sábado, 29 de agosto de 2015

Mistérios e sonhos da Quarta Vigília


Mistérios e sonhos da Quarta Vigília

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

  
            Antigos sábios afirmavam que o espírito levita e passeia, enquanto o corpo dorme. Povos bíblicos e orientais dividiam a noite em quatro vigílias, três horas cada, a partir das 18. Na quarta vigília, entre  as 3 e 6 da manhã, corpo e espírito, já restaurados das forças, experimentavam sensações indescritíveis com seres celestiais. Alcançar esse estágio não é fácil, especialmente na vida moderna agitada e insone.

            Privilégios da quarta vigília  só ocorrem com pessoas que dormem cedo, exercitam espiritualidade, oração e virtudes. No passado, de noites sem  luminosidade elétrica e barulhenta, de vida menos estressada e egoísta, havia espaços para a oração e a presença de Deus.

            Na quarta vigília da noite, as pessoas de fé despertam, tocadas por espíritos celestiais, recebem avisos, como ondas psicanalíticas freudianas. A Bíblia relata experiências fantásticas e proféticas através de imagens oníricas recebidas. José, filho de Jacó, irritava os irmãos, quando relatava sonhos de futuro reinado. Decifrou o pesadelo de Faraó sobre sete anos de vacas gordas e sete de terrível seca (Gênesis, 7). Quando criança, o profeta Samuel acordara, três vezes, na mesma noite, despertado por uma voz divina. Só parou, quando respondeu: “Fala, Senhor, que teu servo escuta!” O Senhor, então, avisou-lhe o fim trágico de Heli, sacerdote de conduta irregular (1 Samuel, cap. 3). Os reis magos foram avisados, em sonho, para não retornarem a Jerusalém.  José ouviu, quando dormia, aviso do anjo para  levar a criança e a esposa Maria para o Egito. Nas caladas da noite, Jesus costumava recolher-se nos montes para repousar e orar. No evangelho de Mateus, capítulo 14, durante repouso e oração da quarta vigília, ele se desloca e aparece andando nas águas do Mar da Galileia, e resgata os apóstolos de naufrágio. No Monte Tabor, resplandeceu, e três apóstolos o contemplaram dialogando com Moisés e Elias, profetas que viveram quase mil anos antes. Os Atos dos Apóstolos relatam aparição de anjo ao apóstolo Pedro, altas horas, enquanto dormia na prisão, e o libertou. Francisco de Assis recebeu, em sonho, aviso divino para reconstruir a Igreja cambaleante de vícios do clero. Outrossim, o Papa Inocêncio, também em sonho, viu um monge tentando segurar as torres decadentes da igreja do Vaticano. Referia-se a Francisco, que tentava registrar sua Ordem.

      São João Bosco, em sonho, ouviu uma voz dizendo-lhe que uma cidade seria construída entre os paralelos 15 e 20 e grande lago próximo.  Faltavam quase 70 anos para a fundação de Brasília.

      Quando se fala em vigília e avisos proféticos, geralmente o assunto é visto com sensacionalismo, indiferença e tapeação. É preciso cautela com oportunistas da propagação da fé, prevendo apocalipse ou previsões de ano novo.

      Grandes pensadores, desde Aristóteles a Freud, debruçaram-se sobre os mistérios dos sonhos e manifestações oníricas. Avisos, premonições e pesadelos envolvendo desastres, afogamentos, perda de emprego, vingança, ganhos e fortunas, quase sempre são resultado da má digestão e de conflitos do cotidiano. Sonhos que tentam desafogar a mente ou atender a alguma necessidade do corpo e do espírito. Sonhos e embriaguês revelam quem somos.

      Sem intenções exibicionistas, confesso que já me dei com experiências fantásticas na quarta vigilia da noite. Até me aporrinha cortar meu sonho. Premonições saudáveis e trágicas, como a que ocorreu, quatro dias antes da morte de meu adolescente sobrinho, Marcos Hidd Júnior, vítima de acidente de moto. Aprendi de pessoas espirituosas que, em casos assim, submete-se a corrente oração para desviar a carga negativa. Dito e feito: avisado em sonho de que minha irmã morreria em acidente caseiro, reuni meus pais e oramos. Aconteceu o acidente, mas sem consequências graves.

      É hora de as pessoas de bem refugiarem-se nas vigílias da oração. Os dasatinos dos que comandam o Brasil se aceleram. Se demorarem as mãozinhas da proteção, nem levitação acordará o país.    

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

FÉRIAS EM BARRAS DO MARATAOÃ


27 de agosto   Diário Incontínuo

FÉRIAS EM BARRAS DO MARATAOÃ

Elmar Carvalho

Parte I

Na reunião de sábado, oito de agosto, na Academia Piauiense, vários confrades se referiram, de forma efusiva e elogiosa, ao livro Rua da Glória, da autoria de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, professor universitário, geógrafo e escritor, nascido em Teresina. Rua da Glória é a atual Lisandro Nogueira, onde ele nasceu, na casa de sua avó materna, e na qual viveu a sua infância e parte da juventude.

O acadêmico Pedro da Silva Ribeiro lhe enalteceu as qualidades do estilo e do conteúdo. Disse que além de sua importância genealógica, o livro discorre sobre o crescimento de Teresina. Elogiou-lhe ainda a correção gramatical. Fonseca Neto, na mesma toada e quase em uníssono, lhe fez calorosos elogios, e disse que foi um dos que sugeriram o nome do autor para receber o título de Doutor Honoris Causa, que lhe foi concedido pela Universidade Federal do Piauí.

Acrescentou que os quatro volumes de suas memórias também se reportam a Campo Maior, Barras, União e Miguel Alves, e que cada um se refere a uma geração de parentes e ancestrais do autor. Informou, ainda, que o autor passou mais de vinte anos a escrever essa notável obra memorialística.

O escritor e poeta Dílson Lages Monteiro, recém eleito para a nossa Academia, não lhe regateou palavras de elogio. Aliás, foi bastante enfático, quando falou da capacidade de síntese do memorialista, e quando se referiu ao lirismo de sua linguagem, inclusive qualificando-a como uma obra que merece ser relida. Coroando suas palavras, disse que o seu texto é comovente, e comparável às memórias de Pedro Nava, observando-se, claro, as propostas e peculiaridades de cada um.

Diante dessas palavras de fartos e entusiasmados elogios, e também considerando o que eu já tinha ouvido e lido sobre Rua da Glória, tomei a decisão de adquiri-lo. Na segunda-feira seguinte, logo na parte da manhã, me dirigi à livraria Monsenhor Melo, da Editora da UFPI – EDUFPI, dirigida pelo professor e economista Ricardo Alaggio Ribeiro, onde adquiri os quatro alentados volumes, que ainda trazem belas ilustrações feitas pelo autor, inclusive as da capa. Disse-lhe, uma vez que gosto de dar boas notícias, que as memórias de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro tinham sido calorosamente elogiadas na sessão de sábado.

Em virtude de projeto literário pessoal que desenvolvo no momento, sobretudo a continuidade deste Diário Incontínuo, previsto para ser encerrado no final do corrente ano, e serviços de postagem (publicação) de textos em meu blog e em sites em que mantenho blogs ou colunas, como Entretextos e Proparnaíba, não pude ler esse monumento memorialístico na íntegra, como ele bem merece.


Optei por ler inicialmente as belas páginas em que o memorialista narra e descreve as suas férias em Miguel Alves e Barras. E pude constatar que as louvações de meus confrades foram justas. Parafraseando o poeta Torquato Neto, eles louvaram o que bem merecia ser louvado.   

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Sobre “Bernardo de Carvalho – o fundador de Bitorocara”, por Elmar Carvalho



Sobre “Bernardo de Carvalho – o fundador de Bitorocara”, por Elmar Carvalho
  
Gilberto de Abreu Sodré Carvalho
Romancista, historiador e genealogista

Foi publicada a segunda edição, revista e ampliada, de “Bernardo de Carvalho, o fundador de Bitorocara”, neste ano de 2015, como livro eletrônico pela AMAZON. A qualidade historiográfica da obra me enseja, irresistivelmente, a falar sobre ela.
A segunda edição é tão rica em novidades e na criação de contextos históricos importantes, que poderia ter um novo título. Acresce que o “volume” digital contém anexos muito úteis de matéria relacionada com o corpo do texto.
Outro ponto, que me encanta, é que o festejado poeta e ensaísta Elmar Carvalho, meu primo remoto, com quem compartilho o mesmo sobrenome Carvalho, nos remete, aos dois juntos, o escritor e eu, o seu leitor, aos nossos velhos antepassados Carvalho de Almeida do Piauí. Nada mais prazeroso, para ele, eu imagino, como seria para mim (que tiro proveito fazendo esta resenha), que escrever sobre Bernardo de Carvalho e Aguiar. Esse herói foi tio dos nossos ancestrais, em comum, Manuel e Antônio Carvalho de Almeida, e dos seus irmãos párocos: Miguel de Carvalho, Tomé de Carvalho e Silva, e Inocêncio de Carvalho, esse último ativo no sul.
O livro é um ensaio histórico, com sustentação bibliográfica pertinente, sobre Bernardo de Carvalho, senhor da fazenda Bitorocara, da qual se originaram Campo Maior e outras cidades. Foi ainda o realizador da conquista portuguesa das terras nortenhas do Piauí.   
A questão da localização geográfica da antiga fazenda Bitorocara, que pertenceu ao grande Bernardo, sugere algumas palavras minhas sobre o assunto, em linha com o que é trazido de informação pelo autor. O assunto é bem coberto por Elmar Carvalho, no bojo da sua ágil e agradável narrativa sobre a vida notável de Bernardo de Carvalho, mestre de campo e cavaleiro da Ordem de Cristo.
A velha vila de Campo Maior, no Piauí, teve uma extensão original vasta, na medida em que correspondeu a boa parte da área que esteve sob o domínio de Bernardo, no final do século 17 e início do 18. Com o tempo, desde o ano de 1762, data da criação da vila, o seu território foi sendo reduzido, com a formação de entidades políticas novas, ou seja, vilas e municípios, mediante desmembramentos. Tais novos municípios surgiram a partir do desenvolvimento de antigas ou de novas circunscrições proprietárias, a dizer, fazendas com seus currais, em combinação com freguesias, no sentido de paróquias católicas ao mesmo tempo que unidades políticas seminais.
Na fase histórica anterior à organização político-administrativa do Brasil, os rios foram importantes. Eles serviam tanto para dar acesso a novas áreas para a conquista e ocupação da América Portuguesa, como para nomearem-se as regiões e os sítios, na falta de outras alternativas mais pertinentes. São assim comuns em todo o Brasil, e no Piauí, topônimos que remetem a um rio, quase sempre antecedido por um nome de santa ou de santo. Os rios garantiam aos conquistadores o comércio, o transporte de gente comum e de guerra, a nutrição direta mediante os peixes e os demais, as melhores pastagens as suas beiras, a água para a irrigação da lavoura e a energia para os moinhos.
Elmar Carvalho, em seu ensaio histórico, registra, com desenvoltura e ótima síntese, a argumentação do saudoso padre Cláudio Melo sobre a localização da fazenda Bitorocara, do final do século 17. Tal fazenda foi a origem, por via do povoado do Arraial Velho, nela situado, da freguesia, da vila e da posterior cidade de Campo Maior.
O fato, comprovado pelo Padre Melo, com o imediato acatamento de Odilon Nunes (que antes pensava o rio Bitorocara ser o rio Piracuruca), é de que a fazenda Bitorocara tinha, por território nuclear, a região da confluência dos rios Longá, Surubim e Jenipapo. Se o rio Bitorocara fosse o rio Piracuruca, a fazenda Bitorocara não poderia geograficamente corresponder a Campo Maior. São justamente os elementos de convicção, de natureza geográfica, que levam a entender-se que o rio Bitorocara é o mesmo que foi, em seguida, chamado de rio Longá. Disso, dessa conclusão, percebe-se a antiga fazenda Bitorocara no seu verdadeiro lugar. 
Ocorre que, de antes, no tempo de Bernardo e por conta de ele o ter chamado desse modo, o rio Longá era conhecido como rio Bitorocara, e o rio Surubim era chamado de rio Cobras. O nome Bitorocara só consta da “Descrição do sertão do Piauí”, escrita, em 1697, pelo padre Miguel de Carvalho, sobrinho do grande Bernardo.
A argumentação de Elmar Carvalho, sobre a origem do atual município de Campo Maior na fazenda Bitorocara, é a apresentada originalmente, com bastante documentação, pelo Padre Cláudio Melo no seu “Os primórdios de nossa história”, de 1983, páginas 167 a 176, reafirmada por Afonso Ligório Pires de Carvalho, em “Terra do gado – a conquista do Piauí na pata do boi”, Brasília: Thesaurus, 2007, e, mais recentemente, por Valdemir Miranda de Castro, em “Enlaces de famílias”, 2014.
Existem, em Elmar Carvalho, mais argumentos em favor de o berço de Campo Maior ser a fazenda Bitorocara, com sua sede na confluência do rio Longá, antigo Bitorocara, com o rio Surubim e o rio Jenipapo. Mais exatamente, na junção do Longá com o Surubim. Ocorreu de a fazenda Bitorocara ter abrigado um arraial militar, chamado, após os anos, de Arraial Velho. É, com esse nome, que consta do testamento de Miguel de Carvalho e Aguiar, filho de Bernardo, que o passa à sua neta. Tal sítio - de encontro de homens de guerra lusos, mestiços e indígenas - foi estratégico na conquista do norte do Piauí aos índios. Do Arraial Velho, ou seja, da povoação permanente que lá se instalou, surgiu uma freguesia, sendo o primeiro pároco o padre Tomé de Carvalho e Silva, sobrinho de Bernardo e irmão inteiro do padre Miguel de Carvalho. Dela, da freguesia, em seguida, se teve a vila e, por fim, o município de Campo Maior.
Bitorocara, na confluência dos três rios, dava meios para deslocamentos variados de forças armadas de portugueses e índios aliados. Neste cenário físico, o mestre de campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, cavaleiro da Ordem de Cristo, era o chefe militar, sendo seu lugar-tenente Manuel Carvalho de Almeida, seu sobrinho e irmão inteiro do padre Miguel de Carvalho.

Em suma, a obra de Elmar Carvalho é uma leitura importante para os campomaiorenses, para os estudiosos da formação histórica do Piauí e do Brasil e para os piauienses e brasileiros em geral. A leitura da biografia desse grande homem é muito relevante em um tempo de penúria cívica.      

domingo, 23 de agosto de 2015

Seleta Piauiense - Hermínio Castelo Branco


Este mundo é um rebolo

Hermínio Castelo Branco (1851 - 1889)

É um rebolo este mundo:
A manivela – o dinheiro,
Os homens – amoladores,
Trabalham de cuteleiro.

Principiando do alto,
Do chefe desta nação,
Vê-se o mestre diretor
Nas artes da amolação.

Contra-mestres no ofício,
Ministros, seus delegados,
Que amolam todo este mundo,
Mas também são amolados.

Os juízes preguiçosos,
Nos dias de audiência,
Dos empregados e partes
Amolam a paciência.

O astuto advogado,
De acordo co’o escrivão,
São perfeitos no ofício,
Ou arte da amolação.

Nas tesourarias públicas,
E noutras repartições,
Em cada banda se encontra
Um maço de amolações.

Nas boticas, nos hotéis,
E no comércio em geral,
É um freguês amolado
Duma maneira fatal.

Na tribuna o deputado
(À custa do seu dinheiro)
Com a língua de ferrugem,
Amola o mundo inteiro.

E no púlpito sagrado,
O vigário ignorante,
Com pragas e maldições
Nos amola a todo instante.

Deixando de parte, agora,
As públicas amolações,
Vamos na vida privada
Ver maiores fricções!

O velho pai de família,
Pelos anos alquebrado,
Tendo filhas bonitinhas, ´
É toda noite amolado...

Se por infelicidade,
Tiver sogra o desgraçado,
Pode contar, como certo,
Ser toda vida amolado.

As visitas repetidas,
Sem motivo imperioso,
São amolações tremendas,
Dum caráter perigoso.

O rapaz que, numa roda,
Quer passar por sabichão,
Sendo tolo, ignorante,
Amola com perfeição.

E aquele namorador
Por passatempo somente,
Sem ter em vista casar-se,
Amola perfeitamente.

E toda moça no baile,
Que se faz muito rogar,
Se pedindo uma quadrilha,
Sabe também amolar.

Ainda aquela que tem
Dez a doze namorados,
Jurando firmeza a todos,
Traz eles bem amolados.

Toda velha rabugenta,
Por demais conservadora,
Pretensiosa a namoro,
É tenaz amoladora.

Também o velho que traz
Preto bigode, pintado,
Amola as moças bonitas,
Supondo ser namorado.

Sendo assim o mundo todo
Composto de amoladores,
Eu também vou, por meu turno,
Amolando aos meus leitores.      

sábado, 22 de agosto de 2015

“Terra de ninguém” e o advento do livro digital


“Terra de ninguém” e o advento do livro digital

José Pedro Araújo

As novas ferramentas tecnológicas no campo da internet, trouxeram facilidades também para o meio cultural. E isso se reveste de grande importância em um momento em que este setor da vida quotidiana vem atravessando um período árido, difícil, com obstáculos tremendos para aqueles que gostariam de ver seus escritos publicados, e pretendem colocá-los à disposição da opinião pública. Publicar qualquer trabalho hoje é uma tarefa que acarreta enormes esforços, além de grandes dispêndios. No que pese todos os governos, seja ele federal, estadual ou municipal, possuírem a sua secretaria de cultura e propagandearem aos quatro ventos dedicação a este campo, torna-se quase impossível encontrar meios para a publicação de qualquer coisa com o patrocínio oficial. As tais secretarias são criadas apenas para acomodar aliados e não para tratar da cultura em si, é o que podemos depreender. E assim, quem dispõe de algum recurso sobrando, é obrigado a bancar a impressão do seu próprio trabalho. E são poucos os que se dispõem a arcar com mais essa despesa. O resultado disso é que tem muita gente boa por ai que continua com trabalhos interessantes guardados no fundo de uma gaveta, e que ficarão por lá, esquecidos, por séculos e séculos sem fim.

Felizmente, surgiram empresas que militam no cyber espaço que vieram para contrapor a esse grave problema editorial. É o caso específico da Amazon.com, maior livraria do mundo com atuação na internet e também a primeira editora em volume de livros digitais publicados. Hoje, qualquer cidadão que possua algo interessante no campo das letras e da cultura, pode publicá-lo gratuitamente na Amazon, que ainda oferece as ferramentas para a editoração do seu trabalho. Foi assim que publiquei alguns dos meus guardados recentemente. E não fosse através desse procedimento, dificilmente eles chegariam ao conhecimento do público.


Tenho publicado três contos através desse processo, que já estão à disposição do público: O Relógio da Matriz, Naná e Negociando com a Morte. Já está também à disposição dos leitores o meu primeiro romance, Terra de Ninguém, uma obra que trata da disputa litigiosa travada entre os estados do Piauí e do Ceará pela posse de uma grande possessão de terras. Trato ainda sobre a problemática da seca e de outros temas agudos que atingem a gente residente naquele espaço conhecido por eles como Terra de Ninguém. Endereço eletrônico:(www.amazon.com.br).  

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Casa do Desterro

Foto meramente ilustrativa

Casa do Desterro


Valdemir Miranda de Castro

Ao prezado amigo, poeta inspirado, Elmar Carvalho, como prova da mais distinta consideração.

A origem da família MELO, no norte do Piauí, deve-se a figura de Onofre José de Melo, casado com Cecília Maria das Virgens, que proveniente de Pernambuco, foram os fundadores da Casa do Desterro na Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Piracuruca. Do casal descendem os Melo de Piracuruca, Piripiri, Batalha, Barras e Campo Maior.
A Freguesia de Piracuruca, foi a terceira a ser fundada no território do Piauí, ainda sob jurisdição eclesiástica do Bispado de Pernambuco, possuía várias casas-grandes de Fazendas dos primeiros ocupantes de seu vasto território, que se estendida do vale do Longá ao litoral e até a costa leste do Maranhão.
A professora Judith Santana em seu trabalho “O Padre Freitas de Piriripi”, enumera que o território da freguesia possuía várias casas-grandes, que faziam a política da boa vizinhança, entrelaçavam-se por uniões matrimoniais entre seus descendentes (SANTANA, s.d., p. 28). Entre as fazendas citadas ressaltem-se a Gameleira, fundada por Francisco José do Rego Castelo Branco e Auta Inês de Castro, - a Casa das Lages, de Bernardo José do Rego e Cândida Rosa Castelo Branco, - a Casa do Desterro, de Onofre José de Melo e Cecília Maria das Virgens, e a Casa do Curral de Pedras, de Simplício Coelho de Resende.
I- Onofre José de Melo foi casado com Cecília Maria das Virgens, pernambucanos de origem, ela filha de um Padre Ponte, o casal foi pais de:
II-1 José Florindo de Melo
II-2 Gracinda Rosa de Melo
II-3 Carlota Rosa de Melo
II-4 Antônio Luís de Melo
II-5 Antonino José de Melo
II-6 Luís Antônio de Melo
II-7 Higina Rosa de Melo

II-2 GERACINDA ROSA DE MELO, casou-se com Diógenes Benício de Melo, foram os fundadores da Casa da Caiçara, foram pais de:

III-1 Filomena Rosa de Melo
III-2 Avelina Maria de Melo
III-3 Inácia Maria de Melo
III-4 Cecília Maria de Melo
III-5 Idalina Rosa de Melo
III-6 Onofre José de Melo
III-7 Prestetato José de Melo
III-8 Diógenes Benício de Melo

III-5 IDALINA ROSA DE MELO nascida e falecida no Termo de Batalha, Freguesia de Piracuruca. Casou-se com SALVADOR QUARESMA DOURADO DE MELO, nascido em Piracuruca e falecido em Batalha. Capitão da Guarda Nacional no Termo de Batalha. Pais de:

IV-1 Pussina Rosa de Melo
IV-2 Carmina Quaresma de Melo
IV-3 Luís Quaresma de Melo
IV-4 Altino Quaresma de Melo
IV-5 Conrado Quaresma de Melo
IV-6 Matias Quaresma de Melo
IV-7 Salvador Quaresma de Melo

IV-1 PUSSINA ROSA DE MELO, nasceu em 1886 e faleceu no Termo de Batalha. Casou-se com JOAQUIM JOSÉ DE MELO, nasceu em 1886, em Barras. Filho de Prestetato José de Melo e de Georgina Quaresma de Melo.

IV-2 CARMINA QUARESMA DE MELO, n. 20.02.1889, em Batalha.

IV-5 CONRADO QUARESMA DE MELO, nasceu em Batalha e faleceu a 03.03.1952, em Batalha. Chegou à vila de Boa Esperança nos primeiros dias de sua criação, tendo servido a nosso município pelo espaço de mais de tinta anos, tanto como político de destaque, como também na qualidade de funcionário do Departamento Nacional dos Correios de Telégrafos. Depois de aposentado, por motivo de saúde, voltou à sua terra natal, deixando entre nós um grande lastro de sólidas amizades (A. SAMPAIO, 1965, p. 88). Casou-se com INÁCIA DE ALENCAR MELO. Pais de:

V-1 Maria do Perpétuo Socorro Melo
V-2 Avelino Melo
V-3 Idalina Melo
V-4 Alice Melo

VI-1 MARIA DO PERPÉTUO SOCORRO MELO, nome de solteira, MARIA DE ALENCAR MELO, nome de casada, nasceu a 10.01.1916, no lugar Palmeira, Município de Esperantina e faleceu a 16.07.1986, em Teresina. Casou-se a com CLÓVIS DE CASTRO MELO [primeiro do nome], nasceu a 31.12.1901, em Batalha, e faleceu a 22.10.1991, em Teresina. Filho de Messias de Andrade Melo e de Ana de Castro Melo.

VI-1 AVELINO MELO, nasceu a 02.01.1908 e faleceu a 03.10.197. Casou-se com GERACINA OLÍMPIO DE MELO, nascido a 22.08.1913 e faleceu a 03.11.1979. Pais de:

VII-1 José Olímpio de Melo
VII-2 Messias Melo
VII-3 Conrado Melo Neto
VII-4 Ana Inácia Melo

IV-6 MATIAS QUARESMA DE MELO, nasceu a 29.10.1891 e faleceu a 03.03.1963, em Batalha. Casou-se com SATURNINA BRAGA DE MELO nasceu a 22.03.1928 e faleceu a 14.04.1998. Pais de:

V-1 Maria de Fátima Braga de Melo, nascido em 22.04.1954 e falecido em 27.11.1957 s.s.g.

IV-7 SALVADOR QUARESMA DE MELO, nascido em 05.06.1892; falecido em 04.01.1962, em Batalha. Casou-se com MAROQUINHA MELO nasceu a 21.04.1905 e faleceu a 25.04.1992.

II-7 HIGINA ROSA DE MELO, casou-se MIGUEL QUARESMA DOURADO, nascido em 1817, em Portugal. Constava da lista dos eleitores de Piracuruca, no ano de 1848, com 31 anos. Pais de:
II-1 Salvador Quaresma Dourado de Melo
II-2 Georgina Quaresma de Melo

II-1 SALVADOR QUARESMA DOURADO DE MELO,  [Ver nº III-5 IDALINA].

II- 2 GEORGINA QUARESMA DE MELO, nascido no Termo de Batalha; falecido no Termo de Batalha, Freguesia de Piracuruca. Moradora do lugar Águas Livres, Batalha. Casou-se com PRESTETATO JOSÉ DE MELO nascido em Batalha e falecido no termo de Barras. Residente no lugar “A mais tempo”, Barras. Pais de:

III-1 Joaquim José de Melo

III-1 JOAQUIM JOSÉ DE MELO, nasceu 1886; faleceu no Termo de Batalha. Casou-se, a 08.01.1907, aos 21 anos, no Sítio Águas Livres, Batalha, com PUSSINA ROSA DE MELO nascida em 1886 e falecida em Batalha. Filha do capitão Salvador Quaresma Dourado de Melo e de Idalina Rosa de Melo. Foram testemunhas: o Capitão José Francisco de Melo e Diógenes Olímpio de Melo.

II-ANTÔNIO LUÍS DE MELO, casado que foi com Francisca Sinharia da Silva. Pais de:

III-1 Diógenes José de Melo

LUÍS ANTÓNIO DE MELO, casou-se em segundas núpcias com HIGINA ROSA DE MENESES, foram pais de:

III-3 Horácio Luís de Melo

III-1 DIÓGENES JOSÉ DE MELO, nasceu a 25.01.1853, em Piracuruca, e faleceu a 22.11.1902, em Batalha, ambos sepultados no cemitério de São Gonçalo da Batalha. Alferes do Batalhão de Guarda Nacional de Infantaria do Município de Batalha, promovido a tenente, em 12.01.1878, depois capitão da Guarda Nacional (PIRES FERREIRA, 1992, V.2 p. 88-89). Tenente coronel do 4º Batalhão de Infantaria de Batalha, em 1902. Conselheiro a Câmara Municipal de Batalha, legislaturas 1872-1876, 1892-1896, 1896-1900 e 1900-1904, tendo falecido no exercício do cargo, em 1902, assumindo seu lugar na câmara Amaro José Machado. Proprietário da Fazenda Cachoeira, agricultor e criador. Fundador da Fazenda Malhado do Meio, no atual município de Esperantina, que foi herdada por sua filha Matilde de Castro Melo, primeira esposa do cel. Manoel Lages Rebêlo. Casou-se com UMBELINA INÊS DE CASTRO, nome de solteira, Umbelina de Castro Melo, nome de casada, nasceu a 05.04.1852, no termo de Batalha foi batizada a 02.12.1853, na Igreja Matriz de São Gonçalo da Batalha. Foram seus padrinhos: João Bartolomeu de Carvalho e sua mulher Mariana Rosa de Carvalho. Faleceu 03.04.1924, em Batalha, sendo ali sepultada. Pais de:

IV-1 Auta de Castro Melo
IV-2 Matilde de Castro Melo

IV-1 AUTA DE CASTRO MELO, casou-se com OLEGÁRIO ARLINDO DE CASTRO BEM nasceu a 11.06.1917, em Barras, e faleceu a 10.06.1999, em Batalha [primeiras núpcias deste]. Filho de Cândido Alfredo Castelo Branco e de Laurentina Inês de Castro. Primos entre si. Pais de:

V-1 Auta de Castro

V-1 AUTA DE CASTRO, [Autinha], casou-se com FRANCISCO NOGUEIRA DE AGUIAR [Dodô Aguiar] de tradicional família cearense.

VI-2 MATILDE DE CASTRO MELO, nome de solteira, Matilde de Castro Melo Rebelo, nome de casada, nasceu a 14.03.1891, na Vila de Batalha e faleceu a 28.02.1933, na cidade de Boa Esperança, atual Esperantina. Casou-se, em 18.01.1908, em Batalha, com MANOEL LAGES REBELO nasceu a 18.07.1888, na Fazenda Santa Teresa, Município de Batalha, e faleceu a 24.12.1981, na cidade de Esperantina. Fazendeiro nos municípios de Batalha, Esperantina, Joaquim Pires e Luzilândia. Foi o responsável pela emancipação política do povoado Retiro da Boa Esperança do Município de Barras, em 1920, quando foi criado o Município de Boa Esperança, hoje Esperantina. Foi o primeiro intendente e o primeiro prefeito do Município de Esperantina. Filho de Umbelino Gomes Rebelo e de Maria da Assunção Pires Lages. Neto, pelo costado paterno, de Laurentino Gomes da Silva Rabelo e de Maria Madalena da Paz e pelo costado materno, de Manoel Rodrigues Lages e de Maria da Assunção Pires Lages. Pais de:

VI-1 Diógenes de Melo Rebelo
VI-2 Haydée de Melo Rebelo
VI-3 Odete de Melo Rebelo
VI-4 Delorme de Melo Rebelo
VI-5 Hamilton de Melo Rebelo
VI-6 Maria de Nazaré de Melo Rebelo

nn MANOEL LAGES REBELO, casou-se, em segundas núpcias, em com ZILDA NOGUEIRA DE AGUIAR, nasceu a 27.02.1918, na fazenda Boa Vista, então do Município de Barras, depois Esperantina, hoje Morro do Chapéu do Piauí. Filha de José Nogueira de Aguiar e de Eliza Nogueira de Aguiar. Pais de:

VI-7 Edmar Nogueira Rebelo
VI-8 Manoel Lages Filho
VI-9 Marilda Nogueira Rebelo.
(V. descendência em PIRES FERREIRA, 1992, V.2 p. 89 a 101).


II-6 LUÍS ANTÔNIO DE MELO, casado com HIGINA ROSA DE MENESES, foram pais de:

III-1 Horácio Luís de Melo

III-2 HORÁCIO LUÍS DE MELO, casou-se em terceiras núpcias com Antônia Quitéria de Carvalho. Filha de João Bartolomeu de Carvalho e Mariana Rosa de Carvalho. Pais de:

IV-1 José Horácio de Melo

IV-1 JOSÉ HORÁCIO DE MELO, nascido a 05.08.1873 no lugar Campestre em Piracuruca e falecido em 13.08.1965 em Teresina a 13.08.1965 em Campo Maior. Casou-se com Maria Carlota. Pais de:

V-1 Rosália Maria de Melo Carvalho

V-1 ROSALIA MARIA DE MELO CARVALHO nascida em Piracuruca, em 20.11.1933 e falecida em Teresina a 26.04.2013. Casou-se com MIGUEL ARCÂNGELO DE DEUS CARVALHO. Pais de:

VI-1 José Elmar de Melo Carvalho.


Obs.: Texto do trabalho em elaboração: A colonização do Vale do Longá.

Valdemir Miranda de Castro
Licenciado em Letras Português
Bacharel em Direito
Pós-graduado em Metodologia do Ensino e em Direito Penal.



quinta-feira, 20 de agosto de 2015

OS NOVOS MICROFONES DA ACADEMIA

Elmar, Itamar e C. Said, o Magro de Aço

20 de agosto   Diário Incontínuo

OS NOVOS MICROFONES DA ACADEMIA

Elmar Carvalho

Como todos sabemos, há vários tipos de microfones, de maior ou menor qualidade, de mais ou menos sensibilidade. Existem os sem fio; os grandes e os pequenos; os que se usam na lapela, e até os que são postos sobre o tórax, quase como se fossem uma gravata, como é o caso do usado por Sílvio Santos. Alguns são luxuosos, de ouro ou banhados a ouro, como os de certas vedetes e exibicionistas.

O da tribuna de nossa Academia Piauiense de Letras é um tanto grande, e de pouca sensibilidade. Exige, para uma melhor captação do som, que seja posicionado à altura da boca do orador, e que este fale perto dele e de maneira frontal.

Muitos dos nossos palestrantes e conferencistas não tinham esses cuidados, alguns em decorrência da idade provecta, e falavam movimentando a cabeça para um lado e outro, ou não posicionavam corretamente a boca. Essa postura e atitude faziam com que sua voz chegasse às caixas amplificadoras com baixíssima qualidade, de modo que muitos ouvintes reclamavam.

Por essa razão, alguns dias atrás, quando eu me encontrava sentado ao lado do cardiologista José Itamar Abreu Costa, diretor do ITACOR, amante das Letras e amigo da APL, disse-lhe que iria propor aos acadêmicos nos cotizarmos, para adquirirmos um microfone “de vergonha”, de alta capacidade de captação de voz. Em minha opinião, até a data comemorativa do centenário da APL teríamos que ter um melhor sistema de som.

O nobre Dr. Itamar então me prometeu que na segunda-feira seguinte iria mandar um técnico para estudar o nosso sistema de som, para, em momento oportuno, doar dois ou três microfones de alta qualidade. A Academia entrou de recesso durante o mês de julho, e eu não tive mais notícia da promessa de nosso bravo Itamar, mas sabia que ele a cumpriria, porquanto sei que ele é um homem sério e de palavra, cujo fio de sua longa e bem cuidada barba de profeta vale mais do que a assinatura de muitos falastrões e fanfarrões demagógicos.

Pois na solenidade acadêmica de sábado, dia 15, em que foram lançados os livros Palimpsestos, de João (Crisóstomo da Rocha) Cabral, APL: Estatutos, Regimento Interno, Acadêmicos e Breve Histórico, organizado pelo Des. Nildomar da Silveira Soares, Mitos e Legendas da Política Piauiense, de Wilson Nunes Brandão, e Acertando na Mosca, de Deusdedit Machado Moita, o presidente Nelson Nery Costa, postado à mesa de honra, abriu uma caixa e nos mostrou os microfones doados pelo Dr. Itamar Costa, que fez questão de dizer que atendera a uma reivindicação deste cronista.


Quando eu deixava o prédio do sodalício, encontrei o bom amigo Carlos Said, que esperava uma carona de Itamar. Quando este veio buscar o legendário Magro de Aço, tive ocasião de fazer esta blague: “Os microfones do doutor Itamar são tão poderosos, que captam até o suspiro do orador, até o rumor suave das asas de uma borboleta, e acredito que até o pensamento mais forte do orador, em suas pausas respiratórias.”     

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Teresina em pedacinhos de mim

Fonte da foto: Turismo Teresina

Teresina em pedacinhos de mim

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail

       Nestes 163 anos de existência, cada velinha do bolo não consegue apagar-me pedacinhos e estampas de meu álbum. Andando pelo centro ou arredores da capital, uma paixão impregnada em mim. Só se ama quando se conhece.

         Entrar na Igreja de São Benedito é saborear um capítulo da minha cidade. 4 da madrugada de domingo. Sinos tocavam, em três momentos, para a missa das 5.De todo canto da pequena Teresina, dava para se ouvir a convocação sagrada. Meu pai me levava, na garupa da bicicleta, da Piçarra à igreja. O templo enchia-se de fiéis. Frei Heliodoro e dezenas de cantores, no coro superior da igreja, encantavam corações.

         No romance O MANICACA, 1901, o magistrado Abdias Neves retrata Teresina dos últimos anos do século 19 e início do século 20.     O romancista descreve a capital de poucas quadras, praças e ruas. A cidade acabava nas confluências das Igrejas São Benedito, Nossa Senhora das Dores ou Mercado Central. Rapazes e adultos exibiam bengala, terno, cartola e ginete. A vida social circulava, praticamente, nos arredores da Praça da República (Deodoro ou da Bandeira) e Igreja do Amparo. Sem calçamento, água canalizada, energia elétrica; somente lampiões pendurados em postes. Chegavam miseráveis retirantes da seca de 1877, famintos e extorquidos por espertalhões. No Nordeste, morreram mais de 500 mil cidadãos.

A modesta Teresina, fundada em 1852, acabava no rústico cemitério de negros e expurgados, no Alto da Jurubeba, onde Frei Serafim de Catânia construíra a Igreja de São Benedito, 1874/1894, em homenagem ao santo frade leigo, nascido na Sicília, filho de escravos etíopes. Da Igreja de São Benedito, estendia-se a Estrada Real, a futura Avenida Frei Serafim, cercada de florestas e sítios, até o Rio Poti, de onde escravos extraíam pedras e areia para construção do templo.

A primeira geração de Teresina desfrutava a Praça Deodoro. A segunda curtia a Praça Rio Branco. A terceira, a Praça Pedro II. A contemporânea, a praça da alimentação do shopping. A primeira com suas bengalas, ternos, cavalos e chapéu. A segunda, divertindo-se no Bar Avenida, por trás da Igreja do Amparo (restam velhinhos sentados nos bancos da Rio Branco, remoendo vetustas paixões). A terceira, maioria sessentona, da Praça Pedro II, não cansa de remoer velhos apetites da carne da Paissandu, das tertúlias do Clube dos Diários, do apito da corneta, mandando as virgens voltar pra casa, às 9 horas, depois de rodarem a praça. Jovens contemporâneas, mais avançadas que as seletas da Paissandu, avisam aos pais que vão ao shopping, mas sabe Deus com quais intenções, pois camisinha virou moda. Bengalas, que nada! A onda é selfie.

Teresina dos arranha-céus, intensa vida noturna, restaurantes de primeira, sensores em cada poste para flagrar dinheiro dos motoristas, mas não aprendeu a construir calçamento de vergonha ou criar polícia municipal. A cidade orgulha-se das escolas classificadas no ranking nacional e pena por engolir gororoba de gestores de obras inacabadas. Porém mazelas não me roubam a paixão pela cidade.     

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O MORRO DOS VENTOS DA ESPERANÇA


O MORRO DOS VENTOS DA ESPERANÇA

Chico Acoram Araújo

            Meu irmão caçula, o “fim-de-rama”, ligou para mim comunicando-me que tinha mudado de endereço. Tive a impressão, pela sua fala, que estava alegre e feliz. Disse-me que havia vendido sua modesta casa que ficava próximo ao Encontro das Águas, zona norte de Teresina. Já se passaram alguns anos, não me lembro exatamente o ano. Explicou-me que a motivação da venda do seu modesto imóvel se deu por conta de que, ultimamente, estava se sentido muito só, apesar da companhia de seus dois filhos adolescentes, órfãos desde crianças, desde quando a mãe sofrera um fulminante e fatal infarto. O golpe foi cruel. O lar já não era o mesmo. As feridas demoraram por muito tempo para cicatrizarem-se. Decidiram, ele e os filhos, morar no bairro em que outrora viveu com seus pais e irmãos: o Morro do Urubu ou o eufêmico Morro da Esperança. No morro, disse-me ele, ainda residem alguns parentes e amigos; aqui, não os tenho. Lá, quando o dia alumia, o canto mavioso dos pássaros (não a dos negros garis alados) ainda se ouvem; e quando escurece a gente reza uma prece pedindo à Deus saúde e proteção. E, vez por outra, fazemos promessas à milagrosa alma do finado motorista Gregório.

Respondi-lhe que estava de pleno acordo com sua decisão de morar onde nossa família viveu por muito anos, e que eu iria visitá-lo no próximo final de semana.  

            Para me orientar quanto ao seu novo endereço, meu irmão perguntou se eu ainda lembrava naquele estreito e poeirento beco, de cerca de 100 metros de extensão, que ficava no sopé do morro, próximo ao rio Poti, entre as ruas Manoel Domingos e Alcides Freitas, que era usado como atalho do acesso para um pedaço de rua onde ficava a casa de nossa família. Respondi afirmativamente. Como poderia não lembrar daquela travessa que, na adolescência, era a rota obrigatória para eu ir para Escola Industrial, hoje IFPI? Como esquecer que, ao transitar por aquela passagem, meus sapatos pretos, de grossos solados feitos de couro de boi, ficavam empoeirados, necessitando de uma caprichosa limpeza antes de entrar na escola?

Indagou-me ainda se eu lembrava de certo pé de cajá existente no citado beco. Como esquecer aquela saudosa árvore que, ainda muito cedo das manhãs, eu e os meninos que moravam nas imediações corríamos, o mais rápido possível, para pegarmos seus deliciosos frutos caídos ao chão durante a noite? Como não recordar que, nas noites de lua cheia, ouviam-se dizer que um macaco preto ou lobisomem trepava-se velozmente naquela velha cajazeira? -Diziam que essa visagem era um velho negro que morava na redondeza, e que em noites de lua grande e brilhante se transformava nesse medonho animal que assombrava crianças e adultos que por ali passavam - Naquele lugar, era hábito comum as pessoas, em noites de lua cheia, passarem em tubada carreira; e esse também era o meu caso, não vou mentir!

A exposição desse cenário, de saudosa memória, aconteceu no período dos três últimos anos da década de 60. Meu mano, encerrando o diálogo, informou-me que aquela velha casa, ao lado do mencionado pé de cajá, era agora o seu lar. Muito fácil de encontrar, não é? No sábado seguinte fui visitar meu estimado irmão.

            Beco da travessia: passado e futuro. Travessa de duas extremidades. De um lado, a esperança, o caminho que dava acesso às “coroas” dos rios Poti e Parnaíba; aos campos de futebol de várzeas. Ao morro, não o do urubu, “mas o do “Querosene”, como também ao “Moi de Varas” e “Paissandu”. Vereda que me levava a minha escola, ao Teatro 4 de Setembro e Cine Rex.  Que ia também ao centro, à Universidade e a todos os lugares da cidade. Atalho que me conduziu ao do sucesso, ao emprego público federal e à estabilidade financeira. Caminho das oportunidades e das melhores condições de vida. Do outro lado, o portal da pobreza, o atraso, dias difíceis, a fome, a indolência, a moradia precária, as doenças, a violência – a desesperança. O poeta Elmar Carvalho descreveu bem aquele ambiente em seus versos que retratam a vida real do Morro do Urubu, em seu livro Rosa dos Ventos Gerais, que a seguir transcrevo:

POSTAIS DE TERESINA
...
POSTAL III
O Morro do Urubu
se muito foi terá sido
morro do urubu chumbado, morro do
urubu chagado, sifilítico e faminto.
O Morro do Urubu
hoje é Morro da Esperança.
Esperança de quem?
Daqueles que nada esperam
em sua ab/so/luta miséria.
Morro da Esperança?
Morro dos bastardos da vida,
dos pobres, dos desvalidos.
Morro da morte matada,
morro da morte morrida,
morro da morte em vida:
morro da (des)Esperança.
           
A fagueira tarde daquele sábado estava magnifica. É possível que estivéssemos em meado de março ou abril, pois nos galhos daquela velha cajazeira ainda se via alguns resquícios de seus saborosos frutos. Como se sabe, a safra do cajá ocorre nos meses de fevereiro, março e abril.

Uma leve brisa oriunda do rio Poti batia nas encostas do morro e escorria suavemente sobre as copas das árvores existentes no lugar. Nesse momento, ouvi um ruflar dos frondentes galhos do hospitaleiro pé de cajá. Este nos abrilhantava com sua majestosa sombra. Sob esse chapéu protetor, eu e meu irmão conversávamos animadamente sobre fatos ocorridos na época em que nossa família residia no Morro do Urubu. Tudo isso em razão da grave crise financeira que meu pai atravessou, e que marcou profundamente as vidas do casal e de seus seis filhos. Foi essa, a razão da mudança da nossa família para o Morro Urubu. A nova morada era uma pequena casa de paredes de taipa e cobertura de palha de palmeira do babaçu, situada na ribanceira de um grotão, no final da Rua Alcides Freitas. Antes, morávamos em uma modesta e confortável casa na Rua Palmeirinha, hoje Alcides Freitas, no centro da cidade. Mas, isso é uma outra história; quiçá eu conte em uma outra oportunidade.

Um clima de nostalgia nos acalentava, quando ouvi que algo tinha caído junto aos meus pés. Era um robusto fruto daquela velha árvore; um precioso cajá que, de incontinenti, peguei-o em minhas mãos. Meu irmão, vendo-me de posse do meu achado, entrou em sua casa e, de volta, trouxe para mim uma caprichada dose de uma dourada cachaça Mangueira. Brindamos. Divertimo-nos bastante. Estava quase noite. Despedimo-nos. Ao sair do mitológico beco, senti em meu rosto um pouco da brisa ainda resvalada pelas escarpas do Morro do Urubu. Da alma e do meu coração: o Morro dos Ventos da Esperança.                  

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Com Elmar Carvalho, na “Toca do Velho Monge”


Paulo de Tarso Mendes de Souza, Natim Freitas, Canindé Correia, Zico, José Hamilton Castelo Branco, Elmar e Fátima Carvalho
Elmar visto pelo chargista e flamenguista Gervásio Castro


Com Elmar Carvalho, na “Toca do Velho Monge”

Dagoberto Carvalho Jr.
Da Academia Piauiense de Letras

Encontro-me, reencontro com o poeta, “doutor-juiz”, confrade na ilustre Casa de Lucídio Freitas,José Elmar de Melo Carvalho, piauiensemente, na “Toca do Velho Monge”. Não em sua poética casa de campo – ou, talvez, só “refugiumpecatorum” (como sofrem, ou às musas, de corpo e alma, se entregam os poetas –,no sítio Filomena, à margem idílica de nosso eterno e inspirador Paraguassu; mas no novo livro que lhe toma o nome e as saudades da vida inteira, reunindo crônicas que “sabem”(dizemos portugueses referindo-se a “sabor”), à boa linguagem poética.
Conhecemo-nos bem antes da “Toca” de que se fala e exalta onde, decerto, Elmar viverá “a esperança de óculos” – como na letra (Zé Rodrix / Tavito), de bela canção interpretada por Elis Regina –; antes da magistratura profissional (que abraçou com dignidade e o levou a Oeiras) e da chegada do poeta (cedo consagrado) à Academia Piauiense de Letras, com o voto do cronista que se antecipava confrade, na ilustre casa; por apresentação do escritor Antônio Reinaldo Soares Filho,meu cunhado e amigo de ambos.Autografei-lhe, então, exemplar de “Passeio a Oeiras”; livro de cuja sexta e mais recente edição foi prefaciador. Belo texto datado de São Gonçalo da Regeneração.
Velha-cap que seria segunda terra do poeta campomaiorense, sua “cidade da memória”, porquanto ali, inspirado, escreveu “Noturno de Oeiras”, livro-poema que lhe garante a conterraneidade de que muito nos orgulhamos – os oeirenses todos – e o elevado conceito humano e literário em que sempre o tivemos. “Noturno” a que não me deixo de associar pelo motivo, mesmo, de nossos livros basilares;que teve edição apresentada na cidade em dezembro de 2010, no IBENS, pelo também escritor Moisés Reis. Não por acaso no encerramento do ano em que fui homenageado pelo projeto “De poeta, músico e louco, em Oeiras todos tem um pouco”. Sobre o evento, escrevi “Moisés Reis, Elmar e o Natal de Oeiras”, incluído no meu “De lembrança em lembrança – Eça de Queiroz e outras memórias”.
Por lá também apareceu como editor e apresentador de livro de ensaios de Expedito Rêgo, registrada – na quarta capa – modesta opinião do signatário. Estive presente à merecida festa literária.
Mas, voltando e prendendo-me ao novo livro de Elmar Carvalho – renovada a admiração de leitor com pretensão e lentes de crítico – destaco, além, naturalmente, do texto sobre o “mafrensino” Riacho da Mocha, os títulos: “Rio Parnaíba: problemas e soluções”, “Lagoa do Portinho – uma morte anunciada”, “Preservação e revitalização do
Rio Parnaíba”, “Cemitério Velho – museu e memorial” e “O sonho de Lauro: a ferrovia, o rio e o porto”. Literatura com responsabilidade social.
Bem haja meu caro poeta!

Fonte: Diário do Povo (Opinião), Teresina, 16 de agosto de 2015