terça-feira, 14 de outubro de 2025
3 Poemas de JOAMES
segunda-feira, 13 de outubro de 2025
Crônica/missiva de Marcondes Araújo
Criação: AI Gemini |
Estimado camarada Elmar,
Amigo, li atentamente sua crônica
intitulada “Tempos republicanos” e me fez lembrar alguns momentos e outras
sentimentalidades. Nunca morei em república, mas meu irmão Chico Wilson, morou
numa em São João dos Patos, no Maranhão, quando foi assumir o cargo de bancário
do BB nos anos 70. Portanto, quando eu ia de férias visita-lo ficava hospedado
em uma república aos moldes talhados por você no seu texto.
Ainda sobre seu texto, creio que
o cidadão Carlos a que você se refere deve ser o mesmo que foi meu colega de
tralhado na Secrel. Tratava-se de um cidadão alto, claro e usava óculos, porém
com mais destaque sobre sua postura proativa de se determinar aos afazeres
profissionais. Salvo melhor juízo ele era contador e abdicou do emprego na
Secrel para laborar por conta própria.
Sobre a Da. Mariema e o tenente
Jaime da Paz, genitores do seu ex-colega de república, Jaime Filho, lembro
desse casal visitando minha sogra, Maria Carmelita Sousa do Monte, aqui na
cidade de Altos. A Da. Mariema, por coincidência dos fatos, foi colega de
pensão da minha sogra, num casarão comandado por Da. Justina Ferreira, nos anos
60-70, cujo prédio situava-se na Rua Paissandu, frontal ao antigo Hotel
Teresina e próximo do antigo quartel da Polícia Militar, na gregária Praça
Pedro II, em Teresina.
Também passei a me situar melhor
com esse texto, pois me lembro do seu poema “A Casa no Tempo”, um dos primeiros
poemas de sua lavra que pude ler e meditar. Crio que até fiz um comentário
sobre ele no seu blog. Agora, com mais descrições, me situo com mais precisão
sobre suas intenções e a atmosfera de seu entusiasmo ao escrevê-lo.
Porém, queria me referir que
ainda neste mês de setembro último recebi em minha chácara aqui em Altos, o
amigo Adolfo Ferreira, casado com uma prima de minha esposa, chamada Fernanda,
filha do saudoso contador Hugo Melo. Ele é policial civil e cidadão pacato,
sereno e de boas conversas. É que ele morou na antiga Casa do Estudante, em
Teresina, cujo casarão encravava-se próximo à antiga Penitenciária, a qual foi
demolida para construção do ginásio de Esportes Verdão.
Em nosso diálogo tive a
curiosidade de indagar justamente como funcionava aquela Casa do Estudante. Ele
fez um relato curioso e instigante para uma boa pesquisa. Narrou sobre várias
personalidades que vieram do interior do Piauí e do Maranhão e que, em vida
estudantil, se hospedaram e moraram naquele recinto. Foram inúmeros e variados
os destaques que “venceram na vida” e eram egressos daquela saudosa república
de estudantes. Segundo ele, alguns desses destaques foram: Professor Cineas
Santos, atual vice-reitor da UFPI, Nouga Cardoso ex-reitor da UESPI, atual
superintendente da CEF, médicos, professores, etc.
Sem buscar qualquer destaque em
cargos relevantes ou de status social, entendi o quanto aquele prédio abrigou
de gente que se destacou posteriormente em vários cenários da vida produtiva do
Piauí ou se tornaram pacíficos citadinos que contribuíram para a vida útil da
nossa região.
Acertei com o Adolfo que
voltaremos a nos encontrar para debater mais sobre esse período, sobre os
mecanismos de seleção dos estudantes, sobre a vida cotidiana dos estudantes e a
respeito do desfecho profissional da maioria, entre outras coisas. Talvez buscando
informações (entrevistas) com outros remanescentes daquele período, fosse útil
reacender e fustigar a curiosidade histórica daquele albergue de estudantes,
hoje enterrado na memória da cidade de Teresina.
Quiçá, muitos dentre eles,
igualmente a você, possam trazer episódios de grande importância histórica e,
quem sabe, também possam suscitar “nas músicas passionais de algum boteco /
criando ressonâncias que repercutem / insistentemente como eco”.
domingo, 12 de outubro de 2025
ETERNO RETORNO
Criação: AI Gemini |
ETERNO RETORNO
Elmar Carvalho
memória:
lâmina de desassossego
cornucópia insana
insaciável
a jorrar o passado
que não morre nunca
sempre ressuscitado
no eterno regresso
a nós mesmos.
ó emoções redivivas
e ampliadas
das sensações
de nervos expostos
nas carnes pulsantes
de um passado
sempre lembrado.
recordações
que dão e são vida
de becos escuros, sem saída
de amores
hoje boleros
bolores em
flores
de ilusões perdidas
que se fazem dores
na florida ferida da
saudade.
evocações
de dribles esquecidos
de gols frustrados e
acontecidos
de um jogo que nunca
termina
de uma malsinada sina
sinuosa
de lágrimas caudalosas
incontidas, vertidas
das vertentes profundas
do peito – porto
sem tino e sem destino
feito somente de desatino.
as mulheres amadas
na juventude fugaz
não envelhecem
não se corrompem
não morrem jamais
preservadas intactas e
belas
na câmara ardente
incandescente da memória.
recordações de fantasmas
que já nos abandonaram
de amigos mortos
que nos acompanham
cada vez mais vivos
de sustos e gritos
de proscritos e malditos
de agouros e assombrações
de desdouros e sombras vãs,
malsãs,
oriundos dos porões
escavados
nos subterrâneos dos
sobrados
subterfúgios e refúgios
da memória.
O passado poderoso e
renitente
retorna e continua vívido e
presente
se contorcendo se
retorcendo
e se reacontecendo.
sexta-feira, 10 de outubro de 2025
TEMPOS REPUBLICANOS
Criação: IA ChatGPT |
Criação: AI Gemini |
TEMPOS REPUBLICANOS
Elmar Carvalho
Nesta temporada de final de ano,
em Parnaíba, estive com os meus compadres Gelvan e Neide. Ela é filha do sr.
Anísio, que foi comerciante e vereador. Ocupa chefia importante da Caixa
Econômica Federal na Paraíba, na qual
ingressou através de concurso público. É minha conhecida desde os tempos em que
residi em Parnaíba. Conheci o Gelvan em 1983, quando ele, na qualidade de
administrador postal da ECT, recém-formado pela ESAP, foi lotado na diretoria
regional da empresa no Piauí. Era natural de Paulo Afonso, Bahia. Moramos na
mesma casa. Era uma república, mas república séria, de muito respeito, e não
uma república de estudantes boêmios e gazeteiros, nem tampouco uma republiqueta
de bananas da América Latina.
Quando assumi meu cargo de fiscal
da SUNAB, em Teresina, no dia 10.08.1982, fui inicialmente morar no hotel da
dona Maru, instalado num antigo palacete da avenida Frei Serafim, perto da
igreja de São Benedito. No mesmo apartamento, morei com o conterrâneo e amigo
Jaime Filho, rebento da professora Mariema e do tenente Jaime da Paz, probo e
dinâmico ex-prefeito de Campo Maior. Em menos de dois meses fui convidado pelo
Carlos Cardoso, velho amigo da adolescência e também conterrâneo, para morar na
república da qual ele era membro proeminente.
Explicou-me as regras, os
direitos e deveres da confraria. Disse-me que a casa ficava situada na avenida
Jockey Club, onde hoje funciona um colégio. Imediatamente aceitei o convite e
tratei de me mudar. Moravam na república dois administradores postais, o
Umberto Nadal, paranaense, e o Robério Maia de Oliveira, cearense, o Antônio
Maria, comerciante, e o Carlos, contador, um dos chefes da empresa SECREL,
sediada em Fortaleza. Portanto, éramos cinco republicanos.
A casa dispunha de uma boa
piscina. Em quase todos os domingos havia comilança e libações. Participei de
poucas festas, uma vez que nessa época costumava, pelo menos duas vezes por
mês, passar o final de semana em Parnaíba, porquanto meus pais e minha namorada,
hoje minha mulher, ali residiam. Tomei conhecimento de que um frequentador
desses churrascos se tornou demasiadamente assíduo, dando-se ao luxo de ainda
trazer vários convidados, mas sem nada trazer em contrapartida, nem mesmo
refrigerantes, quanto mais bebida e mantimentos de boca.
Diante dessa “esperteza” os
colegas republicanos resolveram adotar uma estratégia contra esse abuso. Certo
dia, quando o espertinho chegou com os seus convidados, encontrou o fogo
apagado. Dois membros da república o convidaram a ir até um supermercado, onde
compraram os suprimentos líquidos e comestíveis, e o “intimaram” a pagar a
conta. Foi a última vez que esse mui amigo apareceu na república.
Nessa casa escrevi o meu poema
Egocentrismo, que nasceu de um insight, já pronto e acabado. Eu acabara de
acordar, quando, ao ficar sentado na rede, espirrei numa réstia que iluminava a
escuridão do quarto. As gotículas do espirro, viróticas ou não, fizeram surgir
um pequeno arco-íris. Instantaneamente o poeminha foi escrito em minha mente,
com os seus versos que falam em arco-íris, em arco-do-triunfo, em velocino
dourado e em coroas de louro e de ouro. Sou muito grato a esse espirro, que
funcionou como uma musa ou como inspirado e inspirador lampejo.
Dessa residência, nos mudamos
para uma outra, na rua Rui Barbosa, situada no início da ladeira, após a qual
começa a avenida Barão de Gurgueia. Nesse período, já nos haviam deixado o
Antônio Maria e o Carlos; este havia adquirido uma casa, e já se preparava para
se casar. O Robério, hoje juiz do trabalho, casou-se e foi morar em casa
própria. Em seu lugar entrou o Gelvan. Foi uma turma boa, composta por pessoas
responsáveis e cumpridoras de suas obrigações. Como o dono dessa casa tenha
precisado dela, para fazer um depósito de sua empresa, fomos morar em outra,
localizada na rua Areolino de Abreu, perto da Caixa Econômica.
Era um casarão antigo, meio
fantasmagórico, onde antigo morador, um engenheiro, havia suicidado. Numa das
portas, fora escrito um belo, porém elegíaco, melancólico poema da autoria de
meu amigo Hardi Filho, em que a tinta parecia escorrer, como gotas de sangue.
Nesse vetusto solar, de história trágica, escrevi o meu poema A Casa no Tempo,
infestada de esgarçantes rasga-mortalhas, de esvoaçantes e lúgubres morcegos,
de almas penadas, de correntes arrastadas, de gemidos e ruídos misteriosos.
Nessa casa, hoje demolida, a república foi extinta, em virtude de casórios e do retorno do Nadal ao Paraná, sua terra natal. Mas, em minha saudade, a casa com a república, como digo no meu poema, “... sempre persistirá / nas músicas passionais de algum boteco / criando ressonâncias que repercutem / insistentemente como eco”.
04/01/2011
domingo, 5 de outubro de 2025
AUTOAPRESENTAÇÃO
Criação: IA Gemini |
AUTOAPRESENTAÇÃO
Elmar Carvalho
eis como sou
neste instante único
(após o qual já
serei um outro):
um homem que rema
no seco contra
a corrente das águas
um homem que usa
a gravata como
se fora um baraço
nas horas de opressão
um homem que escreve
torto por
linhas certas
um homem que sobe
e teima contra
a lei da gravidade
eu sou aquele
que aprendeu
a pecar para
ter a humildade
de não ter uma
virtude
eu sou aquele
que jogou roleta
russa com o tambor
cheio de balas e
apostou contra a
sorte
eu sou aquele
que lutou para
não ser
quinta-feira, 2 de outubro de 2025
HISTÓRIA & ESTÓRIA
HISTÓRIA & ESTÓRIA
Elmar Carvalho
Estive conversando com o
historiador e empresário Vicente Miranda. É quase um sósia de seu parente, o
cantor e compositor Belchior, que andou sumido por um bom tempo, ao que parece
embebido em meditações e reflexões místicas e artísticas nas altitudes dos
Andes. Vicente empreendeu um rigoroso trabalho de pesquisa sobre a história de
sua família, de que resultou um notável livro de várias dezenas de páginas.
Foi um empreendimento que lhe
custou muito tempo, esforço, dedicação, despesas e uma disciplina
verdadeiramente espartana. Isso porque as fontes estavam espalhadas em
diferentes municípios do Piauí e do Ceará. Tendo o nosso estado sido vinculado,
em diferentes épocas, administrativa, eclesiasticamente e/ou judicialmente ao
Maranhão, Ceará, Pernambuco e Bahia, alguns documentos e outras fontes de
pesquisas somente poderão ser encontrados nessas unidades federadas.
No seu entendimento, as fontes
são muitas, o que falta é ânimo ou condições outras de o pesquisador realizar o
seu trabalho. É sabido que historiadores da estirpe de Odilon Nunes e monsenhor
Chaves gastaram muito de seu tempo em paciente trabalho de pesquisa em arquivo
público, para que pudessem trazer novidades à História do Piauí, bem como para
desfazer equívocos e dirimir dúvidas. Isso exige disciplina, dedicação,
esforço, paciência e tempo.
Mesmo em casos polêmicos, como o
da datação da igreja do povoado Frecheira da Lama, no município de Cocal,
Vicente Miranda não faz a sua interpretação de forma apaixonada, baseada apenas
no subjetivismo do desejo pessoal, mas analisa o contexto histórico da região e
da época, além de fazer o cotejo com documentos correlatos ou afins, para
elaborar a sua tese, com o uso da lógica e do bom-senso, e não no afã de
descobrir supostos pioneirismos. Busca a verdade, e não o ufanismo
“patriótico”, que chega ao ponto de distorcer a verdade ou de fabricar forçadas
e esdrúxulas interpretações, sem respaldo em provas consistentes, irrefutáveis.
Para escapar ao cansativo,
silencioso e solitário trabalho de pesquisa, muitos pretensos historiadores
fazem apenas uma obra de divulgação; escrevem livros que apenas repetem o que
os grandes pesquisadores e historiadores já escreveram. Ou seja, apenas chovem
no molhado, apenas pisam no já repisado. Não lhes tiro o mérito da divulgação;
apenas digo que nada estão criando, que não trazem novidades.
Portanto, não espancam dúvidas e
nem extirpam os erros e equívocos, acasos existentes. Outros, querendo ser
modernos e de ideias avançadas, apenas se comprazem em atacar figuras
históricas, em cega iconoclastia, sem fazer a devida contextualização de época,
levando na devida conta os costumes, a moral, as leis, a ética, as crenças e as
crendices dos tempos idos.
Ainda outros, em suas
monografias, ensaios e dissertações, reduzem a temática e usam um corte
cronológico em que haja mais fontes e mais bibliografia, o que lhes facilita
sobremaneira o trabalho de pesquisa, que quase fica restrita a simples leitura
de obras já publicadas. Outros vão além, e adotando certas teorias atuais da
historiografia, pretendem fazer obra historiográfica através de simples
especulações, conjecturas e ilações baseadas em obras de arte, como pinturas,
artesanatos e esculturas.
Creio que estes farão apenas
ensaio especulativo, interpretativo e subjetivo. Acredito que o trabalho de um
verdadeiro historiador há de ser objetivo, calcado na verdade trazida por
provas, em que haja, pelo menos, um grau razoável de certeza, e não mera
suposição interpretativa, fundamentada em frágeis indícios. Finalmente, alguns
enveredam pela história imediata ou pela história do cotidiano, mas aí já é
outra história.
Vicente Miranda para escrever a
longa história de sua família esteve em diferentes paragens e estados; visitou
cemitérios campestres, arquivos públicos, acervos documentais de cartórios,
igrejas e delegacias de polícia. Em Piracuruca, para poder consultar antigos
processos judiciais, teve que ficar entre o forro e o teto da serventia, pois
era ali que dormiam os velhos autos.
Em Barras, os velhos feitos
estavam quase se desmaterializando, o que requeria cuidado e atenção especiais;
tanto que um soldado de polícia, que lhe presenciou o manuseio desses
documentos, exclamou que os carcomidos papéis não aguentariam “outro reboliço”
daqueles.
Por tal razão, esse historiador
entende que esses processos deveriam ser transferidos para o arquivo público
estadual, que poderia executar um melhor serviço de guarda e conservação,
sobretudo agora em que o Poder Judiciário marcha de forma firme e irreversível
para a virtualização do processo, em que haverá, certamente, economia de tempo,
espaço e de meios físicos, como papéis, grampos, plásticos, depósitos e outros
materiais; em que as petições e as comunicações poderão ser enviadas através da
internet.
Além do mais, isso facilitaria a vida dos pesquisadores, historiadores e simples consulentes, pois os documentos ficariam concentrados na capital, sob a responsabilidade de um único órgão especializado no serviço. Disse-lhe que, quando tivesse oportunidade, abordaria esse assunto junto ao desembargador Edvaldo Moura, presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, que é um intelectual e escritor, tendo presidido a Academia de Picos por vários anos, quando lá serviu como juiz de Direito.
29 de dezembro de 2010
segunda-feira, 29 de setembro de 2025
VIAGEM DA APL A PARNAÍBA
Comitiva dos acadêmicos e acompanhantes no prédio da Federação do Comércio do Piauí, no Porto das Barcas. |
Da esq./dir.: Elmar Carvalho, Fonseca Neto, Reginaldo Miranda, Plínio Macedo e Felipe Mendes. Autora da foto: Adriana Motta |
VIAGEM DA APL A PARNAÍBA
Elmar Carvalho
Seguindo o roteiro e o programa que elaborei para o Projeto
APL Itinerante, referente a Parnaíba, por solicitação da presidente Fides
Angélica de Castro Veloso Mendes Ommati, devidamente aprovados pela Diretoria,
chegamos a essa cidade por volta de uma hora da tarde do dia 19/09/2025.
Ficamos hospedados no hotel Delta, do SESC, no centro
histórico de Parnaíba, uma vez que tivemos o integral apoio do Sistema
Fecomércio, através do advogado Valdeci Cavalcante, membro de nossa Academia.
Nas visitas que fizemos, contamos com explanações do
acadêmico Valdeci Cavalcante, profundo conhecedor da história e da arquitetura
da cidade, e do historiador Jedson Martins, que recentemente publicou o belo
livro Postais da Parnahyba, do qual adquiri um exemplar. Por haver morado
muitos anos na velha urbe, também pude contribuir, vez ou outra, com algumas
informações históricas ou arquitetônicas.
Às 15 horas, fomos visitar o prédio do antigo Colégio União
Caixeiral, adquirido pelo SESC, que lhe fez uma excelente obra de restauração e
o adaptou para ser o Centro Cultural João Paulo dos Reis Velloso, dotado de um
grande acervo. O espaço presta relevantes serviços culturais em várias
manifestações artísticas — sobretudo música, teatro e literatura — e dispõe de
diversos ambientes.
Sobre essa escola e a educação parnaibana na primeira metade
do século passado, escrevi em meu trabalho Faculdade de Administração – um dos
cinco pilares da UFPI:
“Essa situação auspiciosa [o extrativismo econômico]
possibilitou que, numa época elitista e excludente no setor da Educação, a
cidade pudesse ter bons colégios, entre os quais cito o Ginásio Parnaibano,
que, no governo Chagas Rodrigues, foi estadualizado; o Ginásio São Luiz
Gonzaga, criado pela Diocese de Parnaíba; a Escola Técnica de Comércio União
Caixeiral, fundada em 28/04/1918, cujo grande e imponente prédio foi concluído
em junho de 1937 (esse edifício, após ser restaurado pela Fecomércio/SESC, sob
a presidência de Valdeci Cavalcante, foi transformado no Centro Cultural João
Paulo dos Reis Velloso – SESC Caixeiral); e o educandário confessional Colégio
Nossa Senhora de Fátima, inicialmente destinado apenas ao sexo feminino. Todos
tinham um corpo docente de alto nível e atraíam alunos de várias cidades do
Piauí e até de outros estados.”
Em seguida, visitamos a Academia Parnaibana de Letras, à qual
pertencem três membros da APL: este escriba da expedição, Alcenor Candeira
Filho e Valdeci Cavalcante. Fomos recebidos pelo secretário-geral, o escritor e
jornalista Antônio Gallas Pimentel, visto que o presidente José Luiz de
Carvalho se encontrava adoentado.
Gallas nos mostrou as dependências e o auditório Testa
Branca, além de nos fazer um breve relato de sua história e de suas atividades.
Mostrou-nos o memorial do escritor Humberto de Campos. Aliás, esse memorial e o
prédio foram adquiridos na presidência do acadêmico Antônio de Pádua Santos,
graças ao apoio do prefeito José Hamilton Furtado Castelo Branco.
Fomos, então, conhecer o centro histórico e o Porto das
Barcas. Na visita, conhecemos internamente o famoso prédio da Fecomércio, que
já foi a alfândega de Parnaíba. Essa entidade restaurou o edifício, que hoje é
um dos mais emblemáticos cartões-postais da cidade. No Museu do Mar vimos
várias embarcações de pesca, simulacros de peixes, esqueletos e aquários.
Foi-nos mostrado um grande mapa do Delta do Parnaíba, com
suas bocas, ilhas e cidades. Não resisti à tentação de perguntar se o mapa
indicava o Canal São José, tendo a guia me respondido que não. Esclareci-lhe
que esse canal encurtara a distância para Tutóia, onde existia o porto mais
importante, e tornara mais caudalosa a água do Igaraçu, permitindo que barcos e
navios de maior calado o navegassem. Acrescentei que, sem a construção desse
canal, o Igaraçu, hoje, praticamente não existiria.
Às 20 horas realizou-se a sessão solene da APL Itinerante,
com a participação da Fecomércio e da APAL. Compuseram a mesa de honra a
presidente da APL, Fides Angélica; Valdeci Cavalcante, presidente da
Fecomércio; Antônio Gallas Pimentel, representante da APAL; Maria Dilma Ponte
de Brito (membro da APAL e professora da UFDPar); Susana Silva, presidente da
Fundação Alberto Silva; e este cronista.
Susana Silva falou sobre os objetivos e atividades
desenvolvidas pela fundação que leva o nome de seu pai, o governador e senador
Alberto Silva, que também foi prefeito de Parnaíba. Disse desejar estabelecer
parcerias com a nossa APL.
Minha palestra O Centenário Almanaque da Parnaíba já se
encontra publicada na internet. Abordei sua história e seu fundador; seus
editores; seus principais colaboradores, em diferentes épocas; e sua linha
editorial. Discorri sobre seus financiadores e patrocinadores. Deixei claro
que, após a Academia Parnaibana de Letras assumir a sua publicação, a partir de
1994, ele passou a ser a revista dessa entidade literária, razão pela qual se
mantém em atividade há mais de cem anos.
Valdeci Cavalcante falou sobre o fomento que o sistema
Fecomércio (SESC/SENAC) tem dado à atividade comercial, bem como à cultura e às
mais diversas manifestações artísticas. Através de imagens projetadas, mostrou
as inúmeras obras que construiu e reformou em sua gestão, destinadas a diversas
atividades, entre as quais lazer, educação formal, capacitação profissional,
esporte, cultura e arte.
(c) Felipe Mendes |
Seguimos para a Praça da Graça, onde visitamos as igrejas de
N. S. da Graça e de N. S. do Rosário. Ali observamos as lápides dos túmulos de
Simplício Dias da Silva e de sua filha, Carolina Tomásia Dias de Seixas e
Miranda, que teria sido assassinada por um “monstro execrando”. Esse crime se
reveste de um caráter lendário e misterioso, imerso em hipóteses algo
fantasiosas. Para alguns, ela teria sido morta por Aleixo, um escravo de 17
anos, supostamente por haver sido maltratado por ela ou em razão de uma paixão
não correspondida.
(c) Felipe Mendes |
Outros historiadores, porém, levantam a hipótese de que o assassino poderia ter sido seu próprio marido, o capitão José Francisco de Miranda, “em quem pairava a suspeita de ser o mandante do assassinato ou o próprio assassino do seu irmão, o tenente-coronel Antônio Raimundo Dias de Seixas e Silva”, nas palavras do escritor Adrião José Neto. Entre as naves vetustas da velha matriz, ou catedral, ainda parece assomar o vulto do opulento fidalgo.
No logradouro encontram-se ainda o Monumento ao 19 de Outubro
e a grande estátua de Simplício Dias da Silva, mandada erigir por Valdeci
Cavalcante. Ali também está a Banca do Louro, que foi homenageado pela APL, por
proposição de Zózimo Tavares, pelos relevantes serviços prestados à literatura
piauiense. Nessa praça morei por vários anos, no apartamento dos Correios.
Em certa noite remota, quando presidente do Diretório
Acadêmico 3 de Março, no apogeu de minha juventude e ilusão, proferi um
discurso por ocasião do retorno de Chagas Rodrigues à política. Entre outras
figuras ilustres do MDB nacional e piauiense, encontravam-se naquele coreto da
Praça da Graça — que nos serviu de palanque — Ulisses Guimarães, Franco
Montoro, Miguel Arraes, Almino Afonso, Celso Barros Coelho, João Mendes
Nepomuceno e o próprio ex-governador Chagas Rodrigues. Várias dessas
personalidades proeminentes referiram-se a trechos de minha fala. E eu, tomado
por entusiasmo juvenil, me senti um verdadeiro Demóstenes ou Cícero.
A seguir, fomos visitar a Praça Santo Antônio. Chamei a
atenção para as belas edificações em seu entorno, sobretudo os sobrados,
palacetes e casarões solarengos. Entre eles, ainda podíamos ver o palacete em
que morou o Dr. Cândido de Almeida Athayde, que foi escritor, médico e diretor
da Santa Casa de Misericórdia, um dos fundadores e diretores da Faculdade de
Administração, prefeito de Parnaíba e presidente da FIEPI. Fui seu aluno
no curso de Administração de Empresas.
Ainda existem as casas dos proeminentes e saudosos advogados
Assis Cajubá de Brito e Carlos Teixeira, dos quais também fui aluno no Campus
Ministro Reis Velloso – UFPI, que foi o embrião, por desmembramento, da
Universidade Federal Delta do Parnaíba.
Já não existem os casarões em que funcionaram a Rádio
Educadora e a pensão de dona Judite. Nessa hospedaria, em 1975, meu pai me
levou a conhecer o seu primo Joaquim Furtado de Carvalho, professor da
Caixeiral, por intermédio de quem, em 1976, foi publicado o meu primeiro texto
no Almanaque da Parnaíba, o soneto Pedra do Sal. Deslumbrei-me, na época, com a
beleza da Praça Santo Antônio, com seus densos, copados e enormes oitizeiros,
que lhe davam uma compacta sombra verdoenga. Era ali, nos anos 1970, que as
moças em flor de Parnaíba ostentavam sua jovem e esplêndida beleza.
Estivemos no jardim do Cajueiro de Humberto de Campos. Umas
lápides de mármore contam, de forma sucinta, a sua história, inclusive através
de pequenos trechos de suas Memórias, que li e reli em minha juventude.
Outrora, algumas pessoas levavam como lembrança — ou mesmo relíquia — uma folha
desse cajueiro.
No final dos anos 1970, em visita à casa do Gallas,
manifestei-lhe o desejo de adquirir o livro Memórias, que já lera por
empréstimo feito pelo poeta Alcenor Candeira Filho, meu amigo há quase 50 anos.
Num rasgo de generosidade, que julguei ter sido por impulso, Gallas me ofertou
uma coleção quase completa das obras de Humberto de Campos. Disse que era uma
coleção preciosa e que, por isso, não poderia aceitar. Ele, então, de maneira
decidida, me compeliu a recebê-la, ao afirmar: “Se você não quiser, irei doá-la
a outra pessoa”.
Seguimos, depois, para as imediações do Centro Cívico, do
Colégio das Irmãs e da Igreja de Santo Antônio. O Centro Cívico foi idealizado
e construído pelo Dr. Lauro Correia, quando era prefeito de Parnaíba, e
projetado pelo arquiteto Régis Couto. Tive a honra de ser aluno de Lauro,
quando ele era diretor do Campus Ministro Reis Velloso e presidente da FIEPI.
Ingressei na APAL em 1994, quando ele era o seu presidente.
O Colégio N. S. das Graças está instalado em um lindo e
imponente prédio, sendo considerado um dos melhores educandários de Parnaíba. A
Igreja de Santo Antônio faz parte de seu patrimônio. É uma linda construção,
verdadeira obra de arte da arquitetura parnaibana. Nela celebrava missa o
monsenhor Antônio Sampaio, que morava perto, com suas irmãs. Poeta e
compositor, foi meu professor no referido curso de Administração de Empresas,
além de meu antecessor na APAL e na APL. Era considerado o maior orador sacro
de Parnaíba.
Os expedicionários da APL deram por encerrado o périplo
turístico e cultural. Porém, quatro acadêmicos me perguntaram se eu poderia
guiá-los numa rápida visita ao túmulo da poetisa Luíza Amélia. Assenti, com
prazer, a essa solicitação.
Túmulo da poetisa Luíza Amélia (c) Felipe Mendes |
Por uma questão de logística, o motorista resolveu parar na parte de trás do velho Cemitério da Igualdade. Ao adentrarmos, apontei para um determinado ponto e disse aos confrades que ali se encontrava o túmulo de minha irmã Josélia, falecida aos 15 anos, no apogeu de sua beleza, graça e simpatia contagiante. Nele, meu pai mandou afixar uma placa com sua fotografia de adolescente, sob a qual se liam estes imortais versos do poeta Da Costa e Silva: “Saudade! Asa de dor do pensamento!”
Ao recordar esses versos, que servem de epitáfio a minha
irmã, não posso deixar de me lembrar do belo dístico que outrora existia na
entrada do Cemitério da Igualdade, de nome tão bem-posto, da autoria do célebre
escritor parnaibano Berilo Neves: “Dos mortais aos que morreram”, que deve
servir-nos de advertência e convite à prática da humildade.
Quase no meio do cemitério, contíguo à alameda principal que
percorríamos, mostrei o túmulo de um amigo meu, de nome Alcenor França. Fiz
referência ao nosso colega Alcenor Candeira Filho e a seu pai, que ali
repousava.
A cerca de setenta metros encontrava-se o túmulo de Verônica Mendes Mélo, prima legítima de minha mãe. Certa vez, em minha já distante juventude, pervagava solitário entre os jazigos desse campo-santo, quando o encontrei, como que por obra do acaso — acaso no qual já não acredito. Natural de Piripiri, falecera em Parnaíba, no fulgor de sua beleza e juventude, vítima de um acidente com um fogareiro a álcool.
(c) Felipe Mendes |
A respeito desse túmulo, já tive ocasião de registrar:
“Na segunda metade da década de 70, talvez em 1977 ou 1978,
fiz parte de uma agremiação literária fundada, nessa época, pelo poeta e
jornalista Fonseca Mendes. Em nossas reuniões ele se referia a figuras
proeminentes da literatura parnaibana. Numa dessas vezes, enfocou a vida e a
obra da poetisa Luíza Amélia de Queiroz Brandão, dando destaque especial ao
fato de que ela pedira, num de seus poemas, para ser sepultada à sombra de uma
gameleira.
Enterrada no Cemitério da Igualdade, o seu pedido não pôde
ser atendido. Contudo, tempos depois, de forma para mim misteriosa, uma
gameleira rebentou de dentro de seu túmulo, em circunstâncias que desconheço.
Tornou-se uma magnífica árvore, de verde vivo, reverberante e de copa
exuberante. É uma encantadora gameleira, que dá sombra e beleza ao jazigo da
poetisa.”
A poucos metros do túmulo da poetisa, encontra-se o do
professor Amstein, um dos meus PoeMitos da Parnaíba, que, na verdade, é uma
réplica do túmulo de Napoleão Bonaparte, nos Invalides, em Paris. Foi
idealizado pelo professor Lima Couto, que nutria grande admiração por Amstein.
Sobre Amstein, já disse:
“Através do Dr. Lauro
Correia, diretor do Campus e meu professor no curso de Administração de
Empresas, e que foi seu aluno na segunda metade da década de 1930, tomei
conhecimento de outros fatos de sua vida, inclusive de que ele morou na Ilha
Grande de Santa Isabel, na mesma casa, por sinal, em que nascera Evandro Lins e
Silva, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Portanto, eu sabia que Amstein, engenheiro suíço, de porte
avantajado, de vastos e bastos bigode e barba ruivos, era um tipo bonachão, um
grande contador de histórias e fatos anedóticos, em que a fantasia parecia se
misturar com a verdade, em que a ficção se mesclava a fatos reais. Tive certeza
disso quando li o capítulo O professor Amstein, do livro Tomei um ita no Norte,
de Renato Castelo Branco, com quem, em minha juventude, cheguei a me
corresponder por cartas. Dessa obra memorialística extraio os seguintes
trechos:
‘... Mas ele era bom e todos gostávamos dele. Não como um
professor, a quem se respeita, mas como um colega maior e mais velho,
barulhento, inconsequente e brincalhão. // ... Suas histórias, geralmente
episódios de sua vida, eram ricas, férteis, cheias de pitoresco e de surpresas.
Sentia-se que refletiam a verdade. Mas não apenas a verdade. A parte verdadeira
as tornava plausíveis. Mas sentíamos que estávamos sendo mistificados, que
Amstein enriquecia suas aventuras, que inventava, que acrescentava fatos, acontecimentos,
detalhes imaginários. // Onde terminava a verdade e começava a fantasia?’”
Fomos ao vetusto campo-santo eu, Plínio Macedo, Felipe
Mendes, Reginaldo Miranda e Fonseca Neto. O confrade Felipe Mendes, com a
maestria de sempre, fez belas e esmeradas fotografias desse périplo em
homenagem à poetisa Luíza Amélia. Tentou fazer uma selfie, mas terminou optando
por pedir à jovem senhora Adriana Motta que fotografasse o grupo. Ela fez um
belo retrato, que, na verdade, é um verdadeiro documento.
Em seguida, retornamos ao hotel, para depois seguirmos viagem de volta a Teresina. Durante o percurso, entretive uma longa e interessante palestra com os historiadores Fonseca Neto e Reginaldo Miranda. Mas essas narrativas já seriam outra e longa história. Seriam, como se diz, “outros quinhentos”.
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(*) Participantes da APL Itinerante – acadêmicos: Fonseca
Neto, Carlos Evandro, Felipe Mendes, Fides Angélica, Valdeci Cavalcante, Elmar
Carvalho, Socorro Magalhães, Plínio Macedo, Reginaldo Miranda, Wilson Brandão e
Zózimo Tavares. Pessoal de apoio: Cremísia Sousa, Luciano Klaus, Vanize Lemos e
Vera Lúcia. Foram, também, algumas esposas dos acadêmicos.
domingo, 28 de setembro de 2025
MÚSICA VIVA
Criação: IA Copilot |
MÚSICA VIVA
Elmar Carvalho
Passarinhos cantando
saltitavam e dançavam
sobre os fios elétricos
– pássaros ou dedos sobre
cordas
de violinos, violas ou
violões –
eletrocutando corações.
Aladas notas vivas
fazendo acrobacias e
coreografias
sobre as paralelas da
pauta.
O vento que passava fazia
coro e uma música celeste
se evolava.
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
Várzea do Simão e a Igreja de N. S. Aparecida
Comitiva da APL na solenidade de entrega da imagem de São José, na residência de dona Socorro Mendes |
Bico de pena criado pela IA Gemini |
Várzea do Simão e a Igreja de N. S. Aparecida
Elmar Carvalho
Há cerca de dois meses, recebi a missão de elaborar o roteiro
da APL Itinerante referente à cidade de Parnaíba. Esse projeto foi aprovado
pela diretoria da Academia. O acadêmico Valdeci Cavalcante se prontificou a dar
todo o apoio necessário, por meio da Fecomércio, da qual é operoso presidente,
e adianto que assim o fez, integralmente.
Na mencionada reunião, o confrade e historiador Fonseca Neto
sugeriu que fosse feita uma rápida visita à comunidade Várzea do Simão,
localizada à margem direita do Parnaíba, a aproximadamente seis quilômetros a
jusante da ponte do Jandira.
Nesse povoado, está sendo erguida uma pequena igreja, sob a
invocação de Nossa Senhora Aparecida. Nessa ocasião, ele faria a entrega de uma
imagem de São José, que havia prometido a minha esposa, Fátima.
Abro aqui um parêntese para fazer um breve relato sobre essa
localidade. Fica encravada na data Várzea. Em algum ponto dela, os Balaios
atravessavam o Parnaíba e seguiam, creio eu, em direção à Barra do Longá, de
onde prosseguiam rumo a Frecheiras da Lama, cujo proprietário, Domingos Ferreira
de Veras, lhes dava apoio. Na localidade ainda vivem pessoas conhecidas como os
“Balaios”, que o historiador Vicente de Araújo Silva, o Potência, acredita serem
descendentes de participantes da Balaiada.
Um dos antigos moradores da gleba Várzea do Simão foi o avô
de Fátima, Simão Rodrigues de Souza, oriundo de Ubatuba, distrito de Granja
(CE), que lá se fixou no final do século XIX. Casou-se com Firmina Carvalho das
Neves, nascida em Cadoz, localidade próxima. Tiveram cinco filhos, entre os
quais João Rodrigues e Severiano Neves.
João Rodrigues, além de seu quinhão, adquiriu vários lotes de
outros herdeiros. Tocou a vida como agropecuarista respeitado por vizinhos e
parentes, sobretudo na época do extrativismo econômico. É o pai de Fátima, que
doou o terreno para a construção da igreja de N. S. Aparecida.
Severiano das Neves é considerado o fundador, ou um dos
fundadores, de São Félix do Araguaia, município de que foi prefeito. Foi um dos
primeiros povoadores da região, ao arregimentar e conduzir para lá vários
irmãos, parentes, amigos e conhecidos. Fecho o parêntese.
Como uma das pontes não permitiria a passagem de um ônibus
grande, pedi à presidente Fides Angelica de Castro Veloso Mendes Ommati que o
programa da viagem fosse modificado, de modo que o historiador Fonseca Neto
fizesse a entrega da imagem de São José na entrada do povoado Baixa da
Carnaúba, na casa de dona Socorro Mendes, prima de Fátima, situada à beira da
BR.
No dia 19/09/2025, conforme programado, por volta do
meio-dia, a comitiva da APL adentrou a casa de nossa anfitriã, que nos recebeu
com muitos tiros de foguete, água de coco e cajuína caseira, produzida na
localidade.
Houve breve e singela solenidade, na qual usaram da palavra,
de forma sucinta, eu, Fonseca Neto, em seu nome e em nome do padre Tony
Batista, Socorro Mendes, Fides Angélica e Valdeci Cavalcante.
Fiz uma síntese da história do povoado Várzea do Simão e
narrei a longa e difícil luta pela construção da igreja. Expliquei que a obra
vinha sendo erguida com a ajuda dos moradores da localidade e de pessoas da
vizinhança, por meio de doações, bingos, rifas e leilões. Enfatizei que, para
sua conclusão, só faltava o piso.
Em rompante de fé e generosidade, o escritor e empresário
Valdeci Cavalcante, dinâmico presidente do sistema Fecomércio no Piauí,
declarou que doaria o piso.
Assim, se Deus quiser, até o final do ano, Fátima fará a
doação da pequena e mimosa igreja de N. S. Aparecida à Diocese de Parnaíba. E a
imagem de São José será levada à Várzea do Simão; em bonita procissão,
adentrará o templo católico para sua sagração e entronização, quando será
celebrada a Santa Missa.
terça-feira, 23 de setembro de 2025
O Centenário Almanaque da Parnaíba
Componentes da mesa, da esq. para a direita: Dilma Ponte de Brito, Valdeci Cavalcante, Fides Angélica, Antônio Gallas, Suzana Silva e Elmar Carvalho |
Comitiva dos acadêmicos e acompanhantes no prédio da Federação do Comércio do Piauí, no Porto das Barcas. |
O Centenário Almanaque da Parnaíba (*)
Elmar Carvalho
1
Pedi à inteligência artificial ChatGPT que me desse a
definição ou conceituação de almanaque. Ela me respondeu o seguinte:
“Um almanaque é uma publicação periódica, geralmente anual,
de caráter informativo e recreativo, que reúne uma grande diversidade de
conteúdos, como calendários, efemérides (datas e acontecimentos importantes),
previsões astrológicas e meteorológicas, curiosidades, estatísticas,
provérbios, receitas, poesias, contos, piadas, anedotas, além de informações
úteis para a vida cotidiana.
Tradicionalmente, os almanaques tinham como função informar,
orientar e entreter, sendo muito populares em épocas em que o acesso a livros e
jornais era restrito. Misturam o aspecto prático (indicações de plantio, fases
da lua, mapas, tabelas) com o literário e cultural (textos curtos, histórias,
ilustrações, conselhos).”
Não poderia ter sido mais didática, precisa e concisa a
resposta. Durante a gestão de seu fundador, Benedicto dos Santos Lima, o
Bembém, e de Ranulpho Torres Raposo, o Almanaque da Parnaíba se enquadrava
perfeitamente nessa definição.
A etimologia da palavra almanaque vem do árabe al-manākh, que
significava “clima” ou “calendário astronômico”.
Consta que os primeiros almanaques conhecidos surgiram na
Idade Média, principalmente como tabelas astronômicas e astrológicas, com
previsões do movimento dos astros, fases da lua e eclipses.
Segundo ainda o GPT, já no século XIII, na Europa, circulavam
almanaques manuscritos usados por médicos, agricultores e navegadores,
porquanto reuniam informações práticas de grande utilidade.
2
Ao falar no Almanaque da Parnaíba, termino viajando na
memória, retornando ao tempo em que fixamos residência em Parnaíba, em 1975.
Nessa época, o escritório de representação comercial de Ranulpho Torres Raposo
se encontrava em pleno funcionamento. Tinha (ou tivera) filiais em Fortaleza,
Teresina, São Luís e Belém.
Como que vejo ressurgir o velho mestre da Escola União
Caixeiral, Joaquim Furtado de Carvalho, postado diante de uma escrivaninha a
fazer os registros contábeis dessa firma, que funcionava na Avenida Presidente
Vargas, Centro de Parnaíba. Era primo legítimo de meu pai. Falava com fluência
o inglês. Tinha certa erudição, mas, sobretudo, era um atraente conversador, um
verdadeiro causeur.
Embora celibatário, era um admirador da beleza feminina, como
se pode depreender destes versos seus, publicados no Almanaque da Parnaíba,
edição nº 50, ano 1973, no poema Banho de Mar:
“Quantas lembranças de momentos tais,
Veras saudades, as chamadas roxas,
Quisera que sonhos bons fossem reais,
No desfilar de tantas belas coxas.”
Foi através desse velho primo – professor, contador e poeta –
que consegui ver, pela primeira vez, um poema de minha autoria estampado nas
páginas do Almanaque da Parnaíba, ano 1976, edição nº 53. Tratava-se do soneto
Pedra do Sal.
Nas gestões de Benedicto dos Santos Lima e Ranulpho Torres
Raposo, o Almanaque da Parnaíba sobrevivia, sobretudo, de propagandas de
grandes firmas comerciais e industriais do Piauí, sediadas ou com filiais em
Parnaíba, Teresina, Campo Maior, Floriano, Piripiri e outras cidades.
Nessas urbes moravam os principais colaboradores do anuário.
Apenas como exemplo, cito o seguinte trecho do artigo Percurso Literário entre
Campo Maior e Parnaíba, do historiador Celson Chaves, em que ele lista os
colaboradores oriundos da Terra dos Carnaubais:
1. Joel Oliveira – 21 textos;
2. Elmar Carvalho – 16 textos (até
2020) [após essa data, o anuário publicou mais 9 textos de minha autoria,
perfazendo um total de 25];
3. Cláudio Pacheco – 11 textos;
4. Octacílio Eulálio – 10 textos;
5. Mário Araújo – 9 textos;
6. Briolanja Oliveira – 1 texto;
7. João Chrysostomo – 1 texto;
8. Bilé Carvalho – 3 textos;
9. José Miranda Filho – 4 textos.
No final de cada ano, o almanaque era esperado com ansiedade
por seus inúmeros e fiéis leitores. Teve importantes ilustradores, entre os
quais J. Adonias, Bibi Freire (Benedito de Morais Freire) e Nestablo Ramos.
Nesse longo período, foram seus colaboradores, entre mais de
uma centena, figuras exponenciais da literatura piauiense, como Berilo Neves,
Martins Napoleão, Félix Aires, Higino Cunha, Jonas Fontenele da Silva, Nogueira
Tapety, Renato Castelo Branco, Possidônio Queiroz, A. Tito Filho, H. Dobal,
Fontes Ibiapina e R. Petit (Raimundo de Araújo Chagas) – este, a partir de seu
número inaugural, o poeta mais emblemático do anuário. Recentemente, o escritor
e advogado Filadelfo Barreto, seu neto, lhe elaborou uma primorosa obra
biográfica e crítica; de leitura agradável e atraente, é quase um romance.
Aconselhado pelo prefeito de então, que também era médico, o
poeta R. Petit foi orientado a deixar Parnaíba, em virtude de haver contraído
lepra — ou hanseníase, como se diz atualmente. Caso contrário, seria internado
compulsoriamente, o que, na época, equivaleria a uma espécie de prisão
perpétua. Acredita-se que o vate, esgueirando-se pelas sombras e frestas de
certa madrugada melancólica e fria de 1944, deixou a sua mui amada Parnaíba
para nunca mais retornar.
3
Segundo consta no colofão do Almanaque da Parnaíba, ano 2023,
edição nº 75, seus editores foram: Benedicto dos Santos Lima (fundador), que
editou 18 números (1924-1941); Ranulpho Torres Raposo, 40 edições (1942-1981);
e Manuel Domingos Neto, 2 edições (1982-1985).
Através da Academia Parnaibana de Letras (APAL), o Almanaque
da Parnaíba voltou a ser publicado a partir de 1994, como sua revista e,
portanto, com algumas modificações em sua linha editorial. O presidente Lauro
Andrade Correia publicou 6 números; Iweltman Mendes, 1; Pádua Santos, 3; e José
Luiz de Carvalho, 6 edições. Em consequência, a APAL editou 16 números.
Como visto, a partir de 1994, edição nº 61, o Almanaque da
Parnaíba, na qualidade de revista da APAL, passou a ser editado por essa
entidade literária. O número anterior datava de 1985, quando o periódico
completara 62 anos de existência.
Passou a ser financiado quase exclusivamente por entidades
estatais e paraestatais. Teve a ajuda inicial da Universidade Federal do Piauí
e da Prefeitura Municipal de Parnaíba. A partir do nº 70, ano 2017, vem sendo
editado graças ao patrocínio do Sistema Fecomércio/Piauí, sob a presidência do
empresário e escritor Valdeci Cavalcante, membro da Academia Piauiense de
Letras e da APAL.
Com exceção das charadas, efemérides, calendários, quadros
estatísticos e propagandas comerciais, a nova linha editorial manteve, em
essência, o projeto anterior. Continuou a publicar textos literários, tais como
poemas, contos, crônicas, ensaios e artigos, além de matérias de caráter
historiográfico ou sobre cultura e arte, inclusive ensaios fotográficos sobre a
cidade.
Muitos desses trabalhos são de alta qualidade e, diria,
imprescindíveis para quem queira analisar a produção literária parnaibana de
1994 até hoje. Vários colaboradores dessa época já haviam escrito em números
anteriores do Almanaque. Cabe ainda salientar que, nos primeiros números
editados pela APAL, ainda foram publicados dados estatísticos.
Contudo, sendo essa publicação voltada preferencialmente para
a produção dos membros da APAL, esse viés, por não ter interesse literário, não
foi mantido por muito tempo. Quanto às charadas, nos dias apressados e
cibernéticos de hoje, já praticamente não há quem as faça, tampouco quem as
leia; não vai nisso nenhuma crítica, mas simples constatação.
Entre os colaboradores desse notável periódico piauiense, ao
longo dessas três últimas décadas, além dos acadêmicos, podemos citar: Paulo
Nunes, Renato Castelo Branco, Benjamim Santos, José Camilo da Silveira Filho,
Orfila Lima dos Santos, Vítor Athayde Couto, João Evangelista Mendes da Rocha,
João Maria Madeira Basto, Marc Jacob, Jorge Carvalho, Norma Couto, Sólima
Genuína dos Santos, Flamarion Mesquita, Cláudio de Albuquerque Bastos, James
Kelso Clark Nunes, Antero Cardoso Filho, Magalhães da Costa etc. Tive a honra e
a satisfação de publicar textos em todos os 16 números editados pela APAL
(1994-2024).
A edição nº 67, de 2004, comemorativa dos 80 anos do
Almanaque, trazia em sua capa imagens de edições antigas e estampou propagandas
históricas e curiosas de velhas publicações.
Durante várias edições, graças ao esforço de Alcenor Candeira
Filho, a revista publicou as seções Parnárias, Poesia Parnaibana – Poetas
Falecidos e Poesia Parnaibana – Poetas Vivos. Publicou ainda Memória
Fotográfica, sobre o patrimônio arquitetônico da velha urbe.
Na gestão de José Luiz de Carvalho, fizeram parte da
organização do Almanaque os acadêmicos Antonio Gallas Pimentel, Claucio
Ciarlini, Diego Mendes Sousa, José Wilton de Magalhães Porto e Maria Dilma
Ponte de Brito.
Em várias edições, o anuário homenageou importantes
efemérides e ilustres personalidades parnaibanas, em diferentes ramos da
atividade humana, sobretudo da literatura.
A capa da edição de 2023 (nº 75), por sinal muito esmerada,
com efeitos visuais modernos, utiliza em sua montagem a capa da edição
inaugural do Almanaque da Parnaíba. Esse número comemora o centenário do
Almanaque, ainda em plena circulação, e os 40 anos da Academia Parnaibana de
Letras, sua editora há três décadas.
Todavia, alguns puristas e críticos consideram que o
Almanaque da Parnaíba, enquanto efetivamente almanaque, tal como definido pelo
ChatGPT, teve seu último número em 1985. Nesse caso, teria circulado apenas
durante 62 anos, e dele só teriam sido publicadas 60 edições. Por isso o
escritor e poeta Claucio Ciarlini, em seu pronunciamento Em defesa do Almanaque
da Parnaíba, lançou esta oportuna e instigante pergunta:
“Como alguém pode ignorar todo esse rico trabalho
desenvolvido ao longo de três décadas?”
A referida inteligência artificial entende que “com a
internet e o acesso instantâneo à informação, o almanaque impresso perdeu
espaço”. É o que também acho. Essas informações não estão mais na ponta de
nossa língua, mas nas pontas de nossos dedos, bastando que se tenha um
computador ou celular à disposição. Aliás, muitas vezes sequer precisamos
digitar: basta usar nossa voz para fazermos consultas que outrora se
encontravam nos almanaques.
Em consequência, houve necessidade de que o velho Almanaque
se reinventasse como revista da Academia Parnaibana de Letras.
De minha parte, prefiro entender que o Almanaque da Parnaíba
continua circulando (há mais de 100 anos) e que dele já foram publicadas 76
edições. E sei que muitas outras ainda virão.
Prefiro crer que o Almanaque da Parnaíba, ainda vivo, ainda
em plena atividade, continua a prestar relevantes serviços à cultura, às artes,
à memória e à literatura parnaibana.
(*) Discurso pronunciado por José Elmar de Mélo Carvalho no
dia 19/09/2025, no auditório do SESC/Avenida, em Parnaíba, durante a solenidade
do Projeto APL Itinerante, com participação do Sistema Fecomércio e da Academia
Parnaibana de Letras.