quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A tragédia do ônibus 350: uma crônica não publicada *

Foto meramente ilustrativa


Cunha e Silva Filho

Um ônibus, em paz, sai da Avenida Brasil, principal via terrestre de acesso à cidade do Rio de Janeiro. Passa pelo Viaduto e entra no velho bairro suburbano da Penha Circular. Prossegue na sua rota. Atravessa o Viaduto João XXIII. Entra, em seguida, na rua Irapuã – rua mais de residências, algumas bem velhas. Ao entrar nesta rua, o motorista, de repente, recebe o aceno de duas adolescentes para que pare o ônibus.

Os passageiros, cansado da jornada de trabalho daquela dia aguardam com ansiedade chegar a seus lares. “Quantas vezes tomei esse ônibus do centro do Rio à Vila da Penha, outro bairro fazendo esse mesmo percurso?” Este ônibus, se me recordo bem, até aparece num dos poemas do grande poeta paraense Jurandyr Bezerra, autor da obra Os limites do pássaro (Belém: CEJUP, 1993, 67 p.). Jurandyr há anos é morador na Vila da Penha.

O motorista, então, atende ao aceno das meninas que esperavam, num ponto da citada rua, qualquer ônibus desde que fosse este tipo de veículo. Tudo, todavia, não passava de uma cilada. Eram aproximadamente dez horas da noite. Ao parar o veículo, de imediato um ou dois homens, surgem, como num passo de mágica - homens-demônios - dispostos a tudo, implantando o terror e o pânico. Arrancam, furiosos, o motorista do volante. Outros homens permanecem do lado de fora, dando-lhes cobertura. Em movimentos rápidos, despejam gasolina no interior do carro e, em questão de segundos, ateiam fogo diante de passageiros tomados de surpresa, atônitos, sem mesmo tempo de reação. Alguns passageiros, cochilavam ou mesmo dormiam até aquele instante dessa viagem dantesca.

No veículo, havia um casal com um bebê de um ano. A mãe e o bebê , na confusão, em meio às labaredas crescentes, sumiram da vista do pai, ele próprio apavorado e impotente diante da situação horrenda. Alguns outros passageiros, quebrando vidros das janelas, puderam escapar ainda que sofrendo os horrores das chamas que se alastravam pelos seus corpos. Era o inferno na Terra ou a Terra no inferno.

A porta de saída ficara fechada. Não houve tempo a fim de que o motorista conseguisse abri-la. Os passageiros, encurralados, só tinham a porta de entrada, já e chamas, e a possibilidade de pular pelas janelas, igualmente em chamas. Houve uma explosão. O coletivo, em fração de minutos, era engolido pelas labaredas.

Quadro aterrador! Passageiros saindo do veículo, com dores intensas, os corpos em chamas, correndo, desesperados, pela rua. Um saldo de cinco mortes instantâneas. Muitos feridos gravemente. Os culpados: um dez monstros seguramente saídos das profundezas do inferno. As adolescentes, manipuladas pelos patifes, sumiram do local, quem sabe, para servirem de instrumentos diabólicos desses criminosos que nascem como ratos espalhando o terror e o cheiro de enxofre pelas narinas nauseabundas.

Não eram terroristas, como um amigo meu, jornalista, me corrigiu: não defendiam nenhuma ideologia, nem princípios, nem causas sociais, Eram animais selvagens, mentecaptos, tresloucados, cruéis, covardes brutamontes, energúmenos, psicopatas sociais, talvez incuráveis, que mereciam permanecer trancafiados pelo resto da vida, que não merecem misericórdia.

Quando, em meio à nossa indignação pelo ato bárbaro, tomamos conhecimento desse plano satânico, tramado seguramente por Belzebu, nossa indignação foge aos princípios ético-religiosos normais e passamos a comungar com um tipo de punição – a pena capital - para esses escroques, incendiários, monstros saídos da nossa sociedade afluente,ou melhor, construídos talvez por essa sociedade desigual, individualista e indiferente.

O ônibus 350, que eu soubesse, nunca fora alvo de atentados dessa natureza. O motorista da tragédia, que escapou ileso, já declarou que deixará de trabalhar na empresa. Dizem que os culpados já foram punidos com a pena de morte perpetrada por outros bando de uma facção adversária no mundo do tráfico de drogas, armas e de outros crimes abomináveis. A vida em si punira os culpados.

Enquanto isso, a cidade do Rio de Janeiro perde sobretudo no campo do turismo, que sofreu mais um golpe em face da incapacidade das autoridades de segurança, as quais, por incompetência e imprevidência, não dão conta da escalada do crime organizado, das máfias dos morros em suas lutas intestinas pelo controle do narcotráfico, com rivais do mesmo naipe da bandidagem instalada na cidade do Rio de Janeiro e em outras capitais do país..

Se para cada marginal morto pela polícia carioca corresponder uma retaliação da parte dos criminosos do tráfico, é de se recear pela integridade física dos cariocas, que poderão ser outras tantas vítimas inocentes da selvageria de monstros mefistofélicos em pele de humanos, prontos a transformar a bela cidade de São Sebastião em presa fácil de sua sanha em novos atos semelhantes aos do ônibus 350.

* Nota do autor: A tragédia ocorreu em 2005.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Teresina, outros saberes e usos



Fonseca Neto

As cidades têm chão: o espaço que nos limita, as coordenadas de sua geografia, céus e clima, o sabor de seu alimento, a sombra que nos agasalha, deuses de nossos lares, culto de comuns antepassados. Mas as cidades têm tempo, e por isso têm alma, como as pessoas” (Sebastião Moreira Duarte).
Em tais “espaço” e “coordenadas” elas se fazem corpo físico, artistica e utilitariamente elaborados, assim historiculturalmente ofertados ao “tempo”.
Teresina é uma cidade oitocentista e do século de sua criação permanece, imutável, o riscado de suas ruas e praças mesopotâmicas centrais,o que se poderia conceituar de “centro histórico”. Uma exceção que diz muito: do plano fundador, da área proposta para uma grande praça, campo ou parque, de 400x400 metros, conservou-se apenas o correspondente a um quarteirão, de 80x80, a hoje praça João Luís. Especulação imobiliária de nascença?
Da prediaria edificada, em sua forma original, e com idade sesquicentenária, tem-se a capela do cemitério São José e alguns mausoléus que a entornam e pertencem a antigas famílias brancas abonadas,o sobradão que serviu de palácio do governodo Piauí, agora o Museu, além de um obelisco a Saraiva. Das décadas finais do Oitocentos, há a igreja de São Benedito, e o Teatro 4 de Setembro. De pé, ainda, muitos edifícios públicos e particularesabaldramados nesse tempo e que forammodificados, ou simplesmente mascarados à usança diversa, com outra arte ou não-arte, filha de danada sabença.E, mais relevante, negativamente: o velho Centro deixou de ser o lugar preferencial de moradia da maioria da população, em que pese ainda sediar a Administração pública municipal e estadual – com equipamentos dos serviços respectivos, tipo escolas, hospitais e afins, comunicações, etc. – e também muito da atividade comercial, assim de pequena e micro-indústria e artesanato. Deve-se ressaltar que, em se tratando de escolas e serviços de saúde, já preponderam nessa área os estabelecimentos de iniciativa privada, com forte impacto nas aludidas alterações da vida da capital. Ande-se pelas praças e nos quarteirões do entorno das três igrejas primeiras da capital e ateste-se um semideserto de gente e de vida.Em determinado sentido, apenas ruínas prostituídas da cidade que passou a habitar a memória de seus filhos nascidos e criados ontem, anteontem. Aliás, a penumbra sensual dos seus cabarés, também se diluiu em novas zonas fronteiriças, ainda pecadoras, sempre edênicas.
Obra do século XX, há a cidade fisicamente expandida (qual um leque) para muito além do projeto do mestre João Isidoro e de outros idealizadores de sua criação. Em dezesseis décadas, porém, essa expansão (desejável e necessária sob vários aspectos) processou-se de modo tal que o sítio edificado das primeiras cinco décadas (1852-1902) restou quase irreconhecívelaos olhos dos moradores de hoje.Ainda que de maneira difusa, disso decorre a percepção de certo descuido quanto à “cidade velha que se vai demolindo” para ceder lugar a lucrativos estacionamentos, por exemplo.
Que fazer? Que fazer se as cidades são mesmo corpos vivos e mutantes? Se sua perenidade implica ter reelaborado seu destino por artes de seus hodiernos planejadores e poetas? Destino? Aqui, em Milton Santos, docemente sociologal e em férrea poética, uma direta ao planejador, no batente: “Destinos que precisam ser bem interpretados e compreendidos, para evitar que as nossas metrópoles, convertidas em ruínas e cemitérios, passem a ser meros aglomeradosde ‘frios cubos entregues a bestas menos destruidoras que o homem’”.
Aqui convém atentar para a maximização de Duarte de que têm alma as cidades: Teresina tem alma acrisolada nas carcaças da prediaria que vai virando “o pó dos pósteros”; força que anima no presente a memória dos antepassantes; alma que resiste ser hospedeira dos tais “frios cubos...”.
Teresina: centro antigo esvaziado de habitantes e com o investimento de séculos de labor e drama; cidade de periferias repletas de gente e desinvestidas da ludicidade do existir urbano. Tarefa: solar e cálida, costure-se as nesgas sobre esse abismo de diferenças.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

"Violência sem fim"



Cunha e Silva Filho

Caro leitor, não estranhe o título deste artigo vindo entre aspas. É que o tirei de uma reportagem do jornal O Globo a propósito do que está ocorrendo no Estado de Santa Catarina.  É preciso ter em conta o fato de que os atentados contra ônibus e lugares públicos, inclusive contra  policiais e parentes destes configuram uma situação ímpar para a qual a presença do governo estadual contribuiu de forma errada, protelada e incompetente.
Por outro lado, se o governador  daquele estado ainda demorou na sua decisão de convocar, através do Ministério da Justiça,  um contingente da Força Nacional, ele só fez agravar o problema e dar exemplo de inoperância. Nenhum governador  pode vacilar em decisões que afetam a segurança da sociedade e o respeito que esta deve ter   pelas autoridades competentes. Respeito não  por  mera subserviência ao Governador de Santa Catarina, mas respeito oriundo do espírito de liderança e de confiabilidade que um governador possa inspirar ao cidadão. Felizmente,  a Força Nacional foi aceita para auxiliar em parte algumas operações co-adjuvantes ao Comando da Polícia Militar de Santa Catarina.

Santa Catarina e seu interior não merecem  o que estão passando ante esta escalada de violência – que já se tornou um problema de  âmbito nacional. Aqui cabe fazer-se um parêntese mais do que necessário: o governo federal parece que não se deu conta ainda de quão séria é a  virulência desse mal.

Não é possível que a Presidente Dilma Rousseff ande repetindo a versão feminina do “rei nu” do conto de Anderson. Os meios de comunicação do país põem a violência em todas as  suas formas como um  do nossos  problemas mais recorrentes. É difícil dizer qual mazela é a pior: a corrupção na política, a falência do sistema de saúde ou a selvageria das ações de criminosos. Creio que a violência seja a  pior, porque já tem traços de terrorismo, de máfias que dominam redutos, pedaços, espaços de nossas cidades e de nosso interior. Alguém já afirmou que a criminalidade pode se alastrar pelos quatro cantos do país, o que seria um desastre para o Brasil e um péssimo exemplo para o mundo.

O descontrole da violência coloca em xeque a capacidade de governança do Estado brasileiro. Em outras palavras, quando facções criminosas detêm considerável poder de fogo e de destruição, é porque as autoridades dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário estão deixando muito a desejar e com repercussão negativa junto da  sociedade, que não parece acreditar mais na máquina do Estado.

Ora, essa realidade  nos dá a  sensação de que o brasileiro perdeu a esperança de melhoria no campo da criminalidade. Sentimo-nos reféns como cidadãos que pagam impostos e elegem candidatos a cargos nos  poderes legislativos e executivos. Alguém pode se considerar seguro neste país quando está no seu carro e, de repente, vêm indivíduos que o assaltam, tomam-lhe um bem e, muitas vezes, lhe tiram a vida estupidamente. O que é mais terrível, o marginal ou marginais escapam ilesos ou, se são presos, logo lhe arranjam uma  forma de sair em liberdade para praticar novos crimes.

Os nossos governantes, em geral, fazem administrações improvisadas, escolhem mal seus secretários e auxiliares,  nos vários setores,  apenas por indicação político-partidárias, sem levar em conta o fator determinante, que é a competência para exercer determinada função pública. Daí se verem tantos descompassos e protelações quando ao governo cabe sem delongas equacionar problemas e propor   estratégias pautadas no conhecimento e habilidade técnicas ou intelectuais  da equipe do governo que se instala no poder.

No exemplo da  calamidade que atravessa Santa Catarina, por que o governador não exerceu as prerrogativas de seu mandato para atacar as causas dos 101 ataques de quadrilhas encasteladas nos presídios do estado e de lá determinando que bandidos fora das  prisões armassem ataques contra a população na  capital e em cidades do interior? Ora, leitor, se as ordens  de ações ilícitas vêm do interior das prisões é  em razão de nestes  recintos existirem meios de comunicação com a marginalidade das quadrilhas que estão soltas e pondo em risco a vida  do cidadão brasileiro. Isso é de extrema gravidade e coloca todas as instâncias dos poderes constituídos em situação constrangedora para dizer o mínimo.

Então, facínoras dispõem de instrumentos de transmissão de mensagens nos próprios  cárceres?  Que fiscalização é esta, falha, incompetente ou conivente com prisioneiros  de alta periculosidade? Alguma  coisa anda errada nestes locais de isolamento.

O governo federal, a quem  cabe o papel de dar segurança à Nação, não vem desempenhando bem a sua função. Temos vários órgãos federais, temos as Forças Armadas, temos a máquina do poder judiciário, temos armas e poder de enfrentamentos, temos logística, temos setores da polícia bem preparados e, ao cabo, não conseguimos resolver e minar drasticamente as facções criminosas, as máfias brasileiras, os traficantes de armas e de drogas levando jovens e adultos à miséria física, psicológica e moral.

Não consigo atinar com a ideia de que nosso país dá certo em alguns setores e erra desastradamente nas áreas nas quais mais se exige a presença de um Presidente da República que se dedique a procurar debelar o terrorismo que  se instalou na vida urbana e no interior. Há quem já falou de ações  criminosas no interior do Nordeste chamadas de “novo cangaço”, ou seja, quadrilhas que aterrorizam as cidades pequenas, explodem caixas eletrônicas, cofres das agências bancárias e fogem sem serem molestadas pelas forças policiais. Até parece que a polícia as teme, o que é uma flagrante contradição entre Lei e  ações delituosas.

O país está aí, com a sua população indignada contra a incompetência das autoridades nos níveis federal, estadual e municipal.   Estão aí nas cidades e nos campos  os assaltos, os homicídios, os desmandos da marginalidade, com prejuízos causados ao comércio, à economia sem que a vontade política seja posta em ações efetivas e conducentes a uma vida melhor e tranquila que todos os brasileiros desejam e esperam das autoridades.

O povo está cansado de esperar por  essas soluções. Se o governo federal não agir com competência e espírito público, sem tergiversações nem discursos  meramente retóricos, o crime tenderá a se propagar com o seu rastilho de pólvora, matando, assaltando,  queimando ônibus, carros de polícia, carros particulares, traficando armas e drogas e se constituindo em forças assassinas, poderosas  e capazes de pôr o país numa enrascada sem precedente e sem volta. Não queremos para a nossa pátria os  tempos das máfias italianas ou americanas. O povo sofrido  do país não merece tantos retrocessos acarretados pelo crime, impunidade, derrocada de nossos sistema de saúde, de nossa educação pública ainda de baixa qualidade e de nosso transporte de massa também ainda tão precário. Esta, leitor, é ainda a imagem real de nosso país, infelizmente.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Lançamento de "Elementos de Língua Latina"



Elementos de Língua Latina, de Carlos Evandro Martins Eulálio. Essa é a mais nova obra editada pela Nova aliança Editora. O livro se destina a alunos de Ensino Fundamental, principalmente. O autor, de longa experiência no magistério, trabalhando em várias vertentes do ensino de linguagem, inclusive ensinando Latim, é crítico literário e autor de diversos livros. O lançamento, em Teresina, acontece dia 02 de março, na Livraria Entrelivros, a partir das 19h. 

Fonte: Portal Entretextos

Seleta Piauiense - Francisco Miguel de Moura



O QUE MORRE

Francisco Miguel de Moura (1933)

Casa e caminhos morrem desamados,
esquecidos, na solidão do Além.
Os segredos falecem de guardados,
e amores morrem quando morre alguém.

O porto morre. A onda se esvazia.
E o sonho esvai-se quando acorrentado.
A treva nasce do morrer do dia.
Morre o rico, o feliz e o desgraçado.

Nada é imortal, pois o que nasce vibra
somente um instante para a queda enorme,
eis que essa lei fatal tudo equilibra.

Morrem lembranças, fruto do passado,
e o presente e o futuro quando dorme
o homem sem fé, sem luz, abandonado.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Vaticano já elegeu uma papisa(Joana)?



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

A renúncia do Papa Bento XVI vem despertando interesse pela história da Igreja, especialmente dos papas, nos meios de comunicação. Uma louvável análise com critérios desapaixonados. Portanto fui conferir a curiosa história da Papisa Joana.
A queda do Império Romano do Ocidente provocou desorganização política na Europa, miséria, guerras, domínios isolados e feudais, falta de leis e soberania nacionais, violência, pragas. As mulheres não tinham direito à educação, apanhavam dos maridos, consideradas incapazes de raciocinar. A Igreja substituiu o decaído império romano pelo Santo Império Romano, única instituição capaz de conservar ou produzir registros e cultura. Inquestionável mérito, não fosse a exacerbação da autoridade, disputas criminosas e assassinas. Não se podem, porém, esquecer heroicos exemplos de santidade, martírio e consagrados doutores da Igreja.
Poder absoluto gera corrupção e injustiças. Devido ao indomável e exclusivo domínio da Igreja na cultura medieval, muitos registros históricos desapareceram ou foram alterados. Pouco se sabem, exemplificando, as causas de prelados e papas destituídos, mortos, assassinados ou envolvidos em escandalosas transações com a nobreza. Os papas Ponciano e Martinho I foram exilados. Papa Silvério, acusado de alta traição. Papa Estêvão VI(896), linchado, depois estrangulado em prisão. Leão V(903) assassinado, bem como o antipapa Cristóvão. Assassinados Bento VI(974), Bonifácio VII(984). João XIV, encastelado, morreu de fome. Papa Bento X, envenenado e assassinado pela matriarca Marózia, que também matou Estêvão VII e foi morta pelo filho, Alberico; este matou João XI(935). Um clima de hostilidade e safadezas que lembra disputas de domínio de traficantes e políticos. Nesse universo, aparece a enigmática personagem, Joana, a papisa, misto de realidade e lenda.
Joana nasceu na Alemanha, em meados do século IX, aprendeu a ler e escrever, uma aberração feminina na época. Mente prodigiosa, para aprofundar-se nos estudos, travestiu-se de homem, internou-se no Monastério de Fulda, trocou a identidade, estudou grego, latim, ciências e a Bíblia. Anos depois, partiu para Roma, destacou-se na Cúria, elegeu-se "papa" João VIII, em lugar de Leão IV, 855. Pontificou mais de dois anos. Um dia, acompanhando a procissão, a cavalo, Joana sentiu dores e pariu em público. Cardeais gritaram:"Milagre!"Daí em diante, surgiram muitos relatos pouco confiáveis. Conta-se que foi linchada e morta com o filho. Em 1276, o Papa João XX, depois de investigações, reconheceu a papisa e acrescentou Papa João XXI, em vez de XX. Na catedral de Sienna, encontram-se vários bustos de papas, entre os quais o da papisa Joana.
Consultei a veracidade da existência de Joana ao professor Cincinato, de Messejana-Ce, estudioso de História da Igreja, filosofia e teologia católicas: "A cifra de testemunhos é espantosa...Se essa história é falsa ou verdadeira, em nada altera minha convicção cristã." Teólogo Antônio Machado, de Fortaleza: "Não descarto totalmente a possibilidade de ter havido algo similar nas hostes eclesiásticas, notadamente se considerarmos a forte influência política exercida pelas famílias tradicionais europeias."
A renúncia de Bento XVI revela que,onde há poder,mesmo divino, o satanismo ronda perto. Nem Jesus livrou-se dessa presença maligna.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A CUSTÓDIA DE OURO DE OEIRAS

Capa da autoria de Gervásio Castro




21 de fevereiro Diário Incontínuo

A CUSTÓDIA DE OURO DE OEIRAS

Elmar Carvalho

Na semana passada, quando eu iniciava minha caminhada na Raul Lopes, deparei-me com Carlos Rubem, eminente Promotor de Justiça e proeminente promotor cultural. No decorrer da conversa, falei-lhe sobre o meu livro Bernardo de Carvalho, o Fundador de Bitorocara. Discorri sobre a personalidade e sobre as qualidades dessa ilustre figura do Piauí colonial, e sobre o seu injusto esquecimento, que tentei mitigar através de meu opúsculo.

Dei ênfase ao fato de que ele foi um amigo de Oeiras, tendo contribuído para a ereção da igreja erguida pelo padre Tomé de Carvalho, de quem ele era parente. Segundo as pesquisas do historiador padre Cláudio Melo, na verdade ele concorreu tanto para o soerguimento da velha como da menos vetusta igreja da velha capital, erigidas sob a invocação de N. S. da Vitória. Acrescentei que fora Bernardo quem doara a rica custódia de Oeiras, em ouro maciço e cravejada de várias pedras de diamante. Segundo os entendidos, essa linda peça sacra é um fino trabalho da ourivesaria portuguesa.

Carlos Rubem ficou um tanto surpreendido com minhas informações, frutos das pesquisas de Cláudio Melo, sobretudo nos arquivos de Lisboa, e me disse que a crônica histórica de Oeiras não registrava o nome do doador. Sabia-se apenas que essa magnífica e rica obra de arte fora doada por rico fazendeiro, cujo nome se perdera nas brumas do tempo. Sugeriu-me escrevesse uma crônica sobre a velha e bela custódia, passando-me, de memória, importantes informações, e indicando-me alguns textos, que eu poderia usar para enriquecimento de minha crônica. É o que estou tentando fazer agora.

Joca Oeiras, articulista de boa cepa, no belo texto denominado O roubo da Custódia, consigna que em 1926, quando a Coluna Prestes esteve na cidade de Oeiras, o tenente Siqueira Campos, tendo ouvido comentários de que na Igreja de N. S. da Vitória se encontrava a rica peça do ritualismo católico, ainda chegou a mandar que lhe trouxessem querosene para por fogo na porta do templo, a fim de arrebatá-la, e só não o fez porque o próprio Luiz Carlos Prestes, após áspera discussão com Siqueira, impediu que essa barbárie fosse cometida.

Em artigo do historiador Júnior Vianna, recolho a informação de que esse ostensório da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória foi roubado em 12 de maio de 1809. Nesse texto consta que, pelos poucos escritos e pela história oral, a custódia fora doação de abastado fazendeiro de gado, no século XVIII. Embora o nome do doador não esteja consignado, a informação se harmoniza com as pesquisas de Cláudio Melo, relatadas no seu livro Bernardo de Carvalho.

A crônica histórica registra que o coronel Raimundo de Sousa Martins, nas proximidades da fazenda Canavieira, encontrou um caboclo já nas vascas da agonia, vítima de violenta infecção intestinal. Esse homem, talvez por remorso ou temendo tremendo castigo, quando passasse deste para o outro mundo, fato que já se avizinhava, revelou ao coronel o seu crime, e disse que a custódia se encontrava no surrão que conduzia. Terminou dizendo, no intuito talvez de diminuir a sua culpabilidade, que o mentor do crime fora o pernambucano Thomaz Vilarinho, a quem deveria entregar o objeto sagrado.

O escritor Expedito Rego, no capítulo XIII de seu notável romance Visconde e Vaqueiro, intitulado O roubo da custódia, que pode ser lido quase como se fosse um texto autônomo, trata desse assunto. Claro, nele a história se mistura com a imaginação do romancista, porquanto é uma obra de ficção, embora permeada pela verdade. No texto de Expedito Rego, quem encontra o ladrão é um vaqueiro e não o fazendeiro Raimundo de Sousa Martins. Todavia, a história é muito semelhante ao que foi narrado no parágrafo acima. Até o nome do autor intelectual é coincidente,bem como a circunstância em que o larápio revelou o seu crime.

Como uma homenagem a Bernardo de Carvalho e Aguiar e ao seu mais brilhante admirador e biógrafo, padre Cláudio Melo, transcrevo as lapidares palavras deste magistral e respeitado historiador, cuja obra completa, através da Academia Piauiense de Letras, com o apoio de seu operoso presidente, o historiador Reginaldo Miranda, venho porfiando em editar, em volume único:

Os heróis não morrem, senão na visão dos seus contemporâneos. Como sementes, são lançados sob o solo para que depois germinem, produzam frutos e muitas sementes que os perpetuam no multiplicar-se dos anos.

Bernardo de Carvalho na sua bondade e fé estará sempre lembrado nas pedras da Catedral de Oeiras e particularmente na belíssima Custódia de ouro e pedras preciosas que ele ofereceu ao seu Deus sacramentado, e hoje é expressão material da riqueza de seu coração fiel.

Para os que são inclinados à vida política, será sempre o modelo ímpar de homem público devotado, sem interesses nem concessões duvidosas, nobre no sangue, no caráter e nos feitos.” 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Pérolas violeta lançadas ao tempo


Fonseca Neto


Ele destampou um baú e liberou às incensações do tempo um milhão de pérolas. E você já as viu nos dons e tons violeta?
Baú de Pérolas”, livro de Nicolau Waquim Neto, vai ganhando corações e mentes, desde que, há alguns dias, foi lançado em Timon e dado a correr o mundo.  
Neto é um poeta, pois é escritor esmerado, conferindo corpo a essa obra com material colhido de entre o chão comum de nossas vivências e as vibrações da inteligência que lampejam no cosmos.
O livro, e as fractais luminosas dos pensares que plasma mansamente e cintila, constituem, todos, um corpo quase visceral de labor pensante. Labor que revela as projeções da mente de um homem entregue e parece que totalmente absorto na contemplação das sendas chãs, à frente, daquela espécie de horizonte que a perspectiva do olhar humano parece estreitar e as larguezas dos céus, em tudo, e esperançosas, animam a seguir.
Sem brilho, não vivem as estrelas; sem poesia, não existem os céus...”: este aforismo, capturado do movimento de timbres profundos das culturas que fecundam e nutrem o devir com o sêmem do tempo, reponta, nele, qual um proclama do elixir da vida. 
Todos os viventes no tempo sabem que os raios solar-estelares sopram a energia da vida comum. Ou qual seria o sentido de todos os seres vívicos, dos chamados reinos animal e vegetal, festejarem o sol-luz como seu deus-criador, razão atemporal? Assim, por que viveriam as estrelas de qualquer grandeza se não fossem incumbidas de criar mundos sensíveis? Ora, o que são os céus? O sabem os que se erguem românticos a ler as memórias dos filhos da luz e os chegados às decifrações do deeneá daquele sementeiro do tempo.
As pérolas que nos dá Waquim Neto em seu novo livro – e antecipa vislumbres de novas obras –, guiam-nos na busca dos bons propósitos; admoestam. Um libelo filosofal? Sem o vezo peremptório e algo sôfrego dos que se faz em sede das acusações nos ritos das leis triviais. Ele é um ilustrado membro do Ministério Público do Maranhão, todavia, as sensações que lavrou, tal se sente em lê-lo, o fez na face das pérolas, mais insculpindo que escriturando.
O livro vem enriquecido com textos-apreciações de amigos do autor que testemunham seu itinerário. De um de deles, José Soares de Albuquerque, recorte-se o trecho em que observa que Neto “faz da Humanidade a sua própria família e das letras o seu melhor alimento” e que seus “aforismos são verdadeiras pérolas do pensamento...”.
Bernadete Maria de Andrade Ferraz, que igualmente o secunda em doce texto às páginas 505/506, alude à “universalidade cósmica” do autor, lembrando sua mente “sempre conclusiva e sublimada”. “Quem nada escreve, da Humanidade se faz ausente”: Bernadete encorpa sua nota posfacial de “Baú de Pérolas”, timbrando essa assertiva do próprio Neto, para significar ainda mais o valor dessa aspersão de pérolas literárias, por sobre Timon, Teresina, e o ecúmeno, cálidas moradas de nossa finitude. 
O livro é escancaradamente um tributo a Chagas Rodrigues, homem público exemplar, homenagem respeitosa, pois ambos, Chagas e Neto, engrandecem-se por esse cultivar, comum, de sentido e vivência.
Nicolau Waquim Neto nasceu em Teresina, s. à rua Riachuelo. Aqui estudou, e também em Timon: nesta cidade maranhense se fez próximo do padre Delfino Júnior, que por décadas operariou a paróquia de São José e também tem parte privilegiada nas suas iluminações. Filho de Violeta e José Waquim, seu corpo e mente são território e intelecto e têm a ver com o país das mil e uma noites de maravilhas.
Estudou o futuro Promotor de Justiça, W. Neto, no velho “Colégio Domício”, passou pelo Liceu Piauiense e se fez bacharel na Faculdade de Direito do Piauí. Timon e Teresina assistem-lhe o solene vozerio poético lapidado em escorreita letração. 
Talhado para as entidades acadêmicas, animou a fundação e preside a Academia de Letras, Artes e Ecologia do Leste Maranhense.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Quo Vadis, Bento XVI?!



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Frei Hermínio, cearense de Crateús, estudioso, cursos na Europa, aulas em seminário de Teresina, reside em Roma, onde representa a Ordem Capuchinha no Vaticano, como tradutor de documentos. Escreve no jornal Diário do Nordeste, de Fortaleza. Trocamos emails frequentemente.
Há um ano, Frei Hermínio narrava episódios delicados que ocorriam no Vaticano. Pedia-me que os repassasse a seus colegas, padres, de Teresina. Em 12 de julho, produzi uma crônica, baseando-me nas informações do frade, em DORES DE PARTO NO VATICANO. Destaco alguns trechos:
"No Vaticano, trava-se uma guerra surda, imunda, cujos petardos envolvem corrupção, disputa de poder, fraudes, sigilos revelados, traição, crise de autoridade, prisão. Não se trata de uma guerra de adversários da Igreja. É igreja dentro da Igreja... naturais conflitos não alteram o fervor do rebanho de Cristo, um gigantesco exército de heróis a serviço do bem, nas paróquias e dioceses, mundo afora." E, na crônica, reproduzia o sentimento de Frei Hermínio: "Vejo, preocupante, a situação hodierna da Igreja. Por isso, me sentiria omisso, se nada dissesse, pelo simples fato de responsabilidade cristã na ação eclesiástica... Frise-se, eu não sou um contestador dissidente." O frade pedia que enviasse as informações, bastante divulgadas na Europa, a amigos sacerdotes, bispos, sem alarde."
A renúncia de Bento XVI me sugere atitude de "QUO VADIS, DOMINE?" Em 1901, o polonês Henryk Sienkiewicz publicou o romance "QUO VADIS, DOMINE?', inspirado no Império Romano de Nero. Em 1951, transformou-se em filme épico de enorme sucesso. O romancista inspirou-se em cenas típicas de alguns imperadores como Nero: perseguição a cristãos, em espetáculos de sangue e carnificinas no Coliseu. Temendo o martírio, o apóstolo Pedro fugiu à perseguição. Jesus apareceu-lhe, e Pedro assustou-se: "Quo VADIS, DOMINE?"(Aonde vais, Senhor?) E o Mestre: "Estou indo a Roma para ser novamente crucificado, em seu lugar." O apóstolo entendeu o recado. Voltou à cidade, foi crucificado de cabeça para baixo." Uma lenda de heroica lição.
Entre a renúncia de Bento XVI e a permanência de João Paulo II até a morte desperta um paradoxo em favor do segundo. João Paulo encarou os muros da separação comunista, sofreu atentado a bala, fragilizou-se, sob mal de parkinson, continuou firme, cumpriu longas viagens, sem QUO VADIS. Ao contrário, carismático, seduziu cristãos e o mundo com a aura de mártir. João Paulo, autêntico pastor, enquanto Bento, profundo teólogo.
Na renúncia de Bento XVI, um mérito: desperta mudança no período de pontificado, aposentando-se, como os bispos, aos 70 anos. Um QUO VADIS realista e corajoso. A chance para eleição de líderes mais jovens e idealistas. "Igreja e Juventude", oportuno tema da Campanha da Fraternidade deste ano.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Seleta Piauiense - Álvaro Pacheco



A TERNURA

Álvaro Pacheco (1933)

Num domingo sobreposto,
ressuscitarei umas auroras
resistentes de minha carne
e qualquer sensação sobrevivente
da juventude anterior.

São outros tempos, ou apenas
outras circunstâncias, talvez
porque adormeci
e deixei que as pessoas se fossem
e não disse as palavras necessárias,

ou mesmo
porque estou muito cansado
e não sinta mais as coisas
como elas deviam ser, muito ternas
e inocentes — acho

que é terrível envelhecer,
muito ruim ser velho
ou apenas viver mais do que os outros,
esquecendo-me, dentro do tempo,
de como era lidar suavemente
com a ternura.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Abertura do Ano Acadêmico e homenagem ao centenário de Clidenor Freitas Santos


Reginaldo Miranda, presidente da APL

Dr. Edson da Paz Cunha Neto e Elmar Carvaho


Na Academia Piauiense de Letras, o presidente Reginaldo Miranda fez a abertura do Ano Acadêmico, com o lançamento da pré-programação do Centenário da APL, a ser encerrado no ano de 2017.
Na oportunidade foram lançados, pela coleção comemorativa do Centenário, as obras Em Roda dos Fatos, da autoria de Clodoaldo Freitas, e Memórias Autobiográficas, de Higino Cunha. Ambos foram fundadores e presidentes do sodalício. Também foi apresentada ao público a Revista da Academia, 68ª edição, que traz importantes matérias dos acadêmicos, inclusive os discursos de posse de Fonseca Neto e Jesualdo Cavalcanti Barros, com os respectivos discursos de recepção, da lavra dos acadêmicos Manoel Paulo Nunes e Oton Lustosa.
Foi ainda comemorado o centenário de Clidenor Freitas Santos, que presidiu a APL, fundou o sanatório Meduna, foi deputado federal e empresário, entre outras atividades. Fizeram pronunciamento a seu respeito os acadêmicos Celso Barros Coelho, Humberto Guimarães e Heitor Castelo Branco Filho.
Na solenidade, encontrava-se presente o médico Edson da Paz Cunha Neto, que, como o nome indica, era neto de Edson da Paz Cunha, um dos fundadores da APL, e consequentemente bisneto de Higino Cunha. Havia seleto e expressivo número de pessoas interessadas em cultura. 

Oton Lustosa Torres é o novo desembargador do TJPI



O Colegiado do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, presidido pela desembargadora Eulália Pinheiro, acolheu o nome do juiz Oton Mário José Lustosa Nogueira, titular da 1ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública da capital, como mais novo desembargador da Corte, por critério de merecimento. A eleição aconteceu na sessão desta sexta-feira, 15 de fevereiro. Cada um dos 16 desembargadores apresentou em votação, notas de critérios como desempenho, produtividade, presteza no exercício das funções e aperfeiçoamento técnico. O novo desembargador obteve pontuação de 225,35. Seguindo na lista tríplice ficaram os Juízes Fernando Lopes Sobrinho e Manoel de Sousa Dourado.

Oton Mário José Lustosa Torres é natural de Parnaguá-PI. Bacharelou-se pela Universidade Federal do Piauí. Ingressou na magistratura do Estado do Piauí  em 1987, após ter sido aprovado em primeiro lugar em concurso público. Iniciou a sua carreira como Juiz de Direito adjunto (substituto) da comarca de Itaueira. Foi Juiz de Direito titular das comarcas de Regeneração, Simplício Mendes, Oeiras e Parnaíba. Em Teresina, foi Juiz de Direito titular da 2a. Vara de Família e Sucessões no período de 2002 a 2008, e atualmente era titular da 1a. Vara dos Feitos da Fazenda Pública desde outubro de 2008.
Fonte: Ascom/TJPI

ITA'COR recupera coração de encantador de corações



ITA'COR recupera coração de encantador de corações

Itamar Abreu Costa

Ontem 15 de fevereiro, marcou um importante momento na história do Hospital Itacor, vejamos:foi realizado o 91(nonagésimo primeiro  procedimento cirúrgico) .Cirurgias de Revascularização Miocárdica, troca valvares, Tumores do coração e Endarterectomia-retirada de placas calcificadas nas carótidas que são as artérias que levam suprimento sanguíneo ao cérebro.
O nosso índice de sucesso e insucesso está de acordo com todos os consensos mundiais e nacionais(ou seja, estamos no meio dos bons serviços ).
O procedimento de ontem teve um cunho de saudosismo, vejamos:
O casamento de papai e mamãe foi em julho de 1949, na Fazenda Cruzeiro, então município de Altos, atualmente Coivaras(Futuramente:Coivaras de Erasmo Freire Gomes). Celebrante Padre Josino Leal e a festa do casamento foi tocada pelo Jovem, com 21 anos de idade o sanfoneiro LIBÓRIO NETO residente em Altos e considerado o melhor da região. Eis que o cidadão operado ontem, foi o velho ainda lúcido LIBÓRIO NETO, aos 85 anos. Foi operado pela equipe  do Dr. PAULO RÊGO, auxiliado pelos doutores: Sebastião Martins, auxilares: Dr. Josselano, Flávio Camurça, Argemiro Neto(anestesista) Lusypaula (perfusionista) e uma grande e competente equipe de enfermagem.
Quanta alegria fiquei ao chegar no hospital hoje(16) e junto com a Plantonista minha primogênita Dra. Patricia Lorenna, observar-mos a movimentação e as condições ótimas do Senhor Libório, no pós-op, é muito gratificante e queremos muito agradecer a Deus! por esse momento e tantos outros que ele nos tem proporcionado. 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Abertura do Ano Acadêmico e lançamento de livros



Acontecerá amanhã, sábado, dia 16, a solenidade de abertura do Ano Acadêmico, comemorativo do 95º ano de fundação da Academia Piauiense de Letras.

Será feita a divulgação da pré-programação do Centenário, além do lançamento de livros e da 68ª edição da Revista da Academia.

Também será dado início às comemorações do centenário de nascimento do acadêmico Clidenor Freitas Santos, ex-presidente da entidade e figura notável do meio intelectual, médico, empresarial e político piauense.

Data: 16 de fevereiro de 2013 (sábado)
Horário: 10 horas
Local: Academia Piauiense de Letras (Auditório Acadêmico Wilson de Andrade Brandão)

Entrevista: Elmar Carvalho


Elmar Carvalho fala dos desafios da Academia Piauiense de Letras como fomentadora da literatura piauiense

Por Naiane Rakel e Anna Jescika



O juiz de Direito, bacharel em Direito e em Administração de Empresas, poeta, cronista, contista e crítico literário, ocupante da cadeira nº 10 da Academia Piauiense de Letras, campomaiorense, José Elmar de Mélo Carvalho fala da importância da Academia como incentivadora e fomentadora da literatura piauiense e da relevância da revista acadêmica para os escritores. Ele é autor dos livros Rosa dos ventos gerais, Cromos de Campo Maior, Noturno de Oeiras, Sete Cidades - Roteiro de um passeio poético e sentimental e Lira dos Cinqüentanos. Em entrevista às jornalistas Naiane Rakel e Anna Jescika, relata sua trajetória literária, como a participação nas principais antologias piauienses, organizadas por Assis Brasil, Cineas Santos e o doutor Wilson Carvalho Gonçalves.

Naiane Rakel - No portal Entretextos, do Dilson Lajes, o senhor publicou uma síntese da literatura piauiense em que fala sobre os descasos das autoridades culturais, do atraso do estado em não cultuar os reais valores culturais. Nesse sentido, o que a Academia Piauiense de Letras tem feito para contornar o descaso do estado?
Elmar Carvalho - A academia é uma ONG, e depende de parcerias e convênios. A atual gestão, presidida pelo advogado e historiador Reginaldo Miranda, colocou praticamente em dia a Revista da APL. A revista é importante porque oferece espaço para que os acadêmicos publiquem crônicas, contos, artigos, pequenos ensaios e os discursos de posse e recepção. A academia tem patrocinado e apoiado o lançamento de vários livros e tem promovido diversos eventos, sobretudo palestras, como uma espécie de serviço de extensão que presta à comunidade.
Naiane Rakel - Quando a APL aniversaria geralmente são realizadas palestras, exposições abertas ao público. O que mais a APL tem proposto aos autores para que suas obras cheguem ao conhecimento do público?
Elmar Carvalho - A academia tem seu próprio site, no qual tem colocado textos de autores piauienses. Ela não dispõe de grandes recursos financeiros. Depende, sobretudo, da ajuda de órgãos públicos, através de parcerias, convênios e de elaboração de projetos. Entendemos que, tanto os órgãos públicos como a iniciativa privada, devem dispor de mecanismos de logísticas, que façam uma adequada distribuição dessas obras.
Naiane Rakel - Vocês têm desenvolvido algum projeto social para ajudar a comunidade?
Elmar Carvalho - Quando eu fui presidente da União Brasileira de Escritores do Piauí, com o apoio de minha diretoria, desempenhei uma campanha para que a literatura piauiense fosse inserida no texto da constituição de 1989, como disciplina obrigatória, e, contando com o apoio do deputado Humberto Reis da Silveira, que era relator geral da Constituição, essa obrigatoriedade foi posta na referida Carta Magna. Isso é uma maneira eficaz de a literatura piauiense ser percebida com mais força pela sociedade. Participamos de debates e eventos. Entretanto, entendo que ajuda à comunidade deve ser prestada por órgãos oficiais da assistência social, bem como por entidades filantrópicas, e mesmo pelo voluntariado em geral.
Naiane Rakel - O que os estudantes de hoje podem esperar da Academia Piauiense de Letras em termos de conhecimento literário?
Elmar Carvalho - Cabe-lhes manterem contato com a entidade. A academia não tem o papel de substituir os órgãos oficiais de cultura e nem as entidades de ensino, porém a academia está pronta para colaborar com as escolas e faculdades, disponibilizando acadêmicos para irem conversar com os alunos, bem como recebendo em nossa sede comitivas de estudante.
Naiane Rakel - O que os jovens devem fazer para tornarem-se os futuros escritores piauienses e membros desta academia?
Elmar Carvalho – Lamentavelmente, o jovem vem caminhando mais para os audiovisuais, para as letras de música de baixo calão. Para ser um bom escritor o jovem deve ler muito mais do que escrever, tem que estudar, se dedicar, pois literatura é um trabalho artístico, a ser exercido por quem se aperfeiçoou na arte de escrever. O interessado deve preparar-se para ser um escritor, através do estudo, da prática e da reflexão. Não deve ser um mero diletante, movido por problemas pessoais e apenas pelo desejo de notoriedade.

Naiane Rakel - O senhor presidiu a União Brasileira de Escritores do Piauí, o Conselho Editorial da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, publicou alguns livros. O que mais pretende fazer pela literatura e cultura do Piauí?
Elmar Carvalho - Tenho um blog em que publico textos meus e de outros autores. São textos literários, de historiografia e pequenos ensaios. Colaboro em alguns portais, tenho publicado alguns livros, e certamente irei publicar outros, entre os quais um de contos, um diário, cujos registros na verdade são crônicas, algumas memorialísticas, e irei coligir meus ensaios, crônicas e discursos.
Naiane Rakel - Fale um pouco da sua trajetória como escritor.
Elmar Carvalho - Publiquei meus primeiros trabalhos literários no jornal “A luta” de Campo Maior, quando tinha 16 anos de idade. A partir dos 20/21 anos comecei a publicar nos jornais de Parnaíba e nas revistas e jornais de Teresina. A Rosa dos Ventos Gerais foi o meu primeiro livro individual, editado quando eu já tinha quase 30 anos. Participei das antologias A Poesia Piauiense no século XX, organizada por Assis Brasil, Baião de todos, organizada por Cineas Santos, e Antologia dos Poetas Piauienses, cuja organização foi de Wilson Carvalho Gonçalves. Procurei não forçar barras e nem cometer insolências. Trabalhei e perseverei, e esperei que isso rendesse frutos. Tenho observado que na seara da literatura recebemos o reconhecimento de muitos, mas, às vezes, sofremos o desprezo e a má-vontade dos invejosos e ressentidos.
Anna Jescika – O senhor já publicou alguns livros. Qual é o mais recente? Do que fala?
Elmar Carvalho - Bernardo de Carvalho, o Fundador de Bitorocara, que é um ensaio histórico, em que tento resgatar a mais notável figura histórica do Piauí Colonial, no entendimento do padre Cláudio Melo, que lhe escreveu a biografia, com base em documentos encontrados no Piauí e em Lisboa. Inseri alguns poemas referentes a Campo Maior, bem como meu discurso de posse na Academia de Letras do Vale do Longá. Esse livro, como disse, resgata a história de um homem que talvez tenha sido a mais importante figura do Piauí Colonial, mas que se encontrava quase completamente esquecido, não obstante o seu valor, as obras que fez e o seu estofo moral.
Anna Jescika - O que você espera da literatura piauiense nos próximos anos?
Elmar Carvalho - Eu não vejo muita perspectiva, a não ser que o autor publique à sua própria custa. Com exceção da Universidade Federal do Piauí, que vem mantendo seu plano editorial, relativamente satisfatório, as demais entidades públicas culturais, sejam estaduais ou municipais, quase nada publicam atualmente, pelo menos de meu conhecimento. Antigamente, houve planos editoriais e projetos editoriais, através dos quais importantes obras foram editadas, mas hoje a literatura piauiense se ressente da falta de iniciativa desse tipo. A geleia geral de hoje é um marasmo quase total, com as honrosas exceções que sempre hão de existir, nem que seja para contrariar a regra.
Anna Jescika - O Salipi é o evento cultural que estabelece o maior contato com a sociedade, é o mais divulgado. Para o senhor qual a importância dele para a literatura e cultura piauiense?
Elmar Carvalho - O Salipi é organizado uma vez por ano. É uma grande feira comercial de livros, mormente de autores nacionais e internacionais. São promovidas palestras, sobretudo de autores famosos nacionalmente. Entretanto, não tenho dados concretos sobre a contribuição efetiva que ele tem dado à literatura piauiense. Creio que a mais importante contribuição para a Literatura Piauiense seria a implantação efetiva e cabal do que determina o artigo 226 da Constituição do Estado do Piauí, ou seja, o ensino obrigatório de nossa literatura, com a publicação dos compêndios necessários e o treinamento dos professores.
Anna Jescika - O senhor é contra o Enem, visto que ele não prioriza as obras piauienses, não contribui nesse sentido?

Elmar Carvalho – Não é que eu seja contra. Entretanto, sem dúvida, nesse aspecto, causa um grande prejuízo à literatura piauiense. O que deve ser trabalhado na escola é o prazer em ler livros literários e, sobretudo, a leitura e divulgação dos livros de literatura piauiense. O artigo 226 da Constituição Estadual manda que as escolas ensinem a literatura piauiense. No entanto, esse dispositivo é quase uma letra morta, pois raras escolas o cumprem. Infelizmente, a Secretária de Educação não obriga as entidades de ensino a cumprirem o que manda nossa Constituição Estadual. Nem mesmo ela o cumpre, através de sua rede de escolas.
Anna Jescika - Como é feita a avaliação para que um literato se torne um membro da Academia Piauiense de Letras?
Elmar Carvalho - Não existe convite, tem que surgir a vaga, e esta só surge com a morte de um acadêmico. O interessado tem que preencher os requisitos para ser candidato e tem que requerer a sua inscrição, de tal modo que nenhum acadêmico pode inscrever um candidato. O escritor tem que requerer sua inscrição, tem que passar pelo quórum mínimo de eleitores, para que possa assumir uma cadeira. Pode ser candidato único, mas se não obtiver o mínimo de votos necessários não poderá entrar. Ademais, ninguém é eleito por aclamação.
Anna Jescika - A mídia tem grande influência na não divulgação dos novos nomes da literatura piauiense. A mídia tem alguma particularidade nesse sentido?
Elmar Carvalho – Antigamente, os grandes jornais do Sul do país tinham suplementos destinados à literatura. Havia a crítica de rodapé, feitas por intelectuais da estirpe de Alceu Amoroso Lima, Álvaro Lins, Antonio Cândido etc., que publicavam trabalhos de crítica literária, que mostravam a receptividade da obra comentada. Mas hoje praticamente não existe crítica literária, mormente nos jornais. Outrora, nos grandes jornais do Piauí havia espaço dedicado à literatura, nos quais os novos e os velhos autores publicavam os seus poemas, as suas crônicas, os seus contos. Hoje, só restam algumas poucas revistas, e alguns blogs e portais dedicados à arte literária.
Anna Jescika e Naiane Rakel - Que mensagem o senhor deixaria para os jovens que porventura desejam ser escritores?
Elmar Carvalho - Se o jovem tiver uma vocação para as letras, precisa ler muito e, sobretudo, os grandes mestres da literatura. Tem que escrever, todavia deve ler muito mais. Cabe a este jovem, que porventura queira virar um literato, se esforçar, escrever, mas sem a preocupação de imediatamente publicar livros. Ele pode publicar nos jornais, em revistas, na internet, e ver a receptividade dos textos. Deve pedir a um crítico literário para avaliar a qualidade de sua redação, e verificar se tem condições de se tornar efetivamente um escritor. Todos podem escrever, desabafar o que lhes vai na alma. Mas literatura é um trabalho de linguagem, e nem todos os que escrevem têm qualidades que lhes possibilitem ser um escritor ou poeta. Todos nós devemos cultivar a autocrítica e a humildade. Muitos jovens caem na armadilha de se julgarem gênios e novos Rimbaud. E isso poderá ser uma encruzilhada fatal, um beco sem saída ou mesmo uma cruz como ponto final.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Um Réquiem para João Almeida



Um Réquiem para João Almeida

Virgílio Queiroz

João Almeida é daquelas pessoas que não devem morrer, pois faz parte da própria cidade: de suas ruas, de suas conversas, de sua história. Eu gostava de acompanhar seus passos, aparentemente ágeis, porém, bem próximos - que havia um compasso dos pés que pareciam sincronizados. Ele levantava cedo, ia até a Praça Quincas Castro, voltava e seguia para o “Aki Lanches” onde saboreava um café (às vezes mais de um). Ouvia conversas, sorria e deixava o seu comentário (inteligente, ele botava malícia, fazia fofoca, e esperava pelo resultado). Uma memória invejável! Contava-me episódios do tempo da ditadura militar e de ocorrências em Amarante que pouca gente sabe. Falava-me dos governantes piauienses, gostava de política e, às vezes, se mostrava irônico ao se referir a determinada figura considerada ícone. De vez em quando ele me recitava “Orgulhosa” (um cordel atribuído a Gonçalves Dias). Eu contava algumas anedotas e ele sorria bastante. Apesar de partidário e de fiel em sua opção política, João Almeida não gostava de esconder fatos – mesmo àqueles que desfavoreciam o seu candidato. Sabido, ele dizia: “conte, mas não diga que fui eu”. Orgulhava-se das estradas que ele ajudara a construir e acreditava que Amarante não devia crescer tanto a ponto de se tornar uma cidade grande. “Amarante deve ser assim: uma cidade onde todos se conhecem”. Muitas histórias serão contadas sobre o João Almeida. Algumas verdadeiras, outras não. Afinal de contas, ele se tornará um mito e, com certeza, muitos anos irão passar para que outro apareça para ocupar o seu lugar.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

JAMES TORRES, A MATERNIDADE E OS VELHOS MÉDICOS



Na 1ª foto do painel, a enfermeira Iracema e Jailton; na 2ª, Jailton e sua mãe Altair, ladeados pelos médicos João de Deus Torres e Sigefredo Pacheco; na 3ª, Altair e Jailton

13 de fevereiro   Diário Incontínuo

JAMES TORRES, A MATERNIDADE E OS VELHOS MÉDICOS

Elmar Carvalho

Neste domingo, em Campo Maior, fui à maternidade Sigefredo Pacheco, para entregar ao médico e diretor daquela casa de saúde os meus livros Noturno de Oeiras e outras evocações, A casa no tempo e PoeMitos da Parnaíba. Fui acompanhado do professor Zé Francisco Marques e de meu irmão Antônio José. James estava, na área de recepção, a conversar alegremente com várias pessoas. Dessa atitude, em pleno domingo de carnaval, bem se pode inferir que ele tem paixão pelo que faz, que é um médico efetivamente vocacionado, uma vez que não apresentava o menor sintoma de mau-humor ou estresse.

Ele me apresentou às pessoas com quem conversava, e me traçou uma breve biografia, sobretudo enfatizando que eu era um poeta e que fora um bom goleiro, a desferir voos nos campinhos de várzea de Campo Maior, como está posto na parte final do livro Bernardo de Carvalho, o Fundador de Bitorocara, que eu lhe dera dias atrás, quando o encontrei, em feliz coincidência, no shopping Riverside. Naquela oportunidade, ele comprou um note book, e eu adquiri um pendrive para armazenar com segurança este Diário Incontínuo, que venho escrevendo há mais de três anos, e que desejo publicar em livro de papel, quando completar sessenta anos de idade.

Eu o conhecia há algumas décadas, principalmente do tempo em que eu trabalhava como fiscal da extinta Sunab, que funcionou no prédio da Delegacia do Ministério da Fazenda, onde o doutor James exercia o cargo de médico, como ainda exerce. Na conversa no shopping, ele me revelou que gostava de ler. Enalteceu as minhas atividades de magistrado e de poeta. Como é raro, hoje em dia, a gente encontrar um leitor de literatura, achei por bem lhe ofertar o meu livro sobre Bernardo de Carvalho, explicando-lhe que eu fora motivado pelo desejo de resgatar a memória dessa grande figura histórica do Piauí, que injustamente estava relegada ao esquecimento.

Quando lhe entreguei esse livro, disse-lhe, brincando, que ele não precisava lê-lo na íntegra, mas apenas a crônica que o encerra, escrita pelo Zé Francisco Marques, titulada “Quem te ensinou a voar?”, sobre as minhas atuações goleirísticas. Mas James Torres, com o seu notável senso de humor, retrucou-me:
- Por favor, não me faça um pedido desse; eu gosto de ler, e quero ler o seu livro todo...
Fiquei feliz. Afinal, os leitores compulsivos são “avis rara” cada vez mais raras, ralas e rarefeitas, nesses tempos apressados de internet e de audiovisuais.
Hellena (filha de Jailton), sua mãe e o médico James Torres

Na maternidade, ele me mostrou um modesto painel, onde estavam afixadas, sem nenhuma ostentação, quatro a cinco fotografias, sendo duas bem antigas. Numa delas, apareciam o Dr. João de Deus Torres, seu pai, e o então senador Sigefredo Pacheco, seu tio afim, também médico e ex-deputado federal. João de Deus Torres, já falecido, foi prefeito de Campo Maior, no período de 1963 a 1967. Em outra foto, via-se a saudosa enfermeira Iracema Lima da Costa Santos, antiga parteira campomaiorense. Vim ao mundo com a ajuda de suas mãos, e durante muitos anos a chamei de mãe Irá, em homenagem a esse fato.
Dr. João de Deus Torres

No painel, também estava a imagem de Jailton L. e Silva, filho da senhora Altair Lima de Deus, que inaugurou essa maternidade ao nascer em 05/12/1967, ainda nos bons tempos de Irá e do doutor João de Deus Torres. Nas fotos mais recentes, aparecem o médico James, uma jovem mulher e uma criança; esta infante, de nome Hellena do Vale Lima, nascida em 22/03/2004, é filha de Jailton. Portanto, vê-se nas imagens fotográficas a sucessividade das gerações de médicos e de pais e filhos, na eterna perpetuação da espécie bípede, mamífera e humana, ou homo sapiens, nem sempre tão sábio assim.

Durante um curto período, no início de minha adolescência, residi perto dessa maternidade. Nessa época, com certa frequência, tomava banho no Surubim e em sua velha barragem. Uma ou duas vezes, quando a alta caixa d' água, que lhe fica próximo, derramava água pelo “ladrão”, como se fosse uma bica, tive o prazer de banhar na verdadeira cascata que se formava. Na sua frente, namorei algumas vezes, à noite, uma garota da vizinhança, que nunca mais revi, e cujo nome já não recordo.

A pouca distância, ficava o extinto hospital São Vicente de Paula. Certa feita, quando eu me encontrava nessa entidade hospitalar, ouvi o forte clamor angustiado de uma mãe, que acompanhava o cadáver do filho. Durante alguns meses, a lamentação desesperada não me saía da memória, deixando-me o espírito impregnado de profunda tristeza pelo que a morte contém de irremediável e inelutável.
Senador Sigefredo Pacheco

Como uma homenagem, recordo o nome dos velhos médicos da época, alguns já falecidos: José Francisco Bona, José Laurindo, Antônio de Araújo Chaves, João de Deus Torres, que relevantes serviços prestaram aos campomaiorenses, na área de saúde. O primeiro foi colaborador do jornal A Luta, em que publicou interessantes crônicas e artigos, que bem merecem ser coligidos em livros; doutor Chaves foi grão-mestre da Grande Loja Maçônica do Piauí. José Francisco e José Laurindo foram os responsáveis pela cirurgia cesariana, através da qual nasceu o meu irmão caçula, César Carvalho (Neném).

O Zé Francisco fez questão de proclamar, alto e bom som, e no melhor tom tonitruante, que James, além de médico dedicado e competente, é um exímio violonista, do nível de Turíbio Santos e Dilermando Reis. Devo dizer que o autor dos elogios não lhe deve ficar atrás, além de dedilhar, com rara maestria, um teclado. Dessa forma, marcamos um encontro para um dueto e um duelo entre esses dois mestres das cordas pulsantes e sonoras de violão, que acontecerá no primeiro ou no segundo domingo de março.

Após James Torres afirmar que eu fora um grande goleiro, a empreender minhas voadas nos campos pebolísticos de Campo Maior, tive vontade de lhe dizer que talvez tenha havido certo exagero por parte do Zé Francisco; que as “asas” com que eu voava eram pregadas com cera, como as de Ícaro, e que, como um anjo decaído, eu me estatelava no chão; que apenas fui um admirador dos guarda-metas conterrâneos Beroso, Icade e Zé Olímpio da Paz Filho, este para mim o melhor golquíper na modalidade futebol de salão.

Meu ícone, que procurava imitar, foi o imortal caiçarino Coló, um dos maiores goleiros do Piauí de todos os tempos. Coló colava com cola, como dizia a modinha, cantada no auge de sua glória. E eu, se muito colasse, colava com grude ou goma arábica.
Caiçara, vendo-se à direita, em pé, o goleiro Coló

QUEM TE ENSINOU A VOAR? 

José Francisco Marques
Professor, compositor e instrumentista

Remonto ao início dos anos 70, mais precisamente após o nosso escrete canarinho haver conquistado a tão cobiçada taça Jules Rimet. A nossa seleção (considerada ainda hoje por experts como a melhor de todas as seleções), despertou de maneira ainda mais efusiva e visível a simpatia por esse esporte. Assim, o futebol de várzea efervescia certamente por conta de tal feito.
Eu, não contrariando a toda uma geração, me deixei levar por essa “onda” futebolística. O meu primo/irmão João Bartolomeu Filho fundou na época um time de futebol amador, o qual denominou de Palmeiras. Era de fato um time bem organizado, com reuniões semanais, englobando todos os que faziam parte daquela equipe.
Organizou-se então um Campeonato, que tinha como coordenador mor um jovem ao qual chamavam de Pedro Rocha, apelido que acredito ser uma alusão ao famoso craque do São Paulo naquela época, cujo nome verdadeiro era Antônio Francisco Souza. A citada competição acontecia aos domingos, no Estádio Deusdedit Melo .
Eu era uma espécie de faz tudo. O office boy da equipe, por assim dizer. Lembro que, dentre as tarefas a mim delegadas, a que mais me deixava prazeroso era a de literalmente acordar o nosso atleta maior. Refiro-me ao mestre amigo, poeta, cronista, blogueiro dos mais famosos e imortal de várias academias, dentre elas a Piauiense de Letras, Elmar Carvalho, que representava, sem dúvida alguma, a peça que transmitia a toda equipe a segurança necessária. Assim o digo porque, enquanto eu não conseguisse completar a minha tarefa, o meu primo, lá no Estádio, usava de todas as artimanhas possíveis para protelar o início do jogo, para iniciá-lo apenas quando o nosso guarda-metas chegasse.
Elmar era de fato um goleiro diferenciado. Elegante em suas defesas e de uma agilidade impressionante, pois muitas vezes arrancava aplausos (fato raríssimo entre expectadores desse nível futebolístico), da plateia que o assistia. Eu, entre orgulhoso e com um nítido sentimento de dever cumprido, sentia-me, dentro do contexto, feliz por ser parte, ainda que ínfima, desse espetáculo que dominicalmente o nosso atleta oferecia.
Lembro-me, dentre outros feitos, de uma defesa antológica que Elmar praticou. Repassei, durante muito tempo, aos amigos que militavam na área esportiva, tal feito. Era uma espécie de semifinal ou algo parecido. O jogo estava duríssimo e o Palmeiras vencia por 1X0. O jogo já estava quase finalizando, quando o centroavante adversário acertou uma cabeçada no canto esquerdo, tendo o nosso goleiro, em um reflexo incrível, efetuado a defesa. A bola resvalou na trave. A pelota sobrou para outro atacante, que de primeira soltou um “torpedo”; o nosso arqueiro, usando de uma agilidade felina, conseguiu, no canto contrário, fazer uma defesa fenomenal. Mais tarde, ao ver uma defesa de Rojas, atuando no Santos (os mais afeitos ao futebol certamente lembrarão), é que pude estabelecer um comparativo com essa verdadeira façanha malabarística.
Elmar tornou-se um grande goleiro precocemente. Certa feita, ainda criança, jogava com alguns amigos em um campinho de futebol. A sua atuação despertou a atenção de um agricultor que por ali passava. Depois de seguidas defesas e voos, a espalmar a bola, o agricultor, não contendo a sua admiração e espanto, expressou em voz alta: “Meu Deus, parece um passarinzim”.
O lado intelectual falou mais alto, e assim o futebol perdeu um grande goleiro. A magistratura, por sua vez, ganhou um reforço substancial.
Mas, voltando às minhas memórias, jogo terminado, Elmar seguia, agora com alguns amigos, de volta ao seu lar (ou algum boteco), não sei ao certo, entre elogios e expressões de puro contentamento.
Hoje, depois de muitos anos, o mesmo jogador brilhante, que antes imitava com perfeição o voo dos pássaros em suas defesas acrobáticas, transporta-me em suas asas poéticas a voos ainda mais densos e infindos.
Mestre, humildemente vos pergunto: Quem vos ensinou a voar?