domingo, 31 de março de 2019

CROMOS DE CAMPO MAIOR

Foto:Luselene Macedo
Fonte: Google


CROMOS DE CAMPO MAIOR

Elmar Carvalho

Fonte: 180 Graus

           I

Açude Grande
apenas no nome, mas pequeno
na paisagem ampla dos descampados.
Tuas águas cinzentas
azularam-se em minha saudade.
Tuas águas barrentas
são tingidas de azul pelo
azul do céu que se espelha
em tuas águas de chumbo.
Em ti os pobres lavam
coisas e se lavam,
apesar das placas, dos guardas
e da postura municipal.

Fonte: Google/Wikipédia
           II

Serra Grande
de Campo Maior.
De longe parece
uma dobra do céu.
Nela eu menino fui
buscar uma pedra azul.
Ledo engano, triste decepção:
minha serra era da cor da terra.
Dizem que nela vagam os
fantasmas de uns padres que em
suas entranhas enterraram ouro.
É por isso que nas noites negras em
suas encostas acendem-se fogueiras:
é meu povo pobre procurando
o (tes)ouro vigiado pelos
fantasmas dos padres.

Fonte: Google/Galeria Campo Maior

           III

A catedral de
Santo Antônio do Surubim
é bonita e imponente.
Sua torre faz
cócegas nas nuvens:
dir-se-ia uma espada de
Santo Antônio a brincar
com as nuvens e com as estrelas
ou uma escada em demanda do céu.

Fonte: Google

           IV

O rio Surubim cheio de
outros peixes e de surubim
não se parece nem com
peixe nem com cobra prateados:
no inverno é uma corrente de água viva.
É nele que as lavadeiras ganham a vida,
que os afoitos perdem a vida,
que os meninos pobres brincam de ser
apenas meninos – nem ricos, nem pobres.
Rio Surubim
onde os pe(s)cadores pe(s)cam
peixes e sereias de coxas grossas
            e sem escamas
na doçura de suas margens
na maciez de suas moitas mornas.

Fonte: Google/Portal de Cocal de Telha

           V

O Monumento aos Heróis da Batalha do Jenipapo
recorte de concreto contra a seda azul do céu
em pleno e plano tabuleiro dos grandes campos
                                                           de Campo Maior
não obstante bonito é apenas um símbolo da
coragem dos filhos da Terra dos Carnaubais
            e de outras terras
porque ela já fora indelevelmente
(de)marcada a ferro e fogo
em nossa memória e na
p’alma de leque das carnaubeiras e na
p’alma de nossa mão e de nossa alma.

Fonte: Google/Super Campo Maior

           VI

Festejo de
Santo Antônio do Surubim:
sob as estrelas do céu
sob as estrelas de lágrimas da pirotécnica
foguetes estilhaçam ruídos e silêncios
enquanto a bandinha do Antônio Músico
ataca com o (dobrado) Capitão Caçula
a fil(h)armônica do Antônio Músico
toca a valsa Coração Magoado
da autoria de seu pai
– Major Honório Bona Neto.
A bandinha do Antônio Músico
deflagra lentas valsas
                lânguidos boleros
                lépidas marchas
sob a batuta batuta
do seu filho Antônio Francisco
– maestro excepcional –
em sua cadei(a)ra de rodas.


Fonte: Google/JFNews

           VII

Na casa grande da fazenda
o brasão é uma grande
caveira de boi erado
de chifres enormes
às vezes descrevendo
curvas
como obra de arte.
O vaqueiro e o cavalo
se fundem e se confundem na desabalada
                                                                  alada
carreira quase vôo
campeando gado pelos campos
                                    de Campo Maior.
A perneira e o gibão
dependurados na parede
como se vestissem invisível corpo
são a lembrança palpável do vaqueiro
morto na desobriga.
O vaqueiro em seu terno de couro
– segunda pele áspera de seu corpo –
solta seu canto de guerra
e paz: o aboio – eeeeei! boooooi!
O eco é o aboio de
outro vaqueiro: – eeeei! boooooi!

sábado, 30 de março de 2019

Jesualdo Cavalcanti: competência e criatividade

Fonte: Meio Norte

Jesualdo Cavalcanti: competência e criatividade

* Hugo Napoleão do Rêgo Neto

      Conheci Jesualdo na campanha eleitoral municipal de 1976, no palanque de um comício em Bom Jesus ao qual se fazia presente o então governador Dirceu Mendes Arcoverde. Usava “slack” que, aliás, era o traje apreciado pelo ex-presidente Jânio Quadros. De lá para cá foram quase 43 anos de longas e frutíferas conversas.

      Vinha de anos de luta e corajosa atuação. Na política estudantil presidiu o Grêmio Lítero-Cultural Desembargador Arimatéia Tito do Liceu Piauiense, a União Piauiense dos Estudantes Secundários e o Centro de Estudos da Mocidade Idealista.

       Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Piauí e pós-graduado em Administração de Empresas e Direito Público, foi Vereador em Teresina e teve seu mandato cassado e feito prisioneiro durante o regime militar. E eu, que fui advogado de preso político nesse período, bem posso avaliar o quão sofrido terá sido o impacto. Mas não se dobrou. Adotou o lema latino: “flectiri no flectari”. “Eu me curvo, mas não me dobro”.

      Prosseguiu sua jornada. Constituiu um escritório de consultoria e planejamento e participou dos trabalhos da seccional piauiense da Ordem dos Advogados do Brasil como seu Conselheiro.

        Na década de 70, ele e eu passamos a integrar a Arena – Aliança Renovadora Nacional. Não pelo fato dos adversários estarem alojados no MDB – Movimento Democrático Brasileiro, mas em função de havermos considerado tratar-se de uma trincheira mais adequada para defendermos o retorno ao estado de direito. Postulávamos o fim dos Atos Institucionais e Complementares, a revogação da Lei de Segurança Nacional, a extinção do banimento, da prisão perpétua e da pena de morte.

         Éramos os liberais na Arena, diria eu. Posteriormente veio a ser criado, na Câmara dos Deputados, o “Grupo Renovador”. O decano era Teódulo de Albuquerque, da Bahia,Marco Maciel, Joaquim Coutinho e Ricardo Fiuza de Pernambuco, Antonio Mariz da Paraíba, Henrique Córdova de Santa Catarina, Norton Macedo do Paraná e eu do Piauí, dentre outros.

        De 1975 a 1978 foi secretário substituto de Indústria e Comércio. Quando cheguei ao governo em 1983 o convidei para titular da Secretaria de Cultura à qual foram aduzidas as funções Desportos e Turismo. A esta altura já era um combativo e eficiente deputado estadual. Exerceu igualmente as funções de presidente da Fundação Cultural. Conduziu a Secretaria com brilhantismo. Instalou espaços culturais e criou o Projeto Petrônio Portella fazendo editar obras da maiorimportância para a nossa história. Pela rede Rimo, fez “chover” hotéis pelo estado.

        No governo, eu quis construir uma nova sede para a Assembleia Legislativa do Piauí. Ele deu-me a ideia de permutar um piso inacabado de uma biblioteca estadual, às margens do Rio Poty, pelo velho prédio do Poder Legislativo que passou a abrigar a Secretaria. E lá está o imponente Palácio Petrônio Portella, com o memorial, guarnecido de fotos e condecorações doadas por D. Iracema Freitas Portella e de vasta coleção de jornais e artigos sobre sua vida. Instou-me, igualmente, a adquirir uma bela casa na Avenida Miguel Rosa para instalar a nova sede da Academia  Piauiense de Letras. Na sua Corrente – e como homenagem - instalei o governo do Piauí por três dias, em cerimônia na Praça Elizeu Cavalcante, onde existe a Igreja Matriz da Padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Lá, além do hotel, conveniamos a
Casa da Cultura e o Estádio Jesy Lemos Paraguassú.

         Encerrado o governo, Jesualdo “costurou” minha ida para a APL, sob a batuta do saudoso professor A. Tito Filho, seu presidente. A propósito, guardo e consulto até hoje volumosa edição do Dicionário de Política que me ofertou de presente.

      Quando ele estava na Câmara e eu no Senado, participamos da delegação brasileira ao fórum Liberalismo na América Latina em Assunção, no Paraguai. Compúnhamos a delegação brasileira ao lado dos professores José Eduardo Farias da USP e Leôncio Martins Rodrigues Neto, da UNICAMP. Lá, proferi palestra que teve sua profícua colaboração. Eu estava com a Lêda e ele acompanhado de sua inseparável companheira, D. Socorro que, anos depois, me deu a honra de ser exímia Reitora da UESPI no meu segundo governo. Tiveram três filhos, Marina, Juíza Federal, Juliana, médica, e Jesualdo Filho, assessor do TCU, que faleceu prematuramente, causando incomensurável dor aos seus pais.

     Depois presidiu, com firmeza e equilíbrio, a Assembleia Legislativa. Nomeado conselheiro, foi presidente do Tribunal de Contas por duas vezes, dando-lhe modernidade, dinamismo e ajustes no modo de julgar assim como edificando nova e majestosa sede.

        Jesualdo Cavalcanti também fundou o Centro de Estudos e Debates do Gurguéia (Cedag) ao qual me filiei. Visava aprofundar os estudos para a criação do novo estado. Publicou Notícia do Gurguéia, Memória dos Confins, Sertões de Bacharéis e Tempo de Contar - o que vi e sofri nos idos de 1964. E chegou triunfalmente à Academia, contando com o meu decidido apoio
.
       Impossível omitir o chamamento que teve da sua Corrente para ser prefeito, coroando a laboriosa vida pública. Trata-se, aliás, de uma das mais férteis terras do Brasil em termos culturais. Talvez em função da aguerrida disputa e da contribuição de católicos e protestantes, consubstanciados no Colégio São José e no Instituto Batista Correntino e -porque não dizer- nas correntes políticas vinculadas às fazendas dos Macacos e Betel, o que me faz recordar Chimangos e Maragatos do Rio Grande do Sul. Na campanha ele, de certo modo, diluiu as divergências. Sua gestão foi realizadora e modernizante.

       Já hospitalizado, conversamos pelo whatsapp nos dias 7, 9 e 11 de fevereiro. Mandei-lhe uma cópia da capa do disco da campanha para governador em 1982, o prefácio de um dicionário de português publicado quando fui ministro e uma nota sobre a “costura” da minha eleição para a APL constante do meu livro que está noprelo (Eu fui advogado de JK) e Jesualdo me enviou fotos de uma comissão de acadêmicos que fora colher o seu voto na última eleição com as seguintes palavras:

        -Bons tempos aqueles! Muito obrigado pelo apoio. Sempre!

        Ao que respondi:

        -Que Deus te acompanhe e agasalhe!

        Brasília, 23 de fevereiro de 2019

        * Hugo Napoleão do Rêgo Neto é ex-governador do Piauí, ex-deputado Federal, ex-senador, ex-ministro, advogado e membro da Academia Piauiense de Letras.

      Leia no Portal Cidade Verde emocionante texto do jornalista e escritor, membro da APL,  Zózimo Tavares, em homenagem  à memória de Jesualdo Cavalcanti.

Fonte: site Entretextos

terça-feira, 26 de março de 2019

NOTA DE PESAR - MORRE PADRE SOARES



A Academia Parnaibana de Letras – APAL cumpre o doloroso dever de comunicar o falecimento do acadêmico, reverendo padre FRANCISCO ASSIS SOARES, ocorrido na manhã de hoje, 26 de Março em Teresina Piauí. O corpo será trasladado para esta cidade de Parnaíba e será velado na Igreja do Rosário.

Padre Soares era natural de Ipu, Ceará. onde nasceu em 12.09.1935. Foi ordenado presbítero no dia 20.01.1965 na igreja Catedral de Nossa Senhora da Graça em Parnaíba, Piauí. Membro da Academia Parnaibana de Letras ocupava a cadeira de nº 08.
  

Formado em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí foi professor e diretor de escolas parnaibanas. Gozava de grande conceito na sociedade e no clero parnaibano tendo sido agraciado com o título de Cidadão Parnaibano outorgado pelo Poder Legislativo Municipal. Poeta e escritor,  tem várias obras publicadas entre as quais “O Tangará” e “O Kerigma”.

Neste momento de dor e pesar,  a Academia Parnaibana de Letras, através de seus membros, rende gratidão ao Deus Pai Todo Poderoso, pela vida e ministério do reverendíssimo sacerdote, ao tempo em que  suplica-lhe que o receba na Glória Celestial  para o descanso eterno.

REQUIESCAT IN PACE  padre Soares!

José Luiz de Carvalho                       Antônio Gallas Pimentel
Presidente                                          Secretário Geral


Fonte: blog do Professor Gallas

domingo, 24 de março de 2019

ELEGIA A CAMPO MAIOR

Foto: Elmar Carvalho
Foto: Elmar Carvalho

ELEGIA A CAMPO MAIOR

Elmar Carvalho

Na paisagem plana do tabuleiro
campeava sozinha a solidão.
Ao longe, nas manhãs de inverno,
a serra cachimbava suas névoas.
As névoas se misturavam com as nuvens
que rondavam sobre o cume.
As águas mortas do açude
tudo viam e tudo refletiam.
À tarde o aboio dolente do vaqueiro
partia a solidão que tudo presidia.
E o aboio sem resposta
– eco de si mesmo – repetia-se e se extinguia.
O canto rascante e áspero de grilos e cigarras
arranhava o veludo macio do silêncio.
Os cupins espalhados pelo tabuleiro
eram pedras de um jogo em que a
tristeza jogava paciência com a solidão.
E a palma da carnaúba acenava
para vivalma que nunca partia ou
para um fantasma que jamais chegava.
O menino em seu cavalo de talo de carnaúba
campeava seu rebanho de nada
pela fazenda do não-ser.
Campeava seu rebanho de bois de jatobá
por entre manadas de formigas
que pastavam tapetes de babugens
por entre cupins que erigiam moradas
de solidão na solidão da chapada.
E a serra se erguia do plano descampado
cachimbando suas névoas
para um céu que sequer olhava.
Cachimbando suas brumas
como um Sinai que fumegasse.
Diz a lenda que a serra é uma cidade
encantada. Diz o povo que em suas encostas
vagam fantasmas penados em busca de furnas
de ouro. Mas nas cavernas apenas a onça
 faz morada.
Mas o menino ainda assim esperava pelo
desencantamento da serra em vão esperado.
Porque o menino era um poeta
que campeava pelo campo do sem fim
o seu rebanho de sonho e solidão.

quinta-feira, 21 de março de 2019

O LADO BOM DA SOLIDÃO

Fonte: Google

O LADO BOM DA SOLIDÃO

Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Articulista e cronista

                Sandoval me contou, na última quarta-feira de cinzas, com esgares de entristecido e deprimido, que aproveitara o período carnavalesco - para a maioria das pessoas, de muita animação, mas para ele, pelo menos, atualmente, uma época como outras no curso de mais um ano - para fazer um desmanche, um desmonte, um apanhado nas quinquilharias, roupas, sapatos, meias que há muito vinha acumulando e que lhe pareciam demasiados, eis que já quase enchiam e entulhavam despensa, armários, gaveteiros, criados-mudos. Outros fins, talvez o lixo, mereceriam tais bens sem utilização prática.

                Escolhe daqui, separa dali; volta atrás, tenta guardar aquele par de sapatos que tanto gostara de usar com o jogo de camisa e calça, em vias de ser descartado; melhor deixar ficar: estavam em tão bom estado. Nada disso! A missão a que se propusera era esvaziar espaços, desnecessariamente, ocupados por tanta bugiganga. Metodicamente – não sem algumas recaídas, ímpetos de esconder ou tornar a guardar alguns -, foi separando em sacolas plásticas individuais, calças, camisas, camisetas, meias, sapatos, sandálias. Finda a coleta, enormes pacotes empilhavam-se pelos recintos da casa, prontos para serem desovados, jogados fora, mesmo destruídos. Não! Sua mulher decidira que não haveria destruição, a princípio, seriam apenas colocados longe dos olhos do ex-dono: sempre há quem precisa mais do que a gente; por que não, doar a essas pessoas, ou a instituições que pudessem fazer isso? Comentou Sandoval, que ainda tentou ponderar que não gostava de distribuir aquilo que, para ele, se tornara imprestável; lixo não de dava a ninguém. A palavra final ficou com a esposa, e não falaram mais naquele assunto. Na, então, enorme e tão espaçosa despensa, ficaria, temporariamente, todo o apanhado.

                Meteu-se Sandoval, após essa primeira operação, a arrumar, nos vários lugares que restaram após o desmanche generalizado, o que ficara, aquilo que fora considerado bom, aproveitável, necessário, em matéria de vestuário, sapatos e artigos outros. Encerrados os trabalhos de rearrumação, de tão cansado, adormecera. Sono curto, que culminou em barulhento pesadelo, capaz de fazer com que a patroa, que se encontrava lá na sala, entre lendo e batendo papo no WhatsApp, tivesse que quase correr para saber o que o fizera gritar tão alto. Nada não, disse-lhe o esposo: apenas sonhara que estava sendo roubado, que levavam suas roupas, sapatos, e o carro, com tudo dentro. A mulher, inteligente, gentil e atenciosa, como são todas as boas mulheres, aproveitara a situação para perguntar-lhe se não aceitava um cafezinho bem fresco. Como não?

                Antes de ir à cozinha, onde sua “velha” lhe preparava o café, deu uma boa olhada no guarda-roupa, no sapateiro, nas gavetas de meias, nos nichos do criado-mudo que utilizava para colocar pequenos trecos, um imenso vazio o entristecera deveras. Será que agira bem? Não iria sentir falta de bens ou objetos que, logo, logo, estariam fora de seu alcance?

                Pediu à mulher que lhe fizesse companhia, enquanto tomava seu café, por sinal, bom demais. Contou-lhe que estava sentindo doer vazio tão denso; mas, também lhe segredou, parecia que tal sensação não resultara tão somente do desfazimento que acabara de acontecer, um conjunto de situações anteriores e que veio à tona naquele momento, reforçara sua conclusão. Há muito, os filhos haviam ficado adultos, tinham suas próprias residências, seus afazeres; a casa, se não se mostrara pequena e solitária, ainda que com tantas quinquilharias nela acumuladas, agora, parecia comportar o mundo todo. E ele estava triste, reiterou à esposa. Pesava-lhe no peito um sentimento para o qual imaginava estar preparado; sempre se policiara, era o que pensava, para a chegada dos momentos de solidão, causados por situações inevitáveis, como a independência e afastamento dos filhos para cuidarem dos lares que constituiriam.

Os bens e objetos desprezados conscientizaram-no de que tanta preparação não surtira efeito, fora vã. Estaria, realmente, ficando velho, amolecido, sentimental demais? Disse à esposa, naquele momento, que precisava sair, espraiar, caminhar. Sua mulher que, geralmente, preferia ficar em casa, resolvera acompanhá-lo; possivelmente, suas palavras a fizeram compreender que ele poderia estar certo: eles eram agora, na maioria do tempo, apenas os dois e, como sempre, precisavam um do outro, ser parceiros. De mãos dadas, a mim revelou um Sandoval emocionado, saíram a passear. Quem sabe por onde andassem deixasse por lá toda a tristeza que lhe sufocava, e, ao voltarem para casa, pudesse vê-la como, de fato, era: o melhor o lugar do mundo, pois fora nela que tudo começou para o casal. Talvez até se desse conta de que um pouco de solidão, vez em quando, faz-se necessário para permitir que aflorem ou se reavivem sentimentos que o tempo camuflou, mimetizou, escondeu ou substituiu: o companheirismo, a cordialidade, a camaradagem, a solidariedade, a confiança.

                Logo chegaria o final de semana, filhos e netos iriam encher, novamente, a casa com sua presença. Certamente, nem sentiriam que o espaço aumentara; sem problema: agora, poderiam correr, pular, cair e levantar, muito mais que antes. E, depois, voltariam para seus lares, felizes como haviam chegado.

Se me houvesse pedido um conselho Sandoval, dir-lhe-ia: amigo, importante é que a vida continue e a alegria nunca possa ser menor que a tristeza.   

quarta-feira, 20 de março de 2019

O trovão



O trovão

Pádua Marques
Jornalista e escritor

Passei o final de semana todo ouvindo conversa sobre medo de trovão. Eu nem era pra ter me ocupado com isso, com essa perda de tempo, mas aquele ocorrido na noite da quinta-feira passada deixou a Parnaíba com cara de gente que perde o ônibus das seis no meio da estrada da Pedra do Sal, quando muita gente já estava batendo as pestanas feito dono de ponto de venda do mercado da Caramuru com a porta de enrolar.

Eu duvido, quero que minha cara vire pras costas, se não teve um filho de Deus aqui na Parnaíba e vizinhança, que não ficou com medo daquele trovão. Não foi um trovão. Foi o trovão. Foi tão forte, mas tão forte que lá na avenida São Sebastião um colega  meu se enrolou, ficou pendurado na varanda da rede, uma rede que havia comprado em Pedro II pra tirar um cochilo. Me disse que agora vai colocar no lugar das correntes, cordas. Tem medo de levar um choque elétrico.

E falando em choque elétrico, um velho lá pros lados de Bom Princípio, desses que guardam dinheiro pra gastar não se sabe com o quê, estava contando as moedas de cinquenta centavos e de um real, no escuro, justo na hora do trovão. Com o papoco a burra rasgou e as moedas se espalharam no quarto fazendo uma zoada tremenda. Aqui na vizinha os meninos pequenos se acordaram tudo mijados. Teve gente se acordando catando sem sucesso um toco de vela.

Estava quar dormindo e pouco tomei conhecimento do ocorrido. Tano eu acordado sei lá pra que lado eu havera de ter corrido! Seu Ribamar, do Pindorama, me disse que o trovão pegou ele justo tirando a dentadura pra dormir. Na hora ela caiu embaixo da cama, rolou e ele e os cachorros só encontraram no outro dia lá embaixo de uma touceira de pé de banana. Nem queira saber o que foi aquilo. Teve panela de pressão que disparou sem nada dentro lá no bairro de Fátima.

Lá pros lados do Catanduvas, onde fica o aeroporto de final de semana, uma dona de casa havia deitado uma galinha com quinze ovos e perto de tirar os pintos. Depois do trovão ela já está contando com apenas uns três porque os doze ficaram gouros. Na avenida São Sebastião, pra onde vai quem gosta de curtir a noite, na hora do trovão teve gente que se engasgou com pizza. Minha cunhada achou até que já estava morrendo.

Dona Genésia, devota de São Benedito, estava naquele cochilo bom debulhando as contas do terço, batendo os beiços e na hora, o trovão foi tão forte que quando ela olhou procurando pelo santo ele estava aqui embaixo segurando no chambre dela, branco de medo e tremendo os beiços. O menino Jesus, que São Benedito leva no colo, foi encontrado debaixo do colchão. Brincadeira não.

Agora imagine se este trovão tivesse sido assim pela manhã com aquele monte de gente se esfregando dentro do Bradesco, da Caixa Econômica e do Banco do Brasil, no Detran?! Havera de ter caído o sistema e até hoje não ter voltado! Igual essas fake news, do Bolsonaro. Foi coisa de daqui a uns cinquenta anos ainda se contar as façanhas. Se ocorrer outro trovão daqueles, a Parnaíba se esbandaia!   

terça-feira, 19 de março de 2019

AS DESVENTURAS DE FREI ADRIANO DE ZÂNICA



AS DESVENTURAS DE FREI ADRIANO DE ZÂNICA

José Pedro Araújo
Historiador, contista e cronista

Em visita ao velho e querido Curador, encontrei-me com o Professor Jean Carlos Gonçalves, jovem pesquisador que vive de “escarafunchar” velhos arquivos e tomar depoimentos de pessoas gradas que acompanharam a marcha da ocupação da região que se convencionou chamar “Japão maranhense”. Já esclareci em outra crônica, que a região central do estado do maranhão ficou conhecida por esse epíteto em razão da dificuldade de acesso a ela, por se constituir em algo praticamente inalcançável, posto estar localizada no mais profundo da mata indevassável.  É naquele espaço geográfico, que estão localizados os municípios de Presidente Dutra, Tuntum, Dom Pedro, Graça Aranha, Gonçalves Dias, São Domingos, Santa Filomena, São José dos Basílios, entre outros. Coletar fragmentos da história dessa região passou a ser uma missão de vida do jovem professor, assim como para mim também. E todos sabem que barreiras um pesquisador tem que superar para encontrar o que procura. A falta de informações confiáveis, aliada ao descaso com a preservação dos documentos que retratam a história desses municípios, fica patente a cada passo dado na busca pela reconstituição da história regional, portanto.

O encontro com professor Jean Gonçalves se constituiu em um dos momentos em que a bateia do garimpeiro faiscador arremata uma luminosa pepita valiosa. Diz-se nesses momentos, que o indivíduo “bamburrou”. E foi como eu me senti naquele momento. Explico. Estávamos em animada conversa, quando veio à baila a informação sobre uma carta escrita pelo frei capuchinho Adriano de Zânica ao seu superior na Itália, relatando a odisseia da sua viagem de Gênova, no velho continente, a Barra do Corda, no centro do estado Maranhão.  Foram doze dias de aventuras inimagináveis realizadas pelo religioso, tempo gasto somente entre a capital do estado nordestino e a cidade eleita como ponto final da viagem. E onde está a importância desse evento para a história? Está, sobretudo, no fato de encontrar um depoimento tão valioso sobre a travessia empreendida por alguém desde a capital do estado, trespassando a mata do Japão maranhense, e em um tempo em que o país enfrentava mais uma revolução civil, a chamada revolução de 1930. Mas, e principalmente, porque não existem registros de como esse acontecimento foi recebido pelos interioranos, sobretudo os da região em causa.

Dias depois do nosso encontro, como havia me prometido o nosso professor-pesquisador, enviou-me uma cópia da tal carta. Fiquei deslumbrado com o que li ali. O texto da missiva se constitui em história pura, e repleta de novidades para nós outros.  Traz, como já afirmei, informações até então nunca abordadas sobre a deflagração da Revolução de 30 em regiões tão afastadas. Todos os estudos sobre esse período da história do Maranhão que lancei olhos têm se restringido aos reflexos da chamada derrubada da república velha, apenas e tão somente no âmbito da capital maranhense. Daí a importância desse documento para a história da região e, de resto, do estado. Em outra oportunidade falaremos sobre isso. Hoje, trataremos apenas das aflições e desconfortos vividos pelo nosso aventureiro capuchinho que transitou por caminhos para tropeiros no selvagem hinterland maranhense, uma verdadeira epopeia para alguém recém-chegado do velho continente.

Frei Adriano saiu do porto de Gênova com idade que não posso precisar, mas ainda jovem, a julgar pelas fotos da época, e apesar da longa barba que era uma marca registrada dos frades daquela ordem religiosa. Todavia, se partimos da informação dada por ele de que 14 ou 15 anos atrás havia servido como bersalheiro (componente das forças armadas italiana), deveria ter, no máximo, 35 anos quando aportou no Brasil. Fez a travessia do Atlântico no navio Júlio César, que classificou de “bela embarcação”, em direção à América desconhecida. Em São Luís, abrigado no Carmo, o Convento da Ordem a que pertencia, tomou aulas de português para completar a sua aprendizagem teórica sobre a língua da terra, e foi escolhido, juntamente com outro frade, frei Abraão, para ministrar a palavra de Deus aos índios da região centro-sul do Maranhão. Segundo suas próprias palavras, ficou imensamente feliz com a escolha do seu nome: “Ele(o superior, Frei Estevão de Sexto São João), entrega-nos somente duas Obediências. Abrimo-las trepidantes pelo medo de não encontrar nelas o nosso nome. Uma era para frei Abrão, destinado a Imperatriz, e outra justamente para mim, destinada a Barra do Corda. Louvado seja Deus! Também desta vez estou entre  os eleitos”. Feliz com a escolha, portanto, o religioso nem desconfiava que seus próximos dias fossem de dura provação. A começar pela viagem da capital até a distante cidade cordina, encrava no sertão profundo e quase inalcançável do Maranhão.

Por sua vez, as démarches da revolução que atingia o país naqueles dias, e que se atrasara para ser deflagrada no estado, aconteciam justamente naqueles dias. E isso provocou atraso de alguns dias no deslocamento dos dois frades para suas áreas de atuação, “o campo destinado ao apostolado”. Chegado o dia ansiado, embarcaram eles no trem que fazia o percurso São Luís-Teresina. O destino deles era a cidade de Codó, situada a meio caminho entre as duas capitais, onde deveriam encontrar outro meio de transporte que os levasse até o destino final.

Embarcar na Maria Fumaça já foi motivo de certa gozação, posto consideraram o trem uma réplica das primeiras locomotivas usadas pelos europeus nos idos do século XIX. Nem sabiam o que lhes esperava mais a frente. Debruçado na janela do trem, ia o missivista nominando as povoações por onde passavam, e os lugares onde paravam para abastecer a locomotiva com água e lenha. Confessou-se cada vez mais extasiado com a bela e luxuriante vegetação que ia encontrando pelo caminho, paisagem muito diferente do ambiente encontrado na sua velha Itália. A viagem durou dois dias, visto terem parado em Coroatá para pernoitarem, no dia seguinte, e só retomarem viagem às seis horas da manhã do outro dia, chegando a Codó no meio da manhã. Terminava aí o trecho de relativo conforto. Mas eles ainda nem desconfiavam disso.

Em Codó, dois dias depois, conseguiram vaga em um caminhão pertencente a um comerciante de Dom Pedro, e foram acomodados na carroceria junto à mercadoria e a outras cinco pessoas que iam para a mesma cidade do empresário. Começava ai uma viagem cheia de percalços, tanto pelo desconforto do caminhãozinho, quanto pela qualidade da estrada que não passava de um caminho para carro-de-bois, alargado agora para dar passagem a veículos automotores. Só conseguiram sair da cidade, apesar de terem embarcado quatro horas antes, quando a tarde já chegara ao fim, às dezoito horas. Pela descrição feita, tomaram a estrada que passa pelo povoado Dezessete, segue para o Triângulo, e depois vai até a Mata do Nascimento, nome antigo pelo qual Dom Pedro era conhecido. Chamar aquele caminho de estrada é faltar com o respeito com as estradas verdadeiras, pois nunca uma máquina havia aplainado aquele carreiro aberto em meio a uma densa floresta. E mesmo assim, os passageiros tinham que se manterem sempre atentos para não serem atingidos por galhos de árvores ou mesmo receber picadas de marimbondos. Depois de algumas paradas em casebres de palha na beira da estrada, quando os outros passageiros aproveitavam para “molhar o bico” com talagadas de cachaça, chegaram finalmente ao povoado Santo Antônio dos Pretos, à beira do rio Codozinho(a povoação, que dista 60  km de Codó,  hoje é um Projeto Quilombola. Historiadores contam que os antepassados dos habitantes atuais receberam aquelas terras através de doação do Imperador Pedro II, logo após o advento da Lei Áurea).

Era meia-noite, e a ideia inicial era pernoitarem ali, pois a viagem à frente havia ficado muito difícil em razão de uma chuva torrencial caída um pouco antes. Não se atreveram, contudo. Os habitantes do lugarejo, adeptos do Terecô, estavam em festa e se embriagavam em volta de alentadas fogueiras. Decidiram seguir em frente, mesmo correndo sérios riscos. E os riscos não demoraram a aparecer. A estrada estava em péssimas condições e o pequeno caminhão começou a atolar seguidamente. Foi, segundo o autor da missiva, uma noite de horrores.

Empurrar o caminhão, passou a ser uma tarefa distribuída entre todos os passageiros. Uma coisa não passou também despercebida pelos religiosos: apesar dos esforços, das muriçocas, da escuridão, ninguém blasfemava contra a má sorte. E assim, para encurtar a história, foram prosseguindo até próximo a Mata do Nascimento, quando tiveram que parar devido a notícias recebidas de que os revoltosos se encontravam na vila e que, certamente, requisitariam o caminhão para deslocamento das tropas ali aquarteladas. Depois de muito relutar, o proprietário do transporte resolveu chegar até a cidade. E, de fato, teve o caminhão requisitado, recebendo a ordem de voltar para Codó com os revoltosos. Alguns dos passageiros, inflamados, resolveram se incorporar ao movimento revolucionário naquele instante. Um deles, por obra da providência divina, seria de grande importância para os religiosos no dia seguinte, como veremos logo à frente.

A questão agora era como seguir viagem. Mas o proprietário do caminhão não os deixou totalmente na mão. E como aquele veículo deveria ser o único existente na cidade, contratou um tropeiro para levar os dois religiosos até a cidade de Barra do Corda, distante dali cerca de 170 quilômetros. Os religiosos ficaram alarmados. Frei Adriano, por exemplo, confessou nunca ter se utilizado de alimárias como montaria. Mas, o que fazer? Era mais uma provação, mas estava dentro dos desígnios de Deus, conjeturou. E, no dia seguinte, às oito da manhã, começou a sua via-crúcis. Mesmo o tropeiro tendo lhe afirmado que escolhera para ele o animal mais manso e estradeiro, o pobre religioso teve que ser puxado pelo cabresto por longos trechos, visto o animal se negar a seguir viagem. E o olhar de riso que ia encontrando pelo caminho por parte das pessoas que encontrava o fazia se sentir mais oprimido ainda. Mas seguiram mesmo assim.

Uma hora e meia, depois da partida, chegaram ao cume da serra da Boa Vista, limite dos municípios de Codó e Barra do Corda à época. Ali também terminava o território da Arquidiocese do Maranhão, e começava o campo da Prelazia de Grajaú. Vejam com que palavras eles comtemplaram aquela bela visão: “Desta altura, com indizível emoção, como outrora Moisés do cimo do Monte Nebo pode contemplar finalmente a tão suspirada Terra Prometida, nós também pudemos admirar o campo destinado ao nosso apostolado. Uma extensa interminável floresta se oferece aos nossos olhares como um imenso tapete verde-escuro, levemente ondulado”. O Cimo da Serra da Boa Vista, hoje é limite dos municípios de Presidente Dutra e Dom Pedro.

Já quase chegando ao povoado do Curador, foram alcançados por dois caminhões cheios de revolucionários. Confessaram ter passado por um susto imenso. Mas, felizmente, não foram molestado, tendo os caminhões seguido em frente. Já passava das oito da noite quando chegaram à povoação do Curador que descreveram como “um pequeno povoado que faz parte do município de Barra do Corda. Aqui nossos missionários deixaram marcos consoladores do seu zelo incansável. Aqui Frei Heliodoro (Heliodoro de Inzago), Superior atual em Barra, com indizíveis sacrifícios, erigiu uma bela igrejinha, a primeira que encontramos depois de um percurso de mais de 150  km... Quando chegamos, o pequeno povoado(Curador) parece ter estado tomado de assalto. Os habitantes, tomados de forte terror, atravancaram-se em suas casinhas, fechadas também as janelas, as luzes apagadas. A rua estava deserta. Somente aqui e acolá núcleos de revolucionários armados estão de sentinela, enquanto algumas escoltas, de lanterna na mão, passam de uma habitação para outra, obrigando com modos autoritários a abrir as portas”. 

No povoado do Curador, dia 25 de outubro, os religiosos receberam abrigo em um casebre de palha na praça da igreja, onde descansaram a noite e se alimentaram frugalmente, como já vinham fazendo. Pretendiam seguir viagem no dia seguinte. Mas, quando descarregavam a bagagem, foram abordados por um dos revolucionários que queria saber a identidade deles e o que pretendiam fazer por ali. Alertado quem eram, o homem ainda tentou tirar-lhes as redes, sendo nessa hora impedido por outro engajado, exatamente um dos rapazes que haviam viajado de caminhão com eles de Codó até a Mata do Nascimento( Dom Pedro). Na defesa dos dois religiosos, o rapaz, recém-integrado ao movimento revolucionário, pelo visto, teve que apontar arma para o colega, e assim lograr sucesso na sua defesa.

Seus problemas não haviam acabado ainda, durante suas estadias no Curador. Dia seguinte, cedo da manhã, foram abordados novamente quando preparavam os animais para continuar a viagem. E mesmo após mostrarem as credenciais com autorização para viagem até o destino final, emitidas pelos novos mandatários do estado, só foram liberados para prosseguirem no final da tarde. Mesmo com a noite se aproximando, decidiram seguir em frente. Temiam novos problemas.

Pernoitaram na localidade Canafístula (Canafístula dos Pacas), em um casebre onde, coincidentemente, havia falecido, seis anos antes, um Capuchinho, frei Carmelo de Brescia,  em decorrência de febres palustres. Na manhã seguinte, já no povoado de Tuntum, viram quando alguns revolucionários armados abordavam as residências em busca de armamentos. E, mesmo cansados, e estando frei Abraão acometido de forte gripe e muito alquebrado, decidiram seguir viagem imediatamente a fim de evitarem problemas com aqueles homens.

O restante da viagem transcorreu dentro do mesmo diapasão: fome incontrolável, sede, cansaço extremo, picadas de mutucas e muriçocas, sol e calor inclementes; desconforto pela marcha dos burricos, mas animados por uma variação de paisagens deslumbrante e uma algaravia de pássaros que enchia o ambiente de beleza e alegria. No último dia da viagem, 28/03, encontram um emissário do Frei Heliodoro que os conduziu até a sua humilde morada e lhes ofereceu uma refeição em regra. A primeira em muitos dias. E, perto do final do dia, encontraram-se com o próprio padre superior, Frei Heliodoro, que veio ter com eles no meio do caminho. Estavam quase no final da jornada empreendida desde a Itália. A alegre recepção deu novo alento aos aventureiros que, doze dias passados, e depois de muitos sofrimentos e medos, estavam finalmente perto de apearem de suas mulas para descansar. Às 23:00 horas desse mesmo dia entraram na pequena Barra do Corda, que nesse tempo contava com cerca de 3.000 almas.