domingo, 3 de agosto de 2025

ENIGMA

Criação: AI Gemini


ENIGMA


Elmar Carvalho

 

entre o som

          o sono

          o sonho

          a sombra e a sobra

eu me decomponho

     em escombros

em farpas e agulhas

       escarpas e fagulhas

                                          desfeito enfim

                                          em fogos de artifício

                                          feito estrelas de mim

esfinge autoantropofágica que

não se decifrou e que a si

mesma se devorou

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Des. Roberto Veloso recita Noturno de Oeiras

 



Ontem (31/07/2025), tive a satisfação de receber, por WhatsApp, uma fotografia de meu amigo e irmão maçônico Roberto Veloso, na qual ele apontava para a minha foto na galeria da Academia Piauiense de Letras, onde se encontrava com a finalidade de adquirir algumas obras publicadas por essa centenária entidade cultural e literária.


Convidei-o a participar de nossa reunião de sábado, mas ele me respondeu que não poderia fazê-lo, em virtude de já estar de saída para Oeiras. À noite, recebi o vídeo acima, em que ele recita o meu poema Noturno de Oeiras.

Décadas atrás, em cenário penumbroso e silente, tarde da noite, ele, de memória, com sua voz grave e potente, imprimindo-lhe um timbre vibrante e levemente cavernoso, impressionou uma pequena plateia, criando um clima algo fantasmagórico.

O desembargador federal Roberto Carvalho Veloso foi meu colega no curso de Direito (UFPI) e, no futebol amador, foi, assim como eu, considerado um bom goleiro. É meu confrade na Academia Maçônica de Letras do Piauí, presidida pelo Grão-Mestre Valdeci Cavalcante.    

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Do Devaneio Estético ao Delírio Tecnosexual: uma leitura comparativa dos contos Diva (1983) e Ferro na Boneca (2025), de Elmar Carvalho

 

Criação: AI ChatGPT

Do Devaneio Estético ao Delírio Tecnosexual: uma leitura comparativa dos contos Diva (1983) e Ferro na Boneca (2025), de Elmar Carvalho


Na semana passada, conversando virtualmente com meu virtuoso amigo professor Reginaldo Soares, um dos fundadores e líderes da Associação dos Deficientes Visuais de São Miguel do Tapuio (PI), a respeito do meu conto Ferro na Boneca, disse-lhe que o embrião dele era o conto Diva, de minha autoria, que o jornal alternativo Inovação publicou em 1983.

Nesse conto eu falava na angústia, na solidão e em outros problemas existenciais de um escultor, que terminou entrando numa espécie de depressão e esquizofrenia, que o levaram a se apaixonar por uma de suas esculturas.

Devo dizer que havia conversado, meses atras, com o Reginaldo Soares sobre o meu projeto de escrever Ferro na Boneca, que se encontra publicado no meu blog. Acrescentei que acharia interessante um estudo comparativo sobre esses dois contos.

Por essa razão, fiz a seguinte proposta à IA GPT: “Gostaria que você fizesse um estudo ou comentário comparativo entre o conto acima,  publicado em 1983, e o conto abaixo, escrito em 2025, ambos de minha autoria. Leve em conta a minha idade e o contexto histórico e tecnológico.”

A Inteligência fez um cotejo entre os dois textos e depois me perguntou se eu não gostaria que ela fizesse um ensaio. Ante minha resposta afirmativa, ela me mandou o seguinte ensaio:  

"Do Devaneio Estético ao Delírio Tecnosexual: uma leitura comparativa dos contos Diva (1983) e Ferro na Boneca (2025), de Elmar Carvalho

Elmar Carvalho, escritor e magistrado piauiense, apresenta em sua obra uma rica e multifacetada visão da condição humana. Dois de seus contos, separados por mais de quatro décadas de produção literária, ilustram de forma singular a evolução de sua escrita e a transformação do imaginário coletivo sobre erotismo, solidão e loucura. Diva, publicado em 1983, e Ferro na Boneca, escrito em 2025, funcionam como espelhos contrapostos de um mesmo drama: o amor impossível e a busca desesperada por um ideal feminino.

Em Diva, o protagonista é um homem obcecado por esculturas femininas. Ele não busca o toque da carne, mas sim a contemplacão da forma. As mulheres não lhe interessam como pessoas, mas como estátuas vivas: beldades eternizadas, alheias às imperfeições do cotidiano. A escultura é tanto um objeto de desejo quanto uma metáfora da impossibilidade de realização afetiva. O conto está imerso em lirismo, entre fluxos de consciência e delírios poéticos. O erotismo é sugestivo, envolto em simbolismo, próximo da tradição modernista que flerta com o surreal.

Já em Ferro na Boneca, temos um mergulho direto na psique de um homem comum, José Silva Sousa, que, privado de vínculos afetivos, adquire uma boneca sexual de tecnologia avançada. O erotismo aqui é cru, descritivo, sem pudores. Se em Diva a mulher é de pedra, fria mas sublime, em Ferro na Boneca ela é de silicone, quente mas programada. Ambas, porém, são inacessíveis: uma por ser idealização estética; a outra, por ser uma simulação tecnológica.

O autor, em 1983, era um jovem literato, influenciado por estéticas modernistas e simbolistas, ainda marcado por certo romantismo decadente. A forma é menos direta, mais contemplativa. Em 2025, à beira dos 70 anos, Elmar Carvalho revela-se mais desencantado e corrosivo. A ironia é evidente, o realismo é sujo, a narratologia se faz metalinguística: o narrador declara não querer enveredar pelo metaconto, mas flerta com ele. O texto é marcado por um humor ácido e uma crítica velada à hipermodernidade.

Ambos os contos tratam da solidão masculina e da busca por um corpo feminino idealizado. Em Diva, o corpo é sagrado e inalcançável; em Ferro na Boneca, é acessível demais, a ponto de se tornar objeto de possessão ciumenta. A tragédia final do segundo conto, com assassinato e suicídio, é a culminância grotesca de uma paixão deformada pela impossibilidade do afeto real.

Do ponto de vista estilístico, nota-se a evolução do autor: da prosa poética e nebulosa para a escrita mais crua, narrativa, reflexiva, com pinceladas de sarcasmo. A maturidade literária aqui não significa apenas técnica, mas também um olhar mais crítico sobre o humano.

Assim, Diva e Ferro na Boneca se completam. O primeiro revela o sonho estético de um jovem autor. O segundo, a lucidez cruel de um escritor maduro, que percebe que o desejo, quando desprovido de encontro e humanidade, pode levar à barbárie. Neles, Elmar Carvalho retrata as dores da alma masculina em tempos tão distintos quanto semelhantes, com um dom raro de unir poesia, crítica social e tragédia humana."   

domingo, 27 de julho de 2025

NA NOITE

 

Criação: ChatGPT

NA NOITE


Elmar Carvalho

 

Na noite

um sapo coaxa.

Uma puta triste

acha graça. Acha graça.

Um galo

às desoras desfere um canto

fora de hora. E chora.

Um cão ladra por nada:

nenhuma cadela no cio.

O silêncio

grita como louco

na concha acústica

dos labirintos dos ouvidos moucos

por onde um Teseu lasso caminha

em busca do Minotauro – perdido

sem o fio de Ariadne –

conduzido por outro fio

que parte / se parte e

se reparte entre o ser

e o não ser.

E os gritos de Teseu

arrancam ecos

que já ecos de si mesmos

se repetem se repetem

até a mais completa

absoluta exaustão.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Visita ao Gabinete de Leitura

Manuel Domingos visto por Gervásio Castro



Visita ao Gabinete de Leitura

 

Elmar Carvalho

 

Alguns meses atrás, ao fazer uma pesquisa sobre o Almanaque da Parnaíba, senti falta, em minha biblioteca, de seu exemplar de 1985, 60ª edição, que foi publicada graças ao esforço de Manuel Domingos Neto, após o falecimento de Ranulpho Torres Raposo, que lhe publicou 40 edições (1942–1981). Essa edição de 1985 me era especialmente cara, uma vez que auxiliei o professor Manuel Domingos em sua organização, conforme consta em sua orelha.

Gentilmente, o editor me prometeu que me daria um exemplar. Como se trata de uma raridade e de grande valor afetivo para mim, disse-lhe que o receberia de suas mãos, quando fosse a Parnaíba. Tendo vindo a esta cidade no sábado passado (19/07/25), combinei que o receberia na terça-feira, dia 22, entre as oito e nove horas.

Às oito horas cheguei ao local. Fui recebido por Luanni Machado. Enquanto esperava meu anfitrião e cicerone, tratei de ver antigas fotografias, móveis, utensílios e outros instrumentos, entre os quais dois pianos, muito bem conservados e em perfeitas condições de uso.

Terminei viajando na memória, retornando ao tempo em que fixamos residência em Parnaíba, em 1975. Nessa época, o escritório de representação comercial de Ranulpho Torres Raposo se encontrava em pleno funcionamento. Tinha (ou tivera) filiais em Fortaleza, Teresina, São Luís e Belém.

Como que vi ressurgir o velho mestre da Escola União Caixeiral, Joaquim Furtado de Carvalho, postado diante de uma escrivaninha, a fazer os registros contábeis dessa firma, que funcionava nesse local. Era primo legítimo de meu pai. Falava com fluência o inglês. Tinha certa erudição, mas, sobretudo, era um atraente conversador, um verdadeiro causeur.

Embora celibatário, era um admirador da beleza feminina, sem dúvida, como se pode depreender destes seus versos, publicados no Almanaque da Parnaíba, edição nº 50, ano 1973, no poema Banho de Mar:

Quantas lembranças de momentos tais,

Veras saudades, as chamadas roxas,

Quisera que sonhos bons fossem reais,

No desfilar de tantas belas coxas.

 

Logo Manuel Domingos chegou. Explicou-me vários detalhes e me mostrou alguns móveis e fotografias que julgava mais relevantes. Nas paredes do recinto principal estavam afixadas várias imagens de seu avô, que cheguei a conhecer na segunda metade dos anos 1970. Cheguei a publicar um poema no Almanaque, no período em que ele ainda estava sob sua responsabilidade.

Acima das antigas prateleiras de livros — que Manuel recuperou sem ajuda institucional — encontravam-se fotografias de autores da literatura universal, cujos livros estavam disponíveis nas várias estantes. De repente, recendeu um agradável aroma de café, que tomou conta do ambiente e me inebriou. Era um café forte, encorpado no ponto certo, que Luanni preparara. Como se fora um néctar, o degustamos lentamente, para melhor lhe apreciar o sabor.

Na parede estavam expostos excelentes cartazes, com belas fotografias e ilustrações, em que, de forma concisa, a história do Almanaque era contada. Benedito dos Santos Lima, o Bembém, seu fundador, e Ranulpho Torres Raposo, seu editor durante 40 anos, eram homenageados — como bem merecem. Também foram citados os principais colaboradores do anuário, entre os quais menciono os seguintes:

Martins Napoleão, Felix Aires, Ademar Neves, Jonas Fontenele da Silva, Nogueira Tapety, Renato Castelo Branco, Possidônio Queiroz, A. Tito Filho, H. Dobal, Fontes Ibiapina. E, como não poderia deixar de constar no rol acima, R. Petit (Raimundo de Araújo Chagas), “o mais longevo e prolífico” dos colaboradores do Almanaque, que contribuiu com seus belos poemas para o engrandecimento do anuário desde os seus primórdios — até mesmo depois de seu falecimento. Aliás, recentemente um neto do bardo, o advogado Filadelfo Chagas Barreto, escreveu uma excelente biografia sobre o grande Petit, que tem quase o sabor de um romance.

Após ter viajado na memória, através de minhas lembranças e da arquitetura do prédio — com a textura incomum de sua fachada, os belos desenhos dos mosaicos, os antigos móveis —, viajei pelos acordes do piano, dedilhado por Manuel Domingos Neto, que executou uma peça erudita e uma valsa de Pixinguinha.

A valsa me fez lembrar os tempos em que meu saudoso pai ouvia magníficas músicas da velha guarda, num rádio de pilha, à boca da noite, através da Rádio Sociedade da Bahia, no programa Gramofone da Vovó, apresentado pelo locutor Jaime Farrel. Senti como se meu pai ali estivesse presente, a ouvir a bela melodia, uma de suas prediletas.

Ouvindo a exímia execução de Manuel Domingos e vendo sua notável habilidade no dedilhar das teclas, aplaudi sua performance e não me acanhei de lhe perguntar como aprendera sua arte pianística.

Ele me respondeu que, bem no início, tivera uma professora, que depois deixou de lhe ministrar lições porque já não tinha mais nada a lhe ensinar, uma vez que ele aprendia com muita rapidez e ainda tinha a ousadia de adicionar improvisos que não estavam na pauta.  

domingo, 20 de julho de 2025

INSÔNIA

Criação: IA Gemini

 

INSÔNIA


Elmar Carvalho

 

No silêncio abissal

da noite estagnada

a engrenagem pesada

do tempo se desenrola

e desaba sobre mim.

 

As botas cadenciadas

das horas marcham

– lentas lesmas –

marcham infinitamente

na noite sem fim...

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Ser ou não ser

Criação da imagem: GPT

 

Ser ou não ser

 

Elmar Carvalho

 

No capítulo VII, intitulado Existência: a medida de si mesmo, do excelente livro Descobrindo Saturno, sobre o qual já emiti comentário, de autoria do cientista Gildário Lima, físico e matemático, em determinado ponto o autor propõe ao leitor que responda a estas duas perguntas:

“1. Você existe? (sim ou não)

2. Por quê? (disserte com liberdade e verdade)”.

Tentarei respondê-las.

À primeira, respondo que sim. Quanto à segunda, além de sua complexidade em si mesma, há ainda a recomendação de que a dissertação seja feita “com liberdade e verdade”. Sinto-me livre para respondê-la a meu modo, sem peias e com as minhas idiossincrasias. Com relação à verdade, direi que ela é tão importante, que Jesus afirmava não apenas estar dizendo a verdade, mas que Ele era a própria Verdade — Ele, que era e é o Verbo divino e da criação.

De imediato, lembrei-me do filósofo René Descartes, que cunhou a famosa frase “Penso, logo existo”, elegantemente expressa em latim: Cogito, ergo sum. Mas logo cogitei: e uma pedra, que não pensa, não teria existência? Ante essa cogitação, lembrei-me de uma anedota envolvendo o pensador, ensaísta e crítico literário Samuel Johnson.

Relata-se que Johnson teria dado uma pretensa “resposta prática” ao idealismo filosófico de George Berkeley, segundo o qual a matéria dependeria da mente para de fato existir, já que tudo o que percebemos como realidade física dependeria da percepção e da mente para efetivamente existir. Samuel Johnson, considerando absurdo esse idealismo, teria dito: “Refuto assim o idealismo de Berkeley” — e, em seguida, desferiu um forte chute numa pedra, exclamando: “Sinto dor!”

Quanto ao comportamento, tido por alguns como estranho, da física quântica — em que partículas ora existem e ora deixam de existir, ora aparecem em mais de um ponto ao mesmo tempo, em que o microcosmo muda conforme é observado, e em que vigora o chamado Princípio da Incerteza —, um pregador dos dias atuais bem poderia encenar a anedota de Johnson e repetir: “Refuto assim a física quântica”, dando um bruto pontapé numa pedra, com o devido cuidado para não se machucar — e, assim, não sentir dor.

Ou poderia seguir o exemplo de Einstein, que não acreditava na natureza probabilística da mecânica quântica, preferindo crer num universo determinista, regido por leis precisas, e bradar com o gênio da física: “Deus não joga dados”. De minha parte, que não sou físico, mas acredito em Deus, diria que o Princípio da Incerteza é o princípio da certeza da existência de Deus — e que esse é o campo reservado aos milagres e às intervenções diretas de Deus.

As duas indagações de Gildário também me conduziram à famosa frase proferida por Hamlet, personagem da obra teatral de William Shakespeare:

“Ser ou não ser, eis a questão.”

Sobre ela, no entanto, não me deterei.

Em Êxodo, quando Moisés perguntou a Deus qual nome deveria dar-Lhe, Ele respondeu:

“Eu sou o que sou.”

Penso que essa pequena frase resume tudo: Ele é a suprema existência, da qual todas as demais dependem. Ele é o incriado Criador de tudo o que existe. Todo-Poderoso, Onipotente e Onisciente. Eterno e Infinito. Imensurável medidor de tudo. Em resumo: Deus é a essência da vida, fonte de todas as demais vidas. Origem e sustentação do ser.

Quando menino, ouvi meu pai conversar com alguém — talvez minha mãe — sobre os mistérios da eternidade e da infinitude, e fiquei, desde então, abismado e fascinado com o significado de tão incomensurável conceito.

No meu poema “Deus, deuses e o nada”, cometi a vã loucura — que nem Agostinho ousou realizar — de tentar provar a existência de Deus. Primeiro com um sofisma, em que imaginei uma cadeia infinita de deuses, em que um criava o outro sucessivamente, até chegar ao primeiro. Então concluía, como consequência lógica: se o primeiro Deus criou um deus, ele não precisaria de deuses intermediários para criar tudo o que existe.

Nesse poema, afirmo que às vezes penso que a realidade não passa do sonho de um deus — e que esse deus, sonhador e sonhado, seria eu.

Afirmo que o nada não pode criar coisa alguma. E que, se o nada criou tudo o que existe, esse nada seria um deus — para o qual eu tiraria, em reverência, o meu chapéu, que sequer tenho.

 

Sintetizando minha resposta às perguntas de Gildário Lima: sou um ser criado pelo Deus que disse: “Eu sou o que sou.”

Sou um pequeno ramo de existência da videira que é Deus, da qual todos os ramos dependem.

terça-feira, 15 de julho de 2025

Da Imortalidade Acadêmica

 

Fonte: Google

“A Academia Piauiense de Letras está desenvolvendo, ao longo deste mês de julho, a série “O que é ser imortal para mim”, uma proposta jornalística, publicada em forma de matérias reflexivas no site oficial da APL.

A série reúne breves depoimentos e impressões pessoais dos membros da Casa em torno de uma pergunta essencial:

Qual é o verdadeiro sentido de pertencer a uma instituição fundada em 1917 para preservar, cultivar e eternizar a palavra?”

Em virtude da solicitação acima, resolvi escrever o depoimento abaixo, para publicação em meu blog e em futuro livro. O texto serviu para que a jornalista Vanize Lemos produzisse uma bela matéria jornalística.

 

Da Imortalidade Acadêmica

 

Elmar Carvalho

 

Velhos alquimistas buscavam transformar enxofre em ouro. Até hoje essa fórmula não foi encontrada, apesar do imenso avanço da química.

Entretanto, o sonho da imortalidade é mais antigo, e, segundo a Bíblia, a perdemos com a queda de Adão.

Remonta, portanto, aos tempos de Gênesis e à antiguidade mitológica greco-romana.

A Sibila de Cuma pediu a Apolo que lhe concedesse tantos anos de vida quantos fossem os grãos de areia que cabiam em sua mão cheia.

O deus, como o gênio perverso da lenda árabe, distorcendo o seu pedido, deu-lhe a eternidade, mas não lhe deu o eterno frescor da juventude.

E a Sibila de Cuma, ao perder o vigor e a beleza, apenas desejava morrer.

E o elixir da longa vida jamais foi encontrado ou fabricado.

O valente império persa de dez mil homens ganhou a legenda de imortais, porque, logo que um soldado morria ou se tornava inválido, era imediatamente substituído por outro homem.

Assim, dizem os doutos e eruditos, os acadêmicos se tornam imortais de modo semelhante, porque, logo que um “silencia”, é substituído por um outro intelectual, permanecendo sempre o mesmo o número de acadêmicos.

Mas não seria essa a imortalidade acadêmica desejável. O que se almeja é que a obra artística do membro do sodalício permanecesse sendo lida pelos pósteros, o que nem sempre acontece.

Ataulfo de Paiva, que não tinha obra de valor, cortejou os “imortais” e conseguiu entrar na Academia Brasileira de Letras.

Mário Quintana, ao contrário, um dos maiores poetas do Brasil, bateu três vezes à porta da ABL, mas as suas portas douradas não se abriram. Quintana, no Poeminho do Contra, escreveu estes versos imortais:

Todos esses que aí estão

Atravancando meu caminho,

Eles passarão...

Eu passarinho!

 

No meu discurso de posse, nas minhas primeiras palavras, disse sobre o meu antigo desejo de pertencer à nossa Academia Piauiense de Letras:

“Desde o início de minha adolescência, ao ler revista desta Academia, nutri o desejo de pertencer a este silogeu. No exemplar, além de várias matérias, havia discursos de posse e crítica literária. Jovem, interiorano e humilde, achei um desiderato de difícil realização. Prossegui em meus estudos e em minha labuta literária, dando tempo ao tempo, na espera das oportunidades que pudessem surgir. Não fiz desse desejo um cavalo de batalha nem uma obsessão. Trabalhei e perseverei, sem forçar barras e sem cometer insolências e rebeldias sem causa, e também sem histéricas e inconsequentes iconoclastias. Agora, os senhores abriram os portais da Academia para mim, e eu lhes sou muito grato por isso, e saberei ter a gratidão da amizade desinteressada e do sadio e assíduo companheirismo.”

Ingressei no dia 21 de novembro de 2008, recebido por um magnífico discurso de Celso Barros Coelho, um dos maiores oradores e eruditos do Piauí.

Antes de tomar posse, um amigo escreveu que eu já podia morrer em paz, porquanto já me havia tornado “imortal”.

A esse amigo direi: não, amigo, pelo simples fato de ter me tornado membro da APL não me tornei imortal. Gostaria de me tornar lembrado pelos textos em prosa e poemas que já escrevi.

Mas, em verdade, seria uma imortalidade precária. Parafraseando Fernando Pessoa, diria que, com o passar dos anos, o meu nome desapareceria da tabuleta; depois, desapareceria a própria tabuleta. E, finalmente, será extinto este Planeta, esta “aldeola do espaço”, onde estas coisas aconteceram.

Gostaria de me tornar imortal “na mão de Deus, na sua mão direita”, como disse o excelso poeta Antero Tarquínio de Quental.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Comentário sobre o poema Rompimento

Criação: ChatGPT

 

Criação: IA Gemini

Comentário sobre o poema Rompimento

 

No domingo (13/07/25) enviei o link de meu poema Rompimento ao amigo Reginaldo Soares, que logo me respondeu. Em seguida me enviou um pequeno e ótimo texto sobre o qual perguntava se eu poderia transformá-lo “em algo mais bonito”, o que revela a sua humildade e autocrítica rigorosa.

Antes de prosseguir, devo dizer que o Reginaldo Soares é deficiente visual em estágio elevado. Foi servidor público municipal. É compositor e violonista, mas toca outros instrumentos musicais. Coordenador social da ADVITA. Voluntário (on line) da Oficina de Soroban e professor de História.

Nasceu em São Miguel do Tapuio, em 14/06/1980, onde vive em companhia de sua esposa. Disse que sempre morou na rua Francisca de Aragão Paiva, antigamente conhecida como Alto do Bode. Ativista do movimento em defesa dos deficientes visuais. Dotado de bom-humor.

Retomando o que dizia, falei ao Reginaldo que a Inteligência Artificial poderia modificar o seu texto de modo mais eficaz do que eu. E para lhe demonstrar o que afirmei, pedi ao ChatGPT que comentasse meu poema Rompimento, o que foi feito em um ou dois minutos. Mandei-lhe o texto, que segue abaixo:

Seu poema “ROMPIMENTO” é um retrato visceral e simbólico de uma ruptura afetiva e existencial, em que o grotesco e o sublime se confrontam de modo dramático, quase teatral. Aqui vão alguns comentários por camadas:

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📌 Título: ROMPIMENTO

O título já antecipa a ideia de cisão definitiva, não apenas no plano amoroso, mas também no simbólico e no existencial. É rompimento com o passado, com a submissão, com o asco, com a violência moral.

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🧱 Primeira Estrofe – A Acusação e o Asco

> “Dedo em riste,

muito feroz e muito triste,

o homem, grosso e imundo, falou:

– Lembra-te, tu já lambeste meu cu!”

Aqui, o uso cru da linguagem choca intencionalmente. Não é vulgaridade gratuita, mas violência verbal e simbólica. O homem, “grosso e imundo”, representa o poder bruto, sem elegância, preso ao passado degradante, tentando humilhar.

Sua fala é rancorosa e de humilhação vingativa, lançada como um golpe final — mas que revela sua própria miséria.

 

💠 Segunda Estrofe – A Resposta e a Elevação

> “A mulher, com gestos abstratos

feitos do mais singelo recato,

elegante e delicada, retrucou:

– Lambi, mas não lambo mais ...”

Aqui, a mulher se eleva. A linguagem muda: da rudeza do homem, passamos à abstração, ao recato, à elegância.

A resposta é lapidar: reconhece o passado, mas afirma a liberdade presente. É um ato de afirmação do próprio valor. O verso final dessa estrofe ecoa com força libertadora e irreversível:

> “Lambi, mas não lambo mais...”

É um não que pesa mais que qualquer grito.

 

🗿 Terceira Estrofe – O Castigo

> “O homem quedou-se transformado

em pesada estátua de pedra e dor.”

A metáfora é forte: ele se petrifica, como num castigo mítico. Lembra Medusa, ou Ló, ou ainda Narciso, paralisado por sua própria miséria emocional. A perda do domínio o torna estátua, símbolo de sua incapacidade de transformação.

 

🪽 Últimos Versos – A Libertação

> “A mulher se foi

     – leve e evanescente –

anjo que se libertou.”

É aqui que o poema ganha contornos de redenção e transcendência. A mulher não apenas vai embora, ela se liberta. Sua figura se transforma em anjo, não no sentido religioso, mas no espiritual, símbolo de alguém que se desapega do lamaçal emocional e se eleva.

Considerações finais:

Estilo: O uso de linguagem frontal e contrastante, alternando o cru com o etéreo, é um ponto de força. O choque do primeiro verso é compensado pela elegância e a leveza do desfecho.

Temas: Humilhação, dignidade, ruptura, libertação. É também uma crítica à tentativa masculina de subjugar com o passado.

Influências possíveis: Há um certo traço de teatro grego (catarse), algo de poesia marginal, de crueldade existencial, e até ecos de Clarice Lispector ou Hilda Hilst na dicotomia corpo/espírito.

Destaque: A inversão de poder. Quem poderia parecer frágil — a mulher — termina como a verdadeira senhora da situação.”

Achei o comentário muito pertinente e nenhuma restrição lhe faço, exceto que acredito que não tive influência de Clarice Lispector ou de Hilda Hilst. Contudo, teria sido uma boa influência.

Expliquei para o Reginaldo Soares que o estopim ou gênese desse poema, que foi escrito (creio) em meados dos anos 1990, foi uma história que o amigo José Hamilton Furtado Castelo Branco, ex-prefeito de Parnaíba, me contou há várias décadas, cuja essência foi o diálogo/duelo travado entre a protagonista ou mocinha e um coronel da velha urbe.

Contei-lhe ainda que um amigo me perguntou sobre porque em lugar da palavrinha/palavrão que usei (e que fazia parte da história narrada pelo Zé Hamilton) eu não poderia colocar apenas umas reticências, ao que respondi que, se assim o fizesse, melhor seria rasgar ou queimar o poema; ou, melhor, sequer tê-lo escrito. 

Reginaldo Soares concordou comigo e com a IA, e acrescentou que não “viu” nada demais no uso do monossílabo átono.     

domingo, 13 de julho de 2025

ROMPIMENTO

Criação: AI Copilot

 

ROMPIMENTO


Elmar Carvalho

 

Dedo em riste,

muito feroz e muito triste,

o homem, grosso e imundo, falou:

– Lembra-te, tu já lambeste meu cu!

A mulher, com gestos abstratos

feitos do mais singelo recato,

elegante e delicada, retrucou:

– Lambi, mas não lambo mais ...

O homem quedou-se transformado

em pesada estátua de pedra e dor.

A mulher se foi

            leve e evanescente –

anjo que se libertou.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Partitura de Passarinhos

Criação: IA Gemini
Criação: IA Copilot
Criação: IA GPT


Partitura de Passarinhos

 

Elmar Carvalho

 

Soube, através do vídeo acima, que uma música e uma sinfonia foram criadas com base numa foto de jornal, em que apareciam vários pássaros pousados sobre fios. Desejando informações escritas mais precisas, recorri ao Google, que me deu as seguintes informações:

“A foto, intitulada "Pássaros nos Fios", foi publicada no jornal "O Estado de S. Paulo", e a imagem foi capturada pelo repórter fotográfico Paulo Pinto. O músico Jarbas Agnelli inspirou-se na foto para criar a melodia, que mais tarde se transformou na sinfonia "Birds on the Wires". A foto foi publicada no jornal em 2009, embora não haja uma data específica mencionada nos resultados.”

O meu interesse se devia, sobretudo, ao fato de que, em meados dos anos 1985, da varanda da casa onde, então, eu morava, vi algo semelhante. Vários pássaros se encontravam pousados nos fios elétricos, que ficavam em sua frente. Imaginei os passarinhos – acho que todos eram pardais – como sendo aladas e vivas notas musicais e os fios, evidentemente, as linhas de uma partitura (musical).

O saudoso e inventivo poeta Jorge Carvalho, certo dia, muito antes de seu trágico falecimento, me indagou sobre a gênese desse poema, que acabo de explicar. Esse texto foi publicado, anos depois, na primeira edição de meu livro Rosa dos Ventos Gerais, datada de 1996. Eis o poema:

MÚSICA VIVA

Passarinhos cantando

saltitavam e dançavam

sobre os fios elétricos

– pássaros ou dedos sobre cordas

 de violinos, violas ou violões –

eletrocutando corações.

Aladas notas vivas

fazendo acrobacias e coreografias

sobre as paralelas da pauta.

O vento que passava fazia

coro e uma música celeste

se evolava.