Abro
a Folha de São Paulo que eu mesmo, me
deslocando de casa, fui comprar na banca em frente do
Shopping da Tijuca. O jornaleiro, calado, me
entregou o exemplar do jornal, me
dando um troco. Saí da banca neste domingo bem próximo
do Natal. Na ida e na
volta, alguns pensamentos íntimos,
portanto, inconfessáveis.. Pensei na vida e ao mesmo
tempo me lembrei logo há quanto tempo passou
a bater o meu coração. Senti cansaço, de
mistura com um pouco de tédio e amargura. Se fosse
um poeta romântico, talvez me assaltasse
o sentimento do spleen...
Os
anos passam. As pessoas que encontrei no caminho de ida e
de volta pra comprar o jornal quiçá jamais verei de novo.
Sinto-me um solitário habitante de uma ilha cercada
de humanos, ou dos “esqueletos humanos” borgianos,
por todos os lados. “Oh, humanidade”, como gosto
de repetir esta frase que já se me
tornou quase um bordão, apanhada em Melville!
Não vou dizer o título da obra do autor norte-americano
que li no tempo de universitário porque
não quero dar mole (brincadeira minha) aos
pesquisadores caçadores de frases de
escritores famosos a serem usadas em
epígrafes de seus ensaios, poesia ou ficção.
Quero que se deem ao trabalho insano de
fazer como eu fiz com respeito a uma epígrafe de
Shakespeare que ninguém soube me informar (nem
uma doutora em literatura inglesa de uma
grande universidade conseguiu localizar os versos que
aparecem como epígrafe em Da Costa e
Silva,1885-1950, no livro Verônica, de 1927.
Foi
uma luta homérica encontrá-la. Quase que me
dera vontade de ler toda a obra do bardo inglês (Não
a li ainda por inteiro, confesso meu desleixo
imperdoável) de Straford-upon-Avon, cuja data natalícia,
por sinal - li no Globo do dia 14
passado, - , vai ser comemorada em 2014.
Serão homenagens justíssimas as que
lhe serão rendidas pelos 450
anos do nascimento do velho conhecedor da
alma humana. A reportagem tem um título que
lhe resume a importância de escritor universal
: “Moderno aos 450 anos depois”. Mas, mudemos
de assunto, que isso é apenas uma digressão à
Machado de Assis (1839-1908), ou quem, sabe, à
Sterne(1713-1768).
Um cidadão
brasileiro não pode ficar alheio aos erros
e desacertos cometidos por governos,
sobretudo pelo que aí está. Até
agora, não consigo compreender por
que , no exterior , há tanta
gente louvando o lulismo e
ainda afirmando que o governo
do Sr. Lula é de esquerda. Que diabo de esquerda
é esta que não com
sigo vislumbrar até usando de uma
lupa? Esquerda que privatiza, que mantém um
Congresso cheio de maracutaias? Gostaria
de que esses sociólogos, filósofos
e cientistas políticos estrangeiros,
bem postos em universidades,
sobretudo do Velho Mundo, viessem acompanhar o
dia-a-dia do brasileiro a fim de
que tomassem conhecimento nas
fontes originais dos grandes males que ainda
atolam o país em lamaçais de vária
natureza semântica. É certo que alguns
passos no setor social tiveram ganhos,
e mesmo acho que os programas sociais
tipo Bolsa-Família tenham melhorado a
vida das faixas mais humildes da
sociedade. Mas, acautele-se para o seguinte: o governo investe
maciçamente em publicidade e esta tem
efeito inequívoco sobre espíritos
desavisados ou ignorantes da
massa da população.
Entretanto, um
país não se constrói só de melhorias sociais.
“Nem só do pão vive o homem”. É
preciso que seja íntegro, dê
exemplo de probidade de
gerenciamento público e de
dignidade no trato com o
setor privado, não permitindo que
com este uma
simbiose de ilicitudes coexista.
Não é possível
que se mantenha um
Congresso onde campeia o
descaso com a população
brasileira que assiste diariamente a
notícias que nos envergonham como nação.
O mal é tão amplo, tão
profundo que atinge praticamente todos os
três poderes, a tal ponto que o
brasileiro médio desacredita em
tudo que se associe aos governos federal,
estaduais e municipais. As eleições estão às
nossas portas e é chegada a hora de mudarmos
o nosso comportamento de eleitores
, repensarmos no bem do país
e retirarmos da Câmara Federal e do
Senado os políticos de
fachada, os maus políticos, com perfis
de mensaleiros, que ali estão unicamente para tirar
vantagens de um povo que não
lê, não tem
visão política nem compromisso com o
seu próprio país.
Veja, por exemplo, o
que há poucos dias ocorreu com
a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro no
tocante à pauta de aumento de
salários do governador, dos deputados.
Como se sabe, são os deputados que determinam o
próprio aumento de seus salários
e mordomias apoiados em não sei
quê lei ou estatuto interno,
privilégio este que deveria ser de
imediato extirpado de todas
as casas legislativas e em todos os níveis de
representação popular). Acontece
que, quando o governador tem seu
salário aumentado, toda a cúpula do governo, numa
reação em cadeia, é
também beneficiada com aumentos e
estes não são migalhas daquelas que são dadas
para os barnabés, os médicos, os professores, os
funcionários em geral de hierarquia inferior.
O
Brasil, como se pode ver, pouco mudou em
diversos setores. A modernização aqui trouxe proveitos,
sim, ninguém pode negar. Contudo manteve e
até acirrou vícios políticos
nefastos: corrupção em elevado grau, oligarquia, clientelismo,
fisiologismo, votos comprados
e o pior de tudo da vida pública: a
impunidade aos que,
no poder, cometem desídias, malversações,
peculato.
O país é
contraditório em seus ganhos e perdas.
Tem uma natureza barroca nas suas formas
de vida e de comportamento, e, além disso, oferece
uma enigma a ser decifrado pelos estudiosos
e analistas.Nele cabem tantas definições seculares, que vão
do ufanismo ingênuo do
Conde Afonso Celso, até definições
de há muito conhecidas de seu povo e
do seu destino: “País do Futuro (de Stefan
Zweig), terra do “homem cordial, ” expressão
cunhada e só entendida ao pé da letra quando não
foi esta a intenção real que
lhe deu o historiador e crítico Sérgio Buarque de
Holanda. País do samba, país do carnaval, país da
corrupção, da malandragem de cima e de baixo, país
macunaímico (em alusão ao romance modernistaMacunaíma,
de Mário de Andrade) terra dos bruzundangas(em alusão à
obra de Lima Barreto Os
bruzundangas) país do futebol e de
suas torcidas fanáticas até ao
extremo de se tornarem criminosas. País exuberante,
desde as suas riquezas naturais até as
curvas sensuais depreendidas pela arquitetura de
Oscar Niemayer..
Nos
contrastes e confrontos, o Brasil mantém ainda
um alto índice de analfabetos funcionais e
um elevadíssimo índice de criminalidade, de
violência de vária natureza,
entre familiares, entre estranhos, protagonizada em
assaltos, estupros, excesso de velocidade
nas estradas e nas ruas da cidade motivado por
usos de álcool, drogas e irresponsabilidade de
motoristas. País em que
adolescentes criminosos matam a
sangue frio crianças, jovens, adultos e
idosos e, o que é mais gravoso, ficam impunes protegidos
que são pela lei da
menoridade penal. De resto, a
impunidade da nação
brasileira tem um alcance
tão tentacular que não pune os
crimes de colarinho branco,
sobretudo de políticos estelionatários
e vendilhões. Arranjaram um meio de prender os
corruptos de alto coturno através da
prisão semi-aberta e de
mordomias mantidas intramuros prisionais quando os
presos que vêm da pobreza chafurdam em prisões que
mais são campos de
concentração nazista, Um ilustre Ministro do
Supremo Tribunal Federal,
estarrecido, confessou que nossas prisões são uma
vergonha para a nação.
Na
saúde estamos longe de termos um
tratamento humano, pois nos
faltam hospitais, médicos, infraestrutura nos
que já existem e, por isso, os hospitais
brasileiros, - insista-se – os públicos em geral, são uma
espécie de antecâmara da
morte por falta de meios de
tratamento em tempo devido e em leitos em
quantidade necessárias. Enquanto isso, a
cúpula do poder em Brasília tem jatinhos da
FAB para atender a presidente do
Senado e a outros detentores de altos
cargos federais
com finalidades fúteis como casamentos de amigos correligionários ou ,
como noticiou
a imprensa televisiva, para fazer implante
de cabelo do Renan Calheiros. Ora, leitor, o
gasto faraônico com esses políticos é
um escarro no rosto dos cidadão
brasileiro, sobretudo
dos despossuídos de saúde, transporte
e educação de qualidade. Oh, como gostaria
de que que os brasileiros atentassem
para essa
ciranda de descalabros produzidos pela República do
Planalto e se mobilizass
em fraternalmente para alijar de
uma vez por todas toda essa
corja de parasitas do Erário
Público!
que
É por
isso que tanto inveja – saudável inveja!
- me causa saber que em alguns
países tenham nascido figuras tais
como um Gandhi, um Lincoln, um
Benjamin Franklin, um Churchill, um Franklin
Delano Roosevelt, um Martin Luther King, um
Mandela e alguns poucos
outros homens eminentes que têm uma
nobre missão a cumprir com o seu povo e
o bem-estar das suas nações.