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Fonte: Google |
Encontrando Leonardo
Paulo Silva (*)
Para
Diderot Marvignier
Antigamente, quando as férias escolares de fim de ano, no meu tempo de
menino, aconteciam nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, passei todas
elas na casa do velho Paraizo, para onde meu bisavô paterno se mudou em 1864.
Já morando em Fortaleza, para onde minha família tinha se mudado, passei lá
todas as minhas férias, a partir dos seis anos de idade. Viajava no ônibus da
Viação Horizonte acompanhado de algum adulto que me deixava e voltava no dia
seguinte.
Tinha chegado no meu Paraiso terreno. Aquela casa de tantas gerações e
tantas estórias era um universo de informações e aconchego. Naquele tempo,
começo da década de sessenta, era habitada apenas por quatro mulheres de idade
muito avançada.
Adelina tinha origem africana e hábitos também. Pude observá-la com mais
atenção nessa minha primeira e emocionante temporada sozinho com elas. Todos da
família adoravam a temporada de julho na Pedra do Sal, praia. Dezembro era
quando começavam as chuvas na Ilha. Surgiam os insetos que atraíam rãs e sapos,
que atraíam cobras. Era preciso conhecer e saber com o que estava se lidando. Foi lá o
aprendizado pragmático que carreguei pelo resto da vida, até aqui.
Ela tinha 101 anos. Usava tamancos de madeira que revelavam com som alto
seu caminhar firme, mas arrastado. Fumava cachimbo com fumo de rolo que picava
com uma faquinha que amolava sempre em uma pedra do pátio. Usava um grande
bastão de bambu, maior do que ela, para se equilibrar, mas era também uma arma
contra cachorros e vacas paridas. Cantava coisas que eu não entendia, pois não
era português. Perguntei à nossa querida cozinheira Maria Area se ela estava
caducando, que me respondeu que era porque falava a língua dos índios. Talvez
não quisesse me dizer que era a língua dos escravos
Nessa época do ano, a partir de cinco da tarde, as nuvens de muriçocas
saíam das moitas de jiquirí da beira do rio em direção à varanda da casa, que
ficava insuportável. Todos os dias, um pouco antes, Adelina ia sozinha com um
grande chifre cheio de bosta seca de boi e ficava fazendo fumaça com aquilo. A
única maneira de se livrar das picadas. Contra as cobras, espalhava pedaços de
couro de guaxinim na calçada da varanda.
Viveu até os 108 anos. Em um desses anos que ia de férias para lá,
apareceu uma impinge na minha barriga. Ela pediu para alguém pegar umas folhas
de fedegoso. Macerou e passou na minha barriga. Uma semana depois, nenhum
resquício do fungo.
Fui aguçando minha curiosidade para aprender de tudo e me libertar de
preconceitos.
Maria Area era a mais nova das quatro, devia ter 78 anos, a cozinheira
da casa. Minha queridíssima dona Maria. Adorava todas as comidas que fazia,
principalmente porque montava o cardápio do dia baseado no que eu queria comer.
O que me encantava nela era a generosidade dela com meus amigos, parceiros dos
banhos de rio, das guerras de baladeira, de torear vacas paridas. Quando
convocado para o almoço às onze em ponto, não queria deixar meus amigos sem ter
o que comer voltando para suas casas. Ela já havia triplicado a comida e tudo
que se comia dentro de casa eles comiam também. Criança, não tinha cacife para
ir comer com eles. Aprendi com ela algumas receitas que repito até hoje.
Inácia tinha 82 anos. Nossa querida Dadá. Era a governanta da casa.
Dentre as várias funções que exercia, a mais importante era a de ter dado
continuidade ao Terço diário às 18 horas na sala principal da casa, o que lhe
conferia autoridade sobre todos os membros da família. Esse gesto religioso
tinha sido iniciado por Evangelina Rosa durante a Segunda Guerra Mundial,
pedindo proteção para os dois netos ingleses em situação de perigo na África e
na Índia. Continuou acontecendo até que a última moradora da casa antiga tivesse morrido. Ela própria.
Era o único momento do dia que eu perdia a alegria. O lusco-fusco da
hora já criava um clima melancólico. Vários adultos com terço na mão repetindo
a oração como uma cantilena triste em busca de salvação de suas almas e de
perdão dos seus pecados. Os retratos dos antepassados já falecidos na parede
daquela sala sobre os quais eu ouvira relatos de como havia sido suas vidas.
Para completar, era exatamente nessa hora que uma fanhosa
"radiadora", levantada no outro lado do rio no bairro da Coroa,
começava outra cantilena. Poste de madeira e alto-falante pequeno para o volume
que colocavam, distorcendo o som sempre com a mesma abertura: "Mulher tu
deixaste a moradia pra viver de boemia, foi viver num cabaré. E eu pra não
morrer de tristeza..." Era tétrico.
Maria Clara tinha 86 anos e era a dona da casa, posto que era filha do
Capitão Claro. Era a única de toda a família a chamar a Dadá de Inácia, mas em
nenhum momento tirava a autoridade dela na gestão da casa. Dadá a tratava por
dona Iaiá.
A vida da casa começava cedo. Às quatro da manhã, a bezerrada mugindo
anunciava a movimentação dos funcionários da cocheira para a primeira tirada do
leite. A cocheira para duzentas vacas de leite ficava a cerca de trinta metros
da cozinha antiga. Era como se estivesse dentro de casa. Pulava da rede,
colocava minha primeira calça comprida jeans e botas, o que me fazia sentir um
cowboy do cinema. Com minha caneca saborizada de açúcar e canela, tomava o
morno leite direto da vaca para a caneca.
Com o dia amanhecendo, a melhor parte. Acompanhar um dos cocheiros
conduzindo as vacas para o ótimo pasto da Sorocaba e na volta o galope livre
disparado no meu pequeno rosilho, que corria de volta à cocheira. Daí pra
frente, futebol, banho de rio, pescaria, guerra de baladeira e tudo que era
possível inventar até as 10 horas. O almoço era religiosamente servido às 11
horas.
Por ser o único entre as quatro, tive o privilégio de ter acesso ao
escritório do meu avô onde ficava sua biblioteca. Maria Clara, irmã dele, me
confiava a chave mediante promessa de não estragar nada. Costumava pegar quatro
a cinco livros e ir me deitar na varanda da frente lendo até as 16 horas.
Ganhava o mundo e as estrelas através dos livros. Foi quando tomei conhecimento
do genial Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo Branco.
Durante os vários anos que continuei indo até a adolescência, pude ler
muitas coisas. As que não gostava, mas lia. As que gostava e separava para ler
de novo no ano seguinte. E as que não entendia, como os sermões de Antônio
Vieira, mas lia.
Certa vez me interessei pela escrivaninha dele onde havia coisas
pessoais como sentenças, crônicas que não publicou, o rascunho da primeira liga
de futebol organizada e com regras do país, a Liga Parnaibana de Futebol,
criada por ele. Também dois envelopes grandes, um deles endereçado ao primo e
cunhado Antônio Tavares, de São Luis do Maranhão. Dentro tinha uma das obras
escritas por nome Leonardo da Senhora das Dores Castelo Branco, A Criação
Universal. Ao abri-lo, encontrei um manuscrito em letras esculturais feito em
caneta tinteiro pelo meu avô. Tratava-se do termo de proclamação da
independência do Piauí, datado de 24 de janeiro de 1823, quando Leonardo
retomou a cidade de Piracuruca da tropa deixada por Fidié. Vasado nesses
termos:
"Queridos irmãos brasileiros
que habitais a rica Província do Maranhão e especialmente os moradores das
fronteiras desta até agora infeliz Província do Piauí, acho que malignas e
espessas nuvens ofuscam as luzes do vosso entendimento. Pois vós sois brasileiros
e recusais a obedecer ao Sr. D. Pedro, Imperador Constitucional do Brasil e seu
Perpétuo Defensor?
Não sois europeus e seguis o seu partido com perigo evidente da vossa
vida e com perda de vossa honra. Ah! Onde está o brio, o patriotismo
brasileiro! Onde a honra e onde o dever? O meu coração se vê dilacerado pelo
pungente punhal da mais intensa dor... Irmãos, irmãos! Quereis ter o desonre de
que a força exija de vós e por violência obtenha o que dever, a Honra e o
patriotismo em vão, até agora, vos têm tão instante cordial e docemente
requerido e rogado! Que lástima! Que afronta! Que vergonha! Persuadido! A dor
me embarga as vozes do sentimento, apenas respiro, quereis que a vossa adesão à
nossa santa e comum causa seja obra da força! Sereis satisfeitos. Ei-la: ela se
apresenta. Um pé de exército de quatro a seis mil homens já deve ter feito em
Oeiras o que cedo vereis em vós. Outro de dois a três mil vai fazer o mesmo em
Campo Maior. Um corpo de observação de quinhentos a setecentos homens se acha
na Barra da Amarração para conter o inimigo, a quem inquieta com contínuas
correrias pela costa. Todos estes trazem todos os petrechos de guerra e várias
peças de campanha, que tornam formidáveis as suas forças. Além desses corpos,
um batalhão ligeiro de índios e brancos de mais de seiscentas praças, destinado
a cortar as relações do inimigo com o sul da província, a impedir a reunião de
novas tropas, já se fez senhor de Piracuruca, e do seu grosso Presídio
apavorando-se do seu numerosíssimo avante ali plantou o seu quartel comandante
pela voluntária reunião dos povos circunvizinhos no curto espaço de três dias
tem visto crescer ao duplo dos seus soldados. Obtida a possível reunião dessas
forças mencionadas, seguros da vitória, marchamos alegres a desalojar o nosso
tirano déspota do seu último e mal seguro asilo.
Ele não ignora a sua fraqueza; a deserção atual de suas tropas aumenta o
temor. Consequente a esse conhecimento, o seu pesar se patenteia em três cartas
escritas aos seus amigos de Campo Maior e Oeiras e com um ofício dirigido às
autoridades de Caxias, pedindo socorro: todos esses papéis nos vieram às mãos
por terem nossos soldados tomado ao correio. Concluída essa expedição, o que
esperamos em brevíssimos dias, a não termos mais o que fazer, exultando de
gosto, por sermos os instrumentos de liberdade de nossos irmãos, cantando
alegres hinos ao Senhor dos Exércitos, entre os vivas e aclamações, ufanos
entraríamos em nosso país natal, cheios de uma nobre e generosa vaidade. Esses
são os nossos desejos; mas se os nossos fascinados irmãos do Maranhão, persistirem
teimosos em fazer a facção política do grande Império Brasilico, rebeldes aos
decretos do nosso Augusto e Amado Imperador, acaso devemos consenti-lo? Não e
mil vezes não, primeiro derramaremos a última gota do nosso sangue. Ah!
Queridos e enganados irmãos, que é o que temeis? E o que é o que esperais?
Temeis as forças do miserável Portugal, esgotadas com as contínuas levas de
soldados pelo sul do Brasil, onde todos têm sido sacrificados à Deusa da
Liberdade Brasiliense, esmagando suas cabeças com a mesma vara de ferro com que
pretendiam subjugarmos. Este magnânimo e liberal exemplo nos tem dado aqueles
nossos intrépidos irmãos de dezesseis províncias, desde além Prata até os
limites ocidentais do Ceará, proclamam a liberdade e prestam gostosa obediência
a D. Pedro. Não temeis essas forças muito superiores às vossas e existentes no
vosso próprio continente e, confiantes, temeis as de Portugal tão remotas e
apoucadas? Que estranha mania! Passando em silêncio os poderosos socorros que
nos prestam várias nações do continente europeu e americano, vamos analisar o
que é que esperais: oferece-vos, grandes vantagens à dependência servil de
Portugal, com tudo e por tudo; e não encontrareis nenhuma no comércio franco e
liberal com todas as Nações? Torno a dizer: que estranha mania! Irmãos! Com que
os exarais um procedimento tão alheio do senso comum e honra brasileira?
Porventura vos decides sobre a vossa futura felicidade pelo que ledes nas
lodosas páginas do “Conciliador”? Ignorais que o seu redator é europeu e, por
isso, nos oculta o conhecimento dos fatos que fazem o nosso bem e aprovam o
direito inalienável e decidida razão com que proclamamos a nossa independência?
Ele nos chama de facciosos, perjuros, incendiários. Ele nos faz estólidos e
iludidos agentes do velho despotismo. Ele afirma que o partido europeu é
atualmente no Brasil quase universal. Que mentira! Que blasfêmia política!
Proclamamos a constituição a par da independência; elegemos Deputados das
Cortes Brasileiras e estes se estão reunindo, o nosso Imperador aclamou-se
constitucional. Continuamos a conservar e eleger governos provisórios: todas as
questões se decidem pela maioria de votos: Eis aqui o nosso provável será
disso, que o padre Tesinho chama despotismo? A que pois chamará ele Constituição?
Quanto aos exemplos de consciência que este senhor conta que tais e outros
iguais nos metem, não é mais que um pretexto próprio só para enganar gentes
rudes que ignoram qualquer contrato que contém condições ou são expressas ou
ocultas, faltando esta, não tem valor aquele. Isto vemos no mesmo que a
respeito de Adão, e vê-se nos casamentos e outros contratos de qualquer
natureza que sejam.
Que vos falta, pois, queridos irmãos? Que vos impede os passos? Que vos
prende a língua? Ah! Gritai, gritai comigo:
Viva a nossa santa religião!
Viva a futura Constituição Brasileira!
Viva o Sr. D. Pedro I, Imperador
Constitucional do Brasil e seu Perpétuo Defensor!
Viva a nossa santa Independência!
Vivam todos os brasileiros
honrados, briosos e intrépidos!
Do vosso patrício Secretário e
Ajudante da expedição de Piracuruca, no quartel da mesma a 24 de janeiro de
1823. Leonardo de Carvalho Castelo Branco
Por tudo que está escrito nesse manifesto, é possível entender porque a
Coroa Portuguesa o considerava uma perigosa ameaça. O homem mais “perigoso”
agindo em território do Piauí, sendo decretada sua imediata prisão. Só não
havia como. Leonardo, à frente de sua tropa do outro lado do rio, jamais se
deixaria prender.
Esse manifesto complexo e abrangente traz à baila muitas revelações. A
de que a situação era crítica e perigosa para os que ousavam desafiar a Coroa
Portuguesa, tanto que foi preso e condenado à forca. Demonstra a confiança de
poder enfrentar a artilharia pesada de Fidié, pois a retirada estratégica para
comprar armas e munição no Ceará permitiria equilibrar as forças para derrotar as tropas do Governador das
Armas, com a missão de garantir a Província do Maranhão e a do Grão Pará para a
Coroa Portuguesa. O Piauí iria junto, pois era parte do Maranhão, desde o
decreto do Marques de Pombal em 1772.
Leonardo era um gênio na expressão máxima da palavra. Um líder nato e
formidável estrategista, guerreiro por excelência e instinto. O manifesto
revela ainda sua paixão pela causa da independência e fidelidade absoluta a D.
Pedro I, o que sugere que ele não tinha conhecimento do que foi, de fato, o
movimento na câmara de vereadores de Parnaíba. O 19 de outubro ia muito além do
apoio à causa da independência.
Grande conhecedor de mecânica, física, astronomia, atento observador dos
fenômenos naturais, Leonardo tinha a intuição e curiosidade espacial e a lógica
empírica dos gênios como Nikola Tesla, Newton, Santos Dumont ou Alexandre de
Gusmão. Foi o primeiro cientista brasileiro a descrever as abelhas nativas sem
ferrão. Desenvolveu e construiu vários inventos úteis para o cotidiano da
época, como um grande pilão com reduções até a manivela para triturar grande
quantidade de milho ou descascar arroz. Construiu uma canoa de madeira com
palhetas na popa movida a pedal, que atingia grande velocidade. E entre vários
outros inventos, o mundialmente tentado moto contínuo, jamais conseguido até
hoje pela impossibilidade termodinâmica. Mas acreditava poder resolver esse
desafio, que seria a maior revolução tecnológica do planeta. Reclamava de
perseguição política por nunca ter podido experimentar com equipamentos
necessários para as tentativas nos diversos modelos, embora tivesse tido algum
apoio de Dom Pedro II. À luz da tecnologia atual, o máximo que se conseguiu
foram as baterias de longa vida à base de lítio carregadas por energia solar.
Leonardo Castelo Branco era um visionário
cem anos à frente de seu tempo, cuja mente carregava uma usina de ideias e o
coração um combatente revolucionário, destemido, carismático, entusiasmado e
comprometido.
Garantida a integridade do território brasileiro pelos acontecimentos no
Piauí e rendição de Fidié no cerco ao Morro do Alecrim, no Maranhão, o
Imperador Dom Pedro I indicou Simplício Dias como primeiro presidente da
província do Piauí, considerando a importância de seu domínio do comércio e
navegação com a Europa. No entanto, ele declinou, escondendo o verdadeiro
motivo de sua recusa.
Por influência de parentes importantes no
Maranhão, foi indicado então Manuel de Souza Martins.
Grato, manteve-se fiel à causa da
Independência e a Dom Pedro.
Somente em agosto de 1824, o brado do 19 de outubro em Parnaíba se
revela na totalidade. A luta intestina da Maçonaria na construção do Estado
Nacional.
João Cândido de Deus e Silva e Simplício
Dias anunciam adesão à Confederação do Equador e deixam evidente a luta entre
monarquistas e republicanos.
Luta de vida e morte, onde muitos foram julgados e fuzilados. Só então a
mente privilegiada de Leonardo foi informada da motivação da causa e
imediatamente já fez pulsar o coração do carismático líder guerreiro, declarando-se
defensor da República.
Conhecedor de sua capacidade de liderança, Manuel de Sousa Martins
decreta sua imediata prisão.
Levado para a cadeia em Oeiras, sofreu várias humilhações durante um
ano, até ser mandado para julgamento em São Luís e, quem sabe, ter o mesmo
destino dos líderes de Pernambuco e Ceará, fuzilados em praça pública.
A interferência do Dr. João Cândido de Deus e Silva e a confraria de
Coimbra, funcionando como universidade desde 1290, e os contemporâneos de
Gonçalves Ledo, denominado na Maçonaria como "Diderot", o livraria da
condenação, da cadeia e do possível fuzilamento.
O esfacelamento do movimento em
Pernambuco e no Ceará, levou ao arrefecimento de Leonardo, que se recolheu com a família em sua fazenda, ate morrer algum
tempo depois. Encerraria ali a luta da
maior personalidade de toda a história do Piauí.
Estava em construção um livro que jamais foi escrito por nenhum
historiador e lhe dava o reconhecimento na dimensão que um gênio com tantas
habilidades e criações deveria ter. O grande historiador Diderot Marvignier o
escrevia há anos. Tinha método, organização cuidadosa e preocupação em chegar
às fontes primárias e aos documentos. Nessa empreitada, ajudei-o no que pude.
No que encontrei em sebos de Fortaleza, Brasília, Lisboa e Porto, além de
opiniões e comentários de historiadores portugueses meus amigos.
Pelo que conhecia de Diderot por mais de cinquenta anos, dali sairia uma
obra-prima. Séria, consistente, verdadeira. Ele sentia ojeriza aos que
assacavam ofensas aos heróis da Pátria, se auto-intitulando historiadores, cuja
preguiça e limitações intelectuais não lhes permitiam ir além do que escrever
sandices ao sabor de suas frustrações pessoais e trejeitos patológicos. E
desprezo pelos que queriam mudar as verdades históricas para atender a
caprichos e vaidades regionais, sem provar com documentos e fontes primárias.
Entre todos os hinos oficiais, é o da independência o que mais gosto.
Quando ouço o trecho “Ou Ficar a Pátria livre, ou Morrer pelo Brasil,” é de
Leonardo que me lembro. E todas as vezes que ler ou ouvir o nome Leonardo da
Senhora das Dores Castelo Branco, será do meu querido amigo Diderot Marvignier
de quem me lembrarei eternamente.
(*) Constituinte de 1988.