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ENTREVISTA COM AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA
Entrevista com Affonso Romano de Sant’Anna, publicada no Jornal O
ESTADO – Teresina, nos dias 27/2/1978 e 5/3/1978, concedida aos professores
Carlos Evandro Martins Eulálio, José Reis Pereira e à Jornalista Glória Sandes,
no Departamento de Letras da Universidade Federal do Piauí, em 22 de fevereiro
de 1978.
CARLOS EVANDRO: O que se passou mesmo com a poesia
brasileira a partir de 1950?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: A meu ver foi o seguinte: de 1956 a
1958, as coisas estão muito definidas: Concretismo em 1956, Neoconcretismo em
1958, tinha o Grupo Tendência de Minas em 1957, tinha Praxis em 1962, Violão de
Rua, o Poema Processo em 1967 e, em 1968, o Tropicalismo. Eram grupos que
vieram se revezando. Mas houve um fenômeno: como o Concretismo dissolveu a
palavra e transformou a palavra em sílabas, começou a valorizar a letra,
começou a valorizar o poema cartaz, no aspecto visual, e, depois, mais tarde, o
poema processo acabou com a palavra e passou a fazer arte semiótica pura. A
poesia chegou a um impasse, um beco sem saída, primeiro com a exaustão
estética. E chegou a um ponto que os concretos nos manifestos davam por
encerrado o ciclo histórico do verso. Eles acabaram com o verso. Veio o
poema-processo e acabou com a palavra. De repente, a poesia ficou num beco sem
saída. E aconteceu que o silêncio que a poesia se impôs se confundiu com
silêncio imposto ao País e, em 1965, surgiu, com uma violência bastante
notável, a música popular, que recuperou o silêncio que se havia imposto à palavra,
através de Chico, do Caetano, de Vandré, e toda essa geração. A palavra deles
passou a preencher o vazio que a poesia não estava preenchendo, inclusive de
vanguarda, por ser uma poesia muito de elite, e havia a carência do povo
brasileiro por palavra, porque não havia mais o discurso do político. A música
popular passou a ser um grande discurso nacional, daí uma série de festivais de
canções. Em qualquer sindicato, escolinha, tinha festival da canção, entre 1965
e 1968, por aí. A poesia brasileira entrou numa espécie de recesso e a música
ocupou um espaço que era o próprio espaço da poesia literária, razão pela qual
o Chico, Caetano, o pessoal todo passou a ser estudado dentro dos colégios e
faculdades como autores. Primeiro, o texto deles dizia alguma coisa, segundo é
que eles estavam fazendo um texto mais sofisticado. O Caetano foi aprender com
os Concretistas poesia de vanguarda; o Chico é filho de um modernista de 1922,
que é Sergio Buarque, que fez uns textos mais sofisticados, e assim por diante.
Esse período da música popular, a meu ver, durou até 1973. Em 1973, as coisas
mudaram. Há dois sintomas para isso dos quais eu participei. Houve uma
exposição na PUC, no Rio, chamado Expoesia, que significava exposição de poesia
(...) nessa exposição participaram 600 poetas e tinham uns 3 mil poemas mais ou
menos, e aceitei que se inscrevessem todas as pessoas que chegassem com uma
coisa lá que se chamasse de poesia. Não se estava discutindo mais o conceito de
poesia, porque o Concretismo tinha dito que poesia era uma coisa, Práxis outra,
Violão de Rua dizia que era outra. Todo mundo sabia o que era poesia e ninguém
chegava a um acordo. Então resolvi fazer uma exposição onde todo mundo chegasse
lá e expusesse o que achava que era poesia. Houve, inclusive, uma sala
reservada para o Neoconcretismo, para Práxis, todo movimento tinha uma sala,
porque era uma espécie de retrospectiva. Só não participou o grupo concreto de
São Paulo. Mandei uma carta e eles responderam que não participavam de reunião
eclético-caritativa. Eu estava dando oportunidade aos outros grupos de se
manifestarem e eles eram contra isso, e ainda afirmaram, na carta, que poesia
era, ou não era, quer dizer era Concreta ou não era. Mas a exposição Concreta
foi substituída por uma exposição de poesia concreta alemã que estava sendo
exibida no Rio, na ocasião – magnífica exposição, com trabalhos de primeira
qualidade. Ao lado desses movimentos tradicionais, apareceram dezenas de grupos
totalmente desconhecidos, e os poetas que depois se chamariam marginais, dessa
antologia de Heloísa Buarque de Holanda, “26 Poetas Hoje”. Então, o que essa
Expoesia mostrou, e também foi mostrado no Jornal de Poesias, que eu editei em
1973, no Jornal do Brasil (...) é que era hora da abertura e isso inclusive em
termos políticos (...). Eu também achei que o poeta estilisticamente tinha que
requerer liberdade primeiro dentro da própria literatura, ao invés de falar
liberdade lá fora e ficar sob pressão de um grupo determinado, sob opressão de
uma estética. E, de lá pra cá, houve uma liberação, uma volta à palavra que
tinha “acabado”. Foi reachada a obra, descobriu-se o encanto da palavra de uma
maneira até caótica, muitas vezes, meio passadista, neorromântica, mas não tem
importância: o universo deve ser refeito sempre com a força que as pessoas têm,
JOSÉ REIS: O brasileiro
consome poesia?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: - O que é publicado hoje em poesia
vende. Tem um livrário de poesia incrível no Brasil. No Rio e São Paulo têm
dezenas de revistinhas e livrinhos mal feitos, porque o poeta descobriu um
outro veículo fora do convencional. Ao invés de procurar o editor e sofrer
humilhação com editora e tal, ele prefere editar a coisa batida à máquina em
papel pobre, e as pessoas passaram a comprar o livro e dar de presente. O livro
passou a circular para três, quatro ou cinco pessoas. Eu já me encontrei com
diversos poetas que estão vivendo de poesias. O sujeito já vendeu 10 mil
exemplares do livro dele porque, como fez uma edição mais barata, pode vender a
10,00. Se fosse fazer uma edição editorial teria que pagar o livreiro, o editor
e o distribuidor. Você sabe que o distribuidor ganha 50%, livreiro 20% e o
editor 10%. O autor ganha 10%, só. Então, se você edita e vende, recupera seu
dinheiro.
GLÓRIA SANDES: Os poetas
não-vanguardistas, ou melhor, os tradicionais teriam alguma contribuição a dar
à poesia?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: A minha visão de literatura é muito
democrática, eu acho que tudo cabe dentro da história da literatura. Uns dos
meus problemas com a vanguarda é que ela sugere uma história da literatura onde
só entram vanguardistas. Não, todo mundo faz parte da história, inclusive as
pessoas que não querem fazem parte contra a vontade. O poeta que está fazendo
trova, cordel, soneto, pertence à Literatura (...). Num ensaio que publiquei
nesse livro, que se chama “Por um conceito de literatura Brasileira”, quero
exatamente chamar a atenção para isto, de que é necessário estudar a literatura
de massa. No Rio, tem um poeta chamado Neimar de Barros, que publicou um livro
chamado “O Deus Negro”. Sabe quantos livros ele já vendeu? 700 mil exemplares.
Tem um problema aí que eu acho que é de ordem sociológica, mas é também de
ordem estética, considerando que, dentro da dialética, a quantidade e a
qualidade estão relacionadas. O estudante e o escritor não podem não tomar
conhecimento de que tem um poeta que está vendendo 700 mil exemplares. Tem que
prestar atenção nisso, saber porque ele está vendendo e eu não estou vendendo.
GLÓRIA SANDES: - Não é o problema do “esquemão”?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Tem um mistério nisso. Eu sou a favor
de um ensino de literatura onde estes problemas sejam considerados.
JOSÉ REIS: - Como você vê o
piauiense Mário Faustino, o que ele deixou como poeta e como crítico, qual sua
influência?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: A influência dele foi muito grande, na
década de 1950 para 1960, tanto como crítico no Jornal do Brasil. Aliás mais
como crítico do que como poeta. A poesia dele eu acho uma poesia boa, mas um
pouco conservadora ainda. Ele, talvez, por ter morrido cedo, não desenvolveu a
poesia mais pessoal. Quer dizer, vejo muito, ainda, Ezra Pound atrás da poesia
dele. Vejo muito a leitura que ele fazia de poesia atrás dessa poesia. Uma
poesia que inclusive não é vanguardista no sentido das vanguardas da época. Ele
queria ser um crítico de vanguarda, mas a poesia dele não era vanguardista: era
discursiva, metafórica, palavrosa etc. Acho que a contribuição histórica dele é
importante. Ele tinha uns “insights” algumas dicas que ele dava que eram muito
importantes.
JOSÉ REIS: Em um dos livros que você está escrevendo, uma antologia, é
verdade que vai incluir Mário Faustino?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Exato. É uma série que nós vamos fazer
pela Sumus Editorial, tentando publicar os poetas que de 1950 prá cá deram
alguma contribuição.
GLÓRIA SANDES: Torquato Neto
entra nessa lista?
AFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Não. Torquato Neto não chega a ser um
poeta importante dentro da Literatura Brasileira. Ele era um letrista bastante
hábil. Ele se beneficiou bastante do contato que teve com os concretistas em
São Paulo, mas não chegou a produzir uma obra, desapareceu antes. O que existe
é o culto a Torquato Neto. Este é outro assunto, pertence à Sociologia da
Música Popular.
GLÓRIA SANDES: No Rio ele é
muito cultuado?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: É. Por alguns grupos. Mas acho que
isso pertence a uma área contígua. Pelo fato dele ter morrido numa situação
trágica e ter se transformado num símbolo – ele se transformou em elemento
sacrificial, sacrificado de uma geração, como sucedeu com a música popular
americana, com Jane Joplin e outros. Ele era um indivíduo muito hábil. Poderia
ter desenvolvido uma obra, mas infelizmente isso não foi possível.
GLÓRIA SANDES: Qual sua
opinião sobre a Navilouca, de Torquato Neto?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Aquela revista é curiosa, mas não é
tão inovadora quando se pensa. Isso é outra coisa que precisa ser esclarecida.
Tem outro poeta, ligado mais ou menos ao poema processo, Sebastião Nunes, que
fez umas coisas dez anos antes da Navilouca, e naquela linha, muito mais
rigorosa, mais importantes e mais bonitas. Inclusive mostrei neste curso uma
coisa dele: um livro que vinha dentro de um envelope chamado Finis Ópera. São
folhas soltas. Ele é artista plástico-visual. Pois toda aquela ideia que
aparece na Navilouca, da arte suja, da arte sórdida, da coisa meio marginal,
isto tudo já estava sendo feito por grupos anteriores. Posso falar inclusive
uma coisa meio dura sobre ela e revistas semelhantes. Não sei se isso vai
servir para alguém. Mas acho que certas verdades se tem que ir dizendo. A
Navilouca é uma diluição dos cacoetes concretistas misturada com a Arte Povera,
um movimento artístico italiano que no Brasil foi representado por cinema de
lixo, por coisas semelhantes. Então aquele mau-gosto intencional que tem na
revista não chega a ser uma inovação. Foi uma maneira dos concretos de São
Paulo, que politicamente são muito hábeis, de continuarem a manter o controle
sobre alguns jovens poetas que estavam surgindo. Tanto é que surgiram mais umas
cinco a seis revistinhas semelhantes à Navilouca. Eles lançam uma revista e
depois outra semelhante com outro nome etc., mas o projeto deles continua se
repetindo.
GLÓRIA SANDES: Você acha que
no Brasil a gente continua a fazer uma arte, uma literatura colonial, que
sempre nos coloca como colonizados culturalmente? Muitas vezes a gente se
espanta com o pessoal que a gente acha genial, por exemplo, no caso da revista
Graphis: Muita coisa que se faz aqui está lá...
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: É. O Brasil sofre de uma coisa que
alguns sociólogos de São Paulo chamaram de política da dependência cultural. O
Fernando Henrique Cardoso, principalmente, defende essa tese de que somos um
país de terceiro mundo, dependente, culturalmente do que se faz em Nova Iorque,
Londres e Paris (...) Mas em todo lugar que você vai, no mundo, as pessoas
estão se queixando que são dependentes das outras, porque hoje todo mundo é
dependente de todo mundo.
CARLOS EVANDRO: Até que
ponto você considera a literatura brasileira de vanguarda original, de
característica genuinamente brasileira?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Eu não sei se me preocupo muito com
esse negócio. O problema é o seguinte: não existe nada totalmente original.
Você pega os concretistas, que tinham a pretensão de exportar poesia: a
gestação do concretismo é toda estrangeira. Você pega Joyce, Mallarmé, Pound,
os poetas japoneses, todo o paideuma concretista é estrangeiro. Você pensa: que
milagre engraçado, de repente, eles leram 30 autores estrangeiros e produzem
uma poesia brasileira! ... Até que ponto essa poesia é brasileira? (...) É como a Bossa Nova. Até que ponto é
brasileira? Ela é jazz e muitas outras coisas. Então o negócio nacional acho
muito complicado. Por exemplo: algumas pessoas acusam os estruturalistas
brasileiros de serem cópias de estruturalistas franceses... passaram um tempo
lendo os filósofos alemães Hegel, Marx, Freud, Heiddeger são os que
influenciaram os franceses. Por outro lado, esses pensadores para chegarem às
conclusões deles andaram lendo os franceses e ingleses anteriores (...).
GLÓRIA SANDES: A pergunta me
parece que foi mais no sentido de um caminho próprio da literatura brasileira
de vanguarda, assim como se exige do bom poeta que siga o seu caminho (...)
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Num poeta como o João Cabral, você
detecta influência de Drummond, depois de Valery, claramente. Mas o Cabral
achou o caminho dele. Não quer dizer que ele não tenha influência. Porque todo
mundo tem. Ele achou qual a sintaxe, a linguagem dele, uma linguagem pessoal.
CARLOS EVANDRO: E no caso Affonso Romano de Sant’Anna, quais seriam as
reminiscências projetadas na obra?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Minha primeira poesia, de Canto e
Palavra, acho que tem alguma coisa, muito longe, de Drummond. Já esse livro
mais recente, o Poesia sobre Poesia, a primeira parte, considera-se bastante
original, na medida em que tento uma poesia que mistura ensaio e poesia; poesia
com nota de pé de página, despreocupada de uma série de quesitos que
interessavam à vanguarda. Nesse sentido, acho que ela é original, porque
corresponde a um problema meu específico, quer dizer, eu como professor (que
teve que teorizar e saber tudo) e como poeta (que se quiser teorizar e saber
tudo está liquidado. Ele tem que trabalhar muito com o inconsciente dele). Então
é uma solução muito biográfica, muito pessoal, por isso acho que é mais
original.
JOSÉ REIS: Afonso, fazer literatura e poesia se aprende ou a pessoa “já
nasce poeta etc. literata”? Se se aprende, que caminhos deve seguir?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Acho que tem um certo aprendizado.
Tanto é que nos Estados Unidos existem algumas escolas. Frequentei, durante
nove meses, um curso desses lá. Era um curso internacional de escritores. No
curso doméstico (deles) eu frequentei o internacional. Tinha aula de tradução,
aula para aprender a escrever romance, poesia, tudo. E, na conclusão de seu
curso, você ia fazer prova, traduzia, entregava um romance, epopeias, sei lá,
um poema, um negócio concreto. No Brasil, começamos a fazer experiência
semelhante. Na PUC mesmo fizemos várias vezes o curso de Criação Literária,
convocando o aluno de Letras para escrever o texto dele, que é o contrário do
que acontece, porque, nos cursos de arte, o sujeito está lá desenhando, nos
cursos de música, por exemplo, o sujeito aprende a tocar piano. E no curso de
letras o sujeito fica estudando o texto do outro. Então isto é um erro. Ele tem
que produzir o texto dele.
CARLOS EVANDRO: A
Universidade do Piauí começou recentemente um movimento assim, chamado de
Carpintaria Linguística.
JOSÉ REIS: Utilizando o título de Autran Dourado. Estou juntando Autran
Dourado com Mário Faustino, porque o Autran Dourado fala de Matéria de
Carpintaria, e o Mário Faustino tem um texto sobre Diálogos de Oficina, nesse
sentido de que o fazer literário é uma oficina.
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Isso acho fundamental. Porque certas
coisas você aprende sozinho mesmo, com muito sacrifício. Mas tem uma série de
macetes, uma técnica que você pode aprender com outra pessoa. Lembro que li,
quando tinha uns 16 ou 17 anos, um livro chamado “A Arte de escrever” (...)
Acho que talvez tenha sido isso que me forçou a começar a escrever, me ajudou
bastante. Descobri que o texto era um negócio dinâmico, rico.
GLÓRIA SANDES: Agora uma perguntinha do balão. Como você vê a
proliferação de formas sintéticas do conto. Não prejudicaria o surgimento de
escritores “de fôlego?”
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Não. As pessoas, aliás, estão
escrevendo cada vez livros maiores. É porque tem mais gente escrevendo hoje.
Tem um romancista paulista, pouco conhecido, que elogiei muito na Veja. Evelson
Soares Pinto. Escreveu um livro de 800 páginas em corpo 8, chamado “A Crônica
de Valente Parentino”. Um livro ótimo.
GLÓRIA SANDES: O que acha, particularmente, dos minicontos?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Gosto. Gosto muito, principalmente dos
de minha mulher, a Marina Colassanti. Ela tem um livro chamado Zoológico, que é
de minicontos surrealistas sobre animais. E está terminando um agora.
GLÓRIA SANDES: Quem, no Brasil, é melhor no romance, na poesia e no
conto?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Tem que entrar muita gente, porque
depende das gerações. Por exemplo, na faixa do modernismo, realmente o Drummond
é, disparado, o melhor. Acho o Drummond o maior poeta do século. Esses poetas
como o Mário Chamie e os Concretos têm um controle do verso muito grande.
Quando querem fazer verso, fazem com muita habilidade, escrevem muito bem
(...). Você pode é não gostar do texto deles, mas que o sujeito sabe o que está
fazendo, sabe. De poesia, se você quer nomes, de gente que eu gosto, de gente
nova, tem a poetisa mineira chamada Adélia Prado, que pra mim é a maior
revelação de poesia no Brasil ultimamente. Tem um livro chamado Bagagem e está
lançando outro pela Nova Fronteira, um de que estou fazendo a introdução. (...)
Tem alguns poetas da geração marginal que eu gosto, que estão naquela antologia
dos 26 poetas da Heloísa. O Antonio Carlos de Brito tem umas coisas boas. Chico
Alvim, gosto de umas coisas dele; e outros. Em poesia tem outros, o Domingos
Pellegrini. Esse menino que ganhou o
prêmio da Remington, em Minas. (...) Na ficção, por exemplo, gosto muito do
Rubem Fonseca. Acho excelente; Inácio Loyola acho mais ou menos, o João Antônio
acho bom escritor, mas faz um gênero que não gosto. O Moacyr Scliar? Ele sabe
fazer as coisas, mas o texto não me diz, é um negócio emocional. O J. Veiga?
Muito bom. O Autran é muito bom. A Nélida Piñon, por exemplo, é uma escritora
muito difícil de se ler, mas muito boa. O Osman Lins? Gosto. É difícil também
de ser lido. Assis Brasil? Acho muito desigual. Tem um romance “Beira Rio Beira
Vida” que acho fraquíssimo. Já um outro, que cheguei a criticar na Veja,
“Rebelião dos Órfãos”, tem umas coisas muito boas. É uma coisa curiosa, o Assis
Brasil participou dessas coisas de vanguarda, mas o texto dele é meio
conservador em certas coisas. (...).
GLÓRIA SANDES: Por que os
poetas jovens estão se identificando muito com Fernando Pessoa? Mesmo os que
não leem gostam...
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: (...) Ele se tornou mais influente
porque era místico, exotérico, e com a onda hippie no mundo inteiro,
macrobiótica, zen, essas coisas todas, ele entrou em circulação. Porque não é
um poeta racional. É muito emotivo, aquela coisa que jorra muito. É uma
leitura, um discurso mais fácil. Então capta mais o jovem.
GLÓRIA SANDES: E Da Costa e
Silva, o que dá o nome daquela praça?
CARLOS EVANDRO: Afrânio
Coutinho diz que ele teria motivado as aspirações de poéticas de Abgar Renaut,
Drummond de Andrade...
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Ele é bastante conhecido nessa faixa da passagem para o modernismo, pré-modernista. Tinha um certo prestígio. Tinha inclusive uns poemas que são assim formalmente meio ousados. Mas aquilo era mais ou menos moda na época. O Hermes Fontes, a Gilka Machado, Martins Fontes, todos eles tinham assim certa invenção pré-modernista.
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