quinta-feira, 28 de setembro de 2023

OS EMBALOS DOS SÁBADOS DE ANTIGAMENTE

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OS EMBALOS DOS SÁBADOS DE ANTIGAMENTE


Elmar Carvalho

 

Na antessala da Corregedoria Geral da Justiça, enquanto esperava ser atendido pela desembargadora Eulália Ribeiro Gonçalves, uma pessoa me ofereceu um bombom. Escolhi um da marca Piper, e fiquei admirado de que ainda fosse fabricado. Enquanto o saboreava, lembrei-me de minha adolescência.

 

Eu, o Otaviano, o Carlos Cardoso, Zé Moura, Zé Wilson, e creio que quase todos os adolescentes da época, o usávamos para disfarçar o bafo de onça provocado por algumas talagadas de pinga que tomávamos, para criarmos coragem de, nas festas, fosse no Campo Maior Clube, no Grêmio Recreativo ou na AABB, tirarmos uma garota para dançar.

 

Com escasso dinheiro na algibeira, adotávamos a estratégia de, antes do baile, ingerirmos algumas doses de bebida destilada, geralmente cana serrana ou cuba libre, um coquetel de rum, invariavelmente da marca Ron Montilla, que chamávamos de Velho Pirata, limão e Coca-Cola. Guardávamos uns trocados para, no interior do clube, degustarmos umas duas ou três garrafas de cerveja, o que achávamos o máximo, e que nos davam a impressão de ser os próprios donos da festa.

 

Nunca fui um legítimo dançarino. Retraído, algo tímido nos primeiros contatos com o belo sexo, a dança era meu principal estratagema para iniciar um namoro. Isto porque, conforme o modo como a garota se aconchegava e de acordo com o modo como ela me enlaçava e punha as mãos em minhas costas, era uma sinalização de que ela desejava ou não iniciar um namoro ou mesmo tirar um simples “pino”, “sarro” ou “amasso”, que era, na linguagem dos jovens da época, uns beijos e abraços mais apimentados e apertados.

 

Mas também dançava – por que não confessar? – para sentir o aconchego e o calor de um corpo feminino. Nessa época, década de 70, as moças do interior do Piauí se conservavam virgens até o casamento, de modo que namoro era apenas namoro, e namorado era apenas namorado, e não tinha o significado de amante, como nos dias atuais.

 

Recentemente, por causa dos retumbantes anúncios da Bitorocara Festa, trombeteados nos blogs Bitorocara e no do ZAN, que se propunha reviver os bons anos 60 e 70, das festas de arromba da Jovem Guarda, das quase ingênuas tertúlias dançantes, que eram quase sempre regadas a “leite de onça”, um coquetel de cachaça e leite “Moça”, lembrei-me desses bons tempos dos sapatos “cavalo de pau”, das calças boca de sino e do jeans US-Top; das minissaias assanhadas, que mostravam pelo menos um palmo de coxa, dos singelos “tubinhos” das cocotas, e dos “tomara-que-caia”, que nunca caíam, para frustração geral da galera masculina.

 

No final dos anos 70 inventaram a chamada “dança solta”, que eu abominava, pois se fosse para dançar sozinho eu preferiria fazê-lo no aconchego de minha casa. Então, resolvi sepultar, de vez, a minha incipiente e insipiente carreira de dançarino; de dançarino sem nenhum talento, admito.  

11 de junho de 2010                      

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Vou abrir uma fábrica de abanos e vou ficar rico!

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Vou abrir uma fábrica de abanos e vou ficar rico!


Pádua Marques

Cronista, contista e romancista


Estava eu aqui em casa depois do almoço, como dizia o velho português caolho Luiz Vaz de Camões, posto em sossego, nesse calor do Saara e deitado numa rede vermelha, quando mais que de repente tive uma ideia. E essa ideia chegou depois de ter visitado hoje pela manhã o Mercado da Caramuru e lá visto numa banca um objeto que me recordou a infância. E tudo que me lembra a infância me aguça a imaginação. 

Vi um abano! Fazia tempo que eu não via esse objeto tão familiar. Estava lá entre tantos outros objetos, raladores, cordas, ganchos de tirar balde de fundo de poço, armadores de redes, grelhas, canecos de alumínio, quartinhas e potes de barro, focinheira pra cachorros, chicotes, baladeiras pra caçar rolinha, enfim, aquilo que um dia foi útil pra muitas pessoas e hoje até viraram peças de decoração.

Pois o abano de palha de carnaúba estava lá naquele meio. Vi e guardei na memória. Uma hora dessas vai ser útil. E aí eu naquele antes de um prolongado cochilo ocorreu a ideia de abrir uma fábrica de abanos. Sim senhor, uma fábrica de abanos, com aquele galpão imenso cheio de operárias lá na Ilha de Santa Isabel, perto dos imensos carnaubais. Coisa de atravessar a ponte velha enquanto a nova não vem e estar na maior indústria de abanos de todo o Piauí. 

Uma fábrica de abanos. Nada mais interessante e com grande capacidade de ganhar mercado no mundo inteiro, América do Norte, Central, alguns países da América do Sul, África, A Ásia com a China, a Índia, a Tailândia, Filipinas, Emirados Árabes, Jordânia, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão, Karadecão, Nepal, a Europa inteira, a Oceania, São Raimundo Nonato, Picos, Cocal de Telha, o Principado de Mônaco e o de Bom Princípio, Canárias e Tabuleiro Islands. 

Produção de abanos pra sair de quinze em quinze dias, dois e até três caminhões abarrotados até o telhado indo direto pra o porto de Luiz Correia. Esse porto é pra ser de início um porto pesqueiro, mas eu vou mexer meus pauzinhos pra colocar meus abanos na rota. Agora eu fico aqui imaginando aquelas pessoas, aquelas mulheres lindas pelo mundo inteiro, assim na praça do Vaticano, em Milão, Califórnia, em Time Square, nos Champs Eliseés, em Madri, no Korre Dakih International Aiport na Coreia do Norte se refrescando com os famosos Abanos Caramuru!

E me vem essa ideia justo em um momento de grande apreensão sobre o clima, as queimadas, um calor insuportável que não tem ninguém que dê mais jeito. Abanos feitos de palha de carnaúba. Finalmente aqueles carnaubais de Ilha Grande de Santa Isabel, que até hoje só deixaram aquela região com cara de terra abandonada, que antes só serviam pra os xexéus e os anuns fazerem seus ninhos, finalmente terão uma utilidade. 

E eu que antes estava pensando em pedir um financiamento bancário pra abrir uma fábrica de cacos de assar castanha, agora estou propenso a entrar no ramo de abanos ecológicos. Não gastam energia, são portáteis, elegantes. Vou fabricar em vários modelos, cara do Mickey Mouse, Coração, Celular, Borboleta, Nossa Senhora, Papagaio, o Tradicional. E se Deus quiser eu vou encher a burra!!!!

domingo, 24 de setembro de 2023

GALO

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GALO


Elmar Carvalho

 

O galo

navalha as trevas

            e o

silêncio da noite com seu canto

e desperta o sol e o corneteiro

para o incêndio e

o toque da alvorada. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

A LEMBRANÇA DE BRUENQUE


 

A LEMBRANÇA DE BRUENQUE


Elmar Carvalho

 

No meu discurso proferido quando recebi o Título de Cidadão Regenerense, abordei o fato histórico do aldeamento dos índios nesta região. Falei na figura sinistra de João do Rêgo Castelo Branco, de sua fúria feroz e sanguinária na perseguição dos indígenas, e que por isso mesmo foi chamado de El Matador pelo poeta H. Dobal, em poema com esse título.

 

Segundo me contaram, quando estavam sendo feitos os serviços de ampliação da igreja de São Gonçalo, foram encontrados indícios de que o local poderia ter sido um cemitério indígena. Feito esse breve preâmbulo, entrarei no mérito do que quero contar.

 

Fui convidado, pelo presidente João Alves Filho, para fazer o discurso de louvação dos patronos da Academia Campomaiorense de Artes e Letras – ACALE, cuja solenidade aconteceu no dia 29 de maio. A peça retórica foi planejada para ser parte escrita e parte improvisada. Eu teria que falar, entre vários outros, em Bernardo de Carvalho e Aguiar, fundador da fazenda Bitorocara, que deu origem à cidade de Campo Maior.

 

Foi ele um dos chamados heróis da Conquista e mestre de campo, considerado fundador de outras cidades, no Piauí e no Maranhão. Ressaltei que ele combatera os índios, porém sem a ferocidade e sanguinolência de João do Rêgo, o que desagradava os senhores da Casa dos Ávila, na Bahia. Citei os historiadores padre Cláudio Melo e Afonso Ligório de Carvalho para dizer que ele tinha o respeito dos índios, e que chegou a defendê-los e protegê-los da fúria de seus perseguidores.

 

Porém, quando eu meditava sobre o que ia dizer sobre Antônio da Cunha Souto Maior, que o antecedera no comando das armas do Piauí, e que fora um feroz e brutal perseguidor de indígenas, tanto que foi assassinado numa espécie de rebelião de silvícolas, que estavam sob seu comando,  aconteceu um fato estranho, para o qual não desejo emitir opinião, mas apenas dizer enfaticamente que aconteceu.

 

Em Regeneração, cidade ligada aos massacres e extermínios de índios, por causa das deserções ocorridas no aldeamento de São Gonçalo, a que já me referi, resido num dos apartamentos do condomínio Pingo d' Água. Quando mentalizei o nome de Souto Maior, imediatamente minha rede vazia foi sacudida com muita força, e ouvi um ruído de ferros, como se fora um ranger de correntes. Isso foi ao entardecer, quase anoitecendo. Fiquei arrepiado durante um bom tempo. Em meu imaginário, era como se os espíritos dos índios trucidados quisessem protestar contra a lembrança de um homem cruel.

 

Lembrei-me do bravo e indômito cacique Bruenque, em sua luta contra as crueldades, falsas promessas e traições dos seus algozes, cuja saga heroica foi bem relatada pelo historiador Reginaldo Miranda, em seu livro São Gonçalo da Regeneração, que está a merecer nova edição. Julguei que a agitação da rede tivesse sido provocada pela ventilação do aparelho de ar-condicionado, mas verifiquei que suas aletas estavam direcionadas para baixo. E por que essa ventilação só sacudira a rede naquele dia e no momento em que pensei nas atrocidades do Souto Maior?

 

Descarto, pela mesma razão, o vento que poderia passar pelas venezianas da janela do quarto, ainda mais porque a porta estava fechada e, portanto, não poderia ser formada uma corrente de ar. É certo que várias explicações poderão ser aventadas. Deixo que cada um fique com a sua. Eu, na minha condição de franco atirador e de não sectário, admitirei todas as possibilidades. Contudo, não me apegarei a nenhuma.

9 de junho de 2010

domingo, 17 de setembro de 2023

METAPOEMA

 

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METAPOEMA


Elmar Carvalho

 

As meadas e as palavras

são labirintos e teias.

Nelas os poetas se elevam;

nelas as moscas se enleiam

e se debatem em vão.

Os poetas são.

As moscas, não.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Rosas e dálias para Amália

Elmar e Fátima, ladeando a professora Amália, na festa comemorativa de seu Centenário



 

Rosas e dálias para Amália (*)

 

Elmar Carvalho

 

Soube de notícias sobre Oeiras ainda nos longes de minha infância, através de leitura no livro didático Nosso Tesouro. Mas só a conheci nos anos de 1980, através de viagens como fiscal da extinta Sunab e quando participei de Encontro de Escritores, que fiz realizar entre os anos 1988 e 1990, quando tive a honra de ser o segundo presidente da União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE/PI, em sua segunda fase, a fase de sua reativação. E sempre me encantei com a sua beleza singela, sóbria, colonial, quase uma pintura emoldurada pelos seus morros. Aliás, a sua pintura foi emoldurada, sim, através das lindas telas de Zuleica Tapety, que serviram para ilustrar o clássico livro de Dagoberto Carvalho Jr., Passeio a Oeiras, cuja sexta edição prefaciei, para gáudio meu.

Em inúmeros eventos culturais e literários de que participei na velhacap estava sempre presente o amigo Carlos Rubem. No Encontro de Escritores lá estava ele, dando apoio a seu padrinho Dr. Expedito Rêgo, que proferiu uma magnífica palestra sobre a imprensa oeirense, tendo sido ele próprio o fundador do jornal O Cometa, de cunho literário e cultural.

Em todos as vezes em que estive em Oeiras, o Carlos Rubem foi uma espécie de cicerone ou guia, e me levou a ver os principais pontos turísticos de Oeiras. Nessas oportunidades discorria sobre pontos interessantes da rica História de Oeiras, por vezes contando fatos jocosos, curiosos ou insólitos.

Numa dessas vezes me levou a uma das “verdes quintas do Mocha”, pertencente ao Hermínio, onde existia uma espécie de museu de carros velhos, na verdade uma espécie de cemitério de carcaças de antigos veículos, fincadas na areia, expostas ao sol, à chuva e ao relento, que me fizeram viajar no tempo. Quando adentramos a casa do Hermínio, para vermos as suas parafernálias e bugigangas diversas, fomos saudados por uma rumorosa revoada de morcegos, que eram as suas “aves” de estimação.  

O meu livro Noturno de Oeiras, primeira edição, um verdadeiro álbum com ilustrações de Francisco Leandro e prefácio do hoje diácono Gutemberg Rocha, foi lançado no adro da Catedral de Nossa Senhora da Vitória, lugar assaz apropriado. O Carlos Rubem foi um incentivador dessa publicação, bem como foi quem organizou esse evento literário. Fiquei emocionado, sobretudo quando ouvi a saudosa professora Rita Campos, irmã da centenária professora Amália, nossa homenageada, recitar o meu poema com tanta emoção e entusiasmo. Aqui encerro esse périplo oeirense, cheio de peripécias e deslumbramentos, e entro no que pretendo seja o mérito desta crônica, em que me repito sem tentar me repetir.

Fui à casa das irmãs Campos, pela primeira vez, levado, claro, pelo Carlos Rubem. Fui muito bem acolhido por todos. Fui tão tem acolhido, que fui convidado a participar do almoço domingueiro, na verdade um farto, variado e delicioso banquete. Aqui peço licença e abro parênteses e parágrafo para contar um fato engraçado, que aconteceu nessa já distante ocasião.

Entre as diversas iguarias, havia uma tenra carne suína assada com esmero, levemente tostada; parte dela deixei para o final de minha lenta degustação, como um corolário ou apoteose gastronômica. De soslaio, notei que a estimada amiga Rita Campos deu uma rápida e sorrateira olhada para meu prato. Fiz que não vi a furtiva espiada, e continuei mansamente a desbastar o meu volumoso prato, sem nenhuma pressa. A Rita não se conteve e terminou me pedindo um pedaço da carne que eu reservava ciosamente; sorri e lhe compartilhei, como se diz hoje, um bom pedaço. A Conceição, irmã do Carlos e minha amiga, fingiu certo aborrecimento, e “repreendeu” a tia, alegando que eu guardara o quitute exatamente para o final, como um ápice da ágape, para engendrar uma aliteração trocadilhesca. Eu e a Rita sorrimos e trocamos um olhar de pura cumplicidade. 

Todavia, devo confessar, só passei a conhecer mais a professora Amália do Espírito Santo Campos há um ano, com a proximidade de sua centúria, através de textos e crônicas, que me foram sendo enviados pelo seu dileto sobrinho Carlos Rubem, Promotor de Justiça (e de cultura, como gosto de repetir e enfatizar), inquieto e dinâmico, quase hiperativo, quando se trata de defender e divulgar a cultura, as artes, a história e a literatura de sua amada Oeiras.

Assim, em apertada síntese, posso afirmar que ela nasceu em Oeiras, no dia 10 de setembro de 1923, filha de Joel Campos e Maria de Jesus Nogueira Campos, mais conhecida pela alcunha de Bembém. Amante da cultura e das artes em geral, não posso deixar de dizer que era sobrinha de Benedito Francisco Nogueira Tapety e irmã de Gerson Campos, dois notáveis poetas de Oeiras e do Piauí, cujos vultos, ditos e gestos ainda povoam com nitidez a sua memória.

Estudou as primeiras letras, com a consequente alfabetização, na escola particular de Ana Leonor de Sousa Brito (Donana), mestra de várias gerações, prima de seu pai. Cursou o primário no Grupo Escolar “Costa Alvarenga”, recentemente inaugurado, no período de 1931 a 1935, que inicialmente funcionou no sobrado João Nepomuceno, hoje sede do Museu de Arte Sacra. Nesse colégio, após a aula de Português, em que eram feitos leitura, ditados, cópias e composições de textos, análise gramatical e sintática, segundo a longa crônica biográfica Centenário da Esperança, da autoria de Carlos Rubem e de sua irmã Amada de Cássia Campos Reis:

“Em um segundo momento, após o pequeno intervalo do recreio eram ministradas as demais disciplinas como Matemática, História, Geografia e introdução à Ciência, além de receber das professoras noções de boas maneiras e bom comportamento, entoar hinos e cânticos, decorar e recitar poesias, orientação religiosa e produção de trabalhos manuais, utilizando-se do método conhecido como “lições de coisas” que visava ativar os sentidos dos alunos para a ação, partindo do concreto para o abstrato.”

A disciplina de sua predileção era História do Brasil, sendo que sua professora utilizava para seu mister e ministério o livro Nossa Pátria. Era diretora do educandário Eva Feitosa, que foi também sua professora, juntamente com as mestras Francisca Romana de Sá e Elizabete Carvalho Sá. Concluído o primário, fez o preparatório para o implacável Exame de Admissão (ao Colégio da Irmãs, em Teresina), tendo sido seu preceptor o Juiz de Direito Pedro Amador Martins de Sá. Tendo sido aprovada, fez o ginásio no Colégio Sagrado Coração de Jesus, como interna, no período de 1937 a 1940. Em seguida, ingressou na Escola Normal Oficial, em Teresina, cujo curso pedagógico concluiu em 1944.

Em 1946, iniciou sua carreira magisterial, que encerrou no ano de 1976. Portanto, lecionou durante 30 anos. Foi professora do Grupo Escolar Armando Burlamaqui, do Ginásio Municipal Oeirense, inaugurado em 1952, a convite do padre Balduíno Barbosa de Deus, seu diretor, tendo feito parte de seu primeiro corpo docente, e da Escola Comercial “Dom Expedito Lopes”.

Na referida crônica, tomei conhecimento de que ela aperfeiçoara seus “estudos musicais quando aluna do Colégio das Irmãs”, e que se tornara violinista, mas que abandonou essa arte, nos caminhos da vida, “há muito tempo, sem motivo aparente”. Também cultivou a pintura, mas depois deixou de lado os pincéis, sem que se saiba, ao certo, os motivos. Tendo sido uma de suas disciplinas o Desenho Geométrico, inovou em suas aulas, ao utilizar, como instrumento de trabalho, “um grande par de esquadro, compasso e transferidor”.

Fica emocionada quando um ex-aluno dela se aproxima, para lhe render as devidas homenagens. Dessa forma, ficou muito comovida quando um grupo de estudantes do extinto Ginásio Municipal de Oeiras lhe entregou, assim como a outros professores, uma placa de “Honra ao Mérito”. A homenagem foi liderada por Pedro Ferrer Mendes de Freitas e Antônio Madeira Barbosa.

Afeita às artes, à cultura e ao saber, é membro do Instituto Histórico de Oeiras. Juntamente com suas irmãs Aurora, Auristela, Alice, Aldenora e Rita Campos, é uma das instituidoras da Fundação Nogueira Tapety – FNT, entidade que, sob a presidência de Carlos Rubem, tem promovido importantes eventos culturais e publicações de obras literárias, inclusive livros da autoria de Gerson Campos e Nogueira Tapety. Agora, essa entidade vem envidando esforços para restauração, conservação e revitalização da antiga sede da Fazenda Canela, onde viveu e morreu o excelso poeta Nogueira Tapety.

Não obstante tenha se aposentado em 1976, continua interessada nos assuntos relacionados com a Educação, com os seus avanços e recuos, com as novas metodologias, com as novas tecnologias empregadas na pedagogia. Também se preocupa com as noções de civismo, moral, ética e patriotismo, que possam e devam ser transmitidas aos jovens alunos. Entende que ensinar e aprender são faces de uma mesma moeda, e que só a arte e a cultura podem modelar as pessoas. Talvez por isso, leitora voraz, continua lendo com regularidade, diariamente, e comenta com pertinência e lucidez o que absorve de suas variadas leituras.

Recentemente, em Mensagem às Crianças do Brasil, de forma enfática exortou:

“Sou vocacionada a alfabetizar crianças. Abracei o meu labor como missão, um apostolado, sempre ensinando e aprendendo. É apaixonante ver a vivacidade, a evolução intelectual do alunato. // Não posso me furtar de dirigir algumas palavras às crianças nesta data em que se comemora o Bicentenário da Independência do Brasil. // Todos esperamos de vocês, crianças, que se dediquem aos estudos com afinco. A nação brasileira confia em vocês. // Lembrem-se que somente a educação, a formação espiritual, o privilégio às artes, o atendimento aos princípios patrióticos, nos conduzirão a uma sociedade justa e igualitária.”

Ao ajudar no planejamento das festividades e comemorações alusivas ao seu Centenário, declarou que, após a missa gratulatória, a ser celebrada na vetusta Catedral de Nossa Senhora da Vitória, marco imponente dos primórdios da Velha Mocha e do Piauí, por onde ainda sentimos perpassar o vulto emblemático do vigário Tomé de Carvalho, pretende usar um vestido rubro, a combinar com os sapatos de igual cor, em homenagem ao Divino Espírito Santo, de que é devota fervorosa.

Nesse momento apoteótico e festivo, gostaria que uma linda corbélia de rosas e dálias vermelhas lhe fosse entregue, como corolário de uma vida luminosa, que se dedicou a fazer e a estimular o bem, a bondade e a beleza, e que, no palmilhar de sua longa estrada, espargiu flores e rosas. 

(*) Este texto foi publicado no livro coletivo "Centenário da Esperança: Amália Campos 1923-2023", organizado por Carlos Rubem, e lançado em Oeiras, por ocasião da festa do Centenário de Amália Campos.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Oeiras festeja centenário de Amália Campos

 




Oeiras festeja centenário de Amália Campos

 

A Academia Piauiense de Letras incorporou-se às comemorações dos 100 anos de vida da professora Amália Campos, sobrinha do poeta Nogueira Tapety, da primeira geração da APL.

 

As celebrações foram realizadas em Oeiras, terra natal da homenageada, sendo organizadas pela família e a Fundação Nogueira Tapety.

 

O presidente da Academia, Zózimo Tavares, e o acadêmico Elmar Carvalho estiveram presentes às festividades.

 

A homenageada recebeu mensagens de parabéns dos acadêmicos Dagoberto Carvalho Júnior, Moisés Reis e Wellington Dias. Os três foram seus alunos.

 

Oeirenses residentes em diversas partes do país viajaram a Oeiras especialmente para participar do evento, como Antônio Madeira, vindo de Curitiba; e Luís Carlos Sobreira, de São Paulo.

 

O programa

 

O programa de cinco eventos foi aberto na quinta-feira (07/09), com a Aula da Esperança – um encontro com os educadores da cidade, no Centro Diocesano Dom Expedito Lopes.

 

Na cerimônia, foi lançado pela FNT o livro ”Centenário da Esperança – Amália Campos”, alusivo à efeméride, com prefácio do diácono Gutemberg Rocha, dados biográficos, crônicas, depoimentos, poemas e caderno fotográfico referentes à homenageada.

 

No segundo dia de comemorações, houve uma Recreação Infantil, na Casa do Canela, a antiga fazenda onde viveu sua infância.

 

A aniversariante recebeu uma tela do arquiteto e pintor Sóter Carreiro e a criançada brincou, cantou os parabéns e assistiu o tetro de bonecos de Chagas Vale.

 

O terceiro dia foi marcado pela recepção festiva, no clube Oeiras Hall, e abertura da exposição sobre os 100 anos da aniversariante.

 

Também houve a entrega solene da biografia do poeta Nogueira Tapety, pelos acadêmicos Zózimo Tavares e Elmar Carvalho.

 

A festa foi encerrada com jantar e o show “Sol e Mar”, com Soraia Castelo Branco e Flávio Moura, e participação especial de Vavá Ribeiro.

 

Uma missa em ação de graças, no domingo (10/09), na matriz de Nossa Senhora da Vitória, marcou o quarto dia de festividades.

 

Em seguida, houve almoço em família e, no final da tarde, encerrando o programa, foi inaugurada a Vila Bebém (espaço recreativo para crianças).

 

Neste evento, houve o plantio de uma goiabeira no quintal da casa da aniversariante, seguido de momento artístico e cultural, com declamações, músicas e apresentação de palhaços.

 

Perfil biográfico

 

Amália do Espírito Santo Campos nasceu em 10 de setembro de 1923, em Oeiras. É a primogênita de uma prole de dez filhos, entre eles o poeta Gérson Campos, precocemente falecido no início da década de 1970.

 

Fez o curso primário no Grupo Escolar Costa Alvarenga, em sua terra natal, entre 1931 e 1935.

 

Estudou o curso ginasial no Colégio Sagrado Coração de Jesus (Colégio das Irmãs), em Teresina, no período de 1939 a 1942, em regime de internato.

 

Ingressou na Escola Normal Oficial de Teresina em 1942, concluindo o Curso Pedagógico em 1944. Também estudou música.

 

No ano seguinte, retornou a Oeiras, onde foi nomeada professora primária.

 

Daí para frente dedicou-se inteiramente ao magistério, sendo responsável pela formação de várias gerações.

 

Aposentou-se em 1981, sendo reconhecida como uma das grandes educadoras do sertão.

Fonte: Academia Piauiense de Letras

domingo, 10 de setembro de 2023

AMOR CONCRETO

Fonte: Google

 

AMOR CONCRETO


Elmar Carvalho

 

no vór-

                 ti-

     ce voraz

dos abrasados amantes abraçados

o amor se faz

in-tenso e tenaz

no êmbolo inserido no

          ver      tiginoso

          vér      ti

                 ce

       inver      tido 

                        Te. 05.12.92

sábado, 9 de setembro de 2023

PRAÇA BAIXA DA ÉGUA

 

Fonte: Google

PRAÇA BAIXA DA ÉGUA


Valério Chaves

Des. Aposentado do TJPI

 

Pouca gente sabe que muitas ruas e avenidas bastantes conhecidas de Teresina já tiveram nomes engraçados ou curiosos e que ao longo do tempo sofreram modificação em sua nomenclatura por atos administrativos municipais.

A atual Praça Landri Sales (praça do Liceu) por exemplo, era chamada até 1939 de Praça Baixa da Égua, isto porque o local era ponto de ótima pastagem para animais. O professor e pesquisador barrense Arimathéia Tito Filho conta no seu livro MEMORIAL DA CIDADE VERDE, editado pela COMEPI (Companhia Editora do Piaui) em 1978, que tal denominação surgiu de um episódio envolvendo dois personagens: um negro e uma égua.

 É que no local - diz o citado autor - existia muito pasto para animais, e os donos desses animais (jumentos, cavalos e éguas) peavam com amarras nos pés, ou seja, com peias. Com o passar do tempo, começaram a aparecer ladrões de peias, até que um certo dia “apareceu morto, com o crânio partido, um negro, e perto dele uma bonita égua cardã, que tinha a alça da peia desamarrada e o casco do pé direito manchado de sangue.

 A partir de então o campo de pastagens ganhou o nome popular de BAIXA DA ÉGUA. Depois se chamou Largo do Poço da Nação (abertura de um poço na praça). Seguidamente, praça 15 de novembro e, finalmente, praça do Liceu (batismo popular)”.

A propósito, a praça Landri Sales ou praça do Liceu, foi palco no passado, de outro episódio curioso envolvendo não mais uma égua, mas um vigia noturno da Prefeitura Municipal de Teresina, apelidado de “João Mago”. Do livro “Casos de Justiça e Outras Histórias que a Vida Conta” (pág. 105), editado em 2015 pela Gráfica O Povo, extrai-se o seguinte episódio ocorrido em meados do século passado na praça do Liceu ou como queiram Baixa da Égua:

“Passava da meia noite. A iluminação pública vinda da Usina Santa Luzia, na Piçarra, já havia se apagado, e não se ouvia a voz de um só cristão. A praça parecia cemitério na escuridão.

“Neste cenário melancólico, João Mago fazia as vezes de vigia noturno... o que lhe custava virar as noites sem pregar os olhos. De repente, apareceu-lhe  o vulto de uma mulher a poucos metros de distância, sem nenhuma roupa no corpo, do jeito que nasceu, sorrindo e insinuando-se com o corpo nu. João Mago sentiu um arrepio no corpo supondo que era alguma assombração do outro mundo ou talvez a alma da “Não se Pode” (personagem em forma de mulher alta, vestida de branco, criada pela imaginação popular de Teresina de outrora levando medo e terror a quem se aventurasse sair tarde da noite pelas ruas).

Porém, tudo não passou de um susto. Sem muito esforço percebeu que se tratava de “Maria Pé Largo” – uma doida que toda vez que fugia do asilo, saia à toa pelas ruas e praças da cidade, completamente nua à procura de que lhe desse comida ou de algum irresponsável aproveitador para lhe fazer o mal, inclusive sexo de graça.

“João Mago não pôde resistir à tentação, mesmo sabendo que se tratava de uma doida. Não vou perder esta chance rara – teria dito ouvindo sua própria respiração e, acrescentado: você vai ver quanto custa aparecer nua aqui à esta hora da noite.

“Tudo ia muito bem encaminhado para os “finalmente” quando de repente a doida, num gesto de alucinação, entrançou as pernas na cintura do guarda, e começou a gritar a plenas pulmões: empurra o (p...) fio duma égua...empurra.. De nada adiantava pedir para a doida parar de gritar. Na manhã seguinte dirigiu-se à Prefeitura para pedir desculpas ao prefeito. Não adiantou. A demissão foi inevitável.

 (Episódio baseado em história contada ao autor pelo enfermeiro Pedro Margarida, in memoriam).

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

UM SÍRIO EM ARRAIAL DO PIAUÍ

Fonte das imagens: Google


UM SÍRIO EM ARRAIAL DO PIAUÍ


Elmar Carvalho


Esteve hoje à tarde no fórum um neto de Elias Helal Tajra. Seu nome é o mesmo do avô, trocado o sobrenome Tajra pelo vocábulo Neto. Fez o curso de Edificações na velha Escola Técnica Federal do Piauí e formou-se em Licenciatura Plena em Química. Tem funcionado como perito ou como assistente técnico em alguns processos. Contou-me ele a história desse seu ancestral.

O velho Elias nasceu em Damasco, na Síria. Era alto, alourado e de olhos azuis. Para fugir da primeira guerra mundial, foi para a Turquia de onde conseguiu embarcar em um navio. Para conseguir a vaga, embriagou um marinheiro e tomou o seu lugar na tripulação. No Brasil, esteve inicialmente em Belém, de onde seguiu para São Luís. Desta cidade foi para Teresina, de onde foi dar com os costados em Floriano, onde havia uma colônia de sírios e libaneses.

Seus patrícios lhe conseguiram a ocupação de caixeiro-viajante, em cuja atividade percorreu várias cidades do interior do Piauí, inclusive a cidadezinha de Arraial do Piauí, na qual terminou se fixando. Estabeleceu uma farmácia. Lá, exerceu informalmente várias atividades, porquanto se tornou uma espécie de conselheiro, juiz, conciliador e médico, além de farmacêutico.

Dificilmente, cometia erro em suas consultas, diagnósticos e receitas. Tanto que um posto de saúde ostenta seu nome. Também seu nome foi dado a uma rua dessa urbe. Conviveu com quatro mulheres, com as quais gerou 14 filhos. Quando a primeira morreu, convidou uma mulher para ser a ama de leite de seu filho mais novo, que tinha apenas um pouco mais de mês de vida. Terminaram convivendo como marido e mulher.

Quando a segunda veio a falecer, preferiu não sair da família, e se tornou companheiro de uma irmã dela. Com a morte desta, arranjou a quarta e última companheira. Ao que se sabe, teve apenas uma mulher de cada vez. Viveu até os 108 anos, como um homem ativo e rijo. Nessa idade fez uma operação de hérnia. Inquieto, mesmo operado, trepou num monte de tijolos, para tirar algo de cima de um muro. Pisou em falso, vindo a cair, o que lhe arrebentou novamente a hérnia objeto da cirurgia.

Em consequência, veio a óbito, vinte e um anos atrás. Foi sepultado na pequenina Arraial, onde exerceu as suas atividades e a sua liderança natural, carismática e humanitária, sem os interesses escusos da politicalha. Deixou vários filhos e netos. Muitos não carregam os sobrenomes Helal e Tajra. Mas carregam o DNA de um homem que foi sábio, bom e digno. 

8 de junho de 2010

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

ENCONTRO

 

Arte: Elmara Cristina

domingo, 3 de setembro de 2023

ENCONTRO

Fonte: Google

 

ENCONTRO


Elmar Carvalho

 

Em teus olhos mergulhei

para rever

        reviver o já vivido.

Neles me embebi

                 embevecido

ao arrebatar do inesquecido

“o que não foi

e que poderia ter sido”.

Colhi nas minhas

o perfume de tuas narinas.

A essência de tuas crinas e resinas

às minhas misturei.

Com os meus, colhi-te

os lábios, entreabertos

em suave espera e ânsia.

Beijei-te os olhos

– fechados para que visses e sentisses

plenamente a magia do momento –

e deles vertias o céu e o mel.

                 Te. 08.1991