próximo, dizia sempre que Deus havia sido muito generoso com ele, pois, havia perdido o pai e a mãe muito cedo, foi adotado por uma tia e tio que o tratavam como filho, tinha uma esposa que o amava, filhos que queria muito bem, netos, noras e genros queridos e ainda tinha condição de poder ajudar os necessitados, era muita bondade do Senhor.

Obrigado pelos ensinamentos meu pai amado,

Amo você.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

O crime da Praça da Graça




O CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA


Elmar Carvalho


Em minha temporada carnavalesca parnaibana, mais precisamente anteontem, fui visitar o poeta Alcenor Rodrigues Candeira Filho. Logo ao chegar, tive a satisfação de encontrar a professora Rossana Silva, sua vizinha, que ia chegando a sua residência. Antes de entrar na casa do bardo, conversei rapidamente com ela, aproveitando a oportunidade para lhe fornecer o endereço do blog onde este diário vem sendo publicado.

Alcenor e Rossana, pelos comentários que ouço e em minha opinião pessoal, são dois dos maiores professores de Literatura, e talvez o sejam porque têm prazer e alegria em lecionar essa disciplina, porque são leitores compulsivos de obras literárias.

Minha amizade com o Alcenor data do final da década de setenta. Cheguei para morar em Parnaíba em junho de 1975, pois nesse ano meu pai veio chefiar a ECT nesse município. Em agosto desse ano, fui assumir meu cargo de monitor postal nessa empresa, em Teresina, em virtude de curso no Recife, em que fui aprovado. Mas logo retornei, pois obtive êxito no vestibular para o curso de Administração de Empresas, na UFPI, que então só era ministrado em Parnaíba.

Através do Paulo de Athayde Couto, filho do saudoso mestre, tradutor e intelectual Lima Couto, que era meu colega de turma, travei conhecimento com o poeta. Meus colegas dos Correios, um dia, creio que em 77, sabedores de que eu era poeta, me chamaram, eufóricos, para ver o Alcenor, que fora postar ou receber alguma correspondência.

Meu retraimento, me impediu de conhecê-lo nesse dia. Devo tê-lo visto à distância. Corria a lenda de que ele se formara em Direito para reabrir o processo contra os algozes de seu pai, trucidado em plena Praça da Graça, no dia dedicado a essa padroeira, por volta das cinco horas da tarde, quase no horário da saída da procissão.

Por causa da chamada “chacina da Praça da Graça” a tradição foi quebrada, e nesse 11 de outubro de 1959, domingo, não houve procissão. Alcenor Candeira, pai do poeta, foi abatido praticamente no momento em que o sineiro tocava o dobre final do chamamento dos fiéis para o préstito católico, quando ele se encontrava a menos de cinquenta metros da Catedral, levando pela mão a filha caçula, Tânia, mulher do meu amigo e compadre Canindé Correia, então com onze anos de idade.

Durante os mais de trinta anos de nossa amizade tive esse caso rumoroso como um tabu, e sempre mantivemos o mais completo silêncio sobre essa tragédia, mesmo nas várias ocasiões festivas, em que conversamos descontraidamente, em meio a goles de cerveja. Nas incontáveis ocasiões em que saí com a Tânia e o Canindé, cunhado e amigo do poeta, jamais tocamos nesse assunto. Somente muitos anos depois, quando Alcenor, talvez até como forma de catarse, escreveu o poema Passando em Revista, é que me senti mais à vontade para ferir esse caso.

No ano passado, quando o episódio trágico completou cinquenta anos, o escritor, posto que o bardo é também um exímio prosador, publicou o livro O Crime da Praça da Graça, que alcançou inusitada vendagem e repercussão. A obra esclarece os fatos, pois Alcenor, com a honestidade e a sinceridade que lhe são características, e já diminuída a comoção pelo decurso do tempo, calcado em peças do processo, narra os fatos de forma clara e objetiva. A obra transcreve trechos dos autos e alguns textos sobre o homicídio.

Às páginas 51/52 do livro, encontra-se a crônica Por Quem os Sinos Dobram, da lavra de José Leitão Matos, publicada em 1961, da qual transcrevo esta passagem: “Três homens e uma mulher espreitaram a passagem do Secretário da Prefeitura, Alcenor Rodrigues Candeira, a quem trucidaram da maneira mais cruel. Jamacy e os Clodoveus fizeram a fuzilaria infernal, enquanto Veudacy rasgava, à faca, logo após, o corpo franzino de Alcenor”. As pessoas citadas eram os advogados e professores Clodoveu Cavalcante e seu filho, de mesmo nome, a mulher do primeiro, Jamacy, e o outro filho do casal, Veudacy, portanto, pais e filhos.

Conta a lenda que Jamacy, mulher enérgica, de temperamento muito forte, por causa de um desentendimento com Alcenor, insuflava o marido contra seu desafeto tocando na vitrola música de Ataulfo Alves e Mário Lago, que dizia, em suas belas letra e melodia: “Covarde sei que me podem chamar / Porque não calo no peito essa dor...” Suponho que esse incitamento não tenha ocorrido desse modo, uma vez que Alcenor a ele não se refere em seu livro.

O velho professor Clodoveu foi absolvido. Clodoveu Filho e sua mãe, Jamacy, nunca foram julgados. Veudacy foi condenado a seis anos de prisão. Alcenor, em seu livro, relata que Jamacy atirou contra seu pai quando este se encontrava de costas para a família, que se encontrava em um jipe, perto da esquina em que ele dobrou, já nas proximidades da Catedral de N. S. das Graças, vindo de sua casa, que ficava a apenas um quarteirão.

No corpo tombado foram encontradas as marcas de nove tiros de revólver, cortes de faca ou punhal e hematomas de coronhadas. Tinha Alcenor 45 anos de idade. Deixou quatro órfãos menores e a viúva, professora Maria de Lourdes Castelo Branco Candeira. O poeta era aluno dos Clodoveus, pai e filho, e na semana anterior ao crime lhes assistira as aulas. Não procurei informações sobre a situação atual da família Cavalcante.

Sei que Alcenor Candeira Filho, sempre galgando posições e conquistando seu espaço, através do estudo e do trabalho, tornou-se procurador federal, exercendo a chefia de Previdência Social em Parnaíba por vários anos, professor da Universidade Federal do Piauí, e mestre de Literatura na rede particular, precisamente na Unidade Escolar Alcenor Candeira (Colégio Cobrão). Seu pai deu nome à rua na qual ficava a sua residência.

Hoje, o bardo é o secretário de Educação do Município de Parnaíba. Mas, sobretudo, é o intelectual, escritor e poeta, que todos admiramos e respeitamos, e que ocupa uma cadeira na Academia Piauiense de Letras, mercê de sua competência e dedicação ininterrupta às letras.

18 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Parnaíba da minha adolescência

Fonte: Google/Clima Online


Parnaíba da minha adolescência 


Paulo Couto 


Nos anos 70 e 80 Parnaíba ainda era uma cidade pequena. Existiam poucos lugares onde as pessoas podiam se divertir. Na minha adolescência tínhamos como opção, nas férias escolares de julho,  a Sorveteria Araújo, na Praça Santo Antonio. A garotada marcava presença sempre de tardezinha para o sorvete e altos papos. Dava para ver algumas pessoas bronzeadas do sol da Praia de Atalaia. Na praia existiam dois Restaurantes: O Tartaruga, do Assis e o Sereia, do Sipaúba. De noite a pedida era o Clube dos Lions sob o comando do Dr. Carlos Araken. As festas eram frequentadas pelos filhos, em boa parte, de famílias classe média. Lembro que o Clube tinha na frente um salão para danças e no fundo, um bar onde se podia beber rum com coca cola e outros aperitivos. A Banda Os Apaches, do Fernando Holanda, animava a noite até de madrugada com as músicas da época. Quem curtiu essas festas, sabe como era bom. Na beira rio as pessoas começavam a chegar às 20:00 horas e ficavam até meia noite. No Cabana tinha uma boite onde se podia dançar, ouvindo músicas de discoteca. No Igara Clube, anualmente, o Jornalista Rubem Freitas promovia a Festa dos Melhores. Nesse Clube assisti o desfile das candidatas ao Miss Suburbana e a Marta, minha esposa, foi uma das concorrentes. Na Avenida São Sebastião teve outra boite, a Barbarela. E para jantar com a família, tinha o Veleiro, do empresário  Renato Santos. No Bar Cajueiro, do meu primo Antonio José Neves,  e na boite Kamaloca, a gente encontrava a moçada pra ficar até altas horas da madrugada. Nos bairros mais distantes do centro da cidade, nas casas de famílias, faziam festinhas com o som das radiolas. O melhor das festas era poder dançar com o rosto coladinho no rosto das garotas. Tempo em que se paquerava muito, e se ouvia o melhor da MPB.    

Instituto Histórico de Parnaíba está em obras

 


Instituto Histórico de Parnaíba está em obras para atender estudantes, pesquisadores e turistas.

 

O Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba, o IHGGP, na rua Duque de Caxias, região do centro antigo de Parnaíba, está em obras na sua parte interna. O anúncio foi feito pelo presidente Reginaldo Nascimento Júnior nesse início da semana.

Segundo Reginaldo Júnior, estão sendo realizadas obras de conserto de paredes, forros, assoalhos, escadarias, pintura e manutenção da rede elétrica e hidráulica e no teto.

Além desses estão sendo realizados serviços de segurança com a colocação de travas nas portas, janelas, cerca elétrica, grades e extintores de incêndios. “Com muita luta e a parceria de uma empresa de Parnaíba está tornando o nosso sonho em realidade”, diz Reginaldo Júnior.

O presidente, que não deu o nome da empresa parceira, acrescentou que em breve o IHGGP, vai estar ocupado pelos admiradores da história, cultura e da tradição de Parnaíba. O Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba foi criado em 13 de janeiro de 2000. É composto por quarenta membros.

Entre esses quarenta membros vitalícios estão professores, advogados, jornalistas, historiadores, arquitetos e outras categorias profissionais. O IHGGP é considerado o museu de Parnaíba. Seu acervo compreende livros, quadros, brasões, troféus, vestimentas, condecorações, documentos e outros objetos.  

Fonte: IHGGP. Fotos: IHGGP. Edição: APM Notícias.  

terça-feira, 20 de abril de 2021

O Rei RC

Fonte: O Globo/Google


O Rei RC


Carlos Rubem


Em criança, ouvia pelo rádio os sucessos do Iê, iê, iê, movimento artístico dos anos sessenta. Denominação do rock’n’roll brasileiro influenciado pelo quarteto de Liverpool: The Beatles.


Naquela época, a juventude frequentava quase que diariamente o espaço cultural do Café Oeiras. A radiola deste “point” só rolava este estilo musical.


Por essa época, o vovô Joel Campos viajou a Teresina. Por mim solicitado, ao retornar, trouxe-me de presente uma calça comprida na qual era assentado um pedaço de napa à altura dos joelhos e uma camisa quadriculada com um bóton exibindo um calhambeque. Muito compenetrado, vestia estas peças de roupa como se fosse um dos integrantes da Jovem Guarda.


Talvez em 1966, presenciei uma cena que nunca me saiu da memória. Estava no intervalo de um jogo de futebol num campo de várzea aonde hoje é localizada a sede diocesana. Em meio a outras pessoas, vi o então seminarista Noé Mendes, de forma performática, cantando “Quero que tudo vá pro inferno”, canção de autoria do Roberto Carlos.


No início da minha adolescência, havia as tertúlias em casa de pessoas amigas. Os embalos românticos do Rei RC eram executados repetidas vezes. “Como vai você” era a minha música preferida. Tempo bom da gente bailar coladinho às garotas. Os hormônios dos dançarinos entravam em erupção. Algumas pudicas moçoilas empinavam o traseiro evitando o proverbial sarro.


Evidente que muito ansiava o final de cada ano para conhecer o lançamento dos novos discos do ilustre filho de Cachoeira do Itapemirim e assistir ao seu show no período natalino, via TV Globo.


Porém, nunca fui seu fã de carteirinha, mas gosto muito do conjunto de sua obra musical. Muito de suas melodias ainda me deixam em estado de êxtase.


No entanto, após a leitura de “O Réu e o Rei - minha história com Roberto Carlos, em detalhes”, de autoria do jornalista Paulo Cérsar de Araújo, livro que faz minudente relato acerca da polêmica havida entre ambos em face da intransigência do astro nacional ao tentar monopolizar a divulgação da sua biografia, fiquei, de certa forma, decepcionado com o mesmo.


Hoje (19.04.2021), assinala os 80 anos do nascimento da aludida personalidade. Junto-me à sua legião de admiradores que celebra esta efeméride. 


O ídolo em comento continua arrancando aplausos, até das novas gerações!

Novo romance de Pádua Marques

 


Novo romance de Pádua Marques mostra a vida difícil de uma mulher no cais de Belém

 

O romancista piauiense Pádua Marques deve lançar dentro de mais alguns dias seu mais novo romance, Joana e Seus Filhos, tendo como cenário o cais de Belém, no Pará. Devido às restrições e o isolamento social por causa do coronavírus não deve ter o lançamento presencial.

O anúncio foi feito pelo próprio escritor neste início de semana por meio das suas redes sociais. Pádua Marques, membro da Academia Parnaibana de Letras, onde ocupa a cadeira 24, já tem lançados os romances A Rua das Flores, Gato ladrão de Sebo e agora Joana e seus Filhos, pela Editora Tremembé, de Parnaíba.

Segundo Pádua Marques, que ano passado lançou seu primeiro livro de contos, Vinte Contos para Simplício Dias, esta é a segunda obra ambientada fora do Piauí. A primeira obra neste gênero foi Gato Ladrão de Sebo, tendo como cenário o agreste pernambucano. 

Fonte: APM Notícias. Fotos: APM Notícias/Editora Tremembé. 

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Agradecimento ao velho corpo

Fonte: Google


Agradecimento ao velho corpo


Elmar Carvalho

 

Há vários anos sem escrever versos, elaborei este poema, em que presto homenagem a meu corpo, tantas vezes injustiçado, esquecido ou negligenciado. Talvez seja meu canto de cisne, espero que não por morte.

 

Obrigado, velho amigo,

meu instrumento, minha tenda,

pelos longos anos de bons serviços prestados.

 

Nem sempre te dei a devida e merecida atenção.

Agora faço este encontro de contas ou ajuste

entre meu espírito e tu, meu bom servo.

 

Tampouco te agradeci por me servires,

nesta romagem terrena, sem reclamares

e sem te escusares ao labor árduo ou leve.

 

Certo adoecestes algumas vezes.

Me chateei contigo outras tantas,

quando o cansaço te exauria.

 

Quantas vezes, no esplendor da adolescência

e no vigor da juventude, não exultei quando

as mulheres nos olhavam com êxtase e afeto.

 

Eras prenhe de energia e vigor,

e eu era então incansável em labutas

úteis ou de puro ludismo e amor.

 

Tudo me era um hino à vida

e ao prazer, ao simples prazer

de estar vivo e contente.

 

Relutei em aceitar o teu declínio.

 

E o lento desmoronar em rugas,

esculpidas em minha pele, outrora

macia, e que suscitava carícia e louvor.

 

Nunca te agradeci

pela perfeita e sincronizada

engrenagem de múltiplos órgãos

 

a trabalharem, cada um em sua função,

desde a mais humilde à mais nobre,

todas contudo imprescindíveis.

 

Obrigado, velho companheiro, minha tenda

terrena, tenda de pó, pó ao pó, pó ao poente,

por todos esses anos, em que estivemos

 

juntos, visceral e radicalmente colados.

Aproxima-se o dia em que me deixarás

ou em que eu te deixarei. Tu ficarás.

 

Eu irei, não sei ao certo para onde. Mas irei,

sem corpo ou em corpo mais glorioso, para

uma das várias e inefáveis moradas do Pai.   

domingo, 18 de abril de 2021

Seleta Piauiense - Adriano Lobão Aragão


Fonte: Google/Jack albernaZ

então

 

Adriano Lobão Aragão (1977) 

 

em perene forma permanece em idade e fortuna

tudo que no tempo não muda nem tempos nem vontades

nem mentira nem verdade penetra a forma profunda

 

somente em mim depositou-se irrelevante mudança

talvez desnecessária dança que o cair das folhas trouxe

talvez inseto da noite que de seu brilho descansa

 

quem sabe silêncio de outrora agora outra hora propaga

antes de ilusão inata à matéria apurar sua volta

em perene forma precisa mas dispersa inexata

 

somente em mim depositou-se irrelevante reverso

de não mais crer nos versos dessa inútil lira agridoce      


Fonte: Portal Antonio Miranda

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Marcas do tempo


 

MARCAS DO TEMPO 


Alcione Pessoa Lima


A mão do tempo foi construindo...

E os pés de vento apagaram as marcas...

Ficaram, sim, no meu olhar...

O meu caminhar. 


Há tantas mãos que segurei...

E, mesmo cativo, cativei...

E a um coração que me esperava 

Eu me entreguei. 


Subi correndo a ladeira...

De pés descalços segui o caminho...

Muitos sinais. Não fui sozinho.

Também fui passarinho. 


Havia sonhos pra realizar...

Um quadro vivo pra eu pintar...

E cores fortes me atraiam.

Trai o destino que me esperava. 


Ninguém contava com tanta sorte...

Que as cicatrizes se apagariam.

Muitos falavam que a cruz da morte.

Seria o marco na encruzilhada.


Cruzei fronteiras, redemoinhos...

Mas, vários banhos pelo caminho

Limparam a alma desse andarilho.

Sempre um mendigo do amor de Deus. 


Tenho na pele e no coração

As marcas vivas de uma saga...

Escrita, então, uma história, 

Que na memória nunca se apaga.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

NAS MEADAS DO TEXTO DE ELMAR CARVALHO

3ª edição - Coleção Centenário - APL


2ª edição

1ª edição


NAS MEADAS DO TEXTO DE ELMAR CARVALHO


Carlos Evandro Martins Eulálio

Professor da UFPI aposentado


Escravo,

não sou escravo da submissão

e meu último adeus será uma corrida

com os pés fora da corda-bamba.

Escreverei

um manifesto assinado

com o sangue de cada um,

com o suor de todos,

todos mocinhos

de um filme sem mocinhos.

Escarnecerei

os muros e os  tetos das prisões

porque são exceções de um regime de

exceção.

Escangalharei

as portas do céu

e os portões do inferno

e soltarei a liberdade.

    (Moisés)

 

Estes versos de Elmar Carvalho exprimem a atmosfera dos “Negros verdes anos 70”, expressão criada por Heloísa Buarque de Holanda, para caracterizar a década mais nebulosa da ditadura militar, que se inicia com a edição do Ato Institucional n.º 5, a 13 de dezembro de 1968. 

Nos anos de chumbo, a ação da censura e a repressão policial refrearam a criação artística, sobretudo a poesia, gênero pouco atraente para os novos interesses da indústria cultural. Através do mimeógrafo, instrumento hoje obsoleto, superado pelas máquinas xérox e as impressoras acopladas aos microcomputadores, grupos de jovens, em geral estudantes, encontram uma saída para divulgar o texto poético, sob a mira de fuzis e à margem do mercado editorial. Daí a designação de  “Poesia ou geração mimeógrafo”. Ela comparece às feiras de livro, às exposições, aos shows musicais, enfim, aos restaurantes, praças e teatros, divulgando uma poesia, considerada para uns, de raízes tropicalistas que se aliam às contribuições  do modernismo de 1922 e até mesmo às vanguardas brasileiras de 1950 e 1960 e,  para outros, como sendo uma poesia mais próxima do Romantismo, pela acentuada subjetividade ou do Modernismo, por certa ironia desconcertante. O certo é que, decorrente da prática sincretista, os poetas dessa geração recorrem aos procedimentos românticos, simbolistas, modernistas e até mesmo vanguardistas. 

A geração mimeógrafo  faz surgir uma forma poemática mais distanciada da sintaxe ideogramática ou ostensivamente gráfica dos concretistas, instaurando em seus textos a pluralidade estilística e a diversidade temática. É sobretudo uma poesia de resistência e de contestação que se identifica pela desvinculação da série literária brasileira, sem qualquer tradição poética imediatamente anterior. Para o prof. Anazildo Vasconcelos da Silva, a poesia do Mimeógrafo, “colocando-se aleatoriamente em face do projeto poético brasileiro, herdeira duma série literária esfacelada, pratica o sincretismo como forma de recuperação da realidade”.  Nessa vertente, a geração mimeógrafo decreta o fim da modernidade e anuncia o começo da pós-modernidade.

Alfredo Bosi, ao refletir sobre a poesia dos anos 70, na sua História concisa da Literatura Brasileira, editora Cultrix, p.488, declara:

 

Em paralelo ao que aconteceu com a prosa de ficção que, de engajada e testemunhal, passou a individualista extremada, a poesia deste fim de milênio parece ter cortado as amarras que a pudessem atar a qualquer ideal de unidade, quer ético-político, quer mesmo estético, no sentido moderno de construtivo de um objeto artístico. Muitos dos seus textos encenam o teatro da dispersão pós-moderna e suas tendências centrífugas: atomizam-se motivos, misturam-se estilos e as sensibilidades mais agudas expõem ao leitor a consciência da própria desintegração.

 

Essa desintegração a que se refere Alfredo Bosi constitui talvez o mais importante ingrediente caracterizador da arte contemporânea, cujas implicações são mais profundas e traduzem a atual atitude do poeta diante da realidade que suscita o ato criador. E esta realidade com a qual hoje se defronta o poeta é bem diferente daquela vivida por nossos antepassados.  Otávio Paz, no magistral ensaio Signos em rotação, assim descreve este cenário: 

“Na antiguidade o universo tinha uma forma e um centro; [...] depois, a imagem do mundo ampliou-se: o espaço se fez infinito ou transfinito; [...] Mudou a figura do universo e mudou a ideia que o homem fazia de si mesmo: não obstante, os mundos não deixaram de ser mundo nem o homem os homens. Tudo era um todo. Agora o espaço se desagrega e se expande; o tempo se torna descontínuo; e o mundo, o todo, se desfaz em pedaços. Dispersão do homem, errante num espaço que também se dispersa, errante em sua própria dispersão” 

Baudelaire, ao meditar sobre o conceito de modernidade, alude à necessidade de adequar-se a poesia ao destino de sua época. De modo consequente, chama Les fleurs du mal produto dissonante das musas do tempo final. Mallarmé, em Un coup de dés (lance de dados, 1897) poema espécie de épica dos nossos tempos, inspirado nas técnicas de espacialização visual e titulagem da imprensa cotidiana, assim como nas partituras musicais,  manifesta o espírito crítico de um artista preocupado com os destinos do poeta e da poesia, cuja crise fora sinalizada por Hegel, quando sentenciara  que a leitura do jornal passava a ser para a nossa época uma espécie de oração matinal. Marx, refletindo sobre a impossibilidade da épica tal qual a conceberam os clássicos, numa criativa interpretação de Haroldo de Campos, vale-se de uma bela paronomásia para exprimir que, diante da imprensa, a fala e a fábula, o conto e o canto, a musa dos gregos enfim, cessam de se fazer ouvir. Lamartine, poeta representativo do romantismo, assevera em 1831: “o pensamento se difundirá no mundo como a velocidade da luz, instantaneamente concebido, instantaneamente escrito e compreendido até as extremidades do globo. [...] Não terá tempo para amadurecer – para se acumular num livro, o livro chegará muito tarde. O único livro possível a partir de hoje é o jornal. Se quisermos avançar um pouquinho mais, diríamos que, com o telejornal, o que hoje chega tarde é o próprio jornal.

Eis em linhas gerais o quadro diante do qual apreendemos o sentido da nova poesia e o modo de produção de seu criador. É natural pois, que ele repugne as regras do jogo, dessacralize convenções e invente suas próprias soluções contra estereótipos e fórmulas ultrapassadas ou pré-estabelecidas. Essa autonomia do poeta leva-o à produção criativa de uma obra aberta, nos termos de Umberto Eco, cabendo portanto ao leitor ver em que sentido toda obra de arte é aberta, sobre quais características estruturais essa abertura se fundamenta.

No caso específico de Elmar Carvalho, egresso de uma geração de autores deserdados de tradição poética, pela desagregação da série literária, traço peculiar daquele momento, nós o distinguimos como um artista que, com rara inteligência e sensibilidade, soube a seu tempo ultrapassar os limites de uma época pouco favorável à produção literária, conscientizando-se do papel do escritor que se faz, mercê do esforço e do trabalho disciplinado. Autor de uma obra em construção, como ele próprio afirma, é sintonizado com a modernidade poética, sem descurar da tradição de onde tem retirado sábias lições, através da  leitura dos clássicos brasileiros e estrangeiros. Nos termos de Ezra Pound, há que se ressaltar na produção poética de Elmar, não uma atitude diluidora, isto é, de imitação sem progresso em relação ao modelo original, mas uma atitude inventiva, descobridora de um processo particular ou  de mais de um modo ou processo. Dessa forma, em Rosa dos tempos gerais, o vemos tecer o texto poético empregando os mais variados recursos plásticos e sonoros, em diversas combinações de características mais predominantes dos diferentes gêneros literários. O sujeito lírico de seus primeiros poemas faz-se presente no texto não só quando indicado pela primeira pessoa, mas quando também projetado nos arranjos especiais da linguagem, como por exemplo na construção de Amad’Amor 

  

Eu te amo

Eu te (ch)amo

Eu sou tua (ch)ama

Eu te des’gosto.

Eu te ado(u)ro

Eu te douro.

Eu sou teu (m)ouro /mourão

Eu sou teu te’souro.

 

Aqui a palavra-frase “eu-te-amo”, metamorfoseia-se internamente e anaforicamente se expande em construções sinonímicas que culminam na erotização da mensagem, na estrofe final do poema, quando então se fundem as duas pessoas do discurso: 

Somos um laço

Tu me (en)laças,

Eu te (en)laço.

Somos um cadafalso

Onde somos vítima,

Carrasco e baraço. 

Curiosamente, Roland Barthes, nos Fragmentos de um discurso amoroso, esclarece acerca dessa expressão: Eu-te-amo não tem empregos. Essa palavra, tanto quanto a de uma criança, não está submetida a nenhuma imposição social; pode ser uma palavra sublime, solene, frívola, pode ser uma palavra erótica, pornográfica.  Na enunciação do eu-te-amo, para o semiologista, a exemplo do que acontece no canto, o desejo não é nem reprimido (como no enunciado) nem reconhecido (lá onde era esperado: como na enunciação) mas simplesmente: gozado. O gozo não se diz, mas ele fala e diz: eu te amo.

Saliente-se, por oportuno, que a vertente erótica da lírica brasileira pela qual opta Elmar Carvalho, está mais relacionada ao erotismo na acepção drummondiana, de O amor natural, que supõe a exigência corpórea que dirige o homem em busca da mulher. 

A função emotiva da linguagem,  associada à poética, comparece quase em todos os poemas do Cancioneiro do Ar, primeira parte do livro, com temática que abrange o amor, a mulher, o poeta, o poema, o sexo, o tempo, a vida e a morte.

A lírica não intimista, de conteúdo mais explicitamente social,  constitui a tônica dos poemas cujo sujeito da enunciação identifica-se na e pela linguagem, através da dicção própria de cada texto. Neste caso,  verifica-se um momento de tensão entre o individual e o coletivo, caracterizando a lírica moderna participante, nos termos de Theodor Adorno, a qual resulta de uma integração entre a emoção e o desejo de interpretar o mundo, como nesta estrofe do poema A Fome:

   a fome

que come

.e consome

o “home”

       mora

em sua víscera sonora

              e o devora

como uma flora

        cancerosa

             rosa carnívora

que aflora e o deflora

de dentro para fora. 

 

O aspecto emocional desses versos decorrem do modo como o texto se organiza, através do emprego melodioso e paralelístico das rimas e do enjambement que promove a quebra da linearidade frásica, praticamente anulando o caráter reflexivo da mensagem. Simultaneamente, o questionamento do social conduz o leitor à fruição da própria linguagem, uma vez que é impulsionado a captar o sentido do signo poético como fonte geradora de múltiplos sentidos. Assim os semas “fome, come, consome, home”, num processo mais lúdico do que lógico, igualam-se e se diferenciam poeticamente.  A lírica faz com que a linguagem estabeleça um elo de comunicação entre sujeito e sociedade, deixando de concentrar-se exclusivamente no poeta. A professora Angélica Soares, na obra Gêneros Literários, ao surpreender este fenômeno no poema O cão sem plumas, de João Cabral de Melo Neto, acrescenta que, ao lado dos poemas líricos que tematizam os problemas socioeconômicos e políticos, destacam-se na lírica moderna os metapoemas que intentam a dessacralização da linguagem e do fazer poéticos. Este recurso metalinguístico é largamente empregado por Elmar Carvalho, ao refletir sobre o poeta, o poema,  a poesia, bem como o modo de produção,  no interior do próprio texto.  

Nos conjuntos seguintes,  Cancioneiro da Terra e da Água   e  Cancioneiro dos ventos gerais os poemas em geral, mais longos, colocam o poeta em situação de confronto em relação ao mundo. A lírica conjuga-se ao épico e ao dramático para desvelar uma poesia de caráter mítico e histórico, não porque narra eventos históricos, mas porque dialoga com os homens de todas as épocas, através de fragmentos e da relação que mantém com outros textos.  A linguagem é então retomada como produto ou meio de transmissão cultural.

 O conceito de intertextualidade a que nos referimos foi inicialmente formulado pelo pensador russo Mikhail Bakhtin que, tomando como referência a obra de Dostoievsky, caracteriza o romance moderno como dialógico, no qual as diversas vozes da sociedade estão presentes e se entrecruzam, relativizando o poder de uma única voz condutora. Essa noção foi posteriormente desenvolvida por Júlia kristeva, para quem a intertextualidade é um mosaico de citações e todo texto é uma retomada de outros textos. Em sentido amplo, a intertextualidade envolve todos os objetos e processos culturais. As manifestações culturais são então tomadas como textos que jamais se interrompem, uma vez que são recodificados, reinventados e reveiculadas pelos escritores, compositores, pintores e artistas em geral. Assim, na obra de Elmar Carvalho, sob o signo da intertextualidade, resgata-se a memória de um povo, reconstituem-se paisagens e cenários através de passeios poéticos e sentimentais por nossas cidades e regiões mais longínquas. Inscreve-se no texto poético, através da linguagem, imagens do passado que são ícones de uma época que já vai longe de todos nós: são os flagrantes e postais de nossa terra, de nossa gente e de nossa alma liricamente recuperados. Os poemas A Zona Planetária e Sete Cidades são exemplos de uma poesia que dialoga com a mitologia greco-latina, com a história antiga e com os melhores mestres da literatura, levando ao leitor valiosos ensinamentos. Nesse sentido surpreendemos na obra de Elmar Carvalho, sobretudo na sua atual fase de criação um aspecto que reputo da mais alta importância: o caráter pedagógico de seus poemas.  “Os grandes poetas, [diz Mário Faustino, em seus Diálogos de Oficina], sempre se interessaram ativamente pela Filosofia, pelas ciências e pela política de sua época, encontrando-se em cada um deles o retrato mais ou menos fiel e minucioso do que se passava e do que se fazia na dinâmica social do tempo em que viveram. [...] Toda poesia verdadeira é didática. E nenhum meio de comunicação ensina tão profundamente e de modo tão inesquecível quanto a poesia.  

Quando conheci Elmar, no início dos anos 80, tive o privilégio de assistir à gestação do épico Dalilíada, poema inspirado na obra de Salvador Dali. Ao acompanhar de  perto o sofrimento e as angústias do poeta naquele mister, constatei que acabara de conhecer um erudito.  Um poeta que não se rende simplesmente aos apelos da inspiração, porque concebe o poético também como composição produto de um  trabalho elaborado e planejado. 

Assim vejo os poemas de Elmar Carvalho. Eles não brotam de um momento circunstancial, ou como um Deus ex machina, isto é, como aparição inesperada, mas decorrem de um trabalho crítico  de oficina, prenhe de sabedoria.   Além de inspirado é o poeta fabro,  ou seja,  o poeta fazedor, o poeta que é também o artífice da palavra, cujo trabalho também contribui para elevar e aperfeiçoar o nosso idioma.                                         

 

Teresina, 20 de março de 2002

  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO, Theodor. Lírica e Sociedade in Os pensadores. São Paulo : Abril Cultural, 1980.

ANDRADE, Carlos Drummond de. O amor natural. Rio de Janeiro : Record, 1994.

BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro : Ed. Forense-Universitária, 1981.

BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. Rio de Janeiro : Francisco Alves, 1995.

BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira, São Paulo : Cultrix, 1994.

CAMPOS, Haroldo de. A arte no horizonte do provável. São Paulo : Perspectiva, 1977

ECO, Umberto. Obra aberta. São Paulo : Perspectiva, 1976.

EULÁLIO, Carlos Evandro M. Poesia contemporânea: possíveis causas de sua evolução. Teresina : Presença Ano VII, n. 14 janeiro / junho de 1985.

PAZ, Otávio. Signos em rotação. São Paulo : Perspectiva, 1976

POUND, Ezra. A arte da poesia. São Paulo : Cultrix, 1976/

SOARES, Angélica. Gêneros literários. São Paulo : Ática, 1999.

VASCONCELOS DA SILVA, Anazildo. Lírica modernista e percurso literário brasileiro. Rio de Janeiro : Editora Rio, 1978.    

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Santa Inês na Lírica de Weliton Carvalho

 



Santa Inês na Lírica de Weliton Carvalho

Paulo Rodrigues (*) 

“Poesia da Rua da Raposa, onde um menino sonhava o mundo”.  

     Weliton Carvalho enviou-me o livro Ócios do Ofício (2019), em outubro de 2020. Li imediatamente. O projeto gráfico do Instituto Memória Editora & Projetos Culturais de Curitiba destacou setenta e seis poemas que reconstroem uma lírica madura. Um corpus inteiro, num grito longo de leite derramado.

     José Neres da Academia Maranhense de Letras afirma na orelha: “a poesia deste talentoso escritor é forte, vibrante, segura e, sem dúvida, pode ser colocada entre as grandes obras das letras brasileiras contemporâneas”. Estou convicto desta qualidade também. Observo o processo de construção da carnadura poética de Weliton Carvalho desde Geometria do Lúdico.

E percebo a necessidade de fuga do formalismo acadêmico, a construção de imagens como cortinas a indicar o rumo. Uma sintaxe própria, vocábulos sinestésicos que vestem o tempo do poeta.

 No entanto, meu foco aqui neste texto é Ócios do Ofício. Não tem sessões. É um tiro em câmera lenta, no peito do leitor. Cada metáfora nova arrasta os olhos para o chão do cotidiano. Como Ferreira Gullar explicita: “o homem está na cidade/ como uma coisa está em outra/ e a cidade está no homem/ que está em outra cidade”. Weliton confessa em carta endereçada a mim: “Santa Inês é, para mim, província e universo. Foi aí que eu descobri todas as angústias do existir e todas as razões para sonhar”.

 São Luís, Rio de Janeiro, Santiago do Chile são a grama a reinventar os pés do autor de Poema Sujo. Santa Inês é o “cinema novo” a induzir a descoberta do mundo para os olhos de Weliton Carvalho. Na página 62, a cidade é evocada através dos olhos do menino:

PRÉ-HISTÓRIA

 

No quintal da minha pobre casa na Rua da Raposa,

em Santa Inês do Maranhão, no Vale do Pindaré

eu imaginava uma grande fazenda: uma instância;

tomei um cabo de vassoura e lhe improvisei um cabresto:

tinha nascido um lindo cavalo mais belo que Rocinante, 

as ervas daninhas eram o melhor pasto de toda região

e o poço era o açude pelo qual fazendeiros brigavam. 

Por certo que o cabo de vassoura não era um cavalo,

as ervas daninhas jamais alimentaram qualquer animal

e tampouco o poço interditado seria um açude viçoso. 

Isto já não importava: havia aprendido a sonhar. 

 

A poesia aparece no último verso como uma lição criativa: “Isto já não importava havia aprendido a sonhar”. Neste sentido, Weliton canta desbragadamente a infância, a aldeia. Canta listando as contradições do mundo: “a vassoura não era um cavalo e o poço não seria um açude viçoso”. Não é mesmo. Há, portanto, consciência social na lírica do poeta.

Na página 96, fragmento do poema MAÇÃS, faz o hipônimo de fruta arrastar o tempo para o delírio da imagem. Num lance psicanalítico, de forte anamnese:

 

Quando meu pai viajava a São Luís

eu o esperava em Santa Inês

com as maçãs prometidas. 

[...]

era antes o sonho que ele me dava

na sua carnadura vermelha,

no seu cintilante delírio

de colorir minha vida de menino do interior

que nem conhecia a capital do meu Estado.

O que eu de fato queria da maçã

era a poesia que o mundo me negava.  

 

    O poema integra o passado e o futuro da lírica de Weliton Carvalho, num frisson de angústia e prazer, que comove. O acadêmico José Ewerton Neto, na apresentação, constata: “o esforço, o suor e a luta, recursos inerentes à contemplação do ofício, foram diluídos na contemplação. A poesia constrói os passos na Rua da Raposa e “se encerra numa cidade inteira”.

    Enamorado pela urbe, por sua gente, suas cores, suas dores, eleva o canto para o mundo. A aldeia está explicita e disfarçada em toda linha discursiva do poeta; na repetência insistente do cotidiano que mistura o provinciano e o universal.

 

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TEXTO: PAULO RODRIGUES* – Professor de literatura, poeta, escritor e autor de O Abrigo de Orfeu (Editora Penalux, 2017); Escombros de Ninguém (Editora Penalux, 2018). Ganhou o prêmio Álvares de Azevedo da UBE/RJ em 2019, com o livro Uma Interpretação para São Gregório. Venceu o Prêmio Literatura e Fechadura de São Paulo em 2020, com o livro inédito CINELÂNDIA. É membro da Academia Poética Brasileira.