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SETE CIDADES
roteiro de um passeio poético e sentimental
Elmar Carvalho
( Em memória do saudoso Gen. João Evangelista Mendes
da Rocha, que escreveu sobre este poema
e o publicou no seu livro “E
o Sonho Continua”. Este poema foi escrito no período em que assumi o meu cargo de juiz de Direito, como juiz auxiliar, em Piracuruca, terra de meus ancestrais maternos, embora o desejasse escrever há muitos anos.)
I – Pórtico Triunfal
Sete Cidades
de sete vezes sete
véus de encantamento.
Cidade encantada
sempre desencantada
para novos e mais
deslumbrantes encantos.
Cidade de pedras amaciadas
pelos toques
e retoques
dos dedos
delicados diáfanos
e abstratos do vento
e da eternidade.
Cidade esculpida
pela carícia suave
do vento e do tempo.
E das forjas do vento e do tempo
emergem as esculturas
de inefáveis linhas
e tessituras.
Sete Cidades:
sonho feito
de pedra
pedra feita
de sonho
sonho que se fez sonho
na concretude da pedra.
Ó formas sinuosas
de góticas catedrais,
barrocas formas suntuosas
que se excedem e se superam
no além e no demais.
Formas de pétalas pétreas
em volteios e volutas sem
iguais.
II –
Figuras e Mistérios
A Serra Negra
celestialmente
se azula nos longes
do tempo e da distância.
A Biblioteca imersa
em silêncio e mistério
misteriosamente abre
suas páginas de pedra.
Ondas cavalgantes e
truncadas
em pedras bordadas
na memória imortal
de um mar que naufragou,
de fenícios encalhados
nos roteiros e mapas
de esotéricas astronomias
sobrevivem nos arenitos
das marés petrificadas.
A Gruta do Pajé
deserta de tudo
deserta até das lembranças
das antigas pajelanças.
Vale dos Penitentes.
Vale de abandono e solidão.
Vale de lágrimas secas,
esturricadas.
Vale de desolação.
Vale de lágrimas abortadas.
Vale de um deus sem
coração.
No Forte
um Guarda de pedra na guarita
em rigidez mortuária
debalde aguarda
um outro guarda
para o ato de rendição.
Um Canhão
aponta a mira
de Telescópio
para uma outra
desconhecida dimensão.
A Tartaruga
passeia parada
no tempo e no espaço
com seu casco construído
de brisa e eternidade,
abrigando macambiras
de espinhentas espadas
desfolhadas.
Do alto do Vale dos Lagartos
a pré-história nos
contempla
dos olhos pedrados
dos dinossauros.
Serra da Descoberta:
em cada passo uma surpresa
em cada olhar uma nova
e surpreendente descoberta.
De suas gretas agres,
agressivas e agrestes
a cabeça tosada de
coroas-de-frade
se perdem em êxtase e
contemplação.
Os líquens são impíngens
e manchas que se derramam
na epiderme macia
ou áspera das pedras.
No Arco do Triunfo
passam e perpassam
a Vitória e a Glória
desse reino de pedras.
A pedra se faz carne
na beleza humana
da Mulher Reclinada.
Imemoriais mistérios e
arcanos
ainda persistem impregnados
na Furna do Índio,
povoada de pávidos
fantasmas
desgarrados.
A insustentável leveza
da pedra se sustenta
no Jardim Suspenso
da pétrea Babilônia,
onde os segredos e
sortilégios
espiam da Janela
e escorrem por veias,
vênulas,
túneis e túmulos.
No Portal das Almas
os fantasmas passam
e sussurram disfarçados
no corpo e na voz do vento.
Inscrições rupestres
são o vestígio e a denúncia
de um povo espoliado,
trucidado, dizimado.
Em pedra
um grito continua
entalado na garganta
da efígie/esfinge
de Dom Pedro I.
Os Três Reis Magos esperam
extáticos e estáticos
na perenidade paciente da
pedra
o advento do rei
desse reinado de pedra.
Ó glória,
ó deslumbramento
de sonho, de fastígio,
de alumbramento e
encantamento
desse reino encantado,
desse reino em pedra
emparedado.
Piracuruca, 20 de janeiro de 1998
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OBRAS
CONSULTADAS
Geologia de Sete Cidades –
Fernando Fortes
Fenícios no Brasil – Antiga
História do Brasil de 1100 a. C. a 1500 d. C. – Ludwig Schwennhagen
Roteiro das Sete Cidades –
Vítor Gonçalves Neto
Enigmas de Sete Cidades –
Reinaldo Coutinho
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