sábado, 30 de julho de 2016

Ainda sobre a Banca do Louro

Sobre esta charge, em meu blog, postei o seguinte comentário:
Prezado amigo Fernando,

Pedi para você fazer uma charge do Louro, mas não um Louro tão platinado e atlético, e ainda fazendo uma operação plástica nele, ao ponto de fazê-lo transportar um container de Buriti dos Lopes a Parnaíba, como se fora um Maciste dos velhos filmes de outrora.
Era melhor tê-lo colocado como um herói das Olimpíadas!
Obrigado, grande Mestre, por mim, e principalmente pelo Louro, por você tê-lo "ajeitado".
Abraço,
Elmar


Julguei oportuno publicar o e-mail abaixo, na verdade uma verdadeira crônica memorialística, que me foi enviado pelo Dr. Orlando Martins Pinheiro, digno magistrado, hoje inativo, maçom da melhor cepa, e escritor e jornalista, assim como seu saudoso pai, Hermes Pinheiro:

Caro amigo Elmar.

Aqui estou para dizer que atendi a sua recomendação.

Na qualidade de leitor assíduo do seu blog, apressei-me em abrir o link - A Banca do Louro - que me transportou para Parnaíba de outrora quando era Caixeiro Viajante. Além da banca, onde adquiria algumas revistas da minha predileção, a sua crônica me levou à nostalgia daqueles bons tempos. Não sei se era o Bar do Augusto que eu frequentava de vez em quando. Mas vislumbrei, mentalmente, as agências do Banco do Nordeste e Banco do Brasil, onde fazia a transferência das importâncias recebidas; da Farmácia Bacelar, de propriedade do probo e saudoso Raul Furtado Bacelar, parece-me que hoje transformada por sua família em um memorial, plenamente merecido e justificado; a Loja Rosemary, do Grupo Marc Jacob; a Igreja Matriz, onde fazia, sempre que possível, as minhas orações: o Cine Éden onde assisti alguns bons filmes; a própria praça bem cuidada onde passeava e flertava à noite, enlevado pela brisa que vinha do mar.

Hospedava-me no Palace Hotel, gerenciado pelo simpático espanhol Fernando Esposito, coadjuvado pelos recepcionistas Farias e Chico. Lá saboreei a melhor casquinha de caranguejo. Até hoje não comi nenhuma, pelo menos parecida. Ficava situado logo atrás da Praça da Graça, mais precisamente na Avenida Getúlio Vargas, bonita de se ver, com  aqueles prédios antigos e bem conservados, testemunho eloquente da nossa própria história através de Simplício Dias que encabeçou a Independência do Piauí. Lembro-me da Casa Inglesa, do grupo James Frederick Clark. Dos estabelecimentos Casa Morais e Morais Importação, Ranulfo Torres Raposo e a Farmácia Parnaibana, do honrado e simpático farmacêutico José de Arimateia Basto Rebelo que dizia que o lema de seu estabelecimento era: "Farmácia Parnaibana, pobre porém honrada".  

Lembrei-me, igualmente, dos farmacêuticos e comerciantes Themístocles Frederico da Ponte, Francisco de Assis Cajubá de Brito, Adauto Sampaio e Vicente de Paula. Vislumbrei mentalmente a Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba onde prestavam serviços os médicos Armando Cajubá de Brito, José Mendes Cerqueira, Raimunda Nonata, Equililérico Nogueira, João de Deus Silva, Mariano Lucas de Sousa, Cândido de Almeida Athayde e Carlos Araken. Tinha em seus quadros de colaboradores as piedosas freiras que prestavam seus valiosos serviços gratuitamente e um simpático administrador que, infelizmente, mão me recordo o nome, era, também contador que, naquela época era chamado de Guarda Livros, da firma de Ranulfo Torres Raposo. Podia-se sentir o cheiro de limpeza ao passar nas imediações da Santa Casa. Tinha, ainda, a Casa de Saúde e Maternidade Dr. Manoel de Brito e o Hospital e Maternidade Dr. Marques Basto, de propriedade dos médicos Mirocles de Campos Veras e Edgar dos Santos Veras, pai e filho, respectivamente.

Eu era muito jovem e adquiri muita experiência na época, seja pelo exemplo dos meus colegas mais antigos no ramo, seja pela maneira fidalga e educada que era recebido, tanto por farmacêuticos quanto pela classe médica.

Vislumbrei a zona do meretrício, donde se destacava a Boite Cinelândia e a Boite da Alzira, Creio que existiam outras "casas  de diversões", mas o tempo varreu os nomes da minha memória. O tempo que traz gratas recordações, embota muitas delas corroídas pelos longos anos vividos que me afastam daquela fase da minha vida Tenho certeza que estou sendo injusto em não me lembrar dos nomes de diversas outras pessoas, dignas e merecedoras de elogios. Pode ser que, em tempo oportuno, a cortina se abra para maiores e sentimentais devaneios.

Com o afetuoso abraço do seu amigo e admirador.

Orlando Martins Pinheiro


Teresina, 29 de julho de 2016

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Homenagem a Genésio da Silva Costa



Ontem, em companhia do Canindé Correia fui ao lançamento da obra Fragmentos, da autoria do poeta, cronista, memorialista e articulista Carlos Henriques Araújo, autor de outros livros de crônicas e de poemas. O evento aconteceu no SESC/Caixeiral. Lá encontrei vários amigos e confrades da Academia Parnaibana de Letras. Usamos da palavra, além do autor, Alcenor Candeira Filho, Israel Correia, Dilma Pontes e este escriba. Todos na base do improviso. Alcenor, além de fazer o elogio do autor e do livro, como os demais, terminou fazendo um improviso sobre a arte ou “desastre” do improviso. Fiz o que se chama na música uma variação sobre o mesmo tema, pegando como mote o que disseram os meus antecessores, acrescentando novos ingredientes.

Entre os amigos presentes, encontrei Marçal Paixão, que nutria grande admiração, assim como eu, por Genésio da Silva Costa, o Geruca, craque do futebol parnaibano e mestre na arte de rebobinar motores elétricos. Era um entusiasta da música e do futebol. Era também um entusiasmado e atraente conversador, um verdadeiro causeur, de memória prodigiosa, tão prodigiosa que me repassou notáveis informações sobre os principais craques do futebol parnaibano, que muito enriqueceram o meu livro O Pé e a Bola.

Disse-me Marçal que havia escrito, por ocasião do falecimento de Genésio, um pequeno texto em sua homenagem. Pedi-lhe que o enviasse por e-mail, para que eu o publicasse em meu blog. Eis o seu pequeno e belo texto:

GENÉSIO DA SILVA COSTA

Marçal Paixão

No dia 31 de julho de 2015, faleceu, aos 90 anos, o grande amigo GENÉSIO DA SILVA COSTA, conhecido por alguns como“GERUCA”, da época em que foi craque de futebol (década de 1940). Genésio Costa não foi craque só no futebol, mas em todos os setores de sua vida. Pois apesar de ser uma pessoa simples, era portador de muita sabedoria. Era um homem digno, de uma reputação invejável. Rico em virtudes e em sensibilidade. Desempenhou bem sua função por onde passou. Foi funcionário da Estrada de Ferro do Piauí, transferindo-se, com a extinção dela, para a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e foi um competente profissional liberal na área da eletricidade (rebobinamento de motores).

Foi um homem que soube cumprir sua missão com dignidade e aproveitar a vida com alegria, pois era muito amigo da música, por sinal. Foi querido por todos, pois sabia comportar-se onde se fazia presente. Era habilidoso no trato com as pessoas e na arte de fazer amigos. Foi um pai de família exemplar, conduzindo a família sempre no caminho da retidão, através do diálogo, que sabia fazer muito bem, Eu me sentia privilegiado por gozar da sua amizade, há mais de quarenta anos, e tenho apreço por todos os seus familiares. Roguemos a Deus para que sua vida, consciente do dever cumprido, seja passaporte para uma vida espiritual de louvor e muita paz.

Em nome de minha família, renovo condolências à D. Maria Brígida (viúva), aos filhos Nazaré, Rita, Genário, Gilmar, Gílson, Gildásio e Geísa e aos demais familiares, inclusive noras, genros, netos e bisnetos.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Penalidade Máxima

Charge: Fernando di Castro


Penalidade máxima

Pádua Santos

O saudoso desportista Gilberto Escórcio, a despeito de sua naturalidade em Buriti dos Lopes, considerava-se verdadeiro parnaibano, não somente por ter chegado a Parnaíba na década de trinta, com menos de vinte anos, e não mais regressado; mas também porque já quase havia esquecido seu torrão natal. E agora, ao seguir à eternidade, depois de longa existência profícua, justifica-se sua devoção: “Eu não podia continuar morando, gostando e sempre lembrando uma cidade que não tivesse um bom time de futebol para torcer”. – Foi o que dele ouvi, certa feita.

O que trouxe o desportista para mais próximo do litoral piauiense foi o mesmo tema que lhe fazia esquecer, pouco a pouco, a terra onde nasceu: o Parnahyba Sport Club – time sobre o qual não se cansava de afirmar já haver conquistado o título de campeão piauiense por mais de uma dezena de vezes.

E ao tecer comentários sobre este escrete de sua paixão, não esquecia figuras que honraram sua camisa azul e branca, da cor do céu, como costuma dizer: Raimundo Boi, Zezé Boi e Mário Boi – boiada que atuou, por muito tempo, na difícil função de goleiro, ao lado de outros, de outras posições, mas também de esquisitos apelidos, dentre os quais, citava de modo pouco empolado, como era do seu estilo: Babá, Bibita, Bido, Bigu, Bilé, Bilu, Bonitinho, Boré, Craveiro, Cabaça, Cafuringa, Cangalha, Careca, Carlinhos, Camurupim, China, Cipó Colibri, Dandão, Damisson Peru, Esquerdinha, Fefé, Formiga, Gringo, Ição, Laupe, Leiteirinho, Lelé, Lili, Maurício Pantera, Mica, Nado, Netinho, Nena, Pombo, Palanqueta, Pantica, Parabela, Pila, Pitá, Pitanga, Pica-pau, Puxa, Puxinha, Quinha, Radiê, Sabará, Sargento do Tiro de Guerra, Sibiraba, Tamatião, Vicente Rasga, Xixinó e Zé Pirró, sendo que todas estas esquisitices arrematava o apaixonado - jogavam pensando muito mais na vitória de sua agremiação do que no dinheiro - elemento predominante na mente dos jogadores de hoje.

Contava também o Gilberto, nos bancos da Praça da Graça, não se lembrar de jogadores tatuados (como a quase totalidade dos atuais) no seu tempo de atuação nos estádios - locais hoje mais conhecidos por arenas. E justificava: “as tatuagens não eram aceitas porque alguns juristas da época entendiam e ensinavam que as tatuagens eram próprias de elementos de mau caráter, e os nossos atletas, pessoas de bem, sabendo disto, não queriam ser assim classificados”.

E para animar a conversa, certo dia o futebolista Gilberto aproveitou o início da Copa do Mundo de 2014, quando latejava na cabeça de todo torcedor brasileiro a lembrança do problemático pênalti ocorrido no jogo que marcou a abertura do certame, ocorrido entre Brasil e Croácia, para rememorar um fato do passado glorioso deste time do seu coração. Os seus ouvintes - aqueles que sempre lhe consideraram, quer como homem intimamente ligado à educação parnaibana, quer como ferrenho torcedor e exemplar ex-diretor desta vetusta agremiação fundada em 01 de maio de 1913 – ouviram atenciosos e em silêncio, e eu no meio, o curioso imbróglio que também envolve um pênalti.

A história é antiga e aconteceu - descreveu com detalhes o narrador, dando provas de que sua mente de quase um século ainda não havia se tronado bruxuleante pela idade - no dia em que acontecia um jogo entre o Parnahyba Sport Club e o Tuna Luso de Belém do Pará, no estádio que hoje é do Parnahyba. Mal começou o espetáculo e lá vai o árbitro marcando um pênalti em favor do time da casa. Os visitantes, não concordando com a marcação daquela falta, formaram logo um grupo: jogadores, técnico, auxiliares e massagista e decidiram que não mais continuariam com a peleja. A torcida começou a protestar e eles, acuados em um canto do gramado, afirmaram que já estavam de saída para o Hotel Central, onde foram hospedados. Neste momento desceu ao gramado o Capitão Benedito Alves da Luz, que além de Presidente de Honra da agremiação parnaibana era, também, o Comandante da briosa Polícia Militar, para dizer ao representante da agremiação paraense que ele, na qualidade de chefe da milícia, tinha também um bom hotel para hospedar atrevidos. E que este hotel chamava-se Arsenal.

E finalizou o decente esportista dizendo que depois de pouca conversa o jogo recomeçou; ficou tudo bem; deu um empate; a renda foi dividida entre os dois times e os paraenses, ao sair da cidade, puderam ver através da janela do ônibus que os transportava, o hotel que fora prometido pelo comandante. Tinha realmente o nome de “Arsenal”. Foi construído para servir de depósito para as armas e munições da Polícia Militar, mas já servia, como serviu por muito tempo, como penitenciária onde se amontoavam criminosos de todas as espécies, os judicialmente condenados e também aqueles que aguardavam julgamento, cumprindo, indistintamente e por falta de outro lugar, a inconveniente e sempre inservível penalidade máxima.


 *Crônica de Pádua Santos – APAL – Cadeira nº 01

terça-feira, 26 de julho de 2016

A Banca do Louro

Charge: Fernando di Castro

Flamarion e Elmar
Louro com vários amigos e frequentadores de sua banca. Foto extraída do blog do B. Silva, amigo e cliente 
Augusto e Dourado, frente ao Recanto da Saudade, todos três moradores do país da Saudade


A BANCA DO LOURO

Elmar Carvalho

Não pense o leitor que o título acima se refira a um homem louro, que se faça de difícil ou inacessível e “bote banca”, muito menos a um papagaio “banqueiro”. Refiro-me mesmo ao Louro da banca de revista da Praça da Graça, mais conhecida simplesmente como Banca do Louro.

O nosso Louro de fato é louro, donde o seu nome, mas é, sobretudo, um cidadão do bem e de bem com a vida, sem arestas e sem folha corrida na polícia, já que sua vida pregressa é limpa, desprovida de fatos desabonadores. Mais conhecido que farinha na região da puba, não se lhe conhece nenhum inimigo ou mesmo desafeto.

Sua banca como é do conhecimento de todo parnaibano, por ficar na Praça da Graça, em pleno Centro Histórico, é rodeada por importantes empresas e repartições públicas, entre as quais cito: agências da Caixa Econômica Federal, do Banco do Nordeste e do Banco do Brasil, várias lojas e farmácias, Câmara Municipal, catedral de Nossa Senhora da Graça, igreja do Rosário, agência postal e telegráfica da ECT ou apenas Correios, em cujo apartamento moramos, eu e minha família, durante muitos anos... Outrora nela funcionava o Cine Éden, paraíso de pulutricas e estripulias estrambóticas e eróticas, como eu disse sobre a filha do Meio-Quilo (referida por Assis Brasil), num de meus PoeMitos da Parnaíba. Nele ainda assisti a vários filmes, entre os quais alguns de faroeste e vampiros.

Após longa, deliciosa e instrutiva conversa com o grande artista plástico Flamarion Mesquita da Cunha, na parte da manhã, professor durante muitos anos em Parnaíba, sua terra natal, onde se encontra a passeio, e, à tarde, com o Dr. Lauro Correia e Canindé Correia, resolvi dar rápida passada na Banca do Louro, na qual comprei o livro Genu Moraes: a Mulher e o Tempo, com depoimentos feitos ao jornalista e escritor Kenard Kruel, e os jornais lítero-culturais O Piagüi (editado por Daniel Ciarlini) e O Bembém, cujo editor é o grande escritor e teatrólogo Benjamim Santos.

Através do editorial de O Piagüi soube que o Daniel deixará a sua editoria, em virtude de doutorado na área de Literatura, que fará na capital gaúcha. Sua direção ficará com seu primo Claucio Ciarlini, que decerto manterá a sua qualidade e linha editorial, já que é um de seus principais colaboradores.

Quando me despedia do Louro, fui abordado por uma pessoa, que me disse ser o pé de Munguba, perto do qual nos encontrávamos,  descendente da mungubeira ou mamorana, que embelezava o Bar do Augusto ou Recanto da Saudade, situado no bairro da Munguba, outrora fervilhante de porcos-d’água, raparigas, boêmios e embarcações. Fez referência sobre meus textos que referem Dom Augusto e a velha Munguba City, e me estimulou a escrever outros. Este, talvez, já seja uma consequência de seu pedido.

Ao falar da velha Munguba boêmia, do saudoso Recanto da Saudade, hoje em ruínas, do comandante Augusto, não posso deixar de lembrar o boêmio, compositor e carnavalesco Dourado, nem o grande chargista Gervásio Castro, que os retratou com muito engenho e arte, e magistralmente ilustrou meus PoeMitos da Parnaíba.


No meu poema Bar do Augusto celebrei os dois célebres e saudosos amigos. Esse poema foi ilustrado por Gervásio, que os imortalizou em outra dimensão do tempo-espaço, na relatividade estrita ou geral do espaço e do tempo einsteiniano.  

Banner com ilustração de Gervasio Castro

domingo, 24 de julho de 2016

Antônio de Pádua participa da obra Ardente & Caliente


Antônio de Pádua é um dos vencedores do concurso literário promovido pela editora Illuminare. Seu conto fará parte da coletânea que será lançada na 24ª Bienal de São Paulo – SP, no dia 31 de agosto, a partir 20 horas, conforme convite acima. O autor parnaibano, um dos melhores contistas do Piauí, é useiro e vezeiro em vencer concurso literário.   

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Histórias de Évora - AVISO AOS NAVEGANTES


Aviso aos estimados leitores de Histórias de Évora que no início de agosto daremos sequência aos novos capítulos desse romance em construção.  

Irresistível pudor feminino


Irresistível pudor feminino

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Em meio a enigmáticos traçados de pichações, em muros e prédios, encontrei, enfim, uma frase legível e que traduzia a sexualidade contemporânea: “GAROTA QUE NÃO TRANSA É PAIA”.

Que PAIA? Nosso sertanejo, preguiçosamente, engole fonemas do termo PALHA por PAIA. O caipira paulista adota PAIA para determinar coisa imprestável, sem valor, transitório como PALHA. Tanto faz, lá e cá. PAIA entrou no vocabulário dos devaneios baratos. “Que tudo fácil, valor nunca traz”(R. Carlos)

Que me perdoem as mulheres, que andam mais preocupadas em conquistar direitos de proteção à sua sexualidade do que cobrir a sua vergonha. Vistam-se,  cubram-se de pudor e decência. O pudor feminino inflama a libido masculina. Não me me refiro a pudor de burca e saias longas. Não, mas de preservar prudência na relação com os homens.

Pudor é discrição no vestir-se, prudência no falar, no topar a cantada, ficar por ficar com a primeira paquera. Mulher pudorosa envergonha-se de mostrar o corpo, exibindo-se para despertar erotismo. Que, na primeira parada, entrega-se a calientes amassos, e chamam o “ficar” de amor à primeira vista.

Quanto mais fáceis as mulheres avançam, mais os homens partem para o “ataque”. Trata-se do natural instinto dos machos. Mulheres atacam com suas bermudas curtíssimas, seios quase à vista, cortes para a imaginação masculina delirar, tecidos transparentes, nádegas desnudadas, fios dentais, anais. Sem falar nos rebolados eletrizantes dos ritmos frenéticos. Elas querem respeito e direitos, mas preservando a astúcia das serpentes.

Paia sou eu, quadrado, antiquado, coroa, que vivi uma época em que prostitutas da Paissandu, Marocas, Casa Amarela e Brasília eram mais pudicas que as avançadinhas atuais. Uma época em que o lance de uma calcinha escondidinha ou dançar colado me deixava úmido, em pleno salão do Clube dos Diários ou do Jóquei.

Depois de uma palestra, o estudante de 16 anos procurou-me: “Professor, não sei o que está acontecendo comigo: não sinto mais tesão pela minha namorada...” Fui direto: “Ela permite a você todo tipo de amasso?” E, direto, completou: “Professor, já conheço norte, sul e centro... sem mais segredo a descobrir”. Diagnóstico: “Seu problema, amigo, é barriga cheia: você comeu demais. Sua namorada empanzinou você. Ela não se submeteu a uma dieta nem estimulou você a fazê-la”.

O corpo é expressão da alma. A educação do corpo causa manifestação adequada do espiritual. O pudor, para homens e mulheres, reflete o equilíbrio entre corpo e espírito. A devassidão sexual, além da violência, em geral, dominaram civilizações, quando se permitiam exageros de condutas liberais. Por isso, foram arrasadas.

A roupa é uma linguagem, assim como os estilos. Traduzem características de época. Estilistas criam moda para seduzir, porque a época de exacerbado erotismo domina os comportamentos.  O inventor da minissaia admitia que seu alvo “era seduzir os homens, ser subversiva a moda”.

Ah! Quão difícil conscientizar os jovens, mocinhas principalmente! Pais e educadores é que são os verdadeiros PAIAS. Eu, deles.     

terça-feira, 19 de julho de 2016

Sugestões para o município de Campo Maior



Recebi o e-mail circular abaixo, da lavra do historiador e escritor João Alves Filho, presidente da Academia Campomaiorense de Artes e Letras – ACALE:

"Saudações culturais.

                       Com muito prazer comunico, o resultado da nossa reunião de ontem, oportunidade em que discutimos em reunião na Sala da nossa ACALE, com a presença do Dr. Hilson Spindola Silva, (Presidente da OAB - grande região de Campo Maior), OS PROJETOS LEIS QUE SERÃO ENCAMINHADOS Á CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES, para apreciação, discussão e votação, cujo conteúdo OFICIALIZA O PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL, MATERIAL E IMATERIAL DE CAMPO MAIOR E O PROJETO LEI QUE CRIA O CONSELHO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL DE CAMPO MAIOR.

                        Os colegas acadêmicos todos sabem da nossa preocupação pela preservação dos nossos valores históricos patrimoniais e culturais, evitando assim, que o nosso PATRIMÔNIO, de imenso valor, seja depredado ou agredido, como vem acontecendo nos últimos anos. É muito triste vê-se UMA RESIDÊNCIA HISTÓRICA, UMA FAZENDA, O NOSSO AÇUDE, O MONUMENTO DO JENIPAPO, entre outros, serem tratados com desprezo e sem nenhuma preocupação dos gestores públicos.

                        QUALQUER MUNICÍPIO QUE NÃO CUIDA DOS SEUS VALORES CULTURAIS, CAIRÁ RAPIDAMENTE NO ESQUECIMENTO E NADA, OS SEUS MUNÍCIPES, SABERÃO DOS SEUS VALORES HISTÓRICOS. O PROJETO LEI EM DISCUSSÃO, QUE SERÁ APRECIADO PELA DOUTA CÂMARA MUNICIPAL, DARÁ UM PONTO FINAL NESSE TERRÍVEL DESCASO EM CAMPO MAIOR.

                        A reunião de ontem foi bastante discutida. Ajudem-nos, mandando suas sugestões. Peço a presença de todos, para acompanharem a tramitação do PROJETO LEI, na Câmara Municipal. O PROJETO será protocolado nos primeiros dias de agosto próximo.

                             Fraternalmente

                             João Alves Filho (Presidente Acale)"

Imediatamente lhe enviei a seguinte resposta:

Caro Irmão João Alves Filho,

Sugiro a inclusão do Parque Ambiental da Serra Azul de Campo Maior, aperfeiçoando o que eu disse nas páginas - Duas palavras - de meu livro Bernardo de Carvalho, o fundador de Bitorocara, porque além dos aspectos de proteção ambiental, esporte, turismo, lazer, cultura, também haveria o aspecto econômico, se fossem criados os espaços e equipamentos que indico no meu pequeno texto. Também poderia ser incluída a criação do Parque Ambiental Horto Florestal da Barragem do Surubim, com a construção dos mesmos equipamentos e espaços que indiquei para o parque da serra (com exceção do teleférico).

Você é um gigante, e saberá aperfeiçoar essas minhas duas sugestões.

Abraço,

Elmar Carvalho

No meu livro, acima referido, apresentei várias sugestões sobre o patrimônio natural, histórico e arquitetônico de Campo Maior, sendo que nas páginas 15 e 16, apresentei a seguinte:

“(...) a nossa pequenina e encantada Serra Azul ou Serra de Santo Antônio, que tanto tenho cantado e exaltado, deveria ser transformada em parque de preservação ambiental, e mais bem aproveitada no turismo ecológico e na prática de esportes radicais (como arborismo, arvorismo e rapel), com a instalação de tirolesas, teleférico, balneário (piscina e bicas), trilhas, pontos de apoio (bares, cabanas e restaurantes), além de outros equipamentos, que possam atrair turistas. Desse modo, além do lazer, do esporte e da cultura, estariam sendo criadas novas atividades econômicas e oportunidades de emprego.”



Essas sugestões, repito, de capital importância para o município de Campo Maior, bem poderiam ser acolhidas pelo Poder Público Municipal, Estadual e Federal, seja em parceria ou não. Cabe ao município apresentar projeto aos setores competentes dos governos estadual e federal.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

AS TREMPES


AS TREMPES

Jacob Fortes

Trempe, para efeito deste texto, são três pedras dispostas em triângulo em que se assentava a panela ao fogo. Essa prática, herança avoenga primitiva, ocorria entre as comunidades caboclas; a bem dizer matutos ingênuos que habitavam os cafundós dos sertões e que, sob a condição de meeiros, retiravam da terra o seu sustento. Com o evolver das tecnologias e do progresso social as trempes desusaram-se. Hoje elas exprimem heresia à religião tecnológica e profanação ao santuário Brastemp. Depois que o homem do asfalto passou a guiar-se pelo piloto automático, imposição, aliás, do principio hedonístico que sintetiza, em dimensões mundiais, a lei do menor esforço, essa desaparecida prática, vestígio do atraso, se fez soberba na gleba aldeã das minhas primícias. Restou o desenho imaginativo dessa gleba; onde deixei o meu cavalo comendo capim nos tabuleiros. Recentemente sonhei que ele reapareceu na capital de Juscelino, transfigurado: os cascos rotundos viraram pneus e o capim virou gasolina agonienta. Ao despertar dos devaneios, que fugiram silenciosa e furtivamente, ainda retive a pálida imagem: um menino descamisado, galopando em seu “bolero”, ruço pedrês, pelos tabuleiros.

À época, o compartimento das trempes era o local mais palatável à tropa da creche. Nessas trempes, abastecidas de lenha em queima, o sertanejo preparava a sua dieta, à moda do seu tempo. Exemplificativamente: café da manhã: cuscuz na tigela, com leite de cabra e café no bule (coado num pedaço de pano). A sêmola do milho havia de ser cozida a vapor: uma panela fervente, um pedaço de pano e prato de ágata no papel de cuscuzeira; beiju; abóbora, ou batata doce, cozida, com casca. Almoço: Maria-isabel de carne seca (não de sol como supõe o praciano), farofa de ovo na gordura de porco ou no azeite de tucum. Alternativamente frito de carne seca (ou de tripa) com arroz, este pilado no pilão de socar. Com tantas enxadas e labutações caseiras, adeus adiposidade.

Visualizar essas trempes nos dias de hoje só é possível por meio do Google ou às margens de um ribeirão quando um pescador eventualmente lhe restabelece o uso para que os tições em brasa o aqueçam durante as cruvianas noturnais e orvalhadas.

Eis, portanto, resumidamente, as trempes, a quem deito reverentemente o meu olhar compassivo e memória saudosa. Apesar da sujidade do seu borralho, particularidade que lhes eram marcantes, as trempes realçam uma infância desfrutada de modo farto; custodiada por uma gente (sem acessórios e sem fidalguia) que apesar de diminuída na incultura cerimoniosa do sertão tinha como principal atributo a riqueza da virtude (que tende ao desuso; igualmente às trempes). Que bom seria se os citadinos fizessem da virtude algo tão espontâneo quanto os matutos faziam dos pleonasmos uma cantiga: “entrar pra dentro, hemorragia de sangue, labareda de fogo, etc.”.   

domingo, 17 de julho de 2016

COISA NENHUMA


COISA NENHUMA

Elmar Carvalho

Meus olhos jogados ao
acaso como pedaços
de espelho quebrado.
Meus cabelos arrancados
flutuando como
cabelos do vento.
Minhas mãos decepadas
acenando em vão e em vão
apertando coisa nenhuma.
Minha cabeça atirada
numa lata de lixo
onde o lixo era ela.
Minhas células espalhadas
por uma tempestade que
partiu de mim.
Os pedaços de meu
corpo mutilado depois
se agregam como antes,
exceto a cabeça.
(Ai! Dalí, Dalí, Dalí...
O meu corpo sem cabeça,
como o Farmacêutico de Ampurdán,
anda à procura de coisa nenhuma.)


           Parnaíba, 1978.

sábado, 16 de julho de 2016

MANIA DE LIVRO: UM TEMA POR MIM REPISADO


MANIA DE LIVRO: UM TEMA POR MIM REPISADO

Cunha e Silva Filho

     A primeira vez de que me lembro ter ido a uma livraria foi no início do curso ginasial. No primário  não me recordo de  ter ido a livrarias  em Teresina.  Julgo que era  mamãe que me comprava  o material  escolar, o  quase livrinho  da cartilha do  ABC reimpressa tantas  vezes  e por várias  gerações. Daquela primeira vez que fui à livrairia,  cujo proprietário se chamava professor Oscar, já estudante ginasiano, conforme disse, acompanhado estava de meu pai. O que me marcou no fundo da memória foi a compra do primeiro livro de inglês,  o King's English, de Harold Howard Binns. Relatei  essa visita  histórica  no meu livro As ideias no tempo (2010).

       Mas, leitores,  sabe de uma coisa? Desde aquela  época  me tornei  um  entusiasta   de carteirinha  dos livros  de matérias  a que  mais  dava atenção: línguas,  leituras,  literatura, gramática, dicionários.

    Hoje mesmo,  à tardinha,   Elza me chamou para ir até ao Shopping da Tijuca. Confesso que  não queria sair  hoje. Preferia permanecer em casa, lendo o jornal  do dia anterior,  segundo  é meu costume. Não consigo ler o mesmo  jornal num só dia. Meu filho mais  novo não me deu sinal de que estava disposto a comprar o jornal de domingo, já que  queria assistir ao jogo da Eurocopa entre Portugal e França. Daí, não tive outra  alternativa senão  sai.

    Como o shopping fica relativamente perto da minha rua,  lá fomos, Elza e eu,  ao lugar combinado. O tempo não estava nem  quente nem frio. O sol não mais se fazia presente lá fora. Caminhamos com passos  em ritmo  normal.

   Olhamos no caminho  os restaurantes já com poucos  clientes  dentro. Os que examinamos  são especializados em   galeto, com batata frita e farofa - apreciado prato  dos cariocas.

   Entramos no  Shopping. Como sempre,  gente saindo, gente entrando,  inclusive nós. Gente de todas as idades,  caminhantes  que talvez nunca mais  veremos  na vida. São os rostos  dos anônimos, logo esquecidos.

  O mundo é grande. A vida, breve, enunciado um tanto surrado, contudo válido sempre. Da infância à adolescência um pulo; outro pulo, da adolescência à mocidade e assim  em todas as fases, até a última, a velhice. Nesta estamos  Elza e eu já  inseridos,  olhado  mais para o passado, para os tantos  pedaços  felizes  o  tristes, mas, assim  mesmo, não deixando de olhar  para trás. Elza costuma  me dizer que as pessoas estão sempre voltando às lembranças,  boas ou ruins,  do passado.Ela tem  razão. É só observar  o quotidiano  das pessoas, os museus,  as lojas de antiguidades,  as fotos  antigas,  os filmes  passados,  os autores  do passado,  a arquitetura   dos prédios  de antanho.Como  olhar o futuro se ainda não existe? Ficamos, então,  oscilando entre o presente e o passado. Essa é regra  geral. Projetamos  o futuro? Sim, mas  ele apenas é uma possibilidade,   um sonho,  uma utopia,   um algo  por vir prenhe de incertezas  e de ciladas.

    A vida humana é, na velhice principalmente, um  contínuo e  intermitente  flashback. Já deram conta disso, leitores da minha geração? Foi quiçá por esses motivos que sempre quis ler o  livro, de resto,  ainda excelente,  em muitas dimensões de leitura,  para o nosso tempo, que é Idade, sexo e tempo, de Alceu Amoroso Lima (o Tristão de Atahyde, 1893-1983). Tanto para mim  é bom  que voou lê-lo mais outra vez.

   Comprei o jornal. Elza, sempre atenta às vitrines,  . Gosta de ver  as novidades de  bijuterias, assim como  de jóias, colares,  anéis,  pendentes,  brincos. Esqueci de  mencionar que Elza adora também  ver artigos de cama e mesa, toalhas,    lençóis, cobertores,  colchas,   travesseiros, fronhas.   Tudo muito  caro.É a crise. Tudo agora é culpa da crise, quando a culpa cabe aos responsáveis pela crise cujos nomes os leitores já sabem quais  sejam se estiverem  habituados a ler os meus textos  neste  Blog que assino    desde 2009.

   Paramos um pouco dentro do shopping. Fomos sentar num banco vazio  defronte de uma salão de beleza. O movimento no salão estava regular. Ficamos  sentados, apreciando  o ir e vir de pessoas no corredor  ladeados de  lojas  bonitas  e muito  limpas. Dei uma  olhada geral na primeira página do jornal com várias chamadas  a colunas  e a reportagens.

  Em seguida,  abri  na coluna de Ferreira Gullar. Lia a crônica  “O banal maravilhoso,”  que fala de  animais ressaltando-lhes as qualidades e usando como contraponto o ser humano como  o único a animal  a  que nasce com  a potencialidade  intelectual de  admirar  pintura,  música poesia, de fabricar máquinas.  Entretanto,  os bichos  lhe são sempre caros, não há dúvida e por isso deixa implícito  o seu  enorme  afeto  por eles, sobretudo pelos que  demonstram maior  interação com  seus  donos.

  No final da crônica, um pouco abaixo,  uma nota na qual   poeta de Poema sujo refere a um  represália recente   do  poeta, ensaísta  e tradutor  Augusto de Campos. Gullar  declara que não vai mais responder a nenhum  insulto  do Augusto, irmão do grande  tradutor Haroldo de Campos (1929-2003). Não quer mais  bate-boca com quem  ele chama de “Augusto,  o Furioso.”

   A briga dele  com  o  intelectual  paulista se prende a questões  de um disse-não disse  relacionadas  a Oswald de Andrade (1890-1954),  ou mesmo à época em que Gullar, a princípio poeta concretista (1956), depois, se afasta dessa vanguarda do grupo paulista e lança o movimento poético  Neoconcretismo (1957), juntamente com  Reynaldo Jardim (1926-2011).

   Todavia,  desta vez, o embate  é  de natureza  política, uma vez que Gullar  descasca o petismo  enquanto que o outro  é a favor  do Lula e da Dilma. Reitera  Gullar na nota que não leu nem vai ler a catilinária do Augusto. Gullar, quando quer, é mordacíssimo  apenas usando  poucas  palavras. Pelo visto,  entre petistas e não petistas  não há espaço para o jogo dialético visto que  a ideologia   petista só  funciona na base do extremismo,   da cegueira  e da idolatria   alimentada  pela cegueira   do fanatismo.


  Último passo do passeio ao shopping: entrei  na livraria e comprei dois livros: uma obra  de Erich  Auebach (1892-1957) e um  volume de uma língua estrangeira que há anos cultivo com maior intensidade.Voltamos  para casa. Já era noite.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

HISTÓRIAS DE ÉVORA - Capítulo XIV


HISTÓRIAS DE ÉVORA

Este romance será publicado neste sítio internético de forma seriada (semanalmente), à medida que os capítulos forem sendo escritos.

Capítulo XIV

Desfecho inesperado

Elmar Carvalho

Marcos notou que Madalena parecia um tanto perturbada e triste. Contudo, ela o amou como nunca, quase com desespero e sofreguidão. Abraçava-o com força, quase como se estivesse se agarrando a uma tábua de salvação. Apegou-se a ele por tempo indefinido. Após a ânsia inicial, permaneceu colada nele, agora quase inerte, afagando-o com leveza e beijando-o com suavidade. Era como se desejasse que esse momento nunca tivesse fim. Após longo tempo, em que ambos se mantiveram em absoluto silêncio, disse que precisava lhe explanar um assunto muito sério, na sala da biblioteca.

Marcos temeu pelo que lhe seria dito. Sem dúvida algo de suma gravidade lhe seria revelado por Madalena, sempre discreta e sóbria, mesmo em seus ímpetos sensuais. Já há quase dois meses vinha tendo esses encontros amorosos, uma vez por semana. Tinha a premonição de que esses conciliábulos mais dia menos iriam acabar, por um motivo ou por outro. Desejava apenas não terminasse de maneira trágica ou pelo menos dramática.

No início do relacionamento, ficava um tanto nervoso, mormente com a possibilidade de serem flagrados pelo marido ou pela empregada, mas ela, demonstrando grande tranquilidade, afirmou que seu marido nunca chegava antes das 12 horas e a empregada só limpava o quarto e a biblioteca na parte da tarde. Ante a firmeza de Madalena, ele não mais tocou no assunto, e passou a agir com mais serenidade. Nunca mais demonstrou receio.

Quando deixaram a alcova e passaram à biblioteca, a amante pediu-lhe sentasse numa das poltronas, sentando-se em outra. Fitando-o com os olhos amorosos e tristes disse:
– Não sei direito como começar, mas tenho que lhe dizer e direi... Esta foi a última vez que nos amamos. Talvez nunca mais nos vejamos. Voltaremos para Minas Gerais, depois de amanhã. As passagens já foram compradas.

Em seguida, lhe contou tudo o que se passava entre ela e o marido.

O médico já quase não tinha interesse por sexo, mas a amava em demasia, disso não tinha dúvida. Também era incapacitado para gerar filhos. Por essa razão, a incentivara, nos últimos tempos, a encontrar um amante ainda novo, solteiro e discreto, que não os expusesse a falatório.  Pediu-lhe apenas não se apaixonasse, muito menos o amasse. Nada de apego e sentimento de posse entre ela e o felizardo jovem.  

Infelizmente, essa exigência não pudera cumprir; ninguém tem domínio sobre o coração. Também o marido lhe recomendou o avisasse, quando surgisse esse amante. Ele deveria ter uma boa formação moral e de preferência pertencer a uma família bem constituída, porquanto desejava que ela engravidasse. Criariam a criança como filho biológico, sem necessidade de adoção, que pudesse suscitar escândalo ou comentários maliciosos.

Portanto, ela, desde o início, pusera o marido a par do que acontecia entre ambos, não tendo ele demonstrado o menor aborrecimento. Ao contrário, pareceu contente em que ela o tivesse seduzido. Revelou que nunca se empenhara em cumprir a recomendação do esposo, porquanto o amava e respeitava, embora desejasse ter um filho, que mais consolidasse o casamento. Ademais, nunca tomara a iniciativa em conseguir namorado, mesmo quando adolescente.

O marido já havia completado o interstício temporal exigido para obter remoção para outra cidade ou até para outro estado. Um pouco antes de ela e Marcos iniciarem o relacionamento, um amigo do marido, colega de formatura, assumira a direção geral do SESP. Quando ela informou ao cônjuge que sua menstruação falhara, ele imediatamente pediu para que ela fizesse o exame de gravidez na capital. O teste comprovou a suspeita. Estava grávida.

Diante desse fato e antes que alguma pessoa pudesse notá-lo, seu marido telefonou para o amigo, pedindo-lhe a remoção para Belo Horizonte. O diretor, para dar maior celeridade ao deferimento e também para que o médico tivesse ajuda de custo, o removeu ex officio e para ocupar cargo de confiança na capital mineira, o que ainda lhe daria a vantagem da gratificação funcional.

Os móveis e os livros seguiriam em caminhão já contratado. E eles tomariam um avião na capital, na próxima sexta-feira. Estavam numa quarta, não de cinza, mas de muita tristeza. Até o tempo cinzento, nublado, chuvoso, friorento conspirava para o aumento da melancolia que se lhes infiltrava na alma. Marcos sentiu uma tontura, como se lhe faltasse terra sob os pés, ou como se estivesse em vertiginoso redemoinho. Sentiu contida ânsia de vômito. Nunca antes sentira tanta tristeza e tanta amargura. Como na música de Maysa, seu mundo caíra. Fora golpeado pelo destino ou pela vida, não sabia ao certo. Talvez não houvesse destino. Ou havia? Ou todos seriam inocentes, como no romance de O. G.

Quando conseguiu se levantar, sem pronunciar uma só palavra, Madalena também se levantou. Os dois, como se estivessem desesperados, cheios de ânsia e amargura, se abraçaram como jamais haviam feito, e se beijaram com frenesi. Quando se afastaram um pouco, para se fitarem ainda uma vez, um viu que o outro também chorava.


A mulher soluçava suavemente, em surdina, de forma contida, afinal tivera tempo para se preparar para esse final. Marcos estava transtornado ante esse final brusco e de todo inesperado. Era um the end algo melodramático, em que as luzes não seriam acesas. Tampouco haveria replay.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Evandro Cosme e Confissões de um juiz


No início do mês passado, encontrei o Dr. Evandro Cosme numa das unidades do DETRAN-PI, situada na Avenida João XXIII.

Conheci-o três décadas atrás, quando ele ia à Delegacia da SUNAB no Piauí, na qual eu trabalhava, à procura de informações do interesse de sua categoria empresarial, da qual ele ainda é dinâmico representante, em virtude de vários planos econômicos que então foram implantados pelo governo federal.

Alguns desses planos (segundo muitos estudiosos e críticos), foram demagógicos e eleitoreiros. Criaram falsas esperanças na população e atormentaram várias empresas e pessoas, sobretudo ante o desabastecimento que em certo momento se instalou em nosso país e no nosso estado.

Quando o reencontrei, aproveitei para ofertar ao líder empresarial Evandro Cosme Soares de Oliveira, diretor do CDL de Teresina, um exemplar de meu livro Confissões de um juiz.

Pela maneira atenta, cuidadosa, como ele o folheou, vi que o leria, o que nem sempre acontece. Foi o que de fato aconteceu, segundo suas próprias palavras, expressas em simpático cartão, datado de 23 de junho: “Viajei em seu livro CONFISSÕES DE UM JUIZ e estou honrado em conhecer melhor sua história”.


Honrado fiquei eu, por meu livro ter merecido sua leitura, mormente por ele ser um homem muito ocupado em suas funções empresariais e de dirigente lojista. 

domingo, 10 de julho de 2016

Seleta Piauiense - Clóvis Moura


Cidade matriz

Clóvis Moura (1925 – 2003)

Uma cidade do interior. Não apenas
geografia. Mas a família, o sangue e eventos.
Aí paramos um dia, no regresso.
Dali saímos um dia, para a posse
que não se realiza.

                Margeamos a vida. E a cidade triste,
decadente, persiste. Os parentes estão morrendo,
os defuntos repousam lado a lado,
os tatus perfuram o cemitério,
há cheias, invasões, o rio sobe,
chega ao muro dos despojamentos
e a cidade permanece.

                Decadente. Contudo ali temos raízes.
Dali saiu um poeta sorridente.
Morreu doido, contudo deslumbrado.
Morreu louco, nostálgico da serra.

Nos poros da cidade há casas mansas.
Numa nasceu o pai. Noutra morreu
o avô patriarca. Sempre estamos
em qualquer parte. Ali: uma criança
que chorou numa sala, teve cabra
mansa que vinha ao quarto com o seu úbere
cheio de leite para o aparecido.
Uma criança na cidade mansa
e o cemitério triste onde os anus
sujam as lápides. Uma cidade só.
Num mapa sujo. Num momento imundo.

                As moças não se casam.
Fazem crochê e doces. Salpicadas
de desejos definham. Vem o moço
de outra cidade. Namora e desilude.

                O rio sem piedade leva os primos
para as cidades grandes. E aparece
convite para o enlace em outra terra.
Espirais de suspiros. Depois, rezas
na igreja onde o padre ouve os pecados.

... As andorinhas sujam a hora sagrada.

                E a lua nova salpica de lobisomens as sombras das gameleiras.

(Extraído do livro Argila da Memória, 2ª edição – Edições Corisco)   

sexta-feira, 8 de julho de 2016

O PREÇO DA MOCIDADE


O PREÇO DA MOCIDADE

Jacob Fortes

A mocidade é transbordante de entusiasmo, de ânimo, de vontade. É tão vicejante quanto a verdura que recebe a rega. É vaidosa, faceira, radiante, ágil, garrida, eventualmente descuidosa, inquieta; tem charme e é pródiga em fantasias. A mocidade, por vezes cheia de jactância e fatuidade, esgrima fácil, até com um guarda-chuva à mão. Enquanto as luzes intermitentes de uma árvore de natal retratam a inquietação da mocidade a luz melancólica de uma lamparina exprime a quietude da velhice. Porém, o fulgor da juventude não se dá por gratuidade, não constitui brinde do Rei da criação: tem um preço; a ser pago depois do recreio. Os anos, por demais conspirativos, se encarregarão de enviar a fatura. Com sua ação pachorrenta, mas deletéria, vão dissipando a jovialidade e, ao mesmo tempo, cerzindo uma nova roupagem, uma pele cada dia mais gasta, mais surrada.  A nova roupagem, progressivamente esgarçada, em vez de irar é aceita resignadamente. E quando as feições formosas dão lugar à pele engelhada, inicia-se o pagamento da primeira parcela; nem precisa ir ao banco.  A fase desditosa, de sabor acre, diferentemente do gosto doce da mocidade, chegará para todos, num rigoroso encontro de contas. É nessa fase, de fragilidade, de muito reflexionar, que a verdade, irrecusável, do “Camões Brasileiro” já não assusta, não agride:

 “Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.

Rindo e cantando, célebres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente..
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,

O contrário dos tempos de rapaz:
– Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás”.

Peço desculpas aos nobres leitores se, eventualmente, os assusto com esta página rugosa, puxada ao cinzento, e que, inclusive, faz pensar ter sido redigida com pena embebida no líquido do desencanto, mas, não, tinteiro mesmo. “Que Deus fecunde no coração e na mente...........a fé e o amor, como forma de transfigurar essa sociedade tão desfigurada pelo ódio e pela violência e tão necessitada de paz, justiça e amor” e que se mantenham todos imunes à onda de marmotas que, por vezes em manadas, surgem de todas as paragens, inclusive do estrangeiro, com o firme propósito de grudar no cangote dos cristãos, preferivelmente naqueles despojados da intrepidez da mocidade.

A ação deletéria do tempo pode até degradar o corpo, mas que prepondere a credibilidade das mentes sem histórico de condutas reprováveis. É que ainda não se descobriu refúgio mais seguro do a mente desabitada de registro reprovativo.    

quinta-feira, 7 de julho de 2016

HISTÓRIAS DE ÉVORA - Capítulo XIII


HISTÓRIAS DE ÉVORA

Este romance será publicado neste sítio internético de forma seriada (semanalmente), à medida que os capítulos forem sendo escritos.

Capítulo XIII   

Confissões (2)

Elmar Carvalho

Pedro Pinto Pereira contou que logo na primeira noite de sua lua de mel achou algo de estranho nas atitudes de Carmem, sua mulher. Um tanto nervosa e inquieta, mesmo com as luzes apagadas, relutou em se despir. Apenas após alguma insistência de sua parte, e com a sua ajuda, foi se despindo aos poucos, dando mostras de se sentir pouco à vontade.

Quando, após as carícias regulamentares e de praxe, mas sem as limitações da época de namoro, ele tentou possuí-la, notou que ela se contraiu toda, como se o rejeitasse. Ante a sua firme insistência, ela sussurrou “deixe que eu coloco”. De forma inusitada dobrou as pernas, puxando os joelhos em direção à cabeça, para dessa maneira erguer as partes glúteas. Em seguida colocou o pênis no reto, com a indispensável colaboração do parceiro. Este pensou em resistir; mas resistir quem há-de? – como diria o poeta.

Achou que se recusasse o que lhe era ofertado criaria uma situação mais embaraçosa ainda. Certas proibições e tabus são mitigados sob o argumento de que se deve evitar escândalo, pelo menos diante de certas situações em que não há prejuízo e nem derramamento de sangue. Que prejuízo haveria, se foi ela quem provocou aquele desfecho inesperado.

Após a conclusão do ato, do qual ela terminou participando com muito gosto e gozo, haja vista os estrebuchamentos, os grunidos, ganidos e gemidos, os ais sussurrados em voz estrangulada, ele preferiu ficar abraçado com ela, beijando-a e cheirando-a suavemente, em silêncio, até que ela dormiu ou fingiu dormir, não tinha disso ele certeza.

Ao amanhecer, quando ele a procurou novamente, a mulher, sob o lacônico argumento de que estava naqueles dias, repetiu tudo de novo. Para encurtar o relato, direi que esse tipo de relação sexual foi mantido durante mais de trinta anos. Por várias vezes o bravo tenente tentou que ela permitisse o coito vaginal (ou como ele dizia, normal ou natural), mas ela sempre se escusava, em muda teimosia ou em peremptórias e não convincentes justificativas, invariavelmente monossilábicas. Por isso o casal nunca pôde ter filho.

Como ela fosse muito limpa, higiênica, cheirosa e tivesse a fenda muito apertada, e aparentasse ter muito fogo e prazer, ele acabou, meio a contragosto, por aceitar essa preferência de sua esposa. Além do mais, forçoso foi confessá-lo, ela tinha uma bunda magnífica, escultural, rija, muito bem torneada, na verdade uma lídima obra de arte. Para evitar possíveis surpresas e contaminações, passou a usar sistematicamente camisa de vênus. Algumas vezes, quando ela estava mais ardente que o habitual, exigia-lhe não usar o preservativo, para que melhor fossem sentidas as ranhuras, texturas e nervuras.

Nostálgico do bom e velho sexo vaginal, ele, de vez em quando, do modo mais discreto possível, o praticava de forma esporádica, com uma ou outra cachopa que não lhe fosse pegar no pé. Ela nunca soube dessas puladas de cerca, ou simulou não saber, aceitando isso como consequência natural de sua exigência na cama. Seria uma espécie de imposto que ela deveria aceitar sem resistência, sem queixas e recriminações.
– Mas a que o senhor atribui o fato de ela nunca aceitar o sexo vaginal, tenente? – perguntou Fabrício, tão logo o relato foi concluído.
– Não tenho a menor ideia. No início andei perguntando algumas vezes, mas ela sempre se recusou a me dar uma explicação aceitável, e se irritava quando eu lhe indagava a esse respeito. Ficava muito chateada, e até se recusava a fazer sexo durante alguns dias, de modo que achei melhor não mais fazer perguntas. Mas nos últimos anos comecei a me aborrecer com essa inexplicável tirania, comecei a ficar enjoado e enojado dessa longa sodomia, e resolvi me libertar com a separação.

Levantaram-se na roda algumas hipóteses sobre essa exclusiva preferência sexual. Marcos achou que a ex-mulher do tenente poderia ter alguma anomalia de que sentisse vergonha, como vaginismo ou corrimento, embora o tenente tenha dito que ela era muito limpa, higiênica e cheirosa.

Talvez ela, em algum momento difícil de sua vida, tenha feito promessa a algum santo de sua devoção de nunca perder a virgindade, caso o problema fosse resolvido, argumentou Fabrício. Acrescentou que, mesmo que ela tivesse preferência por essa modalidade de sexo, poderia praticar, ainda que raramente, o vaginal, ao menos para quebrar a rotina, ao menos para satisfazer o marido.

Várias outras hipóteses, algumas estapafúrdias, foram aventadas, mas é claro que, sem o esclarecimento de Carmem, nenhuma poderia ser tida como verdadeira. Ainda mais naquela época, sobretudo em Évora, em que o sexo anal era considerado pecaminoso, mesmo pelas prostitutas. As duas ou três que sabidamente o praticavam eram discriminadas pelas próprias colegas, que as chamavam de cuzeiras, e delas mantinham ostensiva e enojada distância.

As que praticavam a sodomia e a felação eram tidas como mulheres completas, e se falava que faziam cabelo, barba e bigode, incluindo-se nesse tripé a modalidade convencional. Havia uma rapariga, cheia de pudicícias e negaças, que sequer se despia com as luzes acesas. Outra nem mesmo permitia que seus seios fossem tocados, quanto mais o sexo, que se destinava apenas à penetração de praxe, sem saliências e bolinações. Como há gosto para tudo, todas tinham a sua clientela fiel.

Embora de forma um tanto relutante, já que não desejava ser professor de ninguém, muito menos em tão controvertido assunto, Marcos explicou que lera num dos livros da madame Doralice que esse tipo de sexo era repelido por muitas religiões e seitas, que o consideravam contrário à natureza, até porque não permitia a concepção, já que a parte anatômica utilizada não fora feita para isso; que alguns dos parceiros depois se arrependiam e sentiam remorsos, como se houvessem praticado alguma abominação; que a maioria das mulheres se sentia desconfortável, humilhada, constrangida e/ou envergonhada, e só o aceitava para agradar ao seu homem, mormente quando na fase da paixão. Entretanto, algumas confessavam sentir enorme prazer e contentamento nesse tipo de relação. Finalizou dizendo que era um assunto de interesse exclusivo do casal, não cabendo a ninguém nele se imiscuir.

Fabrício disse que o sexo tinha os seus mistérios, e que muitas vezes tinha razões desconhecidas pela própria razão. O ser humano era um poço de mistério e escondia segredos insondáveis pelo próprio indivíduo. Normalmente ele era discreto, mas resolveu contar um fato pessoal, para melhor esclarecer o que fora discutido.

Relatou que, dois anos atrás, saíra com uma mulher casada, e a levara a um chatô, o mais discreto e luxuoso de Évora. Quando lá chegaram, a mulher, por sinal da alta sociedade eborense e de mais alta beleza, se recusou a praticar o sexo comum, sob o argumento de que jurara fidelidade ao marido. Mas sem nenhum pudor e constrangimento, aceitou tudo o mais, inclusive praticar caprichada e meticulosa felação. Parecia ser a sua maneira própria, peculiar, cômoda e prazerosa de manter a sua fidelidade conjugal.

Para descontrair o ambiente, que estava muito sério, contou um caso anedótico acontecido com uns parentes de sua amizade. Sua mãe recebera uma carta de uma prima, na qual esta lhe contava que um filho bulira com a namorada, e que talvez fossem, ela e o marido, obrigar o filho a se casar com a moça, filha única de um casal amigo e vizinho. Dias depois, todavia, recebeu outra missiva, trazendo novos esclarecimentos; na verdade, o rapaz não mexera no principal, “mas apenas no seu vizinho”, pelo que o jovem não mais seria compelido “a reparar o erro”, com o casório.
– Tudo é válido dentro de um quarto, desde que não haja imposição; desde que o homem e a mulher aceitem numa boa as preferências do outro e se sintam bem; desde que ambos sintam prazer e não se sintam constrangidos – pontificou, doutoral, Fabrício, que naquele dia estava muito inspirado. E arrematou: Afinal, como disse Pessoa, tudo vale a pena se a pessoa não for de mentalidade pequena.