MULHERES
Jacob Fortes
Falar sobre as mulheres é enunciar o que há de mais sagrado,
é referir-se às mães de um modo geral e, mais precisamente, à Maria Virgem, mãe
de Jesus.
As mulheres têm sido fonte de inspiração de escritores,
cantadores e poetas que lhe exaltam os méritos e os deméritos. Ora são deusas,
ora anjos de dedicação e renúncia, ora, no dizer do poeta Wanderley Pereira,
“Evas sempre prontas a complicar a vida dos seus Adões”.
Mas o valor das mulheres, de mistérios insondáveis, não vem
por outrem, mas por elas mesmas, pela sua distinção pessoal, pela serenidade,
pela competência, pela coragem, (ainda mais quando em defesa da prole), pela
compreensão, pelo companheirismo. As mulheres são a homenagem de Deus ao amor.
Quando mães, instintivamente se esmeram em proteger os filhos, orientá-los,
modelá-los na virtude, nas lições do catecismo. No dizer do poeta João
Paraibano, as mães deveriam ter dois corações: um para si, o outro para bater
pelos filhos. Até mesmo quando impõem castigo à sua prole é possível sentir-se
o lado amoroso das mães.
Se é verdade que o mundo seria mais humano se fosse
literalmente evangelizado, verdade maior é dizer que o mundo seria mais justo,
mais útil e harmônico se fosse governado pelas mulheres. O poder, que por vezes
se presta a tiranizar os homens, nas mãos das mulheres se prestaria à equidade,
à concórdia, à benignidade. Vítima de discriminações e muitas vezes alijadas de
direitos essenciais, das mulheres muito se tem exigido. Por exemplo, no
decorrer dos séculos, acentuadamente durante o primarismo colonial, a elas se
impôs todo um código de ética nas relações com o sexo viril. Nas comunidades de
populações rarefeitas do interior do Brasil o culto à virgindade foi e continua
sendo virtude das mais prezadas. Nisto o sertanejo não transige; do contrário
melindra o pudor. Esse culto à virgindade, segundo o escritor Sylvio Rabello, é
talvez uma forma residual da adoração à Maria Virgem. Também, nem sempre o
trabalho da mulher, eventualmente mais árduo do que o dos homens, é devidamente
considerado porque às vezes não é medido com a régua do dinheiro. São as que
vivem entregues às atividades caseiras ou lidas do campo. Na cidade ou no
campo, em nenhum dos seus múltiplos papeis as mulheres se descuidam das suas
obrigações; as fazem com inflamado zelo. Lastimosamente ainda são expressivos,
no Brasil e mundo afora, os escaninhos que ocultam a presença dos machistas que
— embrutecidos pela ação do seu instinto violento ou sádico — preferem manter
as suas mulheres sob o regime da subalternidade, da vassalagem ainda que à
custa de mandonismo intimidativo, de ameaças, e, não raro, violências
assombrosas.
Deixo de exaltar a celebração ritualística do dia
internacional da mulher, (quando a ela são ofertadas flores e outros mimos),
porque faz supor que apenas um dia calendário lhes serve de ocasião às
manifestações de apreço. Elas, que valem tanto quanto significam, são dignas de
mesuras no decorrer de todos os dias.
Na figura da parentela (genitora, esposa, filha e irmãs)
deste subscritor, saúdo todas as mulheres, desde as recentes às anosas: as
solteiras, as casadas e descasadas; as viúvas; as ricas e as assistidas pela
miséria; as felizes e as infelicitadas nos infortúnios que lhes coube em sorte;
as incrédulas e as crédulas que se deixam enganar e escravizar; as que
sucumbiram nas mãos dos cruéis uxoricidas; as cientistas, doutoras,
contramestras e operárias; as que, debalde, aguardam a maternidade e as
exaustas dos aborrecimentos desta mesma maternidade; as religiosas e as leigas;
as que sonham com o himeneu e as que se frustraram com ele; as altivas e as que
se prestam à servidão consentida; as normais e as acometidas de desorganização
psíquica. Que as bênçãos divinas recaiam em messe sobre todas: as que se
retiraram da vida terreal, as que cumprem o seu fadário.
Mas não poderia pôr um ponto final nestas singelas
considerações sem reproduzir a sextilha do poeta Geraldo Amâncio acerca da
essencialidade da mulher.
“Sei que mulher tem defeito:
Maltrata, briga e ciúma;
Tem a mulher que atraiçoa;
Mulher que bebe e que fuma
Mas quer desgraçar a vida
Resolva ficar sem uma”
“sublima-se o homem na dedicação à mulher”.