domingo, 30 de julho de 2023

CETICISMO

 

Fonte: Google


CETICISMO


Elmar Carvalho

 

Náufrago de uma tempestade

num copo dágua,

escuto o canto da desgraça

como um chamado de sereia.

Pregado numa cruz invisível,

de cabeça para baixo,

tenho os braços fechados

em sinal de protesto.

Herói morto de

um sonho desfeito,

tenho como epitáfio

a solidão e o

esquecimento.

Cantor do silêncio,

tenho a lira sem cordas

e as mãos paralíticas.

Pássaro-símbolo da liberdade,

tenho as asas quebradas e a

garganta afônica.

Mendigo da solidão,

tenho as mãos vazias.

Descendente de troglodita,

sou menos que um

macaco.

Partícula de mim mesmo,

sou menos que uma célula

fragmentada.

Resumo de mim mesmo

uma expressão me resume:

o NADA absoluto. 

           Parnaíba, 04.09.77

sexta-feira, 28 de julho de 2023

NOVO SESSENTÃO

 


NOVO SESSENTÃO 


Elmar Carvalho


No sábado, fui à festa de aniversário do Evangelista, casado com a Elza, amiga de minha mulher, e que conheço desde o início de minha vida profissional, quando ingressei na ECT, em setembro de 1975. Evangelista é um botafoguense afogueado e fogoso, de muito entusiasmo e vibração, e a sua festa teve detalhes decorativos, que lembravam essa sua condição de torcedor fervoroso.

Muitos convidados, além de seus amigos, eram também adeptos do Botafogo. A festa aconteceu no salão nobre do Jockey Club. Encontrei vários amigos, como o coronel Bastos, que foi meu colega do curso de Direito, que não via há um bom tempo. À mesa dele estava o Antônio Luiz Medeiros, promotor de Justiça aposentado, que hoje reside em Santa Catarina.

Muitos colegas do aniversariante usaram da palavra, e todos exaltaram as suas boas qualidades de cidadão e de pai de família, bem como enalteceram o bom amigo que ele é. O Antônio Luiz, que poderia ter sido juiz de Direito, mas optou em permanecer como membro do Ministério Público, perguntou-me se eu não desejaria também falar. Respondi-lhe que não, pois sendo flamenguista, não desejava botar fogo em festa botafoguense.

Encontrei o meu xará Elmar Veras, que deixou de ser louro, para assumir com galhardia os cabelos grisalhos. Recordamos o tempo em que moramos na pensão de dona Teresinha Cardoso, que ficava perto da Casa Saló, portanto, nas imediações da Escola Sambão e da Baixa da Égua, de muita folia e tradição. Recordamos o Marcos, natural de Pedro II, que era o meu relógio despertador, pois todo dia me acordava para me perguntar as horas.

Dona Teresinha ficava furiosa com a impertinência ingênua do Marcos. Para mim, teria sido mais proveitoso ter-lhe dado o meu relógio, ou comprar-lhe um, para não ser perturbado em horário tão matinal, pois ele acordava com as galinhas, na preocupação de não chegar atrasado ao trabalho. Demorei pouco tempo na hospedaria, pois voltei para Parnaíba, para cursar Administração de Empresas no campus local da UFPI.

Também encontrei o Vila Nova, que por brincadeira chamo de grande Vilão, quando na verdade ele é um mocinho dos filmes de antigamente. É um artista na arte da dança. Com a sua mulher, praticou todo tipo de dança, tanto que eu lhe disse que ele não era apenas um “pé de valsa”, como se dizia outrora, mas era também um pé de samba, um pé de forró, um pé de tango, e, se alguém duvidasse, para não perder a viagem, dançaria até ao som de um hino. Vila Nova, irmão maçônico, contou-nos uns casos anedóticos e engraçados, de cunho autobiográfico.

Como não poderia deixar de ser, cantamos a música Parabéns pra Você. E Evangelista bem fez por merecê-la, em seus sessenta anos bem vividos.  

26 de maio de 2010                        

quinta-feira, 27 de julho de 2023

O Menino do Canto Escuro

 


O Menino do Canto Escuro


Frederico A. Rebelo Torres (*)

 

Em maio deste ano, tive a honra de receber um convite do próprio autor, o advogado Dr. João Batista do Rêgo, para prestigiar o lançamento de sua obra inaugural. Ao receber o livro autografado, junto com outros exemplares para a Academia Miguel-alvense de Letras e para compartilhar com amigos, tive a oportunidade de mergulhar na cativante história que ele nos apresenta.

Pág.20 “A localidade Canto Escuro fica no município de Barras, no Estado do Piauí. Segundo as informações, o Canto Escuro era um lugar de mata muito fechada, com terras boas para a agricultura, e que começaram a ser exploradas pelos moradores das localidades Santa Bárbara e Bosque a partir do ano de 1920, cultivando ali suas roças. E por ser uma região de matas virgens, como era chamada naquela época, o sol praticamente não clareava o solo que ficava encoberto pelas árvores e pouco iluminava o chão, deixando os lugares sempre escuros. Daí então, os agricultores passaram a denominar essa localidade de Canto Escuro, nome que perdura até hoje.”

Ao eleger o título 'O Menino do Canto Escuro', o autor recorre à figura de linguagem denominada 'metáfora', empregando o termo ou expressão em um sentido figurado, evocando outras ideias e imagens além de seu significado literal. Neste contexto, a metáfora se revela no emprego da expressão 'Canto Escuro', que vai além da mera indicação geográfica. A locução 'Canto Escuro' é empregada como metáfora que simboliza a condição de pobreza e obscuridade social vivenciada pelo menino. A figura de linguagem utilizada na narrativa exalta a atmosfera emocional do livro, estabelecendo vínculos entre o ambiente físico e o contexto social e emocional do protagonista. Deste modo, o título 'O Menino do Canto Escuro' se destaca como uma poderosa metáfora, convidando o leitor a explorar a história de um garoto que enfrentou desafios e adversidades em um cenário marcado por dificuldades.

O Canto Escuro era o lugar onde o menino se escondia (ou estava escondido) do mundo, também era um lugar onde ele podia sonhar e criar suas próprias fantasias. O título expressa que o menino ainda vive dentro do autor, pode ser uma referência ao fato de que o menino era uma pessoa única e especial. O Menino do Canto Escuro foi capaz de ver a beleza no mundo, mesmo nos lugares mais obscuros, e capaz de encontrar esperança, mesmo nos momentos mais difíceis.

Ao utilizar o nome do lugar onde nasceu no título do livro, o autor quis prestar homenagem ao nome do logradouro onde nascera, dando-lhe conotações de santuário, para ele, para família e para posteridade. Revelando o caráter predominantemente sentimental, bairrista e saudosista do autor.

O livro é um testemunho personalíssimo da história do protagonista, sem cortes ou aparas, trazendo para as páginas todas as frestas e gargalos da vida desde o menino pobre daquela época até o homem bem-sucedido de hoje. Página a página, sem demonstrar o ódio abrasivo ou a fresa da vontade de vingança, o autor ritmiza a narrativa, pari passu, de forma sincera, nos guia em sua Odisseia.

O livro começa com o autor contando sobre sua infância numa pequena cidade do interior do Nordeste. Ele descreve sua família e os conflitos internos, a bigamia do pai, a intolerância parental por parte de alguns irmãos, a condição de quase sem teto, numa casa insalubre, a dificuldade para alimentação e etc... seus primeiros anos de vida. O livro é cheio de memórias afetivas e também de momentos de tristeza e dificuldade. O autor fala sobre a pobreza, o preconceito e a violência que ele e sua família enfrentaram. Além disso celebra, hoje, as conquistas de uma família e todas suas vitórias, mostrando-se inclusive um cidadão do mundo.

João Batista nasceu em 1949, e o trecho mais marcante da história se passa entre a cidade de Barras e a capital Teresina, no Piauí. A narrativa autobiográfica 'O Menino do Canto Escuro' revela um olhar perspicaz sobre a jornada de vida de João Batista, desde sua infância em uma pequena cidade no interior do Nordeste do Brasil. O autor nos transporta para o cenário do Piauí dos anos 1950 e 1960,70 até os dias atuais, onde ele enfrentou inúmeras dificuldades, mas soube encontrar esperança mesmo nos lugares mais sombrios.

É importante considerar o contexto histórico local, nacional e regional para entender a realidade de João Batista e de milhares de outros "Meninos do Canto Escuro" que viviam naquela região e época.

O Brasil passava por um período de transição nos anos 1950, movendo-se de uma economia agrária-exportadora para uma urbana-industrial. Isso foi devido ao processo de industrialização que começou em 1930 e que criou condições específicas para o aumento do êxodo rural. Em 1940, poucas pessoas da população brasileira viviam em cidades. No entanto, a partir de 1950, o processo de urbanização se intensificou, pois, a industrialização promovida por Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek criou um mercado interno integrado que atraiu milhares de pessoas para o sudeste do país. Enquanto isso, boa parte da população rural do Piauí, que não tinha condições de migrar para o sudeste, região que possuía a maior infraestrutura e, consequentemente, concentrava o maior número de indústrias, migrava das cidades do interior para a capital piauiense, Teresina, em busca de melhores condições de vida e escolaridade e foi isso que aconteceu com nosso protagonista que em chegando à capital, deparou-se em ter que trabalhar em “Cantos” de caminhões, ambulante, empregado do comercio com e sem vínculo empregatício.

Enquanto João Batista tinha 21 anos e apenas lia e escrevia, os anos 1960, no Piauí, em especial em Teresina, foram marcados pela ascensão da geração CLIP, que significa "Círculo Literário Piauiense". Este grupo foi oficialmente fundado em 2 de abril de 1967, mas houve um período de preparação antes disso. O movimento começou com a associação dos escritores Herculano Moraes e Hardi Filho em meados de 1964. Eles eram jovens escritores e poetas que queriam divulgar seus livros.

Neste contexto, podemos afirmar que existiam dois "Piauí": o engajado econômica e culturalmente e o Piauí do obscurantismo. Nosso personagem desejoso a todo custo sair da obscuridade, fato que só aconteceu de forma efetiva em 1977, quando conseguiu seu primeiro trabalho na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), conquistando a estabilidade econômica, uma vida digna para si e sua família e posteriormente com seu ingresso efetivo como advogado na ordem.

O autor, durante todo o percurso do livro, mostra uma memória espetacular, apontando com precisão datas, lugares, nomes, paisagens, sequências de acontecimentos e sensações sentidas desde tenra idade. É impressionante que o autor ainda preserve na memória alguns termos ou terminologias que já caíram em desuso, a exemplo de “franzino”, para indicar indivíduo magro, além de outros termos e vocábulos do passado. Fato interessante que ainda nos anos de 1960, a figura do tropeiro ainda era viva e o próprio João Batista, fora tropeiro a transportar as bananas para “As Barras”, na companhia do padrinho.

Uma extraordinária ferramenta de registro histórico, pois o mesmo narra toda a jornada da profissão rural, tornando-se um referencial para aqueles que se dedicam à nobre missão de contar histórias.

Na obra “Os Sertões”, Euclides da Cunha afirma: “o nordestino antes de tudo é um forte. E podemos afirmar que João Batista é um desses nordestinos.

"Sou nordestino!

Sou do sertão, terra quente,

  Que é bem difícil chover.

 Nasci de um povo valente,

 acostumado a sofrer.

 Sou nordestino, oxente,

 E tenho orgulho de ser.

Autor: Guibson Medeiros"

Sobre a obra “O Menino do Canto Escuro”, diz o renomado Advogado e Historiador Piauiense, Imortal Reginaldo Miranda:

"Ler a presente autobiografia é viajar no tempo e no espaço, conduzido pela escrita do seu autor".

A literatura brasileira conta com muitas obras deste gênero, importantíssimas, seja ficção ou realidade. Cito Fernando Sabino e José Lins do Rêgo como exemplo nesse contexto.

Temos em "O Menino do Canto Escuro" uma obra que ultrapassa o simples relato de uma vida, representando um verdadeiro mergulho nas memórias do autor, Dr. João Batista do Rêgo. Ao longo das páginas, somos transportados para o interior do Piauí, para a pequena Barras, das décadas de 1950 e 1960, onde o cenário rico em detalhes nos permite vivenciar a infância e a juventude de um menino que enfrentou inúmeras dificuldades, mas soube encontrar luz mesmo nos lugares mais sombrios.

Essa autobiografia é um testemunho honesto e genuíno de uma vida repleta de desafios e superações. O autor não poupa detalhes ao retratar sua jornada, compartilhando tanto as alegrias quanto as dores que moldaram sua trajetória. A pobreza, o preconceito e a violência são abordados de forma corajosa, permitindo ao leitor vislumbrar a complexidade das experiências vividas.

Em meio aos desafios e oportunidades que a vida nos oferece, é essencial lembrar que todos nós somos protagonistas de nossa própria jornada. A trajetória de João Batista nos ensina que cada passo dado, cada escolha feita e cada sonho acalentado são peças fundamentais na construção do nosso destino. Sua obstinação pelo conhecimento.

Portanto, expresso minha admiração e gratidão a João Batista do Rêgo por compartilhar sua história com tanto vigor e profundidade. Sua obra é um verdadeiro legado, que nos inspira a enfrentar desafios e a valorizar cada passo dado em nossa própria jornada. Sua coragem em escrever sobre suas origens e suas lutas inspira a todos que buscam entender o verdadeiro significado da resiliência e da superação, para “As Barras do Maratauã” mais um filho desponta no cenário cultural do Piaui.

(*) Escritor, crítico literário e poeta. Membro da  Academia Miguel-alvense de Letras - AML, da Academia de Letras do Vale do Longá - ALVAL e da Confraria Camões ALB, AMLH, AHMOC e SOPIPO.   

terça-feira, 25 de julho de 2023

segunda-feira, 24 de julho de 2023

MOTIVO PARA CHORORÔ

 

Fonte: Google/Revista Brado

MOTIVO PARA CHORORÔ

 

Antônio Francisco Sousa – afcsousa01@hotmail.com

 

                Confesso-lhes que foi impossível não ser irônico ou não ficar um pouco feliz com a demagógica infelicidade alheia, quando li um trecho de reportagem publicada na mídia impressa local, falando sobre a possibilidade de, caso sejam cumpridas as regras constitucionais e eleitorais a respeito, o estado mafrensino perder, efetivamente, dois deputados federais, seis estaduais e, obviamente, uma carrada de suplentes de uns e de outros.

                É que, dada a contagem oficial da população, ou seja, a feita pelo órgão governamental competente, o estado, hoje, contaria com três milhões e duzentos e sessenta e nove mil habitantes, e, atualmente, possui dez parlamentares deputados federais e trinta estaduais, contingente que, para ser mantido, legal e regulamente, precisaria que tivéssemos, pelo menos quatrocentas e trinta e um mil a mais de habitantes vivendo nestas plagas.

                Para o especialista convidado a explicar quais consequências práticas ou pragmáticas sofreríamos com essa perda, elas viriam do seguinte modo: de cara, quatrocentos milhões em recursos que deixariam de vir para os cofres estaduais ao final do mandato – interessante é que, ontem, uma dessas figuras não via tanto prejuízo caso fosse destruída uma estrutura planejada e edificada, destinada à utilização pelo sistema de transporte coletivo, e que teria custado algo como meio bilhão de reais em emendas do tipo - referentes àquelas duas cabeças cortadas; maiores que essa, concluiria o estudioso, seriam a perda de representatividade e, claro, do poder de barganha.

                Seria, verdadeiramente, por conta de esses dois fatores – perda de recursos e de representatividade político-parlamentar -, que estamos sendo conduzidos à bancarrota? À guisa de informação, temos doze estados, considerando o distrito federal, com menos de dez deputados na câmara federal; dentre esses entes federativos, pelo menos, cinco possuem um nível de riqueza econômica superior à nossa. O que isso parece querer dizer, sem demagogia, é que as demandas orçamentárias feitas e obtidas pelos parlamentares por meio de emendas, dependem de outras variáveis que não apenas o critério per capita; senão, como se explicaria estados com menor pretensa representatividade conseguirem recursos que, juntamente com a riqueza econômica produzida por eles, fazem-nos mais ricos do que os, supostamente, mais bem representados politicamente? E tem mais: dentre os estados com mais de dez representantes na câmara em Brasília, um deles, ano após ano, quase recorrentemente, é considerado o mais pobre do Brasil.

                Ou seja, é possível perceber-se que o açodado chororô causado pela suposta perda de nomes e de cadeiras parlamentares em Brasília tem muito a ver com o prejuízo político imediato, que os que forem defenestrados terão, e com o próprio futuro político pessoal, muito mais difícil, nebuloso e caro, quando das próximas candidaturas; deve-se, ainda ou, até mesmo, à diminuição dos recursos públicos alocados em emendas orçamentárias que suas excelências destinarão aos estados de origem ou outros por eles adotados; valores esses, que, segundo “estudiosos”, deixariam  de aportar nos erários. A diminuição de representatividade parece não ser justificativa para qualquer lágrima derramada, estão aí para corroborar essa hipótese, casos de estados com menos de dez deputados em situação, política e econômica, muito mais favorável, do que a de outros com maior número desses cidadãos. É claro que é bom ter um contingente maior de representantes, se estes, de fato, comprarem as causas de seus representados, por elas lutarem, verdadeiramente; quando isso não ocorre, isto é, parlamentares, politicamente falando, deixando que lugares, espaços, vez e voz, que seriam seus por direito adquirido, sejam ocupados por outros mais espertos, ou com maior poder de barganha, conclui-se pela sua total desnecessidade. Descabe no contexto de essa discussão, é como penso, o conceito de coligação partidária: o bom e necessário representante parlamentar de uma população é aquele que não abre mão de suas obrigações, prerrogativas e prioridades, o que faz tornar-se realidade desejos e anseios de seus representados; sem essa de ceder a terceiros ou submeter a uma fila, o que é emergente, urgente e cabível, sob seu ponto de vista pessoal e social.

                Em síntese. Talvez até esteja agindo levianamente: mas penso que para muitos deputados que poderiam perder suas cadeiras no plenário da câmara federal, e, consequentemente, as que seriam ocupadas por seus suplentes – não raro, vários destes para cada um daqueles -, se fossem aplicadas as regras constituições atinentes ao caso, passa-lhes  pela cabeça a maior dificuldade que terão, quando chegar o momento de tentar manter ou conquistar uma nova cadeira, haja vista que, inescapavelmente, se submeterão a um processo eleitoral muito mais caro e concorrido.

domingo, 23 de julho de 2023

PINTURA

Fonte: Google

 

PINTURA


Elmar Carvalho

 

Minha estrada

é a esteira de luz

que o Sol traça no mar.

Meu arco-do-triunfo

é o arco-íris

que o Sol pinta no céu.

Meu louro

é o pentelho dourado

que cobre tua nudez.

Então eu,

laureado com tua pubescência de ouro

percorro a estrada de luz do sol no mar

passo por baixo do arco-íris-do-triunfo,

herói anônimo que se venceu a si mesmo.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

TRÁGICO DESENCONTRO

 

Foto meramente ilustrativa     Fonte: Google


TRÁGICO DESENCONTRO


Elmar Carvalho


Nesta sexta-feira, estive na CEF, tratando de assuntos de meu interesse. Fui atendido pela Natália, servidora dinâmica e atenciosa. Estava presente uma senhora que não conhecia. Não sei por que motivo, começamos a falar sobre assuntos de Oeiras. Eu disse a essa senhora que eu era um quase oeirense, e me dava com quase todos os intelectuais da velhacap, que são muitos e de escol; que havia escrito poemas e crônicas, em que fiz a louvação da Terra Mater.

Ela me perguntou se eu conhecera o saudoso escritor e médico Expedito Rêgo. Respondi-lhe que sim, e que ainda no final do ano passado eu tivera a honra de ser o apresentador de seu livro Crônicas Esquecidas, que também prefaciara. Disse-lhe que também havia sido, por indicação de Ferrer Freitas, o apresentador de Vidas em Contraste, em memorável noite de cultura, em que vi pela derradeira vez Balduíno Barbosa de Deus, que havia sido meu professor no curso de Direito da UFPI.

A senhora terminou por me contar uma tragédia que se abatera sobre sua vida, quando era recém-casada e estava na flor da idade. Manoel Felipe, seu marido, era irmão de Expedito Rêgo, que apesar da cara fechada e de poucos sorrisos, era um médico humanitário e um homem bom. Quando ela estava prestes a ganhar seu bebê, o Dr. Expedito recomendou-lhe que viesse tê-lo em Teresina, tendo ela seguido o conselho.

Teve parto normal, sem nenhuma complicação, de sorte que dois dias depois pode retornar a Oeiras. Seu marido achou por bem ir a seu encontro, em um jipe, como uma forma de homenagear a mulher e a filha. Seguiram pela estrada que vai para o povoado Gaturiano, que na época era uma carroçável de piçarra. Em certo trecho, próximo do povoado São João da Varjota, hoje cidade, um caminhão emparelhou com o jipe, em que iam Manoel Felipe, um amigo deste, e o motorista, um jovem de aproximadamente 18 anos de idade, provavelmente com pouca experiência e talvez com o entusiasmo próprio da idade.

Ao que parece seguiram em parelha durante algum tempo, com o pó da piçarra turbilhonando no ar, o que terminou fazendo com que o motorista do caminhão fizesse uma manobra, de modo que a traseira da carroceria atingisse o carro menor, que foi projetado para fora da estrada. Acredita-se que essa manobra tenha sido proposital, pois soube-se que ele se gabara de tal proeza, ao parar em um posto de combustível.

Manoel Felipe foi conduzido para Teresina, enquanto seu amigo faleceu no local do acidente. Poucos dias depois veio a falecer, quando tirava um cochilo, em consequência de sequelas do desastre, com apenas 26 anos de vida. Acompanhei a narrativa atentamente, com poucas interrupções para duas ou três perguntas. Olhei para o rosto de Durcila Sá Rêgo, era este o nome de minha interlocutora.

Seus olhos vertiam sentidas e copiosas lágrimas. O poeta Manuel Bandeira, em célebre e elegíaco poema, chorou pelo que não foi, mas que poderia ter sido. Ela parecia chorar pelo que fora, mas que poderia não ter sido, se em lugar do desencontro ocasionado pelo trágico desastre automobilístico houvera acontecido o encontro sonhado e buscado por Manoel Felipe. Perguntei-lhe se poderia contar o caso.

Com voz firme, sem titubeios, respondeu-me que sim. Certamente, tem o consolo de ter tido uma boa filha, a competente médica Conceição Sá, casada com o seu colega Tupinambá Vasconcelos, de cujo consórcio lhe vieram os netos. 

25 de maio de 2010                   

domingo, 16 de julho de 2023

AS MOSCAS E O TEMPO

 

Fonte: Google

AS MOSCAS E O TEMPO


Elmar Carvalho

 

Moscas douradas

copulam no ar

e tecem teias

com fios longos de pensamentos,

que se perdem

em passado sem história

e em futuro sem

perspectivas.

Moscas vermelhas

copulam no chão

e as mulheres

surgem no matagal

e as camas estremecem

nas alcovas.

Moscas azuis

copulam no céu:

só existem

anjos e arcanjos

onde a matéria

não existe.

 

           Pba, 02.04.78

quarta-feira, 12 de julho de 2023

A AI e minhas fotografias

 

Arte: Elmara Cristina

Imagens (acima) produzidas pela AI App Remini
Acima, duas das fotografias que foram enviadas para a AI



A AI e minhas fotografias

 

Elmar Carvalho

 

Minha filha, com o uso do aplicativo Remini, modificou várias fotografias minhas, umas de quando eu era jovem e outras atuais. Não tenho a pretensão de explicar o que seja essa inteligência, mas acho de bom alvitre transcrever abaixo o seguinte trecho de um texto que encontrei no site da UOL:

"A inteligência artificial é um campo da ciência da computação que se dedica ao estudo e ao desenvolvimento de máquinas e programas computacionais capazes de reproduzir o comportamento humano na tomada de decisões e na realização de tarefas, desde as mais simples até as mais complexas.  É comumente referida pela sigla IA ou AI (em inglês, artificial intelligence)."

Na sequência da matéria, colhi a informação de que ela começou a se expandir de forma definitiva nos anos 1950, e que pode ser classificada, quanto à sua capacidade, como Inteligência artificial limitada (ou estreita), inteligência artificial geral e superinteligência artificial. Daí em diante  teve grande impulso graças a novas descobertas e avanços no campo da ciência da computação, da robótica e da inteligência artificial. Com a descoberta dos algoritmos, o ser humano pode interagir com a IA.

Deixarei de lado essas breves e superficiais explicações, e entrarei no mérito do que realmente desejo falar. A Elmara Cristina aprendeu a usar, como eu disse, o aplicativo da Remini, e o “abasteceu” com oito fotografias minhas, de diferentes idades, para que a AI “criasse” imagens, tomando-lhes como ponto de partida.

Pelo que pude notar e compreender, vendo essas criações, que a Elmara me apresentou, a AI pode fazer várias modificações, manipulações ou intervenções nas fotografias, de acordo com as opções que o usuário do App escolheu.

Dessa forma, o operador pode escolher um cenário de paisagem rural ou outro qualquer, um tipo de roupa, entre as disponíveis, sua cor, sua estampa, e até mesmo a cor dos cabelos ou do tipo racial. Pelo que pude notar, a AI pode tornar mais definida as rugas, as sobrancelhas, assim como as expressões faciais, que podem se tornar risonhas ou sérias, e até mesmo carrancudas. Não sei se chega a tornar mais simétrico um rosto, o que sempre poderia ser considerado como um fator de aumento da beleza.

Algumas das imagens criadas pela AI me agradaram, não pelo fato de me rejuvenescerem ou me tornarem, digamos, mais bonito, mas porque foram mais fieis à minha imagem real de hoje ou de antigamente, conforme o caso. Outras, simplesmente, as achei estranhas, como se fossem de um sósia, de uma pessoa muito parecida comigo, mas não desta pessoa, que estas linhas escreve.

Não sei a que ponto chegaremos. Quais os limites da ética nesse tipo de uso da AI. Nem se o desemprego virá a reboque dessa revolução tecnológica. Anos atrás escrevi um conto sobre uma inteligência artificial, imersa em profundo sofrimento, e que só desejava morrer, como a Sibila de Cumas.  

Contudo, não sei o que poderia acontecer se uma AI passasse a ter sentimentos, como amor e ódio, e vontade própria para ter as suas próprias iniciativas e decisões, inclusive a de ser desobediente à sua programação original. E se tivesse um corpo próprio, capaz de usar os nossos objetos e tecnologias, como uma arma, por exemplo?

Isso me faz lembrar a Bíblia, e o caso de Eva e Adão, e ainda mais a rebelião dos anjos contra o Criador, movidos por ciúme ou inveja.   

domingo, 9 de julho de 2023

EGOCENTRISMO

Fonte: Google

 

EGOCENTRISMO


Elmar Carvalho

 

Além do mar, além do infinito, além (...)

meu corpo fica espalhado

como poeira cósmica perdida

e dispersa nos cantos

(encantados e sem cantos)

do mundo.

É uma miragem de

visionário maluco o

infinito: é a extrapolação

do nada dentro do tudo.

Além do infinito, além do mar, aquém (...)

minha alma percorreu o infinito,

num tempo de tão pequeno

arrancado do próprio tempo,

até perder-se no infinito.

(Minha alma se tornou

o hálito

do éter perdido.)

E meu corpo se tornou

uma estátua

de granito,

plantada como

um astro no

centro do cosmo,

desmanchando-se

em lavas lacrimais

de fogo ardente.

 

           Pba, 07.12.77

sexta-feira, 7 de julho de 2023

A CHARGE DO GERVÁSIO

 

Na charge de Gervásio Castro, Elmar visto como juiz, flamenguista, blogueiro e poeta

                       

A CHARGE DO GERVÁSIO  


Elmar Carvalho

                           

Recebi e-mail do amigo Gervásio Castro, em que ele me manda, em anexo, uma belíssima charge. O texto do bilhete eletrônico diz: “No desenho uma tentativa de retratar meu amigo Elmar, flamenguista, blogueiro, juiz, poeta e, acima de tudo, um ser humano de primeira linha. Desses que enchem de orgulho o Criador”.

Sobre a mensagem, embora desvanecido em tê-la recebido, tenho a dizer que de fato sou torcedor do glorioso Flamengo, sou blogueiro, magistrado e literato, mas estou longe, e não se trata de falsa modéstia, de pertencer à primeira linha da raça humana, em que a generosidade do Gervásio me colocou. Apenas, seguindo as lições e orientações da maçonaria, venho lutando para desbastar  e polir a pedra bruta que sou eu mesmo. Mas considero as palavras amigas como um incentivo para continuar perseverando nessa difícil escalada.

A charge enviada é mais uma demonstração da genialidade do Gervásio nessa seara da arte plástica. Não se trata de uma tentativa, mas realmente me retrata, com invulgar propriedade e talento, nas quatro situações referidas. Quando o livrinho PoeMitos da Parnaíba, cujas charges ilustrativas são de sua autoria, foi lançado, o poeta Alcenor Candeira Filho, na apresentação do opúsculo, observou que o amigo chargista tem o hábito antigo de se vestir de negro, o que poderia revelar uma personalidade sorumbática, melancólica, mas que é um saudável boêmio, com senso de humor, e tranquilo, sem nenhum tipo de pessimismo e negativismo.

Apesar da indefectível roupa escura, o artista gosta de injetar em suas charges muitas cores, belas, vivas e harmônicas, perpassadas por desenhos curvilíneos, que muitas vezes lhe servem de fundo ou moldura. Quando aceitou, para honra minha, fazer as ilustrações dos poemas, achei que ele poderia ter grandes dificuldades, pois as informações sobre os retratados eram muito escassas, e nem sempre há um feliz casamento entre ilustrações e poemas, como também entre músicas e composições poéticas.

Como autor, posso dizer que ele se houve bem demais, e reproduziu os “mitos” e o espírito dos poemas fielmente, com beleza e emoção, expressando a história e o seu cenário. Mesmo nos poemas mais satíricos e que poderiam ser considerados “impiedosos”, Gervásio Castro, através da inventividade, dos traços e das cores, encontrou maneira de lhes delinear de forma menos crua, menos rude e mais sutil, a mitigar o que eles poderiam ter de mais pejorativo e escatológico.

Vou emoldurar a charge e, como uma homenagem ao chargista e à sua grande arte, vou entronizá-la em meu local de trabalho.    

21 de maio de 2010

domingo, 2 de julho de 2023

REI

 

Fonte: Google

REI


Elmar Carvalho

 

Ouvidos inúteis

 na noite silenciosa,

eu escuto outros sons

vindos do Universo.

Apenas meus outros sensores

captam as vibrações oriundas

de outros astros.

Apenas eu na noite absoluta.

Apenas eu sem sombra e sem nada.

Mas eu sou um caudilho hombre fuerte

e suporto esta solidão total

com o estoicismo de um

herói (que não pôde fugir).

No desejo louco

de ser transcendental

eu abri minha alma

para o cosmo e

absorvi suas forças

com a ânsia de

um asmático.

E eis aqui o super-man

sempre vencido

(com um AI! eterno na garganta).

Sem ter uma cova

onde cair morto,

eu me tornei o rei falido

desta província global.

           Pba. 12.11.77