domingo, 28 de fevereiro de 2016

REI


REI

Elmar Carvalho

Ouvidos inúteis
 na noite silenciosa,
eu escuto outros sons
vindos do Universo.
Apenas meus outros sensores
captam as vibrações oriundas
de outros astros.
Apenas eu na noite absoluta.
Apenas eu sem sombra e sem nada.
Mas eu sou um caudilho hombre fuerte
e suporto esta solidão total
com o estoicismo de um
herói (que não pôde fugir).
No desejo louco
de ser transcendental
eu abri minha alma
para o cosmo e
absorvi suas forças
com a ânsia de
um asmático.
E eis aqui o super-man
sempre vencido
(com um AI! eterno na garganta).
Sem ter uma cova
onde cair morto,
eu me tornei o rei falido
desta província global.

           Pba. 12.11.77 

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Educação moral e cívica já era


Educação moral e cívica já era

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Nos meus arquivos, deparo-me com velhas anotações e tarefas, cujas disciplinas não se ministram mais nas escolas, desde início da década de 1990, como Organização Social e Política Brasileira (OSPB), além da Educação Moral e Cívica (EMC). Não há algo de errado na formação de futuros cidadãos?

Atuais projetos pedagógicos seguem metas para objetivos científicos, concursos e disputas no mercado de trabalho. Menos para formação ética e cidadania. Dão mais ênfase a atividades esportivas do que à disciplina espartana, à construção do caráter.

No fundo do baú, deparei-me com programa de Educação Moral e Cívica do MEC, para ensino fundamental e médio, em pleno regime militar. O programa previa culto à pátria, seus símbolos, tradições, nacionalismo, dedicação à família e à comunidade. Exercitavam-se valores cristãos, crença em Deus, condutas éticas, os dez mandamentos, a dignidade moral que não tem preço, mas valor.  Professores ensinavam a compreensão dos direitos e deveres dos brasileiros e o conhecimento da organização sociopolítica e econômica do País (OSPB). Esses conteúdos, apesar de ministrados durante o regime militar, não visavam a objetivos ideológicos, como estigmatizam as esquerdas políticas. Todavia as escolas militares continuam a seduzir estudantes, que enfrentam maratonas para ingressar nessas instituições. A secretária de educação, Rejane Dias, iniciou abertura de escolas militares, com aplausos merecidos.

Em 1993, esses conteúdos foram eliminados no governo do presidente Itamar Franco. Questões políticas e históricas concentraram-se na disciplina de Estudos Sociais e História. Educadores de tendência esquerdista tentam descaracterizar essas duas disciplinas, além de geografia, com pinceladas de terceiro mundo chavista.

Questões cívicas e éticas foram, praticamente, riscadas dos projetos pedagógicos. Poucas escolas costumam cantar o Hino Nacional, hastear a bandeira em datas nacionais, promover encontros e prédicas espirituais. A educação mais antiga ainda acrescentava conhecimentos de latim. No meu seminário, ensinava-se, também, francês, inglês, italiano e grego. Ex-seminaristas e militares, em geral, enriquecem a galeria de honrados cidadãos.

Mais outra joia encontrada nos velhos arquivos: Programa Nacional de EMC do MEC: “Ela é parte de um todo que contribui para a formação e informação das pessoas. Neste processo, a família exerce papel fundamental, uma vez que ela é o primeiro grupo social de qualquer indivíduo. Com isso, na família construímos nossos valores morais e éticos”. Família?! O que é família para a atual geração de políticos e gestores, que fogueteiam uniformidade de gênero, casamento gay, que proíbem pais punirem baixinhos rebeldes?

Educação Moral e Cívica defendia “princípios democráticos, preservação do espírito religioso, liberdade com responsabilidade, sob inspiração de Deus”. Olhe só, Deus nos manuais do MEC, quando, hoje, o Palácio do Planalto não faz nem pelo sinal. Ainda aprova a negação do estudo religioso nas escolas. Explicam-se os rumos e desmandos morais, à deriva, em todos os meandros da administração pública. Porque, para marxistas bicudos, Deus é uma utopia.

A Educação Moral e Cívica precisa, urgentemente, retornar aos programas escolares, senão as cadeias encher-se-ão, mais e mais, de bandidos; faltará policial em cada residência; uma Roma pagã se desmoronará.

Compartilhe a ideia de rever arquivos da educação, levem-na às reuniões de pais e mestres, aos debates em salas de aula. Sem ranços ideológicos e partidários. Ainda há tempo para salvar a pátria e a família, como em países sérios.     

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

LANÇAMENTO DE LIVROS


                                                                   


A Academia Piauiense de Letras tem o prazer de convidar V. Exa. e distinta família para o lançamento dos seguintes livros: Flores Incultas, nº 25 – 2ª edição, de Luíza Amélia de Queiroz; Poesias, nº 33, de Fenelon Castelo Branco; História do Poder Legislativo na Província do Piauí, nº 36, de Wilson de Andrade Brandão.
                       

Nelson Nery Costa


Presidente


       Data:  27 de fevereiro de 2016(Sábado)
Horário: 10hs9h 30
Local: Sede da Academia Piauiense de Letras (Auditório Acad. Wilson de Andrade Brandão)
       Av. Miguel Rosa, 3300/S – Fone: (86)  3221 1566 – CEP.: 64001-490 – Teresina-PI    

Antônio Gonçalves Pedreira Portellada


Antônio Gonçalves Pedreira Portellada

Reginaldo Miranda
Da Academia Piauiense de Letras

Foi um abastado comerciante, agropecuarista, político e militar luso-piauiense radicado em Teresina desde o começo do lugar. Provavelmente, o homem mais rico do Piauí em seu tempo.

Nasceu Antônio Gonçalves Pedreira Portellada, em 17 de setembro de 1827, no Alentejo, em Portugal, filho de Manoel José Gonçalves Portellada e dona Joana Gonçalves Pedreira, ambos de origem humilde, porém, honrados e trabalhadores.

Mal completou a maioridade, desejoso de prosperar e sentindo a falta de horizontes em seu meio, tomou uma embarcação e rumou para o Brasil, fixando residência na cidade de Caxias, na vizinha província do Maranhão. Embora sem trazer recursos financeiros, mas com enorme força de vontade, lançou-se no comércio iniciando o combate braço a braço, sem nenhum capital, inteiramente desajudado de proteções, e venceu galhardamente, o que diz eloquentemente de seu valor.

Com a fundação de Teresina, em 1852, não perdeu tempo logo vislumbrando as grandes possibilidades que se abririam na nova capital do Piauí. E a elege como residência e novo teatro de suas lutas. Estava ainda no verdor da mocidade, com apenas 25 anos de idade, em plena florescência, no anseio ininterrupto de vencer. Determinado, empreendedor, em pouco tempo alcançou posição de relevo no seio da classe comercial. Embora sem grande formação escolar, ninguém melhor do que ele tinha o descortínio dos grandes negócios, operando com inteira segurança e admirável êxito.

Sobre sua vinda para a região, não sabemos se foi trazido por algum parente. Talvez, o coronel Manoel Domingos Gonçalves, rico proprietário e contratante das primeiras obras de fundação de Teresina, tivesse com ele algum parentesco.

Em julho de 1871, Portellada recebeu o título de naturalização brasileira, juntamente com os demais portugueses: José Bento Valladares, Ricardo José Teixeira e Domingos José Salabert (O Piauhy, 5.8.1871).

Em Teresina, criou empresas e abriu lojas de importação e exportação de todos os gêneros, demonstrando tino e capacidade empresarial, a cada dia aumentando e consolidando sua fortuna. Com a prosperidade dos negócios, entrou em rota de colisão com outro potentado do lugar, o também rico comerciante José de Araújo Costa, prócer do Partido Liberal, que, incomodado com sua concorrência, contra ele ajuizou infundadas ações no foro de Teresina, algumas delas respingando na imprensa. Em 1873, o litígio versava sobre um arresto feito por Portellada nas fazendas Calumbi e Boa Esperança, do termo de Marvão, hoje Castelo do Piauí, em que Araújo Costa e seus sócios se acharam prejudicados, propondo perdas e danos. Sobre o episódio anotou Portellada em 28 de julho de 1873:

“Fui levado a juízo por um inimigo que me devota todas as suas reconhecidas e provectas amabilidades do rancor e do ódio mais entranhado, somente para ter ele o prazer insensato de perseguir-me, de obrigar-se a gastar a minha modesta fortuna, adquirida a troco de trabalho perseverante, mas que atrai as vistas cobiçosas do potentado meu inimigo, para quem é crime grave o viver independente de qualquer sujeito que presume ser o árbitro dos destinos de uma província, do seu comércio, navegação e riqueza, querendo suplantar a todos” (O Piauhy n.º 274 – Órgão do Partido Conservador, 31.7.1873).

Essa opinião também foi partilhada pelo escritor e político liberal Clodoaldo Freitas, traçando o perfil do correligionário admitiu:

“Opinioso e cheio de rancor, muitas vezes, por um capricho, sustentava questões em que despendia elevadas somas, como aconteceu em mais de uma ocasião com o negociante Portellada, seu inimigo, alegando que assim procedia para fazer ‘o marinheiro gastar dinheiro, o maior mal que lhe podia fazer’” (FREITAS, Clodoaldo. José de Araújo Costa. In: Vultos piauienses. 3ª Ed. Teresina: APL/EDUFPI, 2012. P. 137).

Com o tempo tornou-se o maior comerciante do Piauí, com matriz da loja de fazendas, armarinho, secos e molhados, estabelecida na Rua Grande, atual Álvaro Mendes, 11, em Teresina. Dono de imensa fortuna fez alguns empréstimos ao Estado do Piauí, a pedido de seus governantes. Em 1913, seu filho José de Lobão Portellada, comerciante de ferragens, miudezas e exportação, emprestou 150.000$000 ao governo Miguel Rosa para iluminação e abastecimento d’água de Teresina.

Também, foi grande latifundiário e fazendeiro, criando gado vacum nas fazendas Flores, Taboquinha, Noivos, Remanso e Piripiri, entre outras. Trouxe para Teresina, o sobrinho Antônio Gonçalves Portellada Sobrinho, que tornou-se seu sócio na empresa Portellada& Cia. Este, também criava gado vacum na fazenda Torrões.

Pertenceu à Santa Casa de Misericórdia de Teresina, sendo nomeado 2º Mordomo do Hospital por ato de 28.6.1869(O Piauhy, 30.6.1869; 28.11.1871).

Antônio Portellada ocupou o cargo de presidente da Associação Comercial do Estado. Ao falecer, era diretor da Companhia de Fiação e Tecidos Teresinenses, de que era um dos principais fundadores e acionistas, e da Companhia de Navegação a Vapores no Rio Parnaíba, nas quais prestou relevantes serviços.

Ingressou na guarda nacional, alcançando os mais diferentes postos até ser nomeado por decreto de 31 de julho de 1897, coronel comandante superior da 1ª Brigada de Artilharia, tendo o filho José de Lobão Portellada, na mesma oportunidade, sido nomeado capitão-assistente da mesma(Diário Oficial, 4.8.1897).

Militou na política, filiando-se ao Partido Conservador, em cujas fileiras permaneceu até o ocaso do Império, gozando sempre da estima e consideração de todos. Por esse tempo seu genro Raimundo de Arêa Leão, foi eleito vice-presidente da província, tendo assumido o cargo algumas vezes. Com a proclamação da República continuou na política, filiando-se à agremiação política liderada pelo Barão de Uruçuí, que tinha nele um decidido e eficaz cooperador. Porém, com a confusão dos partidos, na situação Anísio de Abreu, retirou-se da vida pública, reaparecendo na arena política para prestigiar a “União Popular”, de que foi um dos chefes o seu filho, o tenente-coronel José Lobão Pedreira Portellada(O Apóstolo, 18.12.1910).

Foi eleito intendente municipal de Teresina nas eleições de 31 de outubro de 1896, para um mandato de quatro anos(7.1.1897 – 7.1.1901). Nessa gestão, para combater a erosão no cais do rio Parnaíba, contratou com a firma de José Mayer, a construção de rampas e taludes da Rua Bela, hoje Teodoro Pacheco, e do Pequizeiro, hoje Paissandu(GONÇALVES, Wilson C. Dicionário enciclopédico piauiense ilustrado. Teresina: 2003).

Foi casado com dona Antônia Joaquina de Lobão Portellada, católica fervorosa, benemérita da Igreja, e de cujo consórcio deixou três filhos: 1. José Lobão Pedreira Portellada, abastado comerciante, deputado estadual(1912 – 1916); 2. Marcolina de Lobão Portellada Santos, falecida antes do genitor, casada com o capitão Joaquim Antônio dos Santos, ricos negociantes em Parnaíba; e, 3. Joana Portellada de Arêa Leão, casada com o médico Raimundo de Arêa Leão, foi vice-presidente da província.

O citado sobrinho por ele trazido do reino em 1867 foi Antônio Gonçalves Portellada Sobrinho, comerciante, nascido em 1854, em Portugal, filho de Manoel José Gonçalves Portellada e dona Francisca Alves, ambos falecidos no Reino de Portugal, Província de Trás-os-Montes, lugar Covelans do Rio. Este deixou diversos filhos havidos com dona Alexandrina de Carvalho e Silva, natural de Teresina, filha de Amador Vieira de Siquera e Filomena Vieira Torres, então residentes em Teresina.
Faleceu o coronel Antônio Gonçalves Pedreira Portellada, na cidade de Teresina, em 12 de dezembro de 1910, a uma hora da manhã, vítima de congestão cerebral, com 83 anos de idade, sendo o corpo sepultado no dia seguinte, no cemitério São José. Recebeu o sacramento da extrema-unção pelo Bispo D. Joaquim de Almeida, que, no dia seguinte, celebrou a missa de corpo presente, no salão de honra de sua casa residencial. O sepultamento foi dos mais concorridos, comparecendo a melhor sociedade e muitas pessoas do povo.

O coronel Antônio Portellada, foi um típico empresário do final do Império e começo da República, fortalecendo o comércio da nova capital do Piauí, tornando, assim, realidade o sonho de Saraiva, de tomar de Caxias a primazia comercial no centro-norte do Piauí e médio-sertão maranhense. Soube tirar proveito dos incentivos e otimismo da época, crescendo com a nova cidade e ajudando-a a ser o grande centro comercial de hoje. A ele muito demos e muito devemos.    

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A TÍTULO DE POSFÁCIO


25 de fevereiro   Diário Incontínuo

A TÍTULO DE POSFÁCIO

Elmar Carvalho

Em janeiro de 2010 a minha filha Elmara Cristina criou o Blog do poeta Elmar Carvalho (poetaelmar.blogspot.com.br), cuja postagem mais antiga data do dia 22.01.2010. No dia 17 desse mês e ano, fiz o primeiro registro deste Diário, publicado no blog no dia 23. No início, as notas eram mais curtas e não tinham título; traziam apenas a data em que foram escritas. Com a publicação na internet (no meu e em outros sítios informáticos), senti a necessidade de lhes intitular.

No entusiasmo dos primeiros registros, fazia duas, três ou mais matérias por semana, para que a obra mais se ajustasse à sua denominação. Posteriormente, optei por fazer apenas uma (no máximo duas). Passei a lhes dar um caráter mais de crônica, e, às vezes, de artigo ou de pequeno ensaio. Na medida do possível, tornei mais denso e aprofundado o conteúdo dessas anotações diarísticas. Seja como for, sem este Diário e sem o blog, com a consequente possibilidade de publicação imediata, eu não conseguiria a motivação e o ensejo de escrever as centenas de textos que escrevi.

Ainda há pouco, nesta manhã agradável e quase chuvosa, em que rolinhas “fogo-apagou” e bem-te-vis cantavam alegremente, contemplei as árvores do quintal vizinho, a farfalharem ao vento, vestidas de intenso verde, entre as quais se destacava uma gigantesca cajazeira, que durante boa parte do período de estiagem se apresenta desnuda, como se tivesse morrido. Sem esta crônica diarística, é evidente que esses ínfimos fragmentos temporais e de vida ficariam para sempre esquecidos. A muitos acontecimentos efêmeros tentei dar a possível e talvez vã perenidade literária.

Como o Diário já completou mais de seis anos (17.01.2010 a 25.02.2016) pude fazer o registro de acontecimentos importantes da cultura e da vida literária piauienses. Em suas páginas, homenageei os noventa anos da vida de meu pai. Narrei em sentidas crônicas a morte de minha mãe e de pessoas amigas, bem como a das cachorrinhas Belinha e Anita.  Portanto, como Humberto de Campos, sepultei os meus mortos nestas páginas elegíacas e evocativas do panteão de minha saudade. Para mim eles ainda estão vivos, e fizeram apenas uma viagem para outra dimensão, onde algum dia os reencontrarei.

Ao longo desses seis anos feri os mais variados assuntos. Às vezes rememorei uma conversa instigante; comentei alguma leitura agradável ou enriquecedora; relembrei, aproveitando algum ensejo ou “gancho”, algum fato importante da história piauiense e também de sua literatura; discorri sobre acontecimentos da atualidade e aproveitei para contar fatos que reputei interessantes, dentre os que observei, os de que participei ou mesmo acaso os de que tenha sido protagonista.

Aqui estão insertos os “Retratos” de minha mãe e de meu pai, que publiquei em opúsculos, na época em que foram elaborados. Muitas crônicas foram inseridas em Confissões de um juiz e Amar Amarante. Aliás, um leitor atento, que acompanhou a publicação desses textos na internet, me observou, com muita argúcia e pertinência, que eles, coligidos por temas, dariam vários pequenos livros.

Procurei, com todo zelo e esforço de que fui capaz, dar aos registros deste Diário uma dignidade literária, em que tentei verter o conteúdo em boa taça. E lutei para que a sua forma pudesse ter graça e beleza. E emoção, se fosse o caso. Em suma: aqui estão fixadas nesgas de minha alma, de meu espírito e de meus sentimentos.   

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

HOMENAGEM NA BIBLIOTECA MARION SARAIVA


19 de fevereiro Diário Incontínuo

HOMENAGEM NA BIBLIOTECA MARION SARAIVA

Elmar Carvalho

Anteontem recebi e-mail do amigo Moacir Ximenes, em que me noticiava que a Biblioteca Pública Marion Saraiva (de Campo Maior) me havia prestado homenagem ao colocar a pintura da capa de um de meus livros numa de suas paredes internas. Agradeci-lhe a boa nova, e pedi-lhe agradecesse ao responsável pela honraria. Em outro bilhete eletrônico, ele acrescentou que eu estava ao lado de Cunha Neto, Cláudio Pacheco e do grande lírico e épico Luís Vaz de Camões. Estou, portanto, em muito boa companhia.

“Não há profeta sem honra, a não ser em sua própria terra, e em sua própria casa”, disse Jesus (Mateus, 13:57). Felizmente, ante a informação do caro amigo e historiador Moacir Ximenes, o mesmo não se aplica aos poetas. Aliás, para minha satisfação, já recebi outras homenagens em minha terra natal, sobretudo no âmbito literário.


No Complexo Cultural Valdir Fortes, à margem do Açude Grande, encontra-se afixada uma linda placa de acrílico com os catorze versos iniciais de meu poema Elegia a Campo Maior. No salão nobre da Prefeitura Municipal foi feita a aposição de meu poema Fazenda Tombador ao lado de belíssima pintura dessa histórica casa-grande, há muitos anos literalmente tombada. Portanto, ao contrário dos profetas, os vates podem ser honrados em sua própria terra, e em sua própria casa.

ANIVERSÁRIO DE UM INTELECTUAL


Virgílio Queiroz

GRANDE FORÇA, FORTE VOZ

Luís Alberto Soares (Bebeto)

Hoje, 25 de fevereiro é o dia do nascimento
De um ilustre amarantino de muito talento
Que gosta de promover um bom movimento
Para levar nossa Amarante ao crescimento

Trata-se do notável prof. Virgílio Queiroz
Visto com sua grande força e forte voz
Reconhecido nas suas ações, muito veloz
Em muitos casos, para servir todos nós

Como diz populares desta redondeza
Virgílio é um homem de muita grandeza
Esbanja para o povo, uma grande nobreza
E ajuda muito aqueles que vivem na pobreza

Aclamado pelo povo como boa criatura
Em Amarante, tornou uma importante figura
Por se tratar de um ser cortês e sem “frescura”
Prestigia qualquer modalidade de cultura

Realmente, Virgílio é uma excelente pessoa
Contribui muito para Amarante ficar “numa boa”
Corajoso, não se esmorece nem com a macacoa
E nem com certas pessoas que falam a toa

Sabemos que este amarantino é fenomenal
Por ser um homem determinado e intelectual
Dizem que ele tem um forte guia espiritual
Para fortalecer seu vasto conhecimento cultural

Virgílio é um baluarte e de muita credibilidade
Consegue coisas boas para nossa amada cidade
Que muito nos orgulha e nos trás felicidade
Como exemplo, uma conceituada universidade

Virgílio Queiroz é educador de grande porte
Muito conhecido neste Brasil de sul a norte
Em Amarante, tornou-se um homem muito forte
Com certeza, ele é portador de um grande dote
Além de ser um excelente e bravo comunicador
Virgílio Queiroz é também um bom compositor
Nuca teve pretensão para ser um produtor
Acredite, o seu material musical é de valor

Há muitos fatos importantes para se divulgar
Das realizações deste amarantino espetacular
Escritor, poeta, jornalista, advogado, vive a se dedicar
Na verdade, com Virgílio, Amarante tem se orgulhar

Faz jus registramos com prazer, vários aniversários
De muitos daqui, considerados extraordinários
Virgílio é formidável, tem seis cursos universitários
E sempre participa de importantes seminários

É muita prazerosa essa narrativa de glória
Na realidade, o Professor Virgílio é vitória
Fica bem guardado em nossa memória
E nos arquivos de nossa bela e rica história

O amigo e primo Virgílio é mesmo demais
Manchete e editor de livros, revistas e jornais
Rogo a DEUS que o ilumine cada vez mais
E que ele fortaleça sempre seus valiosos ideais

 Amigo Virgílio, parabéns hoje, felicidades sempre.   

POEMA SOBRE A LOUCURA


POEMA  SOBRE  A  LOUCURA

Alcenor Candeira Filho

pouco tenho ficado louco
às vezes um pouco louco de raiva
outras um pouco louco de amor
nada malucamente anormal.
embora ao longo de vida já quase longa
minha luz tenha sido a da lucidez dos lúcidos
temo a loucura não fictícia
a loucura verdadeiramente louca dos  loucos
a loucura tempestade sem previsão de bonança
a loucura de muito tempo de todo tempo
a loucura que só passa por pouco tempo
quando voz de acalanto vai ao ouvido do louco
em  cama  estendido em decúbito dorsal
- "por ti com muita sede bebo lágrimas de amor
diariamente amor maior de minha vida toda" -
e ele então  mergulha em sombrio sono noturno
todo entupido  de remédio para que adormeça
entre quatro  paredes com lâmpadas apagadas por dentro
e janelas e portas trancadas por fora.


                                     2016

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Lançamento da revista Revestrés


A revista Revestrés chega à edição 23 com grandes temas em discussão: o ativismo feminista nas redes sociais é tema da reportagem que ouviu mulheres diferentes, de diversos lugares do Brasil, unidas pela condição de ser mulher.
  

Na entrevista, o médico Antônio de Noronha, 70 anos, fala com coragem sobre eutanásia, uso de drogas, sexualidade, música e um tema que merece discussão: o suicídio. “Essa história de que não se pode falar sobre suicídio é um mito que existe desde Goethe e ‘Os sofrimentos do jovem Werther”” (livro publicado em 1774, ao qual é atribuído uma onda de suicídios na Europa. O efeito nunca ficou comprovado).
  

A Revestrés foi até Brasília saber a história do piauiense que é considerado um patrimônio da UnB, bebeu cerveja produzida no Piauí, entrevistou Paulo Lins, escritor do livro “Cidade de Deus”, e exibe o ensaio “Existência”, de Maurício Pokemon.
  

Para celebrar a chegada dessa nova edição, a festa de lançamento acontece nesta quarta, 24, no Teatro Torquato Neto, a partir das 19h. Tem coquetel de lançamento e atração musical com a cantora Fátima Lima. O Teatro Torquato Neto fica no espaço do Clube dos Diários, centro de Teresina.

Revista Revestrés
Centro Empresarial Dom João
Rua Veterinário Bugyja Brito, 1229
Sala 207 - Horto / CEP: 64.052-410
Redação: (86) 3011-2420
Luana Sena: (86) 8845-6191
Victória Holanda: (86) 8809-3983

Adriano Leite: (86) 8845-6188

COISAS SÓ DE OEIRAS


COISAS SÓ DE OEIRAS     

(*) Ferrer Freitas

               No prefácio do “Noturno de Oeiras”, de autoria do poeta campomaiorense  Elmar Carvalho,  impresso em opúsculo de 1994, outro bardo, só que oeirense, Gutemberg Rocha,  diz logo  no primeiro parágrafo que “...existe um grande mistério em Oeiras (...) alguma coisa de sobrenatural,  que foge à razão, que fala diretamente à emoção, à sensibilidade...”   Disse tudo em poucas palavras. Queiram ou não (agora digo eu), a velha urbe de Possidônio Queiroz difere em parte de outras tantas por coisas que só lá se vê ou acontecem.  Evidentemente que aqui talvez  vá um pouco de  exagero de minha parte.  Para dirimir qualquer dúvida,  consultei um grande oeirense, Adelino de Sá Rocha, ex-prefeito, que tem uma memória prodigiosa.

                  Pois Bem. Os “Beneditos”, em sua maioria, são tratados por “B.”, acrescido de sobrenome, a exemplo  de  B. Diogo,  B. Reis,  B. Barros, B. Moreira,  B. Filho, todos,  lamentavelmente, já falecidos.  Dois outros, para  alegria dos muitos amigos  que têm, entre os quais me incluo,   merecem ser citados, o caríssimo B. Sá, ex-prefeito, companheiro de bons tempos no Rio de Janeiro nos anos setenta, e o famoso B.  Maroca.   Outra coisa que causa espécie é o fato de  “alguém ser sempre de alguém”,  pai  ou  mãe, a exemplo  de José de Helena, José de Tibúrcio, Pedro de Ernesto,  Geraldo de Leomisa,  Luís de Burane,  Antônio de Gerson, Bastim (Sebastião) de Gerson,  Expedito de Manoel Leite, Ângelo de Natu  (Nataniel), Ângelo de Maria Raimunda, Raimundo de Zefinha, também falecidos.  Apraz-me  citar outros, todos vivos, ainda bem: Antônio de Selemérico, Luís de Ana, Chico de Maria de Cota (Maria, sua mãe, já era de Cota), Antônio de Aderson e por aí vai.

                 No centro histórico, algumas  ruas,  estreitas é bom frisar, além de chamadas por becos, são mais conhecidas pelo nome do morador de uma das esquinas  ou de algo  que as marquem, a exemplo de   Beco de Antônio Gentil,  Beco de  Francisquinho Barbosa, Beco de Ovídia, Beco de Maria Camarço, Beco de Hipólito, Beco do Sérgio, Beco do Cemitério, Beco do Sobrado,  Beco do Mocha,   Beco do Quartel e por aí vai. Este último, que tem seu inicio na Praça das Vitórias,  entre a Pousada do Cônego e a agência dos Correios,  tem esse nome, Beco do Quartel, pelo fato  do  prédio   anterior ao  que hoje  sedia a  ECT  ter sido o quartel da Brigada.  Esta via termina no Passo de Lindoca, esquina da rua Coronel  Luiz Rêgo, amplamente conhecida por rua do Fogo. Nessa direção contrária já é mais conhecido por Beco de dona Iazinha Ferraz, cuja casa é geminada ao Passo.

                Neste último aspecto a velha terra das margens do Mocha tem muito a ver com cidades históricas, sobretudo as de Minas.  Isso de beco lembra muito Diamantina  que inspirou Milton Nascimento e Fernando Brant, em 1969, a comporem  uma canção belíssima  que leva o nome de “Beco do Mota”, cujos três últimos versos da letra dizem: “Diamantina é o Beco do Mota/Minas  é o Beco do Mota/Brasil  é o Beco do Mota/Viva meu país!”. Talvez  seja ainda oportuno  transcrever os versos finais do Noturno, o que faço com prazer: “Oeiras navega na noite/de um tempo que não termina./De um tempo fugitivo de ampulhetas e relógios."


                     (*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

CAMINHEIRO SOLITÁRIO


CAMINHEIRO SOLITÁRIO

Jacob Fortes

Ansioso por transpor um monótono chapadão das gerais, norte de Paracatu, desses retratados pelo contista Afonso Arinos, tomei o alvitre, num minuto indeciso, de parar o veículo à porta de uma desfigurada baiuca, à margem da estrada, para obter do vendeiro informações que pudessem abonar a minha bússola de navegação. O chapadão, conhecido pelo codinome de “Rasgo do Corisco”, parecia expandir-se cada vez que eu imprimia ritmo célere à viagem.

Sem desligar o motor, mal pude entender-me com o quitandeiro, alcunhado de “Gajão”. É que nossa conversa, de súbito, encheu-se de embaraços: um andarilho, esfrangalhado, cara enfarruscada, ali em parada de repouso, entendeu de golfar ao vento, sonoramente, asneiras e sandices. Sua impertinência, digna de impugnação, inspirava indulto. Não valia à pena contender com um homem cujo palavreado desconexo e ininteligível, testificava o escangalho do seu estado mental. Outra atenuante é que esses andejos, sem raízes nos pés, tudo que possuem, além da vida e do prazer de pisar o chão das estradas, é um matolão, às costas, locupleto de burundungas, além, é claro, do hábito de falar sozinho consigo mesmo durante as suas marchas; tão solitárias quanto pachorrentas.

Vai caminheiro! Vai cumprir, resignadamente, o teu destino fatídico, a tua desventurada vida de andarilho: deambular, continuamente, como a um penitente, pelos caminhos; nasceste para a liberdade! À margem das estradas (e da vida), Deus há de apiedar-se de ti.

E quando o meu carro, por motivo de viagem, for instado a polvilhar-te de poeira ou de fuligem te peço desculpas por essa circunstância. Nesse momento a tua figura (esquálida, desamparada, estropiada e envolta em trapos repulsivos) irá engrandecer as bênçãos com que tenho sido distinguido, particularidade que me impõem glorificar a Deus por tudo, tempo em que LHO perguntarei, humildado, se é verdade, ou delírio, tanto lixo social sobre a terra perante os olhos insensíveis da opulência, da ganância, do desperdício.     

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Seleta Piauiense - R. Petit - Raimundo de Araújo Chagas


SAUDADE

R. Petit - Raimundo de Araújo Chagas (1894 – 1969)

Eu vivo como o mar, bebendo os rios,
rios da Dor que crescem, com certeza,
em meu ser, quando o inverno da Tristeza
chega e vence ao cair dos tempos frios.

Eu vivo como os pássaros sombrios,
dos quais a tempestade em luta acesa
roubou dos ninhos frágeis e macios,
isolando-os da própria natureza.

Eu vivo como as águas das cascatas
que a força eterna de um tremendo fado
desfia em prantos no painel das matas.

Eu vivo sem viver, esta é a verdade,
pois não pode viver um torturado
que se alimenta apenas da saudade!...    

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

OS POETAS EDSON MORAIS E JAMERSON LEMOS

Uma das publicações da editora de Edson Guedes de Moraes
Theddy Ribeiro, Garrincha e Jamerson Lemos


18 de fevereiro   Diário Incontínuo

OS POETAS EDSON MORAIS E JAMERSON LEMOS

Elmar Carvalho

Recentemente recebi bilhete eletrônico do poeta Edson Guedes de Morais me solicitando uns sonetos, com vista a uma antologia que ele está organizando. Embora não seja um sonetista, dei uma vasculhada em meu livro Rosa dos Ventos Gerais à procura de alguma composição que pudesse ser enquadrada como tal. Rimados, metrificados e divididos em dois quartetos e dois tercetos, sabia não ter nenhum.

Contudo, para minha surpresa, com uma ou duas pequenas adaptações, encontrei, sem necessidade de folhear o livro todo, sete textos que podem ser considerados sonetos modernos. São eles: Enigma, Egocentrismo, Trabalho de cestaria e renda, O poeta e o inseto, Pintura, Soneto da solidão e Amor. Se o critério do antologista for acolher apenas sonetos de fatura clássica, nenhum dos meus entrará na seleta. Entretanto, se esta for aberta a composições modernas e à matriz inglesa, alguns dos que lhe remeti poderão, talvez, integrá-la, para honra e gáudio meu.

Edson Guedes de Morais é uma espécie de Mecenas. Através de sua gráfica e editora vem publicando poetas de todos os rincões do Brasil. Eu próprio, não sei como, fui “descoberto” por ele, e tive a satisfação de ser por ele editado em três ocasiões, por meio de belos livros artesanais, em papel de ótima qualidade. É um contista e poeta reconhecidamente de alto valor. A antologia de sonetos que está organizando abarcará mil autores. Talvez por causa de sua desvanecedora solicitação, sonhei, na madrugada de ontem, com o saudoso poeta Jamerson Lemos, de quem tive a satisfação de ser amigo.

Jamerson é um importante poeta piauiense. Nasceu em Recife, em 22.12.1945, mas radicou-se no Piauí, onde casou, teve filhos e publicou livros e poemas. Faleceu em Teresina, em 05.08.2008. De 1986 a meados da década seguinte, freqüentamos com assiduidade a União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE-PI, da qual fui presidente. Já tive oportunidade de escrever sobre seus versos e sua vida, sobre sua vida e sua morte. No meu sonho eu descobria que ele não havia morrido; que a notícia de seu falecimento fora um equívoco ou um tipo de “pegadinha” de mau-gosto. Quando acordei, ainda no torpor do sono, pensei que o sonho fosse realidade.

Ele era um poeta em tempo real, irreal e integral, pois era poeta em qualquer tempo, destempo e contratempo, e, creio, que até mesmo dormindo ele sonhava com poemas. Tinha incrível facilidade para fazer versos. Em seu lúdico lirismo, malabarista e prestidigitador, brincava com as palavras, seja construindo metáforas e trocadilhos, seja urdindo rimas e ritmos. Embora fosse um artesão rigoroso na forma, era também um mestre no conteúdo de pendor notadamente lírico, em que a musicalidade se entranhava nos temas, sobretudo quando ele mesmo recitava suas composições poéticas.

Este ano será o oitavo após sua morte. A lembrança desse grande vate merece ser reavivada e amplificada. Talvez sua família, sua esposa e seus filhos pudessem envidar esforços para que fosse publicada sua obra poética completa. Em esta não sendo possível, talvez pudesse ser editada uma antologia contemplando alguns de seus textos mais antigos, todos ou quase todos os poemas de Sábado Árido e os que ele deixou inéditos.


Essa obra será de capital importância para que o notável bardo Jamerson Moreira Lemos continue vivo na memória poética piauiense e brasileira, como ele bem merece, pela alta qualidade de seus versos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Entre o "diário perdido" e a recuperação pela memória




Entre o "diário perdido" e a recuperação pela memória

 Cunha e Silva Filho

              As memórias  são construídas entre o perdido  e relembrado. Ao escrever suas memórias o autor muitas vezes lamenta consigo mesmo porque não havia feito a cronologia dos principais lances de sua  própria  história. Ah, se tivesse  escrito  aqueles lances que tanta significação  teriam no futuro! As memórias, assim, perdem momentos iluminados do ser diante da passagem da vida.  Incidentes que não deveriam ser  apagados mas escritos na velha forma de diários, de um  diário  que  anotasse, ao longo da vida, nomes, paisagens, diálogos, pensamentos, confissões,  divagações sobre as artes, o ser humano, a  existência, aqueles  bons ou maus instantes do pretérito.
            Só na ficção poder-se-ia recapturar todo esse novelo de fatos através da manipulação livre  através do recursos narrativos das anacronias ou  meramente  pela cronologia  tradicional.  As memórias sobrevivem de perdas e de esquecimentos voluntários ou  inconscientes.
            Aquele encontro com a primeira namorada,  com um grande amigo,  com um professor  que nos encantou,  com  as inúmeras conversas com nossos pais. Quantas coisas  perdidas para sempre  que não podem mais  ser socorridas  pela  capacidade  limitada da retentiva! Que  pena! Perderam-se,  desta forma,  talvez os melhores pedaços  de nossas vidas na infância,  na adolescência,  na vida adulta. O que ficou  foi a súmula incompleta de retalhos do passado. Por essa razão, as memórias são apenas  uma parte que nos vem à tona de forma  involuntária ou  porque forçamos a barra  para que  fatos acontecidos,  diálogos, incidentes e acidentes possam vir  ao presente.
       As memórias não são  apenas  relatos  lembrados, mas  reconstruções  do passado  pela linguagem que,  muitas vezes,  as ficcionaliza a fim  de  preencher os gaps, as ausências,  as impossibilidades  amnésicas.
      A essas impossibilidades  de recuperação do  tempo perdido chamaria de "diário  perdido". Todo ser humano  tem em  potencial  esse "diário  perdido". Seria possível escrever-se  um  tipo de  cronologia  dessa natureza? Creio que não. Mesmo porque quando somos tão  crianças  ainda não estamos   preparados  para botar no papel o que nos aconteceu  há cinquenta anos, por exemplo.  Mas, quanto lamentamos  a perda  do tempo  que vivemos, sobretudo os melhores  dias  de nossas   vidas: a infância e a adolescência. Contudo,  é claro que  esse "diário perdido" levaria o narrador quase a uma reprodução  mais abrangente dos fatos  passados. Já imaginaram um romance  que pudesse  ter acesso a esse  "diário perdido"?
       O mesmo se dá com  as fotos  que não tiraram de nós quando pequeninos. Eu mesmo nunca saberei  como  foi a minha  fisionomia  de bebê, com três anos,  com  sete anos, em foto em    que aparecesse  os meus pais  junto de mim . Hoje em dia,  que profusão de fotos possuem  os novos  pais com a facilidade  permitida  pelos celulares,  pela   internet. As crianças de hoje  não terão, na sua maioria,  esse problema  de  lamentar  as imagens perdidas, nunca  gravadas pelas  câmeras dos celulares,  tabletes etc.
      Vivemos a época mais intensa das imagens  de nossos corpos, de paisagens, de  eventos, de closes  e  ainda mais  de  filmagens  de tudo e de todos.   Tudo se grava,  tudo  se fotografa. É o reinado do vídeo. Além de o vídeo   nos mostrar a imagem,  ainda  nos permite ouvir a  voz de todos que nele   aparecem.
      Ora, todas essas novidades virtuais serão úteis aos memorialistas do futuro,  que lidarão cm  novos  instrumentos  de recuperação  de  fatos de sua  história pessoal ou coletiva.  Quem sabe, as memórias do futuro serão apenas em parte  faladas,  em  parte  vistas.
      Mas, o que me traz a este artigo são as memórias à moda antiga, aquelas cultivadas por escritores, me limitando apenas aos nossos, Joaquim Nabuco,  Humberto de Campos, Gilberto Amado,  Graciliano Ramos,  Álvaro Moreira, Érico Veríssimo.
      No Piauí, já contamos com um bom número de livros de memórias ou que se assemelham a estas, ou mesmo  se  incluiriam em memórias ficcionais. Já formaria  assim um corpus de matéria memorialística para pesquisadores. Quem se aventura?
      Só para citar os autores que me chegaram ao conhecimento: Eleazar Moura (Amarante antigo – alguns homens e fatos; Nasi Castro (Amarante – um pouco da  história e da vida da cidade, Amarante – folclore e memória; Cunha e Silva (Copa e cozinha);Homero Castelo Branco (Ecos de Amarante); Celso  Barros Coelho (Tempo de memória); Olemar de Souza Castro (Minhas duas pátrias, Sob o sol  poente); Assis  Fortes (Memórias de mim, histórias dos outros); Francisco Miguel de Moura (O menino quase perdido); William  Palha  Dias (Memorial de um  obstinado); José Ribamar  Garcia (E depois, o trem); Jesualdo  Cavalcanti Barros (Tempo de contar); Elmar Carvalho (Confissões de um juiz);Geraldo Almeida Borges (Província submersa – crônicas Teresinenses (século XX).

     Na impossibilidade deste tão ansiado "diário perdido",  os autores, todavia,   não abdicam  de seu direito de recordar o que de outra forma seria para sempre  sepultado como matéria  rememorativa, perdendo com isso  grandes relatos   de escritores  sobre si e sua época. Sem obras dessa natureza, empobreceria também, no seu  conjunto, a história literária  brasileira.   

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Um exímio contador de histórias

Pastor José Pedro Araújo, pai do cronista

Um exímio contador de histórias

José Pedro Araújo
Romancista, cronista e historiador

Sou de uma geração que muito preza as histórias contadas nas calçadas em noites de lua cheia. Entretanto, sou péssimo depositário de uma grande parte das mais belas que ouvi com tamanho encantamento. A minha memória ainda resiste e não se esquece do prazer que sentia ao ouvi-las, mas deixou que se perdesse o conteúdo delas. Quanto a minha alma, por outro lado, agasalhou com o cuidado de um banqueiro avarento o guião de cada uma delas e não revela nem mesmo para mim.

Assim mesmo, ou por isso mesmo, sou escravo delas. Divirto-me apenas com as lembranças desses momentos como se visitasse um ambiente de locação de um filme, mesmo sem saber o seu roteiro. Sei apenas que o tema era belíssimo e que a história, apesar de bem guardada no meu intimo, não consigo recordar.

Meu pai era diferente. Tinha uma memória fantástica para armazenar informações que ouvia ou fatos que presenciava. Coisa de bom matemático que ele era, que nunca se esquecia das fórmulas necessárias para a resolução dos problemas. Por conta disso, tinha a memória perfeitamente fresca e arejada para armazenar novas informações. Se vivo estivesse, faria agora dia 17 de fevereiro oitenta e nove anos.

E uma vez caída na sua memória, jamais se apagava. Essa capacidade de reter as histórias que ouvira na sua meninice ou que lera em algum folhetim usava também com maestria para nos reter em casa, nas noites escuras do meu Curador. Para evitar que fôssemos brincar com as outras crianças nas vielas de puro breu, ele arrumava os travesseiros da sua cama como encosto e desfiava uma série ininterrupta de belas estórias de Trancoso sem repetir uma única vez qualquer delas. Enquanto isso, deitávamos em torno dele sem perder uma palavra do que dizia, até que adormecíamos um por um. E ele considerava sua missão concluída quando nos colocava nas nossas redes para acordarmos somente no dia seguinte.

Exímio contador de narrativas fantásticas, sua vida também daria um belo compêndio de histórias. Histórias verdadeiras, cheias de atos folhetinescos e hiláricos, gostosamente contadas por ele, e também atestadas por testemunhas de ilibada e incontestável estofo moral.

Acredito mesmo que os poucos leitores das crônicas que escrevo aqui nesse blog, também devem está lembrando algo parecido enquanto passa os olhos por essas singelas linhas. Pais, na acepção da palavra, são todos iguais. Exortam, admoestam, e até mesmo desferem alguns cascudos quando o mau comportamento dos filhos extravasa. Mas termina o dia sempre da mesma forma também: com a filharada em sua volta para ouvi-los contar belas histórias, fictícias ou não.

            Uma dessas histórias que muito me causava admiração aconteceu quando ele, ainda jovem, pouco depois de atingir a maioridade, sentou praça na Policia Militar do Maranhão. Nessa época, o estado passava por uma grave crise politica e institucional em decorrência do descontentamento causado pelo resultado das últimas eleições para governador do estado.

A história: quando foi anunciado como eleito naquele pleito majoritário o empresário Eugênio Barros, incontinente, as Oposições Coligadas reclamaram de fraude nas apurações e conclamaram a população de São Luís a sair às ruas para impedir a continuação do mandato do governador que rapidamente havia sido empossado no cargo maior do Estado. Ao cabo de uma semana a revolta já estava instalada em toda a cidade, culminando com algumas ações de violência explicita que desaguaram na depredação das casas do Desembargador Henrique Costa Fernandes e do Juiz Rui Morais. Estes dois magistrados haviam tido atuação decisiva no resultado do pleito, pelo que consta. Algumas casas de populares também foram queimadas e a culpa pelo acontecido foi jogada para um e outro lado, acirrando ainda mais a disputa que tomava contornos de tragédia.

O palanque das oposições estava armado em plena Praça João Lisboa, a poucos quarteirões do palácio do governo, ao tempo que alguns oposicionistas armados haviam se entrincheirado, a princípio, na igreja da Sé, defronte à sede do governo. A história da revolta encontra-se registrada nos anais da politica maranhense, mas, a que desejo contar foi vivida por meu pai e relata uma passagem engraçada daquele instante em contraponto ao momento de profunda incompreensão que se vivia naqueles tempos de extrema violência.

Instalado no Palácio dos Leões, sede do governo do estado, Eugênio Barros determinou que se fizesse um reforço na guarnição que lhe dava proteção. Temia pela sua própria vida. O comandante buscou no destacamento da capital alguns homens de porte físico avantajado e munidos de reconhecida coragem para enfrentar a população conflagrada que ameaçava invadir o palácio a qualquer instante. Foi nessa ocasião que meu pai foi destacado para servir na guarda palaciana. E mesmo entre esses homens destemidos, havia certo receio de se ficar de sentinela na guarita instalada no portão lateral do palácio, cidadela mais avançada e mais propensa a um ataque. De fato, algumas escaramuças sempre ocorriam principalmente no final da tarde, quando alguns oposicionistas faziam incontáveis disparos de arma de fogo em direção ao palácio, acobertados pela penumbra que começava a cobrir a cidade nessas horas e protegidos pelas espessas portas da catedral.

Certo dia estava meu pai como sentinela mais avançada na famigerada guarita, quando um velho cabo da guarda palaciana se aproximou dele e indagou como estavam as coisas. A pergunta fazia sentido porque estava se aproximando a hora em que se realizavam os costumeiros disparos em direção à sede do governo. O cabo não era reconhecido pelos companheiros de farda como um homem de muita coragem. Além disso, era motivo de chacota em razão de um defeito de nascença que fazia com que seus pés se voltassem para dentro, conhecidos entre nós como tesourinha. Claudicante, o velho militar passou em frente à sentinela e continuou se movendo lenta e receosamente rumo à calçada. Nesse momento, meu pai, a sentinela, esquecendo todas as normas militares que exigem respeito ao superior hierárquico, soltou um grito de alarme: “cuidado, cabo! Os homens vão começar o ataque!”. O pobre homem tentou voltar para a segurança do palácio, mas as pernas lhe faltaram e ele caiu sentado ao chão. E como os membros inferiores não atendessem ao comando do cérebro, voltou engatinhando para dentro. A gargalhada foi geral. Humilhado, o cabo apelou para a sua autoridade e disse que ia denunciar o soldado Araújo aos seus superiores. No que o transgressor lhe respondeu: “denunciar como, Pé-de-porco, se tu não sabes escrever”? O apelido, empregado em razão do seu caminhar bamboleante, deixava o pobre homem ainda mais injuriado. Mas, a verdade sobre o seu analfabetismo o deixava mais propenso ainda à gaiatice dos colegas. E por essa razão, não conseguia formular nenhuma denúncia contra os subordinados que estavam sempre a tirarem brincadeiras com ele. Ao concluir a história, sempre se dizia arrependido de ter assim procedido com uma pessoa que nunca lhe havia feito mal. E que contava aquilo como exemplo de como não se deve proceder com as pessoas portadoras de deficiências que elas não tinham culpa de possuir.

Outra história que gostava de contar teria ocorrido quando ele já se encontrava destacado no novo município de Presidente Dutra. Naqueles tempos, a má fama sobre a violência que imperava na cidade já havia chegado à capital, São Luís. E era tamanha, que fazia com que poucos policiais se aventurassem a servir na cidade, mesmo a despeito de receberem um aditivo ao soldo para prestar serviço na região do Japão, como era conhecida. Animado pelo incremento no salário e estimulado pela notícia de boas oportunidades na região que começava a se desenvolver com certa rapidez, o soldado Araújo veio prestar os seus serviços na longínqua cidade de Presidente Dutra. E, de fato, não encontrou vida fácil no município. Apesar do seu tamanho diminuto, a cidade não parava de produzir novos fatos que serviam para aumentar ainda mais a sua fama de terra violenta. Naquele tempo, a ingerência politica era também um dos principais problemas com o qual a polícia tinha que conviver, talvez mais ainda do que a que se observa hoje em dia.

Certo dia, o soldado foi chamado para atender a uma ocorrência. Certo cidadão havia chegado embriagado em casa e promovera bárbaro espancamento na sua pobre esposa. Não era a primeira vez que isso ocorria e nem a primeira em que a polícia era chamada para impedir a continuação do grave delito. O problema era que o sujeito, useiro e vezeiro em grave atentado à vida da pobre mulher, sempre recebia a proteção do maior líder politico local e em poucas horas já estava na rua novamente. E sabendo-se acobertado pela autoridade que lhe esquentava as costas, o homem já saía desafiando a policia quando era levado preso após desferir mais uma sessão de espancamentos contra a maltratada esposa. Nesse dia, porém, ele não contava com uma mudança na situação que iria influenciar sua vida para sempre.

Destacado para cumprir a missão, Araújo saiu da delegacia prometendo a si mesmo que precisava adotar uma postura diferente em relação àquele caso que já lhe estava enchendo as medidas. Chegando à casa do reincidente espancador de mulheres, o militar encontrou um quadro pavoroso. Com o rosto muito inchado pelas agressões e o resto do corpo todo lanhado em razão de inúmeras chibatadas recebidas, a mulher estava naquele momento sofrendo novas agressões. Com uma chibata em uma das mãos, o marido havia iniciado nova sessão de espancamentos, quando foi impedido pelo soldado que acabava de adentrar ao quarto do casal, alertado pela gritaria que se ouvia do lado de fora da casa. Revoltado com o quadro dantesco que acabava de presenciar, o policial tomou o chicote das mãos do agressor e passou a tratar-lhe da mesma maneira, aplicando-lhe uma série de chicotadas no lombo. Atingido pelas tiras de couro cru, o homem começou a gritar e a espernear, incomodado bastante com o mesmo remédio que costumava aplicar na pobre esposa. Concluída a abordagem, o militar arrastou o homem rua acima no sentido da delegacia de polícia. E como vinha acontecendo nas outras vezes, o salafrário começou a gritar pedindo ajuda ao seu protetor e dizendo-se agredido e humilhado pelo policial. Nesse momento o soldado o repreendia, e por fim, cansado do estardalhaço feito, mandou que ele gritasse mais alto ainda, e mostrasse a sua falta de vergonha para toda a cidade. A situação continuou assim até chegarem à delegacia. A comunidade inteira saia à porta para presenciar a cena que deixava a todos com um sorriso nos lábios, satisfeito com o novo desfecho daquele caso que já estava virando requentado angu de caroço.

Não se sabe se por já está agastado com os problemas causados pelo insano aliado politico ou se por respeito, desta vez, às leis vigentes, o certo é que o homem não recebeu cobertura nenhuma do seu protetor, e permaneceu um bom par de dias preso. Certo mesmo, é que quando a prisão foi relaxada, ele pegou a família e desapareceu. Mudou-se para lugar desconhecido ou ignorado. A história não terminaria ai, entretanto. Anos depois, paisano novamente e desempenhando a nobre profissão de mascate para sustentar a família recentemente formada, meu pai transitava certo dia por uma estrada erma tocando um burro carregado de mercadorias, quando avistou dois sujeitos que vinham ao seu encontro. O da frente, montava um belo cavalo muito bem ajaezado. Vinham em marcha acelerada. Papai julgou reconhecer o homem que encabeçava aquele pequeno cortejo, ocasião em que passou pela sua cabeça toda a história acontecida naquele triste dia, quando teve que se rebelar contra a sua natureza e partir com descontrolada fúria contra o agressor.

Ao se aproximarem, os homens diminuíram a marcha e encararam o outro viajante com muita insistência. Meu pai confessou ter temido pela sua vida. Desarmado como estava, viu o homem à sua frente parar de um tranco só, forçando-o a adotar igual procedimento. E por baixo da camisa que ele mantinha aberta até quase a altura do umbigo, avistou o cabo branco de um volumoso revólver. Era chegada a hora do acerto de contas, pensou meu pai.

“Soldado Araújo”? – indagou o viajante com voz forte e autoritária. “Ex-soldado Araújo” – respondeu meu pai no mesmo tom – “Com quem tenho a honra de falar?” - tentou também ganhar tempo enquanto pensava em alguma saída. Nesse instante o homem estendeu a mão para cumprimentá-lo e perguntou se ele não estava reconhecendo o sujeito que havia dado tanto trabalho para a polícia lá no Curador. Meu pai disse que lembrava sim, mas que aquilo era coisa do passado. O homem sorriu como se tivesse entendido o receio que provocava naquele instante. E soltando uma gargalhada disse que meu pai estava agora apertando a mão de um homem verdadeiro. E agradecia pela surra que havia tomado naquele tempo, fato que o fez mudar de cidade, e de vida também. Ele agora era um verdadeiro pai de família e agradecia isso à lição recebida naquele dia. Pôs-se ainda à disposição afirmando que sua casa estaria sempre de portas abertas para receber os amigos. Falou ainda que a mudança de vida havia permitido que ele conseguisse amealhar um considerável patrimônio também.

Quando ouvi esta história à primeira vez, indaguei do papai se ele não havia ficado com medo daquele encontro. Sorrindo gostosamente ele me respondeu: “Medo que só passou quando a poeira levantada pelas montarias daqueles dois homens se dissipou na estrada”.


Estas foram apenas duas das histórias vividas pelo meu pai, um piauiense que viveu a vida intensamente e que escreveu a maior parte dela em terras do velho Curador.